Paulo Mendo
Categórico na oposição às Parcerias Público Privadas (PPP), defensor de um serviço público de qualidade, das carreiras médicas, e da criação de um orçamento próprio para a Saúde, capaz de fazer face à despesa, mas ajustado à capacidade económica dos contribuintes.link
GH: Recentemente o OPSS criticou o Estado dizendo que este financia o sector privado, não investindo, por falta de recursos, no serviço público. Concorda com esta análise?
Paulo Mendo: Concordo em parte. Desde o fim do Ministério de Maria de Belém que se assiste a uma viragem da política de Saúde deste país, caracterizada pela convicção de que uma nova política administrativa, que reorganize os órgãos centrais e que mude a gestão pública dos hospitais para gestão privada, controlada e dirigida pelo Estado, será a garantia da eficácia e sustentabilidade económica do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A reivindicação antiga e de largo consenso de que a administração pública na saúde e nomeadamente nos hospitais, devia dispor de mecanismos idênticos aos da administração privada, mas mantendo-se como serviço de Estado , com os valores e normas que definem a função pública, foi substituído por uma falsa privatização do serviço público.
O resultado, embora seja afirmado que é em defesa do SNS, está a gerar uma mega empresa burocrática sem alma, que os profissionais abandonam, centrada na gestão orçamental, na centralidade das decisões, na falsa autonomia das gestões institucionais, no contrato individual de trabalho e no fim das carreiras e dos acessos por concurso.
Esta destruição do SNS não tem sido feita por falta de recursos, mas por programa assumido. Disso, decorre naturalmente que quem progride, sem culpa, é o sector privado.
GH: O Governo anunciou, em Março passado, o fim das Parcerias Público Privadas para a administração de hospitais públicos. O que pensa desta decisão? Os hospitais EPE são a solução para o SNS?
PM: Sempre me opus às chamadas PPP que são, quanto a mim, a forma mais grosseira de misturar, em promiscuidade total, os sectores público e privado, com perda completa de capacidade de controlo e avaliação do sector público sobre o privado, sem possibilidade de exigência de qualidade como cliente e ainda por cima amarrado a custos incontroláveis.
O abandono, inopinado e não esperado, das PPP pelo governo não foi suficientemente explicado. Por isso, se estou de acordo com o abandono das parcerias, não sei se estarei de acordo com as razões que levaram o governo a denunciá-las.
A solução, naturalmente, não é os hospitais EPE, nem os hospitais SA. Os Hospitais de Estado são hospitais públicos que devem ter uma forma própria de gestão, centrada no desenvolvimento da autonomia dos serviços clínicos dotados de capacidade de planeamento, programação e concorrência externa, como terão que ser os hospitais deste século.
GH: O que é preciso para criar esses hospitais?
PM: Só a dignidade das carreiras profissionais, de concursos temidos e exigentes no acesso e ingresso nos quadros do Estado, a boa qualidade do funcionamento dos serviços, a capacidade e excelência na formação de profissionais, pode tornar o SNS um foco de atracção profissional e não de abandono, como sucede actualmente, e pode fazer do SNS o órgão central dominante do sistema de saúde.
GH: Apesar das criticas ao SNS, este representa, na sua opinião, a”jóia da coroa” da nossa democracia. Porém, não é essa a percepção da população portuguesa. O que está errado?
PM: O SNS é um dos “programas” de maior sucesso da nossa democracia. Nascendo numa altura em que Portugal tinha índices sanitários só comparáveis aos dos países do terceiro mundo, o SNS conseguiu em menos de trinta anos colocar Portugal no pequeno pelotão dos países com melhores serviços e melhores indicadores de saúde, a ponto de a OMS nos ter atribuído o 12.º lugar no ranking mundial dos serviços de saúde. E isso é não só sentido como expresso sempre que uma opinião é pedida àqueles que conhecem o SNS como clientes ou familiares de quem já utilizou os serviços.
O hábito nacional de apoucar as qualidades nacionais, atitude muito incentivada, direi mesmo procurada, pela comunicação social, leva a que inquéritos feitos ao conjunto da população mostrem resultados bem piores do que aqueles feitos a quem é ou foi utilizador. Aliás, os movimentos populares a que temos assistido, a propósito do fecho de maternidades e urgências, mostra bem a ligação desejada pelas populações que não querem diferente, querem melhor. (...)
