Piquetes
Da democracia
Luís Campos e Cunha LCC), no artigo “Seis meses e três erros”, publicado no JP (13.06.08), analisa os erros recentes da governação de José Sócrates. link
Quanto às reformas sacrificadas na pré-campanha eleitoral, escreve LCC: «E, claro, (José Sócrates) começou a cortar as arestas às reformas. Já tinha cedido em várias áreas, mas tudo fica mais claro com a saída de Correia de Campos e o volte-face na educação. A percepção que existe, hoje, é de que a contestação faz o Governo recuar, mesmo quando as reformas estão, genericamente, correctas. Esta percepção é fatal e dá ânimo a novas manifestações quando não à violência e à arruaça. Ganha quem barafustar mais. Nos protestos de rua, a concorrência é selvagem e desenfreada. Errou ao pensar que, cedendo nas reformas, acalmava os protestos quando apenas incita outros noutras áreas.»
Talvez por isso, as declarações de hoje do primeiro ministro, José Sócrates, não me surpreenderam ao garantir, que as reformas no Serviço Nacional de Saúde são para manter, apesar da contestação. link
Será que José Sócrates leu o artigo de LCC? Ou, o primeiro ministro diz, simplesmente, estas coisas por dizer.
O certo é que do dizer a fazer vai um passo de gigante. E, sinceramente, penso que neste momento não há condições para garantir a continuidade das reformas do SNS. Por outro lado, as prioridades de agenda do primeiro ministro são, certamente, outras. Os movimentos cívicos contra o fecho das urgências (mais ou menos românticos) deram lugar aos bem organizados piquetes que ameaçam, a todo o momento, paralizar o país. Depois dos camionistas, temos a concentração de reboques, link a ameaça de paragem dos bombeiros link e a anunciada movimentação agrícola.
Há quem chame a isto democracia.
Quanto às reformas sacrificadas na pré-campanha eleitoral, escreve LCC: «E, claro, (José Sócrates) começou a cortar as arestas às reformas. Já tinha cedido em várias áreas, mas tudo fica mais claro com a saída de Correia de Campos e o volte-face na educação. A percepção que existe, hoje, é de que a contestação faz o Governo recuar, mesmo quando as reformas estão, genericamente, correctas. Esta percepção é fatal e dá ânimo a novas manifestações quando não à violência e à arruaça. Ganha quem barafustar mais. Nos protestos de rua, a concorrência é selvagem e desenfreada. Errou ao pensar que, cedendo nas reformas, acalmava os protestos quando apenas incita outros noutras áreas.»
Talvez por isso, as declarações de hoje do primeiro ministro, José Sócrates, não me surpreenderam ao garantir, que as reformas no Serviço Nacional de Saúde são para manter, apesar da contestação. link
Será que José Sócrates leu o artigo de LCC? Ou, o primeiro ministro diz, simplesmente, estas coisas por dizer.
O certo é que do dizer a fazer vai um passo de gigante. E, sinceramente, penso que neste momento não há condições para garantir a continuidade das reformas do SNS. Por outro lado, as prioridades de agenda do primeiro ministro são, certamente, outras. Os movimentos cívicos contra o fecho das urgências (mais ou menos românticos) deram lugar aos bem organizados piquetes que ameaçam, a todo o momento, paralizar o país. Depois dos camionistas, temos a concentração de reboques, link a ameaça de paragem dos bombeiros link e a anunciada movimentação agrícola.
Há quem chame a isto democracia.
6 Comments:
No dia 10 de Junho, Sócrates recebeu uma vaia. Banal, quase todos os primeiros-ministros acabam vaiados. O que é notável, no caso deste primeiro-ministro, é a velocidade com que passou de bestial a... digamos, péssimo.
Coisa diferente é saber se há verdadeiros motivos para assobiar o primeiro-ministro. Cada um terá os seus - e todos juntos são muitos -, mas convenhamos que, se formos totalmente honestos, a culpa da crise que se avizinha não é dele, a culpa da desigualdade que temos não é dele e a culpa do nosso atraso também não é dele. Ainda que lhe assaquemos uma pequena parte de culpa nisto tudo (e a sua arrogância não foi boa conselheira), manda a verdade dizer que Portugal cresceu economicamente, que a pobreza é menor (ainda que a desigualdade possa ser maior) e que, no geral, não estamos à beira da bancarrota, como já estivemos, por vezes, nos últimos 30 anos, além de várias vezes na nossa História.
