OE/2009
O Governo aprovou ontem, em Conselho de Ministros, as verbas finais para as dotações que cada Ministério vai receber no Orçamento do Estado para o próximo ano. Na reunião de ontem foram apenas feitos pequenos acertos em relação à distribuição de verbas feita no final de Julho, que dava prioridade à Educação. link
Para a Saúde o montante final de 8,2 mil milhões para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai subir pouco mais de 2%, ou seja, em linha com a inflação de 2,3% prevista para o próximo ano, apurou o Diário Económico junto de fonte governamental. Assim, confirma-se que os valores preliminares, divulgados pelo Diário Económico a 28 de Agosto, sobreviveram à discussão entre os ministros nas últimas semanas. A Saúde não terá, portanto, um reforço real de verbas, o que vai obrigar a equipa de Ana Jorge a continuar a implementar mais medidas de contenção um pouco por todo o sector.
MB, DE 03.10.08
a) Vem aí recessão, muitos problemas para a economia, mais desemprego e mais sacrifícios para todos;
b) Educação e ensino superior, prioridades p/o futuro e p/ maior competitividade nacional;
c) Racionalizar despesas dos ministérios, dar compensações aos que mais precisam por extensão de serviços públicos (+ prestações via Segurança social…) e ;
d) Não parece haver margem p/ benesses pré-eleitorais aos profissionais...
Para a Saúde o montante final de 8,2 mil milhões para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai subir pouco mais de 2%, ou seja, em linha com a inflação de 2,3% prevista para o próximo ano, apurou o Diário Económico junto de fonte governamental. Assim, confirma-se que os valores preliminares, divulgados pelo Diário Económico a 28 de Agosto, sobreviveram à discussão entre os ministros nas últimas semanas. A Saúde não terá, portanto, um reforço real de verbas, o que vai obrigar a equipa de Ana Jorge a continuar a implementar mais medidas de contenção um pouco por todo o sector.
MB, DE 03.10.08
a) Vem aí recessão, muitos problemas para a economia, mais desemprego e mais sacrifícios para todos;
b) Educação e ensino superior, prioridades p/o futuro e p/ maior competitividade nacional;
c) Racionalizar despesas dos ministérios, dar compensações aos que mais precisam por extensão de serviços públicos (+ prestações via Segurança social…) e ;
d) Não parece haver margem p/ benesses pré-eleitorais aos profissionais...
7 Comments:
Caro Xavier:
O OGE/2009, no que diz respeito à sua "leitura" é, mais do que os discursos contundentes e de dedo estcado que Sócrates exibe na AR, o espelho das políticas do Governo para esse ano.
E, num OGE, para um ano eleitoral a
aposta continua na Educação (básica, secundária e Superior) que consome recursos e tem retornos importantes: Novas Oportunidades, Magalhães, mudanças curriculares (Bolonha), aumento orçamental para a Ciência e Tecnologia, etc.
Ninguém pode contestar em termos conceptuais esta aposta, enquanto meta política, social e estratégia prévia para conseguir o desenvolvimento.
Outra coisa serão os instrumentos e o modo como tem sido utilizados, p. exº., nas "Novas Oportunidades" que, como é habitual num regime aberto, democrático, caiem na alçada do escrutínio dos profissionais de educação e dos beneficiários.
E esta aposta política está, no mínimo, em elevado nível de conflitualidade com os profissionais da área e deixa séria dúvidas sobre a qualidade da formção. Bom, mas mesmo bom, tem sido o marketing político.
Feito este pequeno comentário à opção preferencial, legítima, a distribuição do OGE pelos diferentes Ministérios é um importante indicador das múltiplas escolhas e opções políticas (o OGE não se esgota na Educação!), a par do "peso político- partidário" dos respectivos titulares.
O Orçamento para a Saúde, com os seus 8 mil milhões de euros, mantem-se estacionário, incorpora a inflação prevista. Significa, isto, que o patamar onde se manterá - se tudo correr bem - será um dos indicadores do estado da Saúde. Isto é, não se podem, com realismo, prever ou augurar relevantes progressos na modernização do sistema.
Na verdade, o contexto definido poderá acarretar surpresas.
Se a inflação, prevista para Portugal, disparar, se a UE tiver de tomar medidas de fundo em relação à crise financeira, cuja origem e epicentro se focalizam, preferencialmente, nos EUA, o contexto orçamental, de modo global, pode modificar-se.