Paulo Mendo: Concordo em parte. Desde o fim do Ministério de Maria de Belém que se assiste a uma viragem da política de Saúde deste país, caracterizada pela convicção de que uma nova política administrativa, que reorganize os órgãos centrais e que mude a gestão pública dos hospitais para gestão privada, controlada e dirigida pelo Estado, será a garantia da eficácia e sustentabilidade económica do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A reivindicação antiga e de largo consenso de que a administração pública na saúde e nomeadamente nos hospitais, devia dispor de mecanismos idênticos aos da administração privada, mas mantendo-se como serviço de Estado , com os valores e normas que definem a função pública, foi substituído por uma falsa privatização do serviço público.
O resultado, embora seja afirmado que é em defesa do SNS, está a gerar uma mega empresa burocrática sem alma, que os profissionais abandonam, centrada na gestão orçamental, na centralidade das decisões, na falsa autonomia das gestões institucionais, no contrato individual de trabalho e no fim das carreiras e dos acessos por concurso.
Esta destruição do SNS não tem sido feita por falta de recursos, mas por programa assumido. Disso, decorre naturalmente que quem progride, sem culpa, é o sector privado.
GH: O Governo anunciou, em Março passado, o fim das Parcerias Público Privadas para a administração de hospitais públicos. O que pensa desta decisão? Os hospitais EPE são a solução para o SNS?
PM: Sempre me opus às chamadas PPP que são, quanto a mim, a forma mais grosseira de misturar, em promiscuidade total, os sectores público e privado, com perda completa de capacidade de controlo e avaliação do sector público sobre o privado, sem possibilidade de exigência de qualidade como cliente e ainda por cima amarrado a custos incontroláveis.
O abandono, inopinado e não esperado, das PPP pelo governo não foi suficientemente explicado. Por isso, se estou de acordo com o abandono das parcerias, não sei se estarei de acordo com as razões que levaram o governo a denunciá-las.
A solução, naturalmente, não é os hospitais EPE, nem os hospitais SA. Os Hospitais de Estado são hospitais públicos que devem ter uma forma própria de gestão, centrada no desenvolvimento da autonomia dos serviços clínicos dotados de capacidade de planeamento, programação e concorrência externa, como terão que ser os hospitais deste século.
GH: O que é preciso para criar esses hospitais?
PM: Só a dignidade das carreiras profissionais, de concursos temidos e exigentes no acesso e ingresso nos quadros do Estado, a boa qualidade do funcionamento dos serviços, a capacidade e excelência na formação de profissionais, pode tornar o SNS um foco de atracção profissional e não de abandono, como sucede actualmente, e pode fazer do SNS o órgão central dominante do sistema de saúde.
GH: Apesar das criticas ao SNS, este representa, na sua opinião, a”jóia da coroa” da nossa democracia. Porém, não é essa a percepção da população portuguesa. O que está errado?
PM: O SNS é um dos “programas” de maior sucesso da nossa democracia. Nascendo numa altura em que Portugal tinha índices sanitários só comparáveis aos dos países do terceiro mundo, o SNS conseguiu em menos de trinta anos colocar Portugal no pequeno pelotão dos países com melhores serviços e melhores indicadores de saúde, a ponto de a OMS nos ter atribuído o 12.º lugar no ranking mundial dos serviços de saúde. E isso é não só sentido como expresso sempre que uma opinião é pedida àqueles que conhecem o SNS como clientes ou familiares de quem já utilizou os serviços.
O hábito nacional de apoucar as qualidades nacionais, atitude muito incentivada, direi mesmo procurada, pela comunicação social, leva a que inquéritos feitos ao conjunto da população mostrem resultados bem piores do que aqueles feitos a quem é ou foi utilizador. Aliás, os movimentos populares a que temos assistido, a propósito do fecho de maternidades e urgências, mostra bem a ligação desejada pelas populações que não querem diferente, querem melhor. (...)
GH n.º 37, entrevista de Edite Espadinha
Etiquetas: Entrevistas
11 Comments:
Teixeira dos Santos fez orelhas moucas das criticas de Ana Jorge na AR e assinou novos acordos da ADSE com Hospital dos Lusíadas, Hospital Privado da Boavista e Casa de Saúde de Guimarães, S. A link
Os acordos envolvem cuidados de Ambulatório e internamento:
Hospital dos Lusíadas, (Acordo no âmbito de Consultas Médicas de Clínica Geral e de Especialidades,
Patologia Clínica, Anatomia Patológica, Radiologia, Medicina
Física e de Reabilitação no decurso de internamento, Actos de
Estomatologia, Próteses Estomatológicas, Serviços de Enfermagem,
Medicina e Cirurgia.)
