segunda-feira, março 24

Luta contra TB



Can we meet the medical needs of our society?

O artigo de hoje do JP sobre este assunto levanta algumas inquietantes questões, principalmente num País onde, há cerca de 1 século, se encontrava pejado de sanatórios de todos os tipos e feitios, desde as altitudes madeirenses, ao Buçaco, no Caramulo, na Guarda, ao vale Algarvio, um dos únicos sanatórios profissionais ( de S. Brás de Alportel, pertença dos Caminhos de Ferro), etc.

Nessa altura, além do bacilo acopulamos a fama : A Impertariaz Sissi (Imperatriz Isabel da Áustria),estadiou (tísica ou afectivamente "zangada" com o Imperador?) na Madeira (e deu origem ao interessantíssimo livro "Corte do Norte" de Agustina), o Imperador Carlos de Habsburgo, I de Áustria e IV da Hungria,...

Bem, voltemos à luta contra a Tuberculose.

1.) uma infecção que provoca 4500 mortos por dia;
2.) 9,2 milhões de casos novos todos os anos (2006);
3.) 0,5 milhões de casos de tuberculose multiresistente;
4.) "novas formas" (n=?) extremamente resistentes (na província Natal Africa do Sul), próximas das multiresistentes.

Ao nível da inovação terapêutica não se prevê grandes avanços e uma eventual vacina estaria disponível (?) para depois de 2015.
Todavia a previsão epidemiológica de um recrudescimento da infecção provocada pela associação pelo vírus da imunodeficiência humana (SIDA) – Mycobacterium tuberculosis multiresistente às terapias antibacilares (TB-MR), pode tornar-se num problema epidemiológico alarmante!

Mas os problemas da inovação terapêutica, mesmo em África, são prementes, como são levantados pelo Centro de Inovação e Pesquisa da Universidade de Utrecht.link

Drug Innovation include:
- How do we discover new drugs to combat malaria?
- Can we measure specific molecules and interactions within a cell and explain the complex system of our bodies?
- Which genes are linked to depression?
- Can we deliver anti-cancer drugs to tumour cells only?
- Does lowering blood cholesterol make us live longer or healthier?


Mais poético:
Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d'olhar cálido...
E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido,
Comentam entre si: - coitado, está por pouco!...

Por isso tenho ódio a quem tiver saúde,
Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.
E só estou contente ouvindo um alaúde.

Cada vez que me estudo encontro-me diferente,
Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrário talvez daquilo que pareço...

Espírito irrequieto, fantasia ardente,
Adoro como Poe as doidas criações,
E se não bebo absinto é porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidões.

E amando doudamente as formas incompletas
Que às vezes não consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar...

São filhos do meu tédio e duma dor qualquer
Meus sonhos de neurose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,
Ou como a aspiração de Charles Baudelaire.

Apraz-me o simbolismo ingénito das coisas...
E aos lábios da Mulher, a desfazer-se em beijos,
Prefiro os lábios maus das negregadas loisas,
Abrindo num ancelar de mórbidos desejos.

E é vão que medito e é em vão que sonho:
Meu coração morreu, minha alma é quase morta...
Já sinto emurchecer no crânio a flor do Sonho,
E oiço a Morte bater, sinistra, à minha porta...

Estou farto de sofrer, o sofrimento cansa,
E, por maior desgraça e por maior tormento,
Chego a julgar que tenho - estúpida lembrança -
Uma alma de poeta e um pouco de talento!

A doença que me mata é moral e física!
De que me serve a mim agora ter esperanças,
Se eu não posso beijar as trémulas crianças,
Porque ao meu lábio aflui o tóxico da tísica?

E morro assim tão novo! Ainda não há um mês,
Perguntei ao Doutor: - Então?...- Hei-de curá-lo...
Porém já não me importo, é bom morrer, deixá-lo!
Que morrer - é dormir... dormir... sonhar talvez...

Por isso irei sonhar debaixo dum cipreste
Alheio à sedução dos ideais perversos...
O poeta nunca morre embora seja agreste
A sua aspiração e tristes os seus versos! José Duro
e-pá

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1 Comments:

Blogger tambemquero said...

