segunda-feira, outubro 13

Sempre em pé


No dia 26 de Abril de 1974 Portugal, diz quem se lembra, estava cheio de revolucionários. Muitos deles tiveram que vasculhar no seu passado para recuperar todo e qualquer gesto minimamente anti-‘establishment’ para adaptar os CV’s à nova agenda política do país.link

Hoje com a crise financeira passa-se um pouco o mesmo. Há políticos que nomearam, elogiaram e premiaram os banqueiros, enalteceram as virtudes da desregulação, mas surgem agora enojados pela “barbárie” que é o capitalismo. Ouvir George Bush falar de “ganância na Wall Street”, Nicolas Sarkozy a querer “refundar o capitalismo” ou Jean-Claude Juncker, cujo país que lidera é um paraíso fiscal e do sigilo bancário, afirmar que o seu grau de consideração pelos banqueiros é agora “próximo do zero”, dá vontade de perguntar: onde estavam eles no “25 de Abril”?

Um dos casos emblemáticos é o dos salários dos gestores/directores, cujos valores são exorbitantes e, pior, cujos prémios – ligados aos resultados de curto-prazo – contribuem para que tenham assumido riscos irresponsáveis. A Comissão Europeia, que se acostumou a viver com o rótulo do neo-liberalismo, propôs em 2004 um quadro de referência para tornar os salários dos gestores mais transparentes, sobretudo para os accionistas. Apenas um país o adoptou. E no entanto todos os ministros e líderes europeus andaram no último ano com uma linguagem marxista a diabolizar na praça pública a gula salarial e a tratar os gestores (em abstracto, claro) como sanguessugas do sistema.

Também surpreende o papel de organizações como o FMI, que em vez de desempenhar adequadamente o seu papel de supervisor do sistema financeiro internacional, se especializou em doutrinar as economias emergentes com pacotes de desregulação, que se revelaram por vezes um activo tóxico, e agora vem dar lições de moral à Europa por agir de forma descoordenada.

Em Bruxelas, o comissário Charlie McCreevy, contrariando o apelo de governos e do Parlamento, nunca viu “necessidade” nos últimos anos em interferir nos mercados desregulados, preferiu proteger a “criatividade” do sector. Durão Barroso explica agora que os “estados mais relevantes” não o teriam aceite antes desta crise e reconhece que “precisamos de repensar as nossas regras de supervisão para os mercados financeiros, incluindo os ‘hedge funds’ e capital de risco”.

Como parece estar de novo na moda, recorde-se que foi Keynes quem terá dito: “quando os factos mudam, eu mudo de opinião”. Mas será que mudaram mesmo de opinião ou o mercado desregulado vai ali e já volta?

Luís Rego, DE 13.10.08
Excelente.

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7 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Excelente artigo.
Esta malta da EU,super bem instalada, a navegar à bolina de vários interesses, até à recente crise tem sabido fazer pela vida. E que não os chateiem muito.
Depois de terem reagido cada um para seu lado, lá conseguiram sair-se com uma medida conjunta, graças ao senhor Brown e ao campeão Sarkozy que quer ficar na fotografia dos grandes lideres europeus.
Daqui para a frente a ver vamos.

8:42 da manhã  
Blogger ochoa said...

A Manuela Ferreira Leite reforçou ontem a declaração de apoio do vice-presidente do PSD, António Borges, às medidas anunciadas pelo Governo para atacar a crise financeira. JP, 14.10.08

O PSD, a Manuel Ferreira Leite, sem margem de manobra encostam-se ao Governo, para dizerem mais tarde que ajudaram.
Espertices saloias.
Quem viu este PSD e quem o vê!

8:53 da manhã  
Blogger e-pá! said...

O saber e o pragmatismo alemão

A Europa com a clarividência da Srª. Merckel e o apoio do Alex Weber presidente do Bundesbank, depois do "resgate" do Banco Hypo Real Estate, compreenderam a situação e romperam com a "solução Paulson".
David Brown, deu-lhe apoio e, em consequência, os bancos britânicos receberão apoio governamental e empréstimos de emergncia dô Banco de Inglaterra.
Este foi o "volte-face" europeu que neste momento faz os EUA questionar o modelo Paulson, na medida em que poderá levar a uma poderosa concentração bancária (Citigroup + JP Morgan Chase + Goldman Sachs) "capaz" de influenciar a área finaceira europeia.
Heny Paulson foi presidente da Goldman Sachs e, nas últimas conversações decorridos nos States, conseguiu influenciar Sarkozy e Berlusconi na defesa do seu "plano".
A nacionalização parcial dos Bancos, mas acima de tudo a rejeição dos planos importados de Berlusconi/Sarkozy, encontraram um caminho aparentemente limpído - embora com custos - para sair da crise.
Não tenho esta impressão do Plano Paulson, mas Obama está a chegar e, o reinado do actual Secretátio do Tesouro, no fim.
Não há males que sempre durem...

12:18 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Caro é pá...
Desculpe lá, mas David Brown não conheço.
Será algum cantor da pop music?!...

6:59 da tarde  
Blogger saudepe said...

US government reluctantly adopts Brown's bank rescue blueprint
link
The Bush administration has reluctantly followed Britain's lead by pumping $250bn (£143bn) into shares in leading banks after a stockmarket meltdown scotched earlier efforts to shore up crumbling confidence in the financial system.
NYTimes 14.10.08

Europeu tem esperto na cabeça…

8:39 da tarde  
Blogger saudepe said...

Barroso set to unveil three-day refund scheme if EU banks fail link
The European commission is set to propose that depositors are refunded within three days if an EU bank fails, senior officials indicated today.
NYTimes 14.10.08

Afinal a crise está a dar oportunidade a este pessoal para brilhar!
Não é de desconfiar!

8:46 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro drfeelgood:

O David era o ... Copperfield

Este é o Gordon('s)...como o gin.

As minhas desculpas pelo erro.

9:10 da tarde  

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