terça-feira, novembro 18

Activo político


Não tendo conseguido evitar a guerra da maioria dos professores contra a avaliação (e contra as demais reformas no ensino), o Governo só tem uma via a seguir, se não a quiser perder - tornar claro que não cede, aguentar firme e ganhar a população a seu favor contra a tentativa de boicote corporativo, invocando o interesse geral (e sobretudo o interesse da escola e dos alunos) contra os interesse sectoriais e profissionais.
Esta é, aliás, a "regra de ouro" na luta reformista contra os grupos de interesse.
Ao contrário do que alguns defendem, o Governo pode bem suportar a perda eleitoral entre os professores, que aliás nenhuma cedência agora recuperaria. O que não deve arriscar são as perdas bem maiores que teria entre os eleitores em geral, caso fosse vencido e perdesse a autoridade reformadora, que constitui o seu grande activo político e eleitoral.
vital moreira, causa nossa

Depois de ter visto esta noite, o "Cartas na Mesa", onde a Constança Cunha e Sá deixou o Mário Nogueira da FENPROF falar à vontade, mais certo fiquei de que o governo não pode ceder no braço de ferro com os professores.

Etiquetas:

15 Comments:

Blogger tambemquero said...

Não existe razão, salvo uma ilegítima prerrogativa
"histórica", para que os professores não sejam avaliados

