quarta-feira, março 19

Paulo Mendo e as PPP à Portuguesa

Novo Hospital de Cascais

0. - Paulo Mendo (PM) é, consensualmente, uma personagem de destaque na saúde e na análise dos problemas do nosso SNS. Eminentemente profissional, sempre em exclusividade, mesmo quando este regime de trabalho ainda não tinha reconhecimento legal (deve-se-lhe a sua criação, bem como a da carreira de Clínica Geral, fazendo clara demonstração da importância dos CSP no desempenho do SNS), estudioso e atento à problemática da saúde, e, apesar de tanto, pronuncia-se com surpreendente ligeireza PPP à portuguesa (6), de 29.02.2008, (link) sobre um tema que é muito complexo, como bem sublinha o Xavier: “O modelo PPP é demasiado complexo e de elevado risco. Mesmo para os privados. Desde já, parece-me de registar a parte final desta afirmação do Xavier porque o que temos visto sistematicamente referido no Saudesa é que todo o risco fica com o Estado, embora não seja o que pode concluir-se pela análise dos cadernos de encargos. Quanto à complexidade do modelo, lá iremos mais adiante.

1. - Antes, vejamos por que acuso de surpreendente ligeireza a abordagem de PM. São várias as razões, mas podem resumir-se dizendo que deixa a convicção de que não conhece suficientemente o projecto das Parcerias para sobre ele poder opinar com a segurança que se esperaria de quem, como PM, no Governo e no seu partido, ocupou posições tão importantes. De facto, parece-me que não pode ignorar:
˜ que a Lei de Bases da Saúde foi aprovada pela AR, com maioria absoluta do seu partido, sendo nela que se apoia a flexibilização da gestão dos serviços de saúde;
˜ que foi celebrado por Governo do seu partido o contrato de gestão do Hospital Fernando da Fonseca (AS) – que, quanto ao essencial, difere dos contratos para os HH-PPP porque o Estado entregou o hospital já construído (se fez bem ou mal, não é o que agora interessa) –;
˜ que pelo menos os dois últimos Governos do seu partido tiveram papel relevante na preparação e lançamento do projecto de HH-PPP;
˜ que o regime dos HH-PPP não os exclui do SNS nem da vinculação a todas as suas normas de funcionamento, o que não permite que sejam equiparados pura e simplesmente aos HH privados, como PM parece fazer na sua exposição;
˜ que a definição de um hospital passa pelo estudo de necessidades, pela elaboração de um programa e de um projecto, pela aquisição e instalação de equipamentos e, o que não é o menos, pela implantação de uma organização, e que todo este processo, mesmo quando, ou talvez porque, atabalhoado, tem exigido anos em excesso (PM sabe-o como ninguém; costumava lamentar que, na AP, 6 meses, são a unidade mínima de tempo para decisão de questões de baixa complexidade porque, se esta for maior … );
˜ que esta realidade (construa o hospital quem o construir), e as suas afirmações de que ”a Medicina hospitalar e as suas necessidades evoluem com a rapidez de semestres, se não de semanas”, “que sentido têm contratos assinados quando é lançada a primeira pedra?” não podem levar a nada fazer, à espera da última moda, mas sim à procura e à promoção da flexibilidade máxima das instalações para que, com alterações mínimas, quando necessárias, possam dar a resposta em cada tempo pedida;
˜ que parceiro e sócio correspondem a coisas diferentes, não havendo a promiscuidade ou falta de transparência que refere, como teria visto se, efectivamente, tivesse acedido a melhor informação sobre o projecto dos HH-PPP;
˜ e, por último, que os HH-PPP correspondem, a final, ao que PM propõe: “Se é necessário um hospital e se o sector privado está interessado em construí-lo, deve ser incentivado a fazê-lo por sua conta e risco, com a garantia de que o SNS será seu cliente, exigente e atento”. Quanto à exigência e atenção necessárias, quem poderia defender o contrário?