Os seus rebates vão atingir inexoravelmente a Europa (Portugal ao contrário da verdade oficiosa, não será excepção) e uma das respostas poderá ser - haverá outras, como p. exº., o aumento das prestações da Segurança Social e no combate ao desemprego - uma taxa de inflação acima da que Teixeira dos Santos deseja e uma descida das taxas de juro de referência do BCE, muitas vezes com reflexos atenuados em Portugal.
Isto é, podemos perder os benefícios de um taxa de inflação controlada (que dão alguma "estabilidade" ao Orçamento da Saúde) e não ganhar capacidade de investimento à custa de uma baixa das taxas de juro (que a situação do mercado interbancário e a prática bancária portuguesa farão não vigorar, em pleno, por cá).
E assim, o Orçamento para a Saúde, pode - por circunstâncias exteriores que pesam muito em Portugal - encolher.
Estão previstos, importantes desafios para o próximo ano, mas o "fio condutor" (deixe-me usar esta apostasia) será a continuidade sem renovação .
A continuidade é - pode tornar-se - lesiva para o SNS, numa altura em que, na Saúde, tudo à sua volta mexe freneticamente.
E continuidade não pode ser dissociada da estagnação.
Os gastos de continuidade - assim como a gestão da herança de anteriores Governos (não só de CC, como LFP, vão incidir::
- nos CPS (USF's e ACE's);
- nos Cuidados Continuados que vão ser "entregues " ao Sector Social,
- na política do medicamento, restritiva do crescimento da despesa, mas perigosa socialmente.
E ficamos por aqui.
A estratégia política que, verdadeiramente, influencia a Saúde, a manobra ideológica de bastidor que a condiciona para além das políticas oficiais, tem dado mostras e debitado textos de apoio (vidé VM, como modelo).
No próximo ano, o SNS, poderá sofrer pressões acentuadas para alterar o seu paradigma enquanto serviço prestador, promovendo uma "alargada" política de opting out, através de regimes convencionados com entidades privadas, (livres ou limitados?) cujos limites são dificieis de definir mas, com certeza irão de encontro à capacidade instalada no sector privado.
Nada terão a ver com uma actividade complementar - função de complementaridade tradicionalmente reservada (ou atribuída) ao sector privado.
Ou, ainda, adicionalmente, acrescido do aumento de recurso a mecanismos de outsourcing, pelo menos, no que respeita a novas tecnologias.
O desmontar da tenda de prestador que anda na ribalta da "inteligência dos polítcos de Saúde em Portugal".
O adular da experiência holandesa, etc. (vide, PKM).
De facto, o Orçamento da Sáude não abrange, não contempla - mais um ano consecutivo - os HH's do SNS.
E não me venham com o anátema das concepções "hospitalocêntricas"...
Nem me contabilizem - em termos orçamentais - os HH's PPP's que foram criados para "desorçamentar", investimentos indispensáveis (inadiáveis) neste sector da Saúde.
No âmbito hospitalar, há anos que o Ministério pisa e repisa a mesma receita (já cansa):
- continuação ds empresialização (mais EPE's),
- mais rigor e eficiência na gestão;
- maior controlo das despesas;
- e, prossecução do combate ao desperdício.
Deste mix "economicista" deverá sair:
- o aumento de produção;
- respostas qualificadas
- e a "alegria" - queria dizer motivação - dos profissionais (que também deverão ser aumentados pela inflação prevista).
Uma autêntica poção mágica...
As carreiras, a progressão profissional e as respectivas compensações financeiras, ficarão para as calendas gregas. Para o PS exigir na bancada parlamentar quando estiver na Oposição.
Vai ser difícil à ministra, uma profissional oriunda do SNS e uma personagem política que acredita no importante papel deste Serviço na área social, manter - apesar da sua serenidade comportamental e suavidade actuante - o sitema pacificado e tranquilo (quer no interior do SNS, quer no campo social).
As ameaças de recessão travam os passos em frente, todas as ousadias.
Mas, Caro Xavier, o seu sublinhado final, querendo significar um possível postergação da negociação das carreiras médicas, confundindo-as com "benesses", mostra aquilo que sempre aqui previ. As negociações da Carreiras Médicas, foram avocadas ao SEAS Francisco Ramos, para as preterir.
O OGE será utilizado como mais um pretexto, como uma nova desculpa, nunca contando com a reacção dos grupos sociais que podem comprometer planificações, estratégias e rwesultados esperados.
Mas, apesar da gritaria, da indignação de muitos, os lobbys, existem.
