Em nome de que interesses?
O Dr. Cavaco Silva é um político experimentado e,também por isso, nada inocente. À disponibilidade demonstrada para credibilizar investimentos privados de grande fôlego no sector hospitalar, a par do desinteresse do que se passa na área pública (um PR não necessita de ser convidado para visitar um hospital público, só precisa de se fazer anunciar), tem que se lhe atribuir um significado.
Qualquer cidadão minimamente atento percebe que os grandes grupos económicos estão a tentar impor um novo modelo de saúde aos portugueses assente no princípio da convenção, implicando a retirada progressiva do Estado das funções de prestador. Numa primeira fase estão a captar os diferentes subsistemas para de seguida procurarem atrair os doentes do regime geral (pagos pelo orçamento de estado, naturalmente). Só assim se pode entender o "boom" na construção de hospitais privados e o reforço do capital financeiro destes grupos ao associarem-se a congéneres europeus. Seguramente o Dr. Cavaco Silva é conhecedor deste "fenómeno" e, pela prática aqui descrita, só vem demonstrar que o apoia. Direi que não surpreende que a um político de ideologia neoliberal não repugne estender a filosofia de mercado ao sector social, o que de facto não se entende é que um partido de matriz Socialista nada faça para o contrariar, sendo mesmo conivente neste propósito.
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2 Comments:
Concordo inteiramente com esta análise.
Os autarcas e o zé povinho, quando vem para a rua protestar, devia saber quem lhes anda verdadeiramente a fazer a cama.
Quem são os verdadeiros responsáveis pela mudança de paradigma do SNS que irá traduzir-se, inevitavelmente, em graves dificuldades de acesso por parte das populações à prestação de cuidados.
Não gosto de personalizar as questões.
Os meus heróis morreram, quase todos.
Relativamente ao Prof. Cavaco Silva, respeito a escolha dos portugueses.
É o Presidente da República e não vou cair no erro daqueles professores que, mesmo cheios de razão, deram uma triste imagem de si próprios, num recente Prós e Contras.
Pessoalmente gostaria de ter outro, mas também não acredito que, quem quer que fosse, conseguisse libertar-nos da apagada e vil tristeza em que vamos vivendo.
Também não sou dos que pensam que foi um excelente primeiro-ministro.
Tivesse o Prof. Cavaco Silva realizado as reformas que a si mesmo se atribui e não estaríamos nesta situação.
Ao contrário, ajudou a desenvolver uma criatura de que só se deu conta na sua “licença sabática”: o “monstro”.
Quando se fala de reformas, lembro-me sempre do episódio protagonizado, no início do século passado, por um Professor muito conceituado, a quem perguntaram, publicamente, como deveria começar uma reforma do ensino.(Já nesse tempo se falava em reforma do ensino…)
“Importando os professores todos”, respondeu, de imediato.
E, depois duma breve pausa, preenchida pelo pesado silêncio dos seus ouvintes, acrescentou:
Já agora, talvez não fosse má ideia, importavam-se também …os alunos!
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