quinta-feira, maio 29

Alegre Estado



Abaixo el-rei Sebastião

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.


Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair o porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre

8 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Não há pedra da roseta que lhe valha!

12:07 da manhã  
Blogger Clara said...

A brincadeira do Xavier está feliz.

(…) No que diz respeito às políticas de Saúde e ao desenvolvimento da relação de parcerias na prestação de serviços de Saúde, alguns opinadores nacionais parecem ignorar que, por exemplo, cerca de 50% dos cuidados de Saúde primários na Suécia são prestados através de gestão clínica privada. Na Alemanha, mais de 90% dos cuidados de saúde em ambulatório são prestados em regime de gestão clínica privada. Em Inglaterra, mais de um quarto das cirurgias no âmbito de vários programas de combate às listas de espera são realizadas através de gestão clínica privada. Na Holanda, desde 2006, 99% da prestação de cuidados de saúde é oferecida através de gestão clínica privada. Aqui, o Estado abandonou a gestão clínica pública e concentrou-se na regulação, promoção do acesso universal e garantia da qualidade dos cuidados de saúde prestados. Em França, que viu recentemente o seu sistema de saúde classificado como o melhor do Mundo, o cidadão pode escolher o prestador que quiser independentemente de prestar cuidados em regime de gestão clínica privada ou pública. É este sistema que tem ensinado o mundo como utilizar o potencial do ‘mix’ público-privado no financiamento dos melhores cuidados à sua população. Algo com que todos nos preocupamos. Podia continuar a referenciar evidências em outros países europeus que, por vezes, e de forma claramente incoerente, servem de “inspiração” para alguns “politiqueiros” cá do burgo. Mas, ao que parece, só quando convém ao argumento e efeito retórico do momento. Por questões de gestão de espaço nesta pequena reflexão quinzenal, fico-me por aqui.

Seria natural uma abordagem sobre o Estado, o Estado socialista. Mas nada. Sempre a mesma preocupação politiqueira. A tentativa de espremer o limão sem deitar sumo. Promoção das relações de complementaridade com o sector privado e nada mais.

12:55 da tarde  
Blogger Clara said...

Embora inconfundível, esqueci-me de identificar o texto anterior.

“Manuel Alegre é um símbolo da luta pela liberdade de expressão. Mas a sua visão sobre o papel do Estado está ultrapassada.”
DE 29.05.08 link

Candidato indiscutível ao Sicko 2008 rewards

1:35 da tarde  
Blogger e-pá! said...

O MITO SEBÁSTICO
ou
AS TENDÊNCIAS MESSIÂNICAS?

O problema de Manuel Alegre é, fundamentalmente, um:
O Estado deve redistribuir os rendimentos que colecta através dos impostos de maneira justa e equitativa. E deve fazê-lo bem.
Ele, Manuel Alegre, não sabe exactamente como e poucos saberão.
Mas para alguns, PKM p. exº., há um endosso marcado - entregá-lo ao capital financeiro. Este saberá - como se tem visto até qui - como fazê-lo, nem que seja através de off-shores.

O sebastianismo foi (é ainda?) a marca de água da utopia portuguesa. Da política, primeiro, da cultura, depois e finalmente, da identidade.
O capitalismo "amançou-o", mas proliferam resquícios, por todo o lado, neste País.

A pergunta pertinente, foi feita há alguns anos, por João Paulo Pereira da Silva, e é:

"Será o Sebastianismo a utopia de um Povo infeliz e secularmente oprimido (pela Coroa, pela
Igreja, pelo Estado, por ditadores, por potências estrangeiras, potentados económicos, etc.), mas
igualmente pouco ou nada habituado a ser dono do seu próprio destino e que se sente
eternamente órfão de um líder iluminado, que o encaminhe, num futuro mais ou menos distante,
para um horizonte de glória?

Qualquer coisa que nos leva ao encontro do acutilante poema de José Régio:

CÂNTIGO NEGRO

"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.
(José Régio)

2:52 da tarde  
Blogger Tá visto said...