Aliás, como já tive oportunidade de referir anteriormente, considero simplesmente desastrosa a gestão dos recursos humanos no seio do SNS.
Mas a desculpa é demasiado velha e as razões foram devastadas pela realidade.
Não vale a pena dramatizar este ponto porque, com certeza, existirão respostas adequadas.
Limito-me a recordar um relatório do insigne médico Miller Guerra que, no tempo da ditadura - subsidiária de incipientes preocupações sociais baseadas na caridade "cristã" e nas Misericórdias - foi Bastonário da OM, publicou sobre este candente assunto (escrito em 1961!- veja lá):
“As Carreiras não se compreendem desarticuladas do sistema assistencial, tanto mais que todo ele tem por ponto de apoio a clínica”.
“Enquanto se não prestar a devida atenção aos problemas da profissão médica, que ela, aliás, foi a primeira a trazer a lume, as reformas, remodelações, programas sanitários, estão votados ao malogro”.
“Está dito e redito, mas parece que só agora começa a entender-se que a execução de qualquer plano de saúde, tem de contar, como dado primordial, com o concurso de médicos e que hoje, mais do que nunca, o seu trabalho vale pela qualidade técnica e científica e depende da organização que o estrutura e integra”.
“As carreiras constituem uma estrutura fundamental do serviço de saúde: sem elas não haverá assistência de boa qualidade; só com elas, a situação presente não melhorará”.
Relatório sobre as Carreiras Médicas, OM, em 1961.
Carreiras profissionais (não só as médicas) como benesses pré-leitorais? Estranha concepção!
FMI alerta para vulnerabilidad es na banca portuguesa
O crédito malparado das empresas junto da banca poderá quase triplicar como consequência da crise financeira e do abrandamento económico, afectando o equilíbrio do sistema financeiro nacional, avisa o FMI na sua última análise à economia portuguesa.
No relatório ontem publicado, o FMI diz que a análise que fizeram à contas das empresas "sugere que a redução dos lucros e a subida das taxas de juro podem quase triplicar o valor actual do crédito malparado empresarial".
O impacto de um cenário deste tipo para o sector bancário é preocupante, mas, diz o Fundo, ainda controlável. "Os lucros dos bancos, as suas provisões e os níveis de capital existentes devem garantir uma almofada suficiente para absorver este choque, mas alguns bancos podem vir a precisar de reforçar as suas posições de capital", diz o relatório.
Esta é aliás a imagem global do FMI sobre o sistema financeiro português: o sector está saudável, mas as vulnerabilidades estão a aumentar. Entre elas, é destacada a dependência do financiamento nos mercados internacionais, o que, segundo o Fundo, "aumenta os riscos de liquidez".
O relatório assinala ainda que "as autoridades portuguesas estão cientes das vulnerabilidades e têm sido pró-activas a enfrentá-las". Afirma em particular que "os bancos com rácios de capital débeis foram fortemente encorajados a aumentar capital" e que, para resolver os problemas de liquidez, foi recomendado aos bancos que aumentassem o número de activos que podem usar como colateral para acederem aos empréstimos do banco central. Além disso, garante o FMI, "o Banco de Portugal aumentou o nível de monitorização das posições e dos planos dos bancos para enfrentarem potenciais faltas de liquidez".
A partir do momento em que rebentou a crise, o Banco de Portugal (BdP) reforçou os contactos com os bancos nacionais, de modo a monitorizar dia a dia os seus balanços. Desde aí o diálogo tem sido permanente, com os presidentes dos cinco principais grupos a operar em Portugal (CGD, BCP, BES, BPI e Santander) a serem chamados com frequência à sede do BdP. Nestes encontros o governador Vítor Constâncio envia mensagens e dá a sua leitura dos acontecimentos internacionais, além de solicitar esclarecimentos sobre a situação de cada um dos bancos. Uma iniciativa que tem sido acompanhada de um fluxo de informação permanente.
As novas regras do mercado (Basileia II) são mais exigentes em termos de rácios de capital, o que impõe aos bancos maior rigor nos balanços. Estes, por sua vez, recorrem a aumentos de capital, venda de activos e melhoria da gestão no controlo dos custos e dos riscos. No último ano, cinco bancos portugueses (CGD, BCP, BPI, Banif e BPN) foram forçados a avançar com aumentos de capital que no conjunto totalizaram 2,6 mil milhões de euros.
