quarta-feira, maio 28

Entrevista

Ao novo presidente da APAH.

(...)Gestão Hospitalar (GH) A questão do Financiamento hospitalar está, há muito tempo, na ordem do dia. Pensa que as alterações que se têm registado, neste domínio, têm dado resultados positivos?
Pedro Lopes (PL) – As alterações no financiamento hospitalar observadas nos anos mais recentes parecem-me positivas.
Sem esquecer a Dr.ª Maria de Belém que manifestou preocupação sobre a matéria, foi com o Dr. Luís Filipe Pereira que o assunto mereceu tomada de medidas. As alterações à Lei de Gestão Hospitalar foram o ponto de partida para a empresarialização dos hospitais com grande relevância nas matérias de financiamento hospitalar, designadamente com o estabelecimento dos contratos-progama para o financiamento dos hospitais. Foi, no entanto, no mandato do Dr. Correia de Campos que este instrumento de trabalho se aprofundou e solidificou. Não podemos esquecer que foi, justamente, no seu mandato que, pela primeira vez, os hospitais foram dotados de orçamentos de exploração muito próximos dos verdadeiros custos dos hospitais.

GH Os hospitais públicos têm conseguido reorganizar-se? Os administradores hospitalares têm alcançado resultados positivos, neste campo, ou o mérito é do Governo?
PL – É claro que os hospitais públicos se reorganizaram. E fizeram-no de tal forma que a imagem passada à população de que os mesmos eram ingovernáveis parece estar a diluir-se. Com efeito, os resultados mais recentes obtidos pelos hospitais públicos são francamente positivos e até implicaram mudança de políticas do governo (não inclusão da gestão privada nas PPP; igualdade de oportunidades público/privado na área das convenções).
Reconheço, no entanto, que esta atitude no campo da gestão pública hospitalar ficou a dever-se, sem dúvida, à abertura que os mais recentes elencos ministeriais concederam à gestão privada. A competição nos dias de hoje é bem mais efectiva do que nos períodos antecedentes.
O mérito é do governo e dos outros actores do processo nos quais se incluem, claramente, os administradores hospitalares.

GH Que alterações gostava de ver concretizadas nos hospitais?
PL – Um grau mais elevado de profissionalização dos agentes gestores dos hospitais. Muitas vezes os Conselhos de Administração são constituídos por pessoas que nunca tiveram qualquer contacto com a área da saúde.
Ao nível da gestão intermédia também é importante profissionalizar os seus agentes. A reorganização interna dos hospitais é fundamental.
Até ao momento, as reformas na área hospitalar foram sempre ao nível macro, ou seja, da gestão de topo. Só houve um momento em que as preocupações ministeriais, quanto à gestão intermédia dos hospitais, teve lugar e esse momento, aconteceu durante o mandato da Dr.ª Maria de Belém.
A criação de centros de responsabilidade nos hospitais, dos quais ouvimos falar pontualmente, era um desiderato e fazia parte das linhas estratégicas da governação daquela ex-Ministra da Saúde.

GHComo analisa as relações actuais entre os administradores hospitalares e os médicos – particularmente os Directores de Serviço?
PL – As relações entre os médicos e os administradores hospitalares foram sempre muito positivas. Com esta afirmação não quero dizer que não sejam objecto de “crítica”. Às vezes por questão de personalidade a relação não será a melhor. Trata-se, no entanto, de casos pontuais. Os médicos sempre souberam qual era o seu papel no processo da gestão hospitalar. Nunca abdicaram dele mas sempre reconheceram a actividade específica e insubstituível dos administradores hospitalares. Não posso deixar de referir que no “meu” hospital são os Directores de Serviço que procuram a colaboração dos administradores e por vezes de “determinado” administrador hospitalar. Fazemos uma convivência muito saudável.
A relação com os Directores de Serviço é idêntica àquela que acabo de referir. É claro que existem Directores de Serviço mais “presentes” e menos “presentes”, outros mais “disponíveis” e menos “disponíveis”.
Fundamental é criar uma equipe proactiva, eficiente e colaborante.
Marina Caldas, GH n.º 35

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1 Comments:

Blogger Tá visto said...

Do ponto de vista global é muito positivo o que é dito nesta entrevista pelo novo presidente da APAH, a quem cumprimento se for leitor deste espaço.
Realço a forma desanuviada como fala das relações entre gestores financeiros (administradores) e clínicos (médicos) personificados nos directores de serviço. É evidente que o seu trabalho só pode ser de complementaridade, devendo acabar-se de vez com o “paralelo 33” que existe nas cabeças mais corporativas de um e de outro lado. Falando como médico, concordo em absoluto que precisamos de aprofundar os conhecimentos em gestão hospitalar; discordo porém totalmente das mentes que o preconizam como forma de nos substituirmos aos gestores. Em resumo, diria que complementaridade sim mas “cada macaco no seu galho”.
Um outro aspecto que realço é o do reconhecimento de que a reforma tem sido assente apenas ao nível macro, o desenvolvimento dos centros de responsabilidade ficaram para as calendas e, sem a sua implementação, com a introdução de incentivos financeiros por desempenho que lhes estava associada, dificilmente se conseguirão melhorias quantitativas e qualitativas significativas na prestação de cuidados de saúde hospitalares.
Um senão, não percebo quando diz que a melhoria da gestão pública se deveu “à abertura que os mais recentes elencos ministeriais concederam à gestão privada”. Mas então “o estabelecimento dos contratos-progama para o financiamento dos hospitais e o facto dos hospitais serem dotados de orçamentos de exploração muito próximos dos verdadeiros custos dos hospitais” não são técnicas de boa gestão seja ela pública ou privada? Os administradores de carreira não possuíam estas ferramentas ou terá sido necessário Luís Filipe Pereira trazer gestores de fora, que se bem percebi critica por falta de sensibilidade para o sector, para interiorizarem as regras de boa gestão?

2:54 da tarde  

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