As gerações actuais não sabem o que é uma verdadeira crise. Hoje, já têm à volta de 80 anos aqueles que passaram conscientemente pela II Guerra Mundial. Os que sabiam - mesmo em Portugal - o que eram senhas de racionamento, o que era pobreza extrema. Essa geração, que são os pais e os avós das gerações agora activas, construíram como puderam, aqui e na Europa destruída pela guerra (onde foi decisivo o apoio dos EUA), uma sociedade de abundância, quase sem pobreza, aberta aos imigrantes. Passaram sacrifícios em nome de todos nós, eram de famílias que morreram na guerra, em campos de concentração, que passaram fome, que andaram fugidos, que viveram em crise, mas que no meio da adversidade tinham ainda assim esperança no futuro e acreditavam que os filhos viveriam melhor do que os pais.
Hoje, quase ninguém aceita quaisquer sacrifícios, qualquer diminuição do bem-estar, ainda que seja em nome dos seus descendentes. Hoje, a receita é querer tudo, e querê-lo já! A ideia de uma recompensa futura, que é fundadora da nossa civilização judaico-cristã, esfumou-se nas brumas.
Ao mesmo tempo, o Estado social que os nossos antepassados construíram esboroa-se hoje na falta de natalidade, no prolongamento dos anos de vida, nas técnicas de saúde cada vez mais caras. Mas nada fazemos senão exigir mais e mais do Estado. E, se acaso alguém tenta reformar este estado de coisas, acaba assobiado ou caluniado num 10 de Junho qualquer.
É uma situação difícil, uma situação de crise. Mas pior do que a crise económica e do que a crise de representação da sociedade - bem presente no bloqueio dos camionistas em Portugal, Espanha, França, Itália - é a crise de valores em que mergulhámos.
Sem lideranças firmes e convictas que contrariem este imediatismo sem sentido, o destino dos líderes políticos é serem assobiados e maltratados. E o destino dos Governos é ceder àqueles que mais gritam, que mais prejudicam o país ou que mais violência ameaçam.
Infelizmente, não é por esta recusa de liderança, por este bloqueio no apontar de caminhos que os líderes políticos são assobiados. Quase sempre o são pelos piores motivos: por não destruírem mais ainda o legado que recebemos.
Nicolau Santos, semanário expresso n.º 1859 de 13.06.2008
Quando a grande bandeira da reforma da Saúde passou a ser a criação de camas na rede de cidados continuados (que rede?)parece poder dizer-se que sobre esta reforma do SNS está tudo dito.
E assim sendo vamos ficar (quase) só com o encerramento de serviços (meternidades, urgências e outros) e (quase) nada de novo e melhor equipado com excepção de melhorias (iniciadas de resto no anterior governo) em dois ou três grandes hospitais.
Continuam a predominar os Centros de Saúde de vão-de-escada e nem a anunciada intervenção em cirurgia das cataratas produziu até ao momento efeitos visíveis.
E ficaremos, claro, a contestação merecida! Seja a dos utentes do SNS, seja a dos transportadores, a dos bombeiros, dos pescadores e dos agricultores.
Só falta mesmo que o Povo - com excepção dos Nicolaus Santos do país, geralmente bem pagos - "venha para a rua gritar", juntando as suas vozes às de Manuel Alegre e Mário Soares.
Hoje, como no passado, deve continuar a valer o "direito à indignação".
Esperemos que, como no passado também, um dias destes, num corte de estrada qualquer, possam ver-se os deputados do PS fazendo como A. Vara e outros no bloqueio contra as portagens na ponte 25 de Abril, era C. Silva primeiro ministro.
Entretanto quem tanto criticou a "política do alcatrão" de Cavaco Silva, vai anunciando, semana sim semana não, novas e grandiosas estradas a juntar a outras obras faraónicas do betão armado.
«O Presidente da República, Cavaco Silva, congratulou-se hoje com o regresso da "ordem pública" e da "legalidade" ao país, depois de suspensa a paralisação dos transportadores de combustíveis e mercadorias.» link
Depois de o Governo ter resolvido a grave crise através da cedência às reivindicações dos líderes das arruaças, vem o PR declarar o regresso do estado de normalidade ao país.
Antes destas declarções, qual terá sido a intervenção de Cavaco Silva para a sua resolução?
Desconheço-as de todo.
Apesar de tudo o que se passou desde que este governo iniciou funções, começo a ter simpatia pelo primeiro ministro, José Sócrates.