2. - Custa-me, de facto, pela consideração que me merece, ver PM alinhar no coro de protestos contra os HH-PPP, a partir de simples pressupostos gratuitos ou viscerais, assumidos sem fundamentação ou quando muito fundamentados na não consideração de exigências e de condições expressas e concretamente inseridas nos cadernos de encargos dos concursos que foram abertos. Não consigo compreender que, estando do lado do Estado a plenitude dos poderes de definição do contrato e da enumeração dos riscos que os concorrentes têm de assumir para poderem ser admitidos aos concursos, se afirme depois que ”o parceiro privado não tem nenhum risco no processo e tem toda a liberdade de reivindicação e de modificação de contratos porque é inevitável a perpétua mudança das necessidades”. Nestas condições, só me parece honesto dizer que i) o parceiro privado tem os riscos que o Estado quis que ele assumisse e se os não assume, deve ser excluído; ii) que o seu lucro será definido pela concorrência, dentro do quadro traçado no caderno de encargos (fixação pelo Estado do Custo Público Comparável, podendo excluir as propostas que o excedam); iii) que as modificações de contratos serão apenas as que o Estado entender razoáveis e, por isso mesmo, permitir (restando-lhe sempre a possibilidade de rescisão por incumprimento ou de resgate do contrato a todo o tempo e por simples invocação de conveniência). Mas, perante a “inevitável e perpétua mudança das necessidades”, invocada por PM para o parceiro privado justificar a modificação de contratos, gostaria que alguém me dissesse como deve reagir o Estado, quer em relação aos HH-PPP quer aos restantes, porque o problema põe-se nos mesmos termos: deve manter serviços desnecessários e práticas obsoletas ou deve adaptar-se e renegociar, em termos correctos, o que houver a negociar?

3. - Conheço a fábula da rã que se disponibilizou para salvar o lacrau, carregando-o no seu dorso, e que acabou picada por ele porque picar estava nos seus genes. Sei que os concorrentes privados visam maximizar o lucro, mesmo estando em causa actividades de saúde, o que obriga o Estado a usar de todas as cautelas para defesa do interesse público. Mas, como se faz a defesa do interesse público, ou do SNS, ou seja, do muito de bom que deve ser considerado conquista do SNS e que não deve perder-se? Pela manutenção cega do imobilismo e de tudo aquilo que, de forma lapidar, o Brites nos recorda
Conhecer a culpa, de 13.03.2008 (Link), através de citações de insuspeitos e reputados técnicos do MS? Será possível dizer não à reforma do SNS, mantendo tudo como está, num contexto em que mudaram todas as realidades, tanto as do âmbito da saúde e das tecnologias disponíveis como as do contexto envolvente?
LFP e CC empenharam-se na reforma da gestão hospitalar (contratos programa anuais, lei de gestão hospitalar, reforço da autonomia de gestão – HH-EPE e HH-SA, HH-PPP, tendência para o financiamento exclusivamente pela remuneração da actividade contratada… –. Diria mesmo que a sua intervenção nesta área se caracterizou mais pela continuidade do que pela oposição, embora me pareça que CC foi estrategicamente mais abrangente. Como refere o Brites, a ambos foi atribuída a "intenção de prejudicar o SNS, por terem uma agenda oculta de abrir “avenidas para os privados”
mesmo que as insuficiências do SNS pelas quais, e não por outras inconfessáveis razões "o sector privado está a abrir caminho na saúde” lhes sejam muito anteriores. Porém,
Como é que os HH-PPP se inseriam na sua estratégia? Quais os objectivos esperáveis das Parcerias? Poderíamos falar de aspectos como a antecipação do financiamento pelos parceiros privados e, sobretudo da defesa da margem de endividamento público permitida pelo PEC. Parece-me, no entanto, que isso são cascas e o que, efectivamente, valerá a pena será referir a promoção da eficiência do SNS, sem sacrificar a qualidade da intervenção.
Como nos lembra o Brites, a situação vinha de trás e estava diagnosticada: ”A actividade desenvolvida é normalmente inferior à que a dotação de recursos permitiria esperar (fraca eficiência global)“ (“O Hospital Português”, publicação da DGS, de 1998), e,
“O grande desafio é conseguir uma gestão profissional do SNS. Isto é um edifício com 110 mil pessoas, que gasta cerca de mil milhões de contos por ano, que tem 1500 dirigentes”. ”Os dirigentes têm de ter uma missão explícita e tem que haver uma cadeia de responsabilização que controla o cumprimento. E isso puramente não existe no SNS. É zero.” (Constantino Sakellarides, também citado pelo Brites).
A promoção da eficiência do SNS passa, no entanto, por muitas outras coisas, como o estatuto dos profissionais com tudo o que nele deve abranger-se, a existência de sistemas de informação adequados que permitam a articulação das áreas de intervenção evitando o desperdício de trabalho, de exames e de terapêutica (continuidade na prestação dos cuidados), a exigência de uma nova cultura porque a existente ”não tem estimulado nem gestores nem os profissionais a aumentarem a racionalidade da sua actuação (“O Hospital Português”, publicação da DGS, de 1998) e, além disso, deve ser conseguida sem sacrificar a qualidade da intervenção. Ou seja, a dificuldade e os custos (em sentido amplo) da intervenção necessária não precisam de ser destacados; basta olhar alguns dias para trás, mesmo sem chegar à substituição de CC.
Se a gestão pública não conseguiu, ou, pelo menos, não conseguiu satisfatoriamente, esse objectivo ao longo de 30 anos, o projecto HH-PPP deve então ser visto como um duplo desafio:
˜ à gestão e à iniciativa privada, e às virtualidades da concorrência, chamadas a demonstrar que, sem sacrificar a qualidade da intervenção e aceitando o acompanhamento constante do desempenho e o controlo do Estado, é possível encontrar e por no terreno formas de cumprir as obrigações do SNS com aumento de eficiência e da satisfação dos utentes e dos profissionais;
˜ à gestão pública, que, se os HH-PPP tiverem êxito, só pode aspirar a manter-se na gestão hospitalar demonstrando ser capaz de libertar-se do condicionalismo que a tem amarrado a níveis de eficiência inaceitáveis e, porventura, incomportáveis perante o crescimento previsível dos custos da saúde. E para que o consiga será necessário que profissionais e gestores aceitem mudanças às quais actualmente se opõem, assim como não será dispensável que o Governo intervenha nos pontos que se situam na sua estrita competência.