Foi o BES que em 2006 iniciou a era dos aumentos de capital no sector bancário português, com um incremento de 1,4 mil milhões de euros. Fonte oficial do BES disse ao PÚBLICO que não tem "intenção de aumentar o capital social do banco até final do ano". Actualmente o BES tem em curso um plano de reforço do seu capital que envolve, entre outras decisões, a venda de participações (Bradesco, EDP e PT). O BCP já manifestou intenção de largar algumas participações, enquanto o BPI encaixou 360 milhões de euros com a venda de 49 por cento do BFA, e a CGD anunciou esta semana a venda por 390 milhões de euros de acções da REN e da AdP. O banco holandês ING, num relatório sobre o sector financeiro, também chamava a atenção esta semana para a eventualidade de os bancos portugueses poderem ter reforçar o seu capital este ano, mencionando o BCP. Fonte oficial do BCP lembrou que fez já este ano um aumento de capital e duas emissões de dívida, encontrando-se "numa situação de capital confortável". Já o BPI lembra que "não está previsto nem há necessidade" de voltar a reforçar o capital nos próximos tempos.
JP 04.10.08
Economia perto de zero e desemprego em alta
A crise internacional levou o FMI a revisões sucessivas em baixa das previsões para a economia portuguesa. Em ano de eleições, o desemprego pode voltar a subir
Economia quase estagnada e desemprego outra vez a subir em 2009: a crise financeira e a deterioração da conjuntura internacional estão a forçar o Fundo Monetário Internacional (FMI) a rever em baixa, praticamente de semana para semana, as suas previsões para Portugal.
No relatório anual publicado ontem, os responsáveis do FMI colocaram a variação do PIB nacional em 0,7 por cento este ano e 0,6 por cento no próximo, valores bastante mais negativos do que os previstos há seis meses e mesmo que os previstos em Setembro (ver gráfico). No entanto, James Daniel, chefe da missão do FMI que esteve em Portugal, fez questão de avisar ontem, em declarações ao PÚBLICO, que nas Previsões de Outono, que serão apresentadas na próxima quarta-feira, as previsões serão ainda mais negativas. "Os números que aparecem no relatório foram calculados há uma semana. Entretanto, com os novos desenvolvimentos negativos, temos feito alterações substanciais às nossas estimativas para vários países, incluindo Portugal", afirmou. A nova alteração deverá ser, disse, "ligeira para 2008" e "substancial para 2009". James Daniel não quis precisar quais os novos números, mas adiantou que "Portugal, em 2009, tem de lutar para ficar em terreno positivo".
O aumento do pessimismo para Portugal está relacionado com o adensar da crise internacional e com o impacto que esta está a ter no país. No relatório publicado ontem, o Fundo diz que as revisões nas previsões se devem "à deterioração da conjuntura global, à subida dos preços das matérias-primas, ao euro mais forte e ao agravamento da turbulência financeira internacional". James Daniel destaca ainda o facto de "a situação em Espanha influenciar também de forma negativa aquilo que se passa em Portugal".
No entanto, não é só a crise internacional que limita o crescimento português. O chefe da missão do FMI revela que Portugal vai continuar a crescer menos que a média da zona euro e explica porquê: "As empresas, famílias e Estado têm estado sempre a consumir mais do que se produz e isso tem de parar. Portugal tem de passar por um período de poupança, que vai significar também menos crescimento." O relatório diz ainda que "na raiz dos problemas de Portugal está uma falta severa de produtividade".
Em declarações à Lusa, os responsáveis das Finanças reagem às novas previsões do FMI, destacando o papel da crise financeira no abrandamento nacional. "Tal como o ministro das Finanças tem dito, a economia portuguesa não estará imune a esta forte deterioração internacional, mas no momento próprio apresentará as suas previsões", disse fonte do ministério. Em Abril, quando o FMI apresentou uma previsão de crescimento para Portugal de 1,3 por cento, o ministro das Finanças tinha acusado o FMI de "pessimismo". Actualmente, as previsões do Governo estão situadas em 1,5 e dois por cento para 2008 e 2009, respectivamente. Também o ministro da Economia, Manuel Pinho, reagiu às previsões e, citado pela Lusa, considerou "natural" a previsão face à conjuntura internacional, adiantando que o crescimento do PIB está "a aumentar de ano para ano, assim como a criação de emprego".
Regresso do desemprego
Num cenário tão sombrio como o traçado pelo FMI, o mercado de trabalho acaba por sofrer. Segundo o relatório - levando ainda em linha de conta a previsão de crescimento de 0,6 e 0,7 por cento para 2008 e 2009 -, a taxa de desemprego, depois de uma descida durante este ano, deve voltar a subir em 2009, passando de 7,6 para 7,8 por cento.
