sábado, maio 10

SNS, profissionais exauridos


Há "uma degradação do estado psicológico dos trabalhadores" dos hospitais-empresa, o que poderá provocar "a perda de qualidade e humanismo" link

COMENTÁRIO:
A acompanhar a fragilidade do SNS, começam os indícios do desmoronamento profissional, em termos actuais, isto é, global.
Até aqui eram os médicos que se "entregavam" ao sector privado.
Hoje, ou melhor, já há muito tempo, que sabemos que os problemas de recursos humanos do SNS são de motivação, incentivos, satisfação profissional, progressão profissional e técnica (carreiras), remunerações, etc.
Nada foi feito desde há 10 anos pelos recursos humanos no sector da Saúde. Deixou-se apodrecer a situação.
Primeiro, surgiu o sector privado com capacidade de captar as frustações mais profundas e mais sensíveis que, sejamos, directos, dizem respeito ao sector médico.
Depois vão os técnicos.
Os AH foram, com toda a evidência, dos primeiros a desertar. Os mais expeditos ou mais bem encostados politicamente, ficaram pelo MS e apêndices.
Sem nada para fazer, descortinaram a culpa perene dos médicos que praticavam o pecado da promiscuidade público-privada, e como penitência, criaram os pontómetros. Os logo a seguir, rumaram para o sector privado.
Finalmemnte, uma grande parte ficou, muitos em comissão de serviço, e relegados para funções de certo modo distanciadas das estratégias dos CA.

Enfim, como nos versos de Adriano:
Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca, órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai.

Coração, que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará.
(Adriano Correia de Oliveira)
e-pá!

3 Comments:

Blogger ochoa said...

Estes estudos,estes inquéritos, valem o que valem. Depende de quem os faz e com que objectivos.

É natural que o pessoal das unidades que transitaram da pasmaçeira do SPA para EPE, sintam diferença.
Isto de cumprir objectivos, prestar contas dá o seu trabalho. Causa stress. Eventualmente, há muitos profissionais que nunca se vão adaptar.
Por outro lado temos os problemas resultantes de um sector da saúde em mutação acelerada determinada pela forte expansão do sector privado.

O mercado do pessoal de enfermagem inverteu a procura. Técnicos idem.
Falta o dos médicos. Lá chegaremos.

Não adianta chorar sobre o leite derramado. Temos de saber analisar, separar o que é fruto das inevitáveis transformações, da evolução e progresso do sector, das situações das quais podem resultar prejuízo para o sector e muito especialmente para o SNS. O que não é nada fácil por andarem normalmente de mãos dadas.

1:01 da tarde  
Blogger tonitosa said...

As mudanças têm sempre um custo. E é preciso bom senso dos decisores para que o saldo custo-benefício seja positivo. Em termos de Bem-estar estamos sempre àquem do óptimo Paretiano e por isso as sociedades devem progredir. As mudanças implicam, naturalmente, riscos e por isso é obrigação dos decisores minorar os efeitos negativos das decisões políticas.
Infelizmente assistimos a muitas tomadas de decisão feitas a olhar para "os umbigos" de decisores (ir)responsáveis com prejúizos da mais variada natureza para a maioria dos cidadãos. O saldo vai sendo negativo.
É isso que se tem verificado na saúde, quer sob o ponto de vista dos utentes, quer dos profissionais. Basta que nos "infiltremos" numa qualquer fila ou sala de espera nos Centros de Saúde e nos Hospitais para percebermos o "estado da Nação".
Descontentamento, filas de espera, listas de espera para consultas e cirurgia, deslocações demoradas e com elevados custos nas visitas a doentes, consultas adiadas, taxas de punição, mau atendimento, etc., ectc., fazem parte do rol de queixas que todos os dias se ouvem. E ás dúvidas sobre eficácia dos actos médicos estão também em crescendo!
E isto não é fruto da mudança da "pasmaceira" dos SPA's para os EPE's.
Isto é fruto de incompetência de que dirige a Saúde ao mais alto nível. Isto é fruto da falta de respeito pelo trabalho dos milhares de funcionários públicos que dia-a-dia vêm ser desconsiderada a sua "função de servidores do Estado/dos cidadãos" na defesa pela manutenção do poder por ministros e "altos dirigentes" que nunca souberam o que é "trabalhar"!

4:15 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Ochoa:

"É natural que o pessoal das unidades que transitaram da pasmaçeira do SPA para EPE, sintam diferença."

Será mesmo assim? Ou as diferenças (em resultados) não serão tantas?
As EPE's pelo menos no sector médico nada acrescentaram aos SPA. Ou melhor, se houve algum acrescento foi uma aceleração da queda qualitativa, uma degradação assistencial. Os objectivos são implacáveis e com stress o lucidez embota-se.
E daqui a 5 - 6 anos, não vamos ver , vamos sentí-la no pêlo.

O maior stress não é o prestar contas é trabalhar desorganizadamente.
Os profissionais médicos que trabalhavem em SPA's e EPE's, ontem "arrastavam-se" pelos HH's. Hoje, por um golpe de asa, segundo do Director Clínico do H. da Luz, são os melhores médicos do País.
Esta nossa incontrolável capacidade de transformar bestas em bestiais que deveria também ser objecto de um inquérito.
Sobre a procura e técnicos e de pessoal de enfermagem, vamos ver o que a evolução da emigração, neste momento ainda incipiente, como mostra o estudo, nos trará.
Muitos dos dentistas que se formaram nos últimos anos, já se foram.

O mercado é implacável!.

Nunca consegui ver um AH trabalhar com regularidade e persistência num Departamento ou num Serviço.
Acoitavam-se em gabinetes junto aos CA's.
Julgo que se o meu filho ou neto, chegar a ser médico, trabalhará em equipa com um AH ou um gestor.
A mesma esperança: Um dia chegará...

8:02 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home