4. – Referi, de início, a complexidade do Projecto HH-PPP e não vou negar que tenho respeito, para não dizer medo, da picada do lacrau. Penso até que, apesar do bom trabalho da Unidade de Missão na preparação da documentação dos concursos (o que não exclui críticas em pontos concretos), o MS avançou no processo com excessiva afoiteza e talvez com alguma credulidade. O processo requer, para se ter a certeza exigível de que se desenvolverá com sucesso, que o MS disponha de sólida capacidade de controlo e de avaliação e esta tem sido, efectivamente, uma das áreas em que tem transparecido a sua fragilidade. Como exemplos, recordemos os 39 pontos da rede de SU que se transformaram em 73 sem que ninguém tenha dado por isso, pois que todos foram financiados sem problemas, apesar da sua “clandestinidade”; ou o reduzido número de HH-EPE – apenas 4 no total de 35 – que até Julho de 2007, tinham entregue documentação prevista e obrigatória na prestação de contas de 2006, o que não revela muita atenção e exigência no acompanhamento dos processos. De avaliação nem falemos porque nada transpareceu. Poderá dizer-se que os cadernos de encargos referem genericamente os pontos a avaliar e a faculdade de a Parte Pública Contratante (PPC) poder exigir as informações que se revelem necessárias, em muitíssimos casos já definidas concretamente, e que à Parte Privada foi deixado o ónus de conceber e apresentar um sistema de informação que responda a todas as exigências. O que é verdade mas, além de outros aspectos (como a garantia de compatibilidade directa com o sistema de informação no âmbito de todo o SNS, que a informação precisará de ser comparada!), não afasta o princípio de que ninguém domina a informação como quem a gera, concebe e lhe define os processos de recolha e de tratamento. Percorrendo a informação todo, absolutamente todo, o périplo da problemática hospitalar e indo mesmo para além dos seus limites, deveria ser uma área de cujo domínio a PPC não deveria abrir mão. De igual modo, deveria ser posto maior empenho no reforço da capacidade própria de controlo e de avaliação, até porque o recurso a consultores externos não deixa de representar um risco adicional de promiscuidade e falta de isenção, tendo, inclusive, merecido reparos na auditoria do TC. Definir, controlar e avaliar são responsabilidades próprias do SNS e que o MS não pode alienar. Todos o sabem e há muito tempo que o dizemos, não é assim?
Aidenos
PS:
É um ponto em que não deveria haver hesitações, por ser necessário avançar depressa. De qualquer modo já é de saudar o reconhecimento de MT, de que a Cotovia nos dá conta:
“O que falta
— Aumentar a capacidade técnica do Estado para gerir e avaliar os contratos;
— Alterar o paradigma de avaliação na óptica do processo para uma avaliação na óptica dos resultados”. (
Comentário em HHsPPP, sem gestão clínica, de 15.03.2008)

Etiquetas:

10 Comments:

Blogger saudepe said...