Numa economia quase estagnada, como aquela que surge nas projecções do FMI, é natural que a criação de emprego se torne mais lenta, um cenário bastante desfavorável para o Governo em termos políticos em ano de eleições. E mesmo em relação aos últimos anos, o Fundo mostra pouco entusiasmo com a evolução do mercado de trabalho português. "O crescimento modesto do emprego não conseguiu manter o ritmo do continuado crescimento da força de trabalho, o que levou o desemprego a ultrapassar a média europeia", afirma o relatório.
O Fundo volta, neste relatório, a elogiar os resultados obtidos na redução do défice público. No entanto, pede às autoridades nacionais que mantenham o mesmo rumo, algo que reconhecem que será difícil.
Em primeiro lugar porque "o recente ritmo de crescimento das receitas fiscais não é sustentável". E depois porque o próprio Governo afirma, segundo o FMI, que "dois anos de desempenho acima do previsto têm de ser compensados face às pressões crescentes para responder à estabilização da economia no curto prazo e às preocupações de apoio social". O FMI pede, no entanto, que qualquer medida deste tipo seja sempre compensada com cortes na despesa.
JP 04.10.08
Como o incumprimento vai aumentar, o Estado deverá criar um sistema de apoio às famílias com maiores dificuldades, diz Paulo Gray
As perspectivas para a evolução do endividamento dos portugueses não são risonhas. Por isso, os bancos devem estar preparados para acomodar o aumento do incumprimento — que já está a ser sentido pelo Citigroup em Portugal no seu negócio de cartões de crédito. “O endurecimento das condições de crédito vai afectar toda a sociedade, das famílias às pequenas e médias empresas, sendo previsível um aumento das prestações e maiores dificuldades em gerir os orçamentos familiares”, considera o responsável do Citigroup em Portugal, Paulo Gray.
Sem aceitar a criação de “balões de oxigénio”, Gray diz que “há possibilidade de apoiar os mais carenciados”, porque a crise começa a ser dolorosa para muitas famílias. Mas “não devem pedir ao sector financeiro que arranje fundos para dotar esses apoios sociais”. “Não conseguimos mudar estruturalmente o país, por isso temos de pensar em medidas pontuais, porque os mais carenciados estão a precisar claramente de uma ajuda”, adianta. Contudo, o teor das soluções terá de ser devidamente equacionado, porque há muitas formas de intervir, desde subsídios ao pagamento de prestações com habitação a outros tipos de apoios sociais.
Apesar de tudo, Paulo Gray refere que há muitos aspectos positivos no mercado português e um deles é certamente o facto de não haver uma bolha especulativa no imobiliário, como aconteceu nos EUA, no Reino Unido ou em Espanha. “Os valores que as famílias amortizaram nas casas que estão a comprar não vão sofrer ajustamentos bruscos de preços. Não haverá erosão nessa riqueza amealhada e os agregados familiares poderão contar com esses activos”, considera.
Outro factor positivo em Portugal relaciona-se com a situação mais estável na liquidez e nos capitais próprios do sector financeiro. A maioria dos grandes bancos efectuou aumentos de capital recentemente e também aproveitou as janelas de oportunidade no mercado obrigacionista para concretizar novas emissões, de montantes que permitem agora algum conforto na gestão das tesourarias. Paulo Gray recorda a emissão obrigacionista da Caixa Geral de Depósitos (CGD), no montante de €1750 milhões.
Além disso, a própria CGD efectuou um recente aumento de capital. Também os problemas que ocorreram no BCP permitiram uma relativa regeneração da sua situação patrimonial e da respectiva liquidez.
O Citi tem vindo a alargar a sua oferta no retalho em Portugal. Recentemente passou a oferecer depósitos a prazo e crédito pessoal.
semanário expresso 10.09.08
... O natural é que os EUA tentem fazer um dique neste efeito de dominó e de contágio em que a falta de confiança mina todo o sistema. Essa barragem - o plano Paulson - cifra-se em 700 mil milhões de dólares. Qualquer coisa como 3 vezes o PIB português. É bom que seja para salvar empresas e as suas obrigações para com clientes e não para salvar os donos dos bancos e seus gestores com o dinheiro dos contribuintes. Até porque há quem coloque as necessidades em 2.000.000 milhões (8 vezes o PIB nacional) e os próprios EUA começam a ser questionados sobre a sua sustentabilidade financeira. Penso, e comigo os mercados, ser um exagero, pois a dívida pública há um ano rondava os 30% do PIB americano, quando na Europa era o dobro. De qualquer modo - em quarto lugar -, finanças públicas saudáveis têm sido muito oportunas. É mais uma herança Clinton.