Hospital Privado da Boavista (Acordo no âmbito de Consultas Médicas de Clínica Geral e de Especialidades, Patologia Clínica, Anatomia Patológica, Radiologia, Medicina Física
e de Reabilitação no decurso de internamento, Actos de Estomatologia,
Próteses Estomatológicas, Serviços de Enfermagem, Medicina e Cirurgia)
Casa de Saúde de Guimarães, S. A., (Acordo no âmbito de Consultas Médicas de Clínica Geral e de Especialidades, Serviços de Enfermagem, Medicina e Cirurgia.)
e... ainda: Tomografia axial computorizada e Ressonância magnética.
É assim que se investe no Serviço Público de Saúde.
Será uma prova do pouco peso de Ana Jorge neste Governo?
Até quando o Estado vai continuar a investir nas empresas privadas de Saúde o dinheiro dos contribuintes?
Será que mais uma vez nos andam a enganar?!...
A milhas de distância da política de saúde de Manuela Ferreira Leite.
Será que a opinião de Paulo Mendo sobre política de saúde, SNS em particular, ainda conta dentro do PSD?
As primeiras declarações de Ferreira Leite sobre o SNS foram absolutamente desastrosas tendo mesmo postam em causa o princípio da universalidade. Depois, talvez chamada à razão por quem sabe da poda, lá corrigiu em parte a linha de pensamento. De qualquer forma o que aqui é dito por PM contrasta em absoluto com as ideias neoliberais sobre Saúde pelo que duvido que faça escola dentro do partido em que milita.
Que as declarações do Dr. Paulo Mendo não se encaixam no projecto político do actual PSD, ninguém tem dúvidas.
As interrogações surgem quando, as mesmas, são confrontadas com o pensamento social - especificamente sobre a Saúde - do
PS, liderado por José Socrates.
Paulo Mendo está à esquerda do PSD, José Sócrates é - desde há anos - um destacado lider da ala direita do PS.
No meio desta embrulhada de indefinições políticas aparece Ana Jorge, sem ligações com a direita do PS, discreta apoiante de movimentos cívicos apoiados ou controlados pela esquerda do PS e outros partidos da mesma área.
Ana Jorge está prisioneira destas indefinições e agrilhoada ao fim de ciclo político governmental. Não exibe qualquer peso político no aparelho partidário, nem tem trabalhado para isso - sejamos justos.
O novo OGE vai mostrar em que ponto as coisas estão.
Entretanto a ala neoliberal encabeçada por Socrates/Teixeira dos Santos, por enquanto, não pode prescindir do seuu concurso, nem dispensar a sua presença.
O SNS está aparentemente "calmo" por é tutelado por uma acérrima defensora.
Todavia persistem os problemas politicos e eles resumem-se à permanente exaltação do neoliberalismo e às tentativas de derrube do espaço de políticas sociais.
Finalmente, embora subscrevendo, em parte, algumas das afirmações de Paulo Mendo, gostaria de sublinhar que elas tornam-se notórias e visíveis porque a política do "centrão", não acabou, não cede terreno ao assalto à "coisa pública". Isto é, as declarações de Paulo Mento mostram que a torrente política caminha noutra na direcção neoliberal.
E, é , desta rota que temos fundamentados receios e colocamos as maiores reservas.
Embora mais discretamente o regabofe da distribuição em postas do SNS continua.
Pelos vistos, defensores sérios como Ana Jorge e Paulo Mendo são insuficientes para defender o SNS do saque do sector privado.
Vital Moreira defende uma política de eficiência na sustentabilidade financeira e política do Serviço Nacional de Saúde, discordando do abandono desta preocupação no discurso corrente da Ministra da Saúde.
Segundo Vital Moreira, algumas decisões recentes - como o alargamento do plano oncológico e a criação de dois centros de transplante pulmonar no País -, são preocupantes, tanto sob o ponto de vista dos custos (muito elevados em ambos os casos), como sob o ponto de vista da qualidade dos cuidados prestados, que dependem de uma casuística que só os grandes números dão e que só a concentração de serviços proporciona.
O artigo do Público de Vital Moreira vem ao encontro das preocupações neoliberais que pesam sobre este governo.
A velada acusação de desleixo ou da descuido de sustentabilidade do SNS, que faz à Ministra, parte de um homem que não poderá disfarçar ad eternum a sua permanente manobra, pretensamente escondida, na construção ideológica do actual Governo.
Aparentemente, resguarda a sua condição nativa de "aparatik", em críticas pontuais, mas já não consegue salvaguardar o seu alcance global.