Estou de acordo com Miguel Sousa Tavares, na sua crónica do Expresso de sábado passado, quando afirma que a derrota do Estado na avaliação dos professores seria o dobre de finados por qualquer reforma susceptível de afectar um grupo profissional numeroso ou influente. No caso concreto, significaria também a queda de uma das mais emblemáticas reformas do actual Governo e da mais importante delas na luta pela qualidade e eficiência da escola pública.
Comecemos por dois pontos que deveriam ser óbvios para quase toda a gente. Primeiro, não existe nenhuma razão, salvo uma ilegítima prerrogativa "histórica", para que os professores não sejam submetidos a avaliação de desempenho, para efeitos de progressão na carreira profissional, como sucede agora com todos os demais serviços públicos. Segundo, é mais do que compreensível que uma reforma dessas não seja aceite de bom grado por uma classe profissional mal habituada a uma "carreira plana", sem diferenciação de níveis profissionais e com progressão profissional garantida por simples antiguidade.
Pode a rejeição da avaliação apresentar-se sob a capa de "modelos alternativos", até aqui nunca desvendados. Mas, por um lado, os que defendem agora um modelo de avaliação externa, por entidades alheias às escolas, seriam os primeiros a rejeitá-lo, se ele estivesse em vigor, como afronta à dignidade dos professores e à autonomia das escolas e como inaceitável excepção ao paradigma de avaliação interna de todo o sector público. E, por outro lado, se se trata somente de discordância das exigências procedimentais do modelo adoptado, então não se compreende como é que ao longo de vários anos que o processo leva não tenha sido proposta nenhuma alternativa praticável, e não se espera pela avaliação do processo no final do corrente ano, tal como constava do acordo com os sindicatos, que eles agora renegam sem nenhum pudor, defendendo o boicote da avaliação.
Não está em causa naturalmente o direito dos interessados a manifestarem a sua discordância e o seu protesto contra o processo de avaliação, pois todos têm o direito de protestar contra as leis e defender a sua revogação ou alteração, através de todos os meios lícitos, incluindo manifestações, greves, etc. Mas numa democracia os destinatários das leis não gozam de direito de veto contra elas nem de auto-isenção de as cumprirem, em função dos seus interesses profissionais ou outra razão qualquer.
Invocar a este propósito um "direito de resistência" ou de "desobediência civil", quando nem sequer estão em causa direitos fundamentais dos protestatários, é brincar com nobres conceitos. Não existe nenhum direito à dispensa de avaliação. Pelo contrário, o único direito que está em causa é o direito dos professores que querem ser avaliados, e que não podem ser impedidos por quem não deseja sê-lo. Se em caso de uma greve comum impõe-se garantir o direito ao trabalho dos que não querem fazer greve, por maioria de razão o Estado não pode deixar de assegurar o direito à avaliação dos que querem ser avaliados, ainda que muitos decidam fazer uma "greve à avaliação", mesmo supondo (sem conceder) que o direito à greve cobre tal eventualidade.
Seja como for, não tendo conseguido evitar a guerra da maioria dos professores contra a avaliação (apesar da contemporização do "memorando de entendimento" de Abril passado com os sindicatos), o Governo não pode agora ceder nesta altura do processo e na fase final do seu mandato, se não quiser perder essa decisiva reforma e com ela pôr em risco todas as demais reformas do ensino, que seriam postas em causa, acto contínuo. Sem prejuízo da eliminação do excesso de zelo procedimental em que estão a incorrer algumas escolas, não pode haver nenhuma dúvida nem tergiversação quanto à avaliação em si mesma.
Para isso são necessárias duas mensagens políticas fortes, por parte da ministra da Educação e do primeiro-ministro. Por um lado, deve tornar-se claro, sem equívocos, que não podem ser consentidos actos de desobediência à lei por parte de direcções das escolas ou de avaliadores, que ponham em causa o direito dos professores à sua avaliação, sob pena de procedimento disciplinar. Quem não quiser ser avaliado que proceda de acordo, sujeitando-se às necessárias consequências, não podendo porém lesar quem deseja ser avaliado.
Por outro lado, impõe-se ganhar a favor desta batalha a população em geral contra a tentativa de boicote corporativo, invocando o interesse público (e sobretudo o interesse da escola, do ensino e dos alunos) contra os interesses sectoriais e profissionais. O Estado não pode deixar-se enclausurar num duelo a dois com um grupo profissional, ainda por cima poderoso. A força da lei não pode ceder à lei da força, nem a autoridade democrática do Estado ao poder de facto das corporações.
Nesta "guerra" da avaliação dos professores, o pior que poderia suceder era uma desistência do Governo por razões de calculismo eleitoral, imitando o grosseiro oportunismo eleitoral do PSD. Ao contrário do que alguns defendem, o PS pode bem suportar a provável perda eleitoral entre os professores que se opõem às reformas da educação, que aliás nenhuma cedência agora recuperaria. O que não deve arriscar são as perdas bem maiores que teria entre os eleitores em geral, que são a favor das reformas, caso cedesse à chantagem eleitoral, perdendo não somente a coerência política mas também a firmeza e a autoridade reformadora, que constitui o seu grande activo político nas eleições que se aproximam.
De resto, o saldo eleitoral desta contenda pode ser neutro ou mesmo positivo, se cada voto perdido entre os professores que não querem ser avaliados for compensado por outros tantos, ou mais, entre os eleitores que pagam a escola pública e querem ver aumentar a sua qualidade e eficiência, não aceitando que as reformas sejam sacrificadas por causa da defesa sectária de interesses profissionais.
vital moreira, JP 18.11.08

Inteiramente de acordo com Vital Moreira.

9:43 da manhã  
Blogger Clara said...

A boa e a má moeda no ensino

Com estes professores e os seus sindicatos o País não vai a lado nenhum. Num momento em que precisamos de ânimo, atitudes positivas e energia, esta gente não pára de ocupar o País com o seu negativismo e reaccionarismo. Já basta de tanta demagogia, falta de seriedade, oportunismo.

A contestação destes professores não visa melhorar o sistema de ensino, mas andar para trás, impedir qualquer avanço positivo, manter velhas rotinas e privilégios. Os argumentos são sempre os mesmos, a falta de diálogo, as coisas mal feitas, as reformas que não são perfeitas. Mas na verdade trata-se de meras palavras usadas e abusadas para esconder a evidência. Esta gente não quer mudança, é contra tudo, tornou-se numa classe conservadora e rabugenta. E já agora falta-lhes o estilo.

Um amigo meu, professor de arte, recomendava logo na primeira aula aos aspirantes a artistas que, se o queriam realmente ser, não deviam ser vistos na rua com um saco de plástico na mão. O estilo conta muito na vida. Há certas coisas que não se