A partidarite caracteriza-se por ser um quadro inflamatório que pode levar à cegueira (mesmo nos casos em não houve recurso a qualquer cirurgia das cataratas). Então não houve Reforma da Saúde? Imaginem então se tivesse havido…
Afinal nestes últimos anos pouco se conseguiu:
- A sustentabilidade do SNS (três anos consecutivos sem recurso a Orçamento Rectificativo apesar de um contexto orçamental fortemente restritivo);
- A reestruturação da Rede Hospitalar (empresarialização de médias e grandes unidades, criação de Centros Hospitalares, a alteração do modelo de gestão do Hospital Amadora-Sintra);
- O lançamento dos novos Hospitais (Braga, Cascais, Faro, Todos-os-Santos, IPO de Lisboa entre outros);
- A criação das Unidades de Saúde Familiar (com a efectiva diminuição do nº de utentes sem Médico de Família);
- A criação de novas Unidades Locais de Saúde;
- A extinção das Sub-Regiões de Saúde e a criação dos Agrupamentos de Centros de Saúde;
- A implementação (progressiva) de um SI transparente capaz de transformar 13 milhões de Utentes (virtualmente) inscritos em Listas nos (verdadeiros) 9,6 Milhões de Portugueses;
- A criação (pela 1ª vez) de uma Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados com milhares de camas a funcionar no terreno;
- A consolidação de medidas de política de medicamento que transformou o sistemático crescimento da despesa (nos Hospitais) acima de 10% para valores próximos dos 4% bem com a estabilidade no ambulatório;
- A maior quota jamais alcançada nas vendas de medicamentos genéricos;
- A instalação pela primeira vez de farmácias de venda ao público nos hospitais;
- A redução do nº de Utentes em espera de cirurgia e da respectiva mediana da forma mais significativa nos últimos cinco anos;
- A legislação sobre Procriação Medicamente Assistida;
- A legislação sobre o Tabaco;
- O Programa de Saúde Oral das Crianças, Grávidas e Idosos;
- As alterações do PNV;
- A reestruturação dos Cuidados de Saúde Mental;
- O Programa “A Consulta a Tempo e Horas”;
- etc, etc…
Com MFL tudo se resolverá (com muito menos trabalho) num passe de mágica (privatização) e alienação deste imenso (e tão trabalhoso) bem público…
Caro Tonitosa,
Deduzo do seu comentário que concorda com o que aconteceu com os piquetes a barrar outros camionistas que queriam ir trabalhar.
Para já a tentativa de fritar o primeiro ministro em lume brando fracassou.
Vamos estar atentos aos próximos capítulos.
Helena,
Não discordo com o que aconteceu com os piquetes. Apenas discordo (lamento) que tenha havido uma morte, quanto a mim, por falta de intervenção atempada das autoridades.
E pergunto se não era isso que convinha aos responsáveis governamentais para, assim, virarem a a opinião pública a seu favor.
O primeiro ministro será, mais tarde ou mais cedo, mais um a abandonar o barco, frito em lume brando ou num forno crematório. Por muito que queira convencer-nos do contrário, o país está em grave crise e o aumento dos preços do petróleo não explica tudo.
Continuamos a pagar demasiados impostos sobre os produtos petrolíferos (a par de outros impostos elevados) e não vemos os frutos dos sacrifícios que nos são impostos.
Comparam-se os preços dos combustíveis com os de Espanha e a diferença é enorme. Mas nessas comparações nem sequer vemos referir, geralmente, a diferença entre os salários em Portugal e no País vizinho.
E são os trabalhadores por conta de outrém, quer se queira quer não, os que mais sentem o agravamento dos preços (de combustíveis e de bens alimentares) já que não têm forma de transferir esses acréscimos de custos para os empregadores, particularmente quando o desemprego é elevado.
Por isso, e porque não sou médico em regime liberal e não posso aumentar o preço das consultas (mais um antêntico saque!) sou solidário com todos os p+rotestos que visem fazer alterar as políticas do governo a favor das classes trabalhadoras a dos agregados de médios e baixos rendimentos.
Quanto a piquetes, cara Helena, lembra-se dos trabalhadores bloqueados na ponte 25 de Abril contra sua vontade? E lembra-se de que em muitos carros permaneceram crianças "à torreia do sol, que então se fazia sentir"? E lembra-se do apoio da oposição (nomeadamente do PS já com Sócrates no governo) ao bloqueio? E lembra-se do que então disse Mário Soares? E lembra-se da carga policial sobre os manifestantes e da reacção dos partidos da então oposição?
Se se lembra de tudo isso, não acha que todas as manisfestações (pacíficas) que agora possam e devam ter lugar só pecam por tardias?!
E perante o que no passado foi a sua conduta e do seu partido, acha que o PM J. Sócrates tem moral para criticar os protestantes de hoje?!
Por isso e por muito mais do mal para que o Páis tem sido conduzido, lhe digo, cara Helena, venham mais piquetes e mais bloqueios, já que de um governo arrogante e em maioria nada de bom se pode esperar!
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