Refere "o alargamento do plano oncológico e a criação de dois centros de transplante pulmonar no País " como desastrosas propostas da actual Ministra, salientando o impacto destas medidas nos custos.
Não refere, nem ao de leve as actuais insuficiências de resultados. A questão oncológica, que tem andado adormecida, e não oferece uma resposta satisfatória, não lhe merece qualquer análise. O investimento nesta área é o assunto preocupante!
Começa a perceber-se as rocambolescas histórias da Oncologia no novo H de Cascais...
E, a razão porque o Sector Privado da Saúde (SPS), numa reviravolta alucinante se envolve na aquisição de equipamento pesado na área oncológica. Se o faz é porque tem padrinhaos...
Quanto aos centros de transplantes pulmonares VM defenderá o rodopio - a expensas do SNS- para HH's da Corunha... até que o SPS esteja capacitado.
Agora, o questionamento da qualidade dos cuidados oncológicos mostra uma profunda ignorância dos últimos resultados europeus vindos a público.
Quanto aos trnasplantes pulmonares não penso que, neste momento, exista disponível uma casuística suficientemente larga, para ser significativa.
Este arremedo, saíu antecipadamente. O que ele queria dizer era: qualidade nos transplantes pulmonares só no SPS, mas ainda não começaram. Fica, portanto, de antemão, a reserva desta "quinta" e o recado a MS.
Os "enciclopedistas" têm destes deslizes...
A questão da sustentabilidade do SNS, não pode ser feita a conta gotas com demarcações de "cantões", mas decorrerá ogbrigatoriamente da leitura política do próximo OGE e da análise da parcela que (aí) será destinada à Saúde.
Pelo andar da carruagem, a Ministra estará sob o fogo neoliberal e terá de resguadar-se.
Porque, o Governo PS poderá, sob a batuta de Teixeira dos Santos e de antecipados dislates como o de Vital Moreira, no Público, pegar no actual SNS e torná-lo asténico, exausto e agonizante.
O ataque começou!
Amanhã poderá ser Marcelo e passado um dia, uma semana ou uma quinzena, aparecerá o seráfico A. Vitorino a envenenar...
Brasil, MG, Ouro Preto ...
Talvez o Vital Moreira não ande tão bem informado...
«Foi o transplante em Espanha de António Pinto de Sousa, irmão do primeiro-ministro José Sócrates, que teve um efeito de fermento que fez levedar o projecto [os HUC vão passar a fazer transplantes de pulmão]. Não faz sentido o Serviço Nacional de Saúde continuar a pagar a Espanha quando pode atender os doentes cá.»
Manuel Antunes, director do Centro de Cirurgia Cardiotorácica HUC
Correio da Manhã, 22.07.08
Os recentes acordos da ADSE com hospitais privados vem dar razão uma vez mais ao Relatório da OPSS que concluiu que o sector privado de saúde em Portugal só é possível se financiado pelo Estado e ao fazê-lo,o mesmo Estado, não investe no sector público.
Tem, pois, razão a Ministra da Saúde.
Temos Teixeira do Santos a zelar pelos privados e a Ministra da Saúde a defender o sector público.
Desta contenda só poderá resultar mais despesa pública.
Em plena "silly season" os comentadores do Saude SA decidiram "endeusar" Paulo Mendo, que lá do seu retiro de Marrocos vai dando umas entrevistas. Aliás valeria bem a pena que os comentadores do Saúde SA se dessem ao trabalho de ler a entrevista de Paulo Mendo à Revista "Farmácia Portuguesa" propriedade da ANF Março/Abril de 2008. Quanto a financiar o privado, parece que se esqueceram que foi ele mesmo que fez aprovar o alargamento da comparticipação pelo SNS dos medicamentos prescritos na medicina privada, tendo como justificação a liberdade de escolha do doente, a melhoria da acessibilidade. Claro que foi tudo a bem do povo, assim a "malta" foi incentivada a recorrer cada vez mais às consultas privadas sobretudo nas áreas da especialidade. Agora é endeusado e é elevado a grande defensor do SNS. O Verão tem destas coisas.
Caro Avicena
A SaudeSA tem por hábito publicar excertos das entrevista da Gestão Hospitalar (GH), revista dos Administradores Hospitalares.
Esta entrevista de PM reveste-se de especial interesse dada a posição recente da líder do PSD, relativamente ao SNS.
A propósito de season acontece que eu amanhã vou de férias.
Como é hábito, a Saudesa não faz férias.
Um abraço
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