Um grande texto sobre o tema tão polémico das PPPs.

É necessário discutir esta matéria sem a ganga ideológica que tolhe o pensamento.
É fundamental, isso sim, o conhecimento do terreno, dos problemas que afectam o SNS, que tanto o Aidenós como o Brites dão provas.
Só assim é possível avançar na análise do que deve ser o futuro do SNS. Um SNS mais eficiente e mais justo. Embora o prescindir de preconceitos, aceitar o que é novo nos faça, por vezes, doer.

O grande mérito deste sítio é a liberdade de pensamento. De contribuição de algumas reflexões importantes e úteis para o avanço, a melhoria do nosso SNS.
Ao Aidenós, uma vez mais, bem haja.

1:06 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Somos uma economia aberta.
30% do Novo Hospital de Cascais já pertencem aos espanhóis.

USP HOSPITALES CELEBRA O ACORDO FINAL PARA SE ASSOCIAR À CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS COM VISTA À SUA ENTRADA EM PORTUGAL

Após o acordo de intenções obtido em Dezembro, as sociedades celebraram o acordo definitivo. A sociedade espanhola adquire 25% do capital social do grupo hospitalar português, enquanto o Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD) assume 10% do capital social da USP Hospitales O acordo envolve igualmente a celebração de um importante contrato para a assessoria da Hospitais Privados de Portugal (HPP), filial de cuidados de saúde da Caixa Geral de Depósitos, proprietária de seis centros privados localizados em todo o eixo de Portugal

Barcelona, 6 de Junho de 2007. – A USP Hospitales associou-se à holding de prestação de cuidados de saúde do Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), instituição financeira líder do mercado português e proprietária da Hospitais Privados de Portugal (HPP), uma rede de hospitais privados, constituída em 1998 e com presença ao longo de todo o eixo de Portugal.

Após o acordo de intenções obtido em Dezembro, as sociedades celebraram o acordo definitivo que implica, por um lado, a entrada da USP Hospitales no capital social da HPP, com a aquisição de 25% e, por outro, a compra de 10% do capital da USP Hospitales por parte da CGD. A formalização da operação incluiu igualmente a assinatura de um importante acordo de assessoria através do qual a USP Hospitales transferirá para a gestão da HPP todo o seu know-how e assessoria no campo da tecnologia, gestão de saúde e empresarial.

A HPP dispõe de seis hospitais privados, localizados ao longo de todo o eixo Portugal nas cidades de Lisboa, Porto, Sangalhos (Coimbra), além de locais turísticos como Lagos e Faro, no Algarve. Além disso, a sua forte posição concorrencial no sector privado abrange igualmente o sector público, graças aos quatro projectos de Public Private Partnerships (PPP) pelos quais está a optar, sendo o do Hospital de Cascais o que está mais avançado e com excelentes perspectivas.

Para a USP Hospitales, a operação representa uma importante oportunidade, tendo em conta, por um lado, as expectativas de crescimento futuro do mercado dos cuidados de saúde português e, por outro, a possibilidade de continuar a reforçar a sua linha de saúde turística. O seu bom posicionamento em termos de quota de mercado, os seus bons centros e bons profissionais tornam a HPP no sócio ideal para que a USP Hospitales possa desenvolver o seu modelo de negócio em Portugal.

Acerca da HPP e USP Hospitales

A HPP foi fundada em 1998 e no mesmo ano adquiriu o seu primeiro hospital (Hospital Privado dos Clérigos). Actualmente, conta com sete centros de saúde, dos quais seis são hospitais: Hospital Privado da Boavista (Porto), em ampliação; Hospital Privado dos Clérigos (Porto), Hospital Santa Casa da Misericórdia de Sangalhos (Sangalhos), Hospital Privado de Ortopedia (Lisboa), Hospital dos Lusíadas (Lisboa), em construção com 160 camas e inauguração prevista para o segundo trimestre de 2007; Hospital Privado de S. Gonçalo de Lagos (Algarve) e Hospital Privado de Santa Maria de Faro (Algarve), registando uma facturação de 54.2 M e um EBITDA de 6.3 M em 2006. Actualmente, a sociedade dispõe de um total de 238 camas que se passarão para 524 após conclusão dos novos projectos em curso. A HPP conta com 1.450 empregados, dos quais 550 são médicos.