Farmacêuticas tendem a considerar este mercado pouco rentável"

O seu mandato como enviado da ONU para a tuberculose era suposto acabar em Maio mas Jorge Sampaio mantém-se mais um ano no cargo. Os medicamentos aplicados hoje no tratamento da tuberculose são de 1968. O facto de muitos dos infectados se encontrarem em países pobres explica as poucas inovações terapêuticas?
Não tenho dúvidas! A tuberculose foi durante muito tempo uma doença esquecida, nos Estados Unidos nem se falava nisso. Há dez, doze anos, começou tudo a mexer-se. Como é uma doença da pobreza, as farmacêuticas tendem a considerar este mercado pouco rentável e, por isso, não investem em novos medicamentos e vacinas.

Como é que se leva a indústria farmacêutica a investir neste tipo de fármacos?
Começa a assistir-se a uma ligeira alteração desta tendência prevalecente pelo menos nos últimos 40 anos, que é a idade dos medicamentos usados no tratamento da tuberculose. Para a inversão desta tendência muito tem contribuído o papel de algumas fundações (destacaria a Fundação Bill Gates) e, porventura, um novo sentido da responsabilidade social que o mundo empresarial vem pondo em prática.

Criticou recentemente o facto de Portugal não ter aderido à Unitaid, que junta vários países que contribuem com parte das taxas cobradas na compra de bilhetes de avião...
Há falta de financiamento e só para os objectivos de controlo e detecção da tuberculose para 2008 existe um défice de dois mil milhões de dólares. A adesão à Unitaid [criada em 2006 com o objectivo de reduzir os preços dos medicamentos contra o HIV/sida, a malária e a tuberculose nos países pobres], nomeadamente de Portugal [o Governo está a estudar o assunto], seria uma expressão importante de solidariedade.
Há alguma inovação terapêutica no horizonte próximo?

Segundo sei, mas não sou um especialista, há novidades. O Plano Global para travar a Tuberculose (2006-2015) prevê que, em 2010, haja novos medicamentos e que, em 2015, apareçam novas vacinas.
Em 2006, na província sul-africana de KwaZulu Natal, a comunidade científica acordou para uma forma de tuberculose extremamente resistente, em que os doentes não respondem a qualquer tratamento. Este é um fenómeno em crescimento ou está controlado?

Este fenómeno não está controlado, como não está a tuberculose multirresistente em geral, que, em 2006, aumentou para meio milhão de casos detectados.
"Tomo os medicamentos como me disseram. Faço o tratamento até ao fim" é o slogan da campanha da DGS portuguesa deste ano. Nos países pobres a resistência aos fármacos não tem a ver com a persistência dos doentes mas com a falta de acesso a cuidados de saúde. O que é que um enviado da ONU pode fazer?
Que seja estrutural não significa que seja imutável e muito menos uma fatalidade. O enviado especial tem a tarefa de chamar a atenção dos decisores políticos, dos líderes de opinião, dos responsáveis empresariais, mas também do público em geral, para a necessidade de assumirem responsabilidades na sua área de actuação.

Nos países ricos a ligação que por vezes se faz da tuberculose às comunidades imigrantes poderá ser uma forma de os cidadãos desses países pensarem que o problema não lhes diz respeito?
Há sem dúvida esse fenómeno de estigmatização e de falsa defesa. Mas é uma ilusão. Hoje não se pode dizer que a tuberculose não possa atacar toda a gente, está em toda a parte. Há contágios na comunidade e associações com o HIV/sida.

O número de novos casos de tuberculose em Portugal está a descer lentamente, mas o país continua a apresentar das piores taxas de incidência da Europa Ocidental. Porquê?
Uma leitura dos números mostra que em Portugal tem havido progressos. No entanto, têm sido lentos. Isto tem a ver também com os índices de desenvolvimento, com as condições económico-sociais e a qualidade e o acesso aos cuidados de saúde. Não é por acaso que são as regiões de Lisboa, Porto e Setúbal que acumulam os piores índices.
Em Portugal a grande parte dos infectados são jovens adultos, contrariamente a outros países europeus, em que afecta mais idosos. O que se impõe como prioridade para tentar mudar este perfil da doença?

Não é o perfil etário da doença que tem de mudar, é o perfil tout court da epidemia - o número de infectados, de vítimas mortais, as taxas de detecção e de cura! O que temos é de acabar com os 4500 mortos por dia, os 9,2 milhões de casos novos todos os anos (2006), os 0,5 milhões de casos de tuberculose multirresistente.
JP 24.03.08

11:41 da manhã  

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