O que PKM omite é que o nosso SNS já foi classificado como o 5º melhor do mundo pela OMS. Se temos um sistema de saúde que provou, por que não proceder a ajustamentos e adaptá-lo às novas necessidades em vez da imprudência de mudar o modelo por completo? Que me desculpe, valorizo mais a avaliação da insuspeita organização internacional que a classificação da Health Consumers Powherhouse (HCP), onde os modelos de saúde tipo Bismark apresentam melhor desempenho que os tipo Beveridge (a ter em conta que os países escandinavos apresentam resultados praticamente idênticos).
Uma das razões que me põe de pé atrás relativamente à HCP é o facto de terem tido a preocupação de comparar o desempenho do modelo Canadiano (tipo Beveridge) com o os dos países comunitários em 2008, ignorando o dos E.U.A. Justificam-no por o Canadá ter um modelo idêntico ao dos países da CEE e pasme-se, por o problema da Saúde estar a ser alvo de intenso debate naquele País. Mas haverá alguma nação da OCDE onde as questões da Saúde sejam alvo de mais acesa discussão política que os E.U.A.? É evidente que não convinha à HCP, para quem o acesso ao consumo tem um peso importante na pontuação dos sistemas de saúde, por a nu o que se passa no País onde a filosofia consumista adquire maior expressão e onde o Estado mais se demite das suas funções sociais.
Quanto ao facto de PKM dizer que Alegre tem uma visão ultrapassada e desfasada da realidade europeia relativamente ao papel do Estado, recomendo-lhe que leia a última entrevista de Mário Soares ao DN.

6:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Clara concordo, inteiramente, consigo sobre PKM: …”Seria natural uma abordagem sobre o Estado, o Estado socialista. Mas nada. Sempre a mesma preocupação politiqueira. A tentativa de espremer o limão sem deitar sumo. Promoção das relações de complementaridade com o sector privado e nada mais”…Permita-me contudo uma sugestão. Não tenha esperança nisso porque o PKM não conseguirá nunca fazê-lo. Os limites do seu pensamento afunilam (por defeito) apenas na propaganda demagógica de como diz o eh-pá: “um endosso marcado-entregá-lo ao capital financeiro”…Para além dos erros ortográficos “rápidamente”, “júridica” (o DE não terá corrector automático?) PKM vai-nos entretendo com uma espécie de doutrina “fast-food” e evidência “tailor-made” qb para agradar aos “aparelhos” de interesses que o fascinam mas que, aparentemente, nada lhe querem…

8:53 da tarde  
Blogger alen-tejano said...

Continuando em jeito de poesia, acerca do tema.

"De repente a minha vida"

...De repente a minha vida
sumiu-se pela valeta...
Melhor deixá-la esquecida
No fundo de uma gaveta...

(Se eu apagasse lanternas
Para que ninguém mais me visse,
E a minha vida fugisse
Com o rabinho entre as pernas?...)

1915 Mário de Sá Carneiro

1:09 da manhã  
Blogger lula da silva said...

PKM ganhou mais um crítico odioso e mesquinho: beveridge. Mas todos vemos que é um abuso utilizar esse pseudónimo para fazer comentários tão mediocres. Beveridge recusa discutir ideias insistindo no insulto à pessoa.

Nem a clara nem o beveridge devem ter tido oportunidade ler o livro 'Public health policy in Action' (de acordo com notas na página pessaol da ENSP podem-no adquirir em www.amazon.com). neste livro poderão ler sobre a posição socialista de PKM. É um livro "pesado" mas que, em mais de 400 páginas, explora as ideologias da saúde para além da visão ultrapassada do socialismo e intervenção social. PKM mostra-se, nese livro, um grande admirador de Habermas! Por isso, o comentário da Clara, repetido pelo beveridge, é uma... inverdade.

A menos que não saibam quem é Habermas (neo-marxismo, meus amigos, já ouviram falar?).

PS: não vale a pena. Vão-se meter com o Prof. Miguel Gouveia que é muito mais simpático que o PKM.

1:19 da tarde  

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