Fundada em 1998 pelo seu Presidente e Administrador Delegado, Gabriel Masfurroll, e com sede em Barcelona e escritórios em Madrid, a USP Hospitales é presentemente o grupo hospitalar com capital maioritariamente espanhol líder em Espanha com uma rede de 33 centros de saúde espalhados pelas cidades de Badalona, Barcelona, Adeje, El Ferrol, Gerona, La Coruña, Madrid, Marbella, Múrcia, Palma de Maiorca, Santa Cruz de Tenerife, Santiago del Teide, Sevilha, Tarragona, Torrevieja e Vitoria. Com 3.500 empregados e 2.500 médicos, a rede hospitalar atende anualmente mais de um milhão de pacientes e regista 180.000 internamentos, 70.000 intervenções cirúrgicas, 8.500 partos e 200.000 urgências.

Desde a sua fundação, o grupo desenvolveu uma política activa de investimentos que ascende a 270 milhões de euros e facturou, no fecho do exercício de 2006, 236 milhões de euros com um crescimento do resultado líquido de exploração ou EBITDA (40 milhões de euros). Para 2007, a facturação prevista é de 300 milhões de euros.

Será que o Hospital de Cascais ainda virá a chamar-se Hospital de Cascais, Gabriel Masfurroll (HCGM) ?

4:42 da tarde  
Blogger MSR said...

Discutir,polemizar sobre qualquer tema é prova de vitalidade e discernimento de uma sociedade.Contudo,parece-me que algumas das observações sobre as PPP, revelam que quem as faz nunca leu os cadernos de encargos das mesmas.
Por outro lado,a recusa das PPP,liminarmente,significa que o sector público é que promove a qualidade,equidade,eficácia e eficiência?Se é a que conheço,é melhor emigrar já!
Há aqui muito lastro ideológico dos "40 anos de obscurantismo" e ideias feitas:é mais importante ser atendido como pessoa,com resultados adequados, ou discutir quem paga a quem nos atende?
Alguém discute a quem pertence o restaurante onde almoçam, ou o que interessa é a qualidade e preço da refeição?

7:37 da tarde  
Blogger Tá visto said...

Saudando Aidenós pela qualidade da reflexão aqui apresentada sobre as PPP, percebe-se que concorda com o caminho traçado por CC/LFP/CC na reforma hospitalar, alertando porém para a necessidade do Estado acautelar o interesse público através de melhoria da qualidade e da eficiência de mecanismos de regulação e contratação de serviços. É o mínimo que se pode exigir perante o constante desacerto nas contas com o Amadora-Sintra. E, opções ideológicas à parte, é aqui que a “porca torce o rabo”. Quem vai fazer esse controlo? Uma Entidade reguladora da Saúde que ainda não conseguiu sair do anonimato, decorridos 3 a 4 anos desde a sua criação? As ARS? Um qualquer órgão central do MS? E não havendo concordância, quem vai dirimir os conflitos? É que a história da fábula do rã e do lacrau é mesmo para levar a sério, basta recordar declarações públicas de responsáveis dos grupos económicos no sector para perceber que o interesse público está longe de ser a sua principal motivação.
As reflexões de Saklerides e as citações de “O Hospital Português” sobre o hospital público são conhecidas de todos nós e só por maldade a sua degradação e ineficiência pode ser atribuídas em exclusivo aos dois ex-ministros em causa. Mas, verdade seja dita, à parte reformas no estatuto jurídico e da gestão, pouco ou nada fizeram para o contrariar? No livro “Doença da Saúde” Manuel Antunes aponta com clareza as causas da ineficiência do hospital público, fazendo sobressair os conflitos de interesse público-privado, o mesmo é sublinhado por Antóno Arnault sempre que sobre o assunto é chamado a pronunciar-se, Filipe Meneses veio recentemente dizer o mesmo. E, neste particular, o que é que se fez? Hoje mesmo profissionais médicos com responsabilidades de direcção em hospitais públicos ocupam funções idênticas nos grupos privados em constituição; gestores mudam-se de um lado para o outro de um dia para o outro (não seria recomendável que se respeitasse um período de nojo). A lei-quadro das convenções, com as incompatibilidades que se exigem, está em gestação há anos. A política salarial é a mesma de sempre, com directores de serviço mal pagos e consequentemente em part-time (ao contrário também serve). É que assim, com tão fracos zeladores da coisa pública, qualquer sistema privado consegue provar.