Em quinto lugar, é de salientar o desempenho muito razoável que Portugal tem tido. As razões são várias. Por um lado, a situação orçamental está muito melhor que há três anos. Por outro, o facto de estarmos na zona euro dá uma credibilidade que nunca teríamos, se ainda tivéssemos moeda própria. Caso contrário, estaríamos com taxas de juro de 20% para defender a moeda, com desvalorizações dramáticas, com subidas da inflação para dois dígitos, etc. Estes são dois aspectos cruciais em que é bom lembrar quem andou a perorar contra a consolidação das contas públicas e duvidava da bondade de estarmos na zona euro.
Um último aspecto que tem facilitado a nossa vida - ironia das ironias - é o facto de há uns dez anos termos um défice externo significativo - ou seja, tal como os EUA, andámos no negócio de vender activos, pelo que, em média, não devemos ter comprado activos tóxicos do subprime. Há males que vêm por bem...
O Governo pouco poderá fazer neste momento. Pode, no entanto, sinalizar que está preparado para apoiar qualquer instituição em crise, como já o fizeram a França e, mais dramaticamente, a Irlanda. Pode, e deve, repensar os grandes projectos, pois os custos de financiamento subiram fortemente (e os concursos estão aí) e a sua mais que duvidosa rentabilidade fica ainda mais em dúvida.
Há mais problemas nesta crise internacional, que não mencionei, e há culpados, naturalmente. Mas isso fica para mais tarde e Greenspan não deixa de ficar chamuscado. Mas há mais, muitos mais.
Luís Campos e Cunha, JP 03.10.08
Dada a crise que se aproxima, vai haver capacidade de financiamento para os megas projectos e nomedamente em relação ao MS para a construção de novos hospitais PPP?
O OGE/2009 E A CRISE
Perante o "quadro negro" que se anuncia para a Europa, acho que o Governo não deve, este ano, elaborar, já, o OGE.
Deve governar com duodécimos e, depois, logo se vê.
A reunião de hoje, em Paris, com as potencias económicas europeias, o representante do BCE e Durão Barroso, tramsmitiu a impressão de que na Europa não luta com falta de liquidez bancária, caso contrário, não entregava a resolução de eventuais problemas, a cada País, per si.
Merckel, não quer "imitar" os EUA. Quer mostrar que o neoliberalismo europeu não é o mesmo que o americano, que por cá o "mercado" não anda tão desregulado...
Merckel quer conquistar a autonomia económica europeia, numa perspectiva um pouco gaulista.
E o que de mau já aconteceu na Bélgica, Holanda e Luxemburgo, p. exº., com o "Fortis", foi a excepção, que resolveu facilmente não ultrapassando a compra de 49% das acções. Não foram os 87% da AIG...
De resto, quer fazer passar a ideia - transmitir a mensagem de confiança - que os problemas derivados do reflexo da "crise financeira americana", podem ser resolvidos, internamente, País por País.
E, de resto, a presença do BCE na reunião parece ter como objectivo pressionar a descida das taxas de juro, à revelia do que fará, ou não, o FED.
A Srª. Merckel acha que para susto já chegou.
Que daqui para a frente haverá, necessariamente, contenção no endividamento.
Pode , portanto, o BCE descer as taxas de juros, para facilitar a recuperação económica.
Vamos esperar pela próxima reunião do Ecofin para ver o que os 27 Países da UE, entre si, acordam.
Entretanto, Merckel se confia que a crise europeia está ultrapassada, conhecerá mal os portugueses...
Vão continuar a endividar-se com o TGV, o "novo" aeroporto, novas PPP's, etc.
A política portuguesa, desde o tempo da ditadura, nunca se libertou, nem se divorciou, das Obras Públicas, como uma mézinha para ir ganhando eleições.
Se duvidam, perguntem a Cavaco Silva, que no seu tempo de Governo, foi, também, um campeão do betão...
Finalmente, volto ao topo do comentário. Como as coisas não estão totalmente definidas - podem ser mais graves do que parecem - o melhor é adiar, sine die, o OGE.
Assim, não haverá surpresas, em ano de eleições...
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