terça-feira, maio 27

MD, na hora da despedida


Dezasseis anos depois deixo as funções de liderança da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
Foi um longo caminho, talvez excessivo, com vários tempos: o da aprendizagem e do entusiasmo, o da consolidação de uma imagem séria e credível dos Administradores Hospitalares, com o apoio de muitos colegas e de muitas entidades públicas e privadas com que nos relacionamos, o das dificuldades e da resistência, face aos que recearam sempre a nossa força, desdenharam da nossa competência ou invejaram a nossa formação profissional.
Realizámos, ao longo destes anos centenas de iniciativas, na área da divulgação do conhecimento, do debate público e da formação.
Associamo-nos a parceiros congéneres internacionais, europeus, americanos e dos países de língua oficial portuguesa, e assumimos na última década a liderança da Associação Europeia de Directores de Hospitais.
Vivemos hoje tempos difíceis para a profissão, a exigir uma nova visão para a carreira e para os profissionais que representamos. Com abertura, flexibilidade e imaginação. Sem preconceitos ou tiques corporativos que só nos prejudicam.
Presto a minha homenagem sincera e emocionada a todos os que mais de perto me acompanharam neste percurso, sempre com enorme confiança, incondicional lealdade e pronta e total disponibilidade. Confio plenamente na qualidade, na competência e na dedicação da nova Direcção, ciente que saberão encontrar, sem rupturas ou convulsões, novos caminhos mais ajustados aos desafios que já aí estão. Podem contar sempre com o meu empenho, a minha amizade e a minha lealdade, na defesa dos valores e do espaço para o exercício digno e reconhecido da profissão de Administrador Hospitalar.

O que fazem os hospitais?
Duas notícias recentes sobre a actividade dos Hospitais, provocaram intenso debate público e a intervenção dos partidos políticos: as listas de espera em oftalmologia e a realização de cirurgia da mama, exclusivamente estética, num grande Hospital Universitário.
Se o primeiro facto, significa incapacidade de resposta do SNS para intervenções de clara e objectiva necessidade, o segundo, a confirmar-se, surpreendentemente, revelará excesso de recursos em cirurgia plástica, falta de doentes e a generosa disponibilidade do Serviço para operar pessoas saudáveis, apenas por questões de conforto.
Não deixará de ser interessante associar estas duas realidades:
1. A iniquidade que resulta da falta de resposta do SNS para os mais necessitados, em contraste com o “privilégio” que é dado a pessoas “especiais” para serem operadas aos seios, porque não se sentem bem com a sua situação.
2. O desperdício de recursos, comum nos dois casos:
a) na oftalmologia, porque se admite que com os mesmos recursos (pessoas, equipamentos, instalações)
se poderia fazer muito mais;
b) na cirurgia plástica, porque os recursos, aparentemente sem melhores destinatários, são utilizados
para satisfazer caprichos pessoais.
Em qualquer circunstância estamos perante cenários inaceitáveis, que importa, ética, social e economicamente, corrigir.
O SNS é essencial para a saúde dos portugueses e não pode ser desvirtuado por inexplicáveis dificuldades
de acesso ou pela chocante utilização supérflua por parte de um grupo específico de privilegiados.
E aqui todos temos responsabilidades: as direcções dos Serviços, as administrações hospitalares, as ordens profissionais e o poder político. Tenhamos todos a coragem de reconhecer os problemas e propor soluções, mesmo que elas mexam com interesses que sistematicamente se reverenciam.
Manuel Delgado, GH n.º 35

Comentário: MD, contribuiu, como refere, ao longo de dezasseis anos à frente da APAH, para a "consolidação de uma imagem séria e credível dos Administradores Hospitalares". Fê-lo com competência e dedicação. Arrisco: Fica como o projecto mais marcante da sua carreira. Prá história: A APAH, a carreira e os AH, finam-se com ele.

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1 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Coimbra tem mais encanto, na hora da despedida.
MD o grande guru da gestão hospitalar está a bater em retirada para onde?

8:03 da tarde  

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