8:55 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Caro MSR

«Alguém discute a quem pertence o restaurante onde almoçam, ou o que interessa é a qualidade e preço da refeição?»

A metáfora, nem a despropósito!
Se assim fosse, bastava saber quem pagava os almoços e o negócio seguia vento em popa.

Mas na Saúde a coisa fia mais fino.

O bem Saúde tem características muito especiais e não pode ser tratado como mera bugiganga mercantil. Requer uma especial protecção do Estado.
Basta conferir o que se passa no EUA, o país que gasta mais em Saúde, e que, apesar disso, apresenta maus indicadores entre os países da OCDE. E que deixa de fora de qualquer sistema de cobertura, milhões de cidadãos.

Basta acompanhar o debate sobre a Saúde que tem acontecido nas eleições primárias.
Os EUA a quererem fugir do sistema que têm. Entre nós, alguns pseudo liberais a quererem empurrar o barco para o abismo.

2:59 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Excelente texto de aidenos.

O que ninguém percebe (se calhar alguns percebem mas não explicam) é o boom do volume de negócios oriundos da Private Finance Initiative – Portugual 2008-10 e as previsíveis "Health sector issues"...

Já para não falar de previsões estatégicas desse período:
Ultrapasassar os resultados (melhorar a saúde da população) e reduzir aas desigualdades em saúde entre todos...

Trabalhar para anenizar as strategic health disabilities que de vão acentunado e acantonando na Saúde (em Portugal)

O texto de tambemquero é, também, exemplar.
Com um SNS hospitalar sendo saking pelos grandes interesses (corporizados pelas PPP's), os CSP em risco de pré-falência técnica apaesar de incentivos, mostram como, em Portugal, é fácil jugular a reforma pública.

A iniciativa privada aproveita o Knout-how médico, o clinical management, un excellent profissional competence, ..., para montar o vistoso stablishment que será sumariamente transicionado em Espanha. (gestão clínica incluída).

Also, global disability...

4:19 da tarde  
Blogger Clara said...

Tempo de Medicina (TM) — Fala-se cada vez mais em cumprir objectivos, alcançar resultados. Como é que encara este discurso?

«CM» — A preocupação económica é importante para pormos fim aos gastos hospitalares que nos envergonham, mas devemos ter a perspectiva de servir a comunidade com um sentimento de serviço público. Se não estipularmos objectivos e metas, podemos ter uma política desgovernada. Temos o exemplo dos gastos com medicamentos, o excesso de antibióticos administrados à população erradamente. Se houver um controlo economicista no uso de antibióticos, por exemplo, se os médicos se virem obrigados a justificar por que é que dão determinada medicação, podemos estar a corrigir coisas que são muito prejudiciais para a população.

«TM» — A justificação, por norma, é a falha nos cuidados de saúde primários...

CM — E cada vez mais nos apercebemos de que a aposta tem de ser mesmo na rede de cuidados primários. O que nos ensinam é que se não é preciso prescrever um antibiótico, não se prescreve. Parece-me que a rede de cuidados primários melhorou muito com as USF e acho que a resposta pode vir por aí.

«TM — Ainda acredita que o Serviço Nacional de Saúde pode continuar a ser tendencialmente gratuito?

CM — Acredito que sim. Penso que essa deve continuar a ser a aposta. Há muitas franjas da população que têm acesso totalmente gratuito, mas existem outras que também deveriam ter.

«TM» — Acha que, dentro de 25 anos, vai ter as mesmas condições, a nível financeiro e até de prestígio social, que tem hoje um médico de 50 anos?

CM — Nós ouvimos os médicos mais velhos dizer-nos “isto para vocês é que está complicado”. Entendo que vamos ter mais dificuldades, mas não acho que isso seja obrigatoriamente errado. Não me sinto muito preocupada com isso. Em relação ao estatuto, ele já hoje é diferente em relação ao que era há 20 anos. Vejo a profissão com muita nobreza e responsabilidade, mas não acho que tenha de ter qualquer estatuto de privilégio.

«TM» — Acredita que a prática médica deve ser mais escrutinada?

CM — O médico deve ser avaliado e alvo de uma formação contínua. O que eu sei agora vai valer metade daqui a 10 anos, face à evolução dos tempos, pelo que a profissão médica não deve estar à margem de avaliações e da profissionalização constante. O problema é que, muitas vezes, os médicos não conseguem dar resposta. É difícil diagnosticar um doente em 15 ou cinco minutos, tal como não é possível fazer 40 consultas em três horas. Não se podem só estipular objectivos para fazer mais por menos dinheiro.

Claúdia Melo, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina

6:30 da tarde  
Blogger tambemquero said...

«Tínhamos ministro a mais, agora parece que temos ministra a menos»

Afirmou Menezes, no final de uma visita ao Centro de Saúde de Vieira do Minho.

«Viemos visitar uma unidade de saúde do interior do país para alertar que estamos a passar de uma fase em que existia uma política algo voluntarista
e muito contestada para uma situação preocupante de ausência de política».

Luís Filipe Menezes pede também ao Governo para apostar nas unidades de saúde do interior do país.

«A expansão das unidades de saúde familiar está a tardar a chegar ao interior, é necessário que sejam criados incentivos complementares para que os profissionais de saúde se mobilizem para vir para o interior».

Para Menezes, «o actual modelo não é transportável do litoral para o interior nas actuais condições», frisando que se «corre o risco de ter uma saúde de primeira (no litoral e grandes cidades) e de segunda (no interior)».

Na perspectiva do presidente social-democrata, «não está a haver capacidade de recrutamento de profissionais» de saúde para as zonas do interior do país, recordando que a luta pelo desenvolvimento das áreas mais afastadas do litoral é «uma cruzada do PSD».
tsf 17.03.08

12:35 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

Aqui está!
Cumpra-se o nosso destino se somos bons na pinga.

O vinho Syrah 2005 da Casa Ermelinda Freitas, de Palmela, foi considerado o melhor vinho tinto do mundo pelos enólogos franceses, que saborearam mais de 3 mil vinhos de 36 países.

O vinho de Palmela foi o grande vencedor do Vinailes Internacionales 2008, um evento que se realizou em Paris.

Conforme adianta o semanário Sol, o Syrah 2005 foi produzido pela Casa Ermelinda Freitas, sendo que, nos últimos anos, a adega familiar fundada em 1920 conquistou 18 medalhas de ouro, 21 de prata e 14 de bronze em concursos internacionais.

8:57 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Ministra admite que negociações com enfermeiros deverão encerrar hoje com sucesso
18.03.2008 - 13h16 Lusa
A ministra da Saúde, Ana Jorge, admitiu hoje que as negociações com os sindicatos dos enfermeiros em relação ao Modelo B de funcionamento das Unidades de Saúde Familiares (USF's) deverão concluir-se até ao final do dia para entrar em vigor em Abril.

"Estão a decorrer as negociações com todos os sindicatos, hoje esperamos que encerrem porque há um bom ambiente de negociação", disse a ministra no Porto, referindo que os incentivos remuneratórios previstos mo Modelo B "serão aplicados a médicos, enfermeiros e administrativos das USF's". Ana Jorge falava aos jornalistas no final de uma sessão de apresentação do plano estratégico em desenvolvimento no Hospital de S. João, Porto.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) tinha ontem admitido o acordo com o Ministério da Saúde sobre os incentivos nas Unidades de Saúde Familiar, depois de a tutela ter aceitado separar suplementos financeiros de resultados institucionais.

Há cerca de um mês, a nova ministra da Saúde apresentou aos parceiros um projecto de portaria que define os incentivos financeiros para enfermeiros e administrativos das Unidades de Saúde Familiar (USF), que foi recebido com reticências pelos sindicatos e pela Ordem dos Enfermeiros. A principal crítica foi a dependência entre os pagamentos e as acções praticadas pelos clínicos, já que os suplementos financeiros ficariam subordinados aos resultados institucionais, que têm de ser cumpridos por todos os elementos da equipa.

Guadalupe Simões, do SEP, admitiu a assinatura de um acordo com a tutela, na última ronda de negociações, "depois do volte face da última reunião (dia 10), em que o secretário de Estado assumiu alguns compromissos, como o deixar de haver conexão entre os incentivos financeiros e os [resultados] institucionais".

Hoje a ministra da Saúde reconheceu que foram realizadas "pequenas alterações" que vão de encontro a algumas reivindicações dos enfermeiros.
TSF 18.03.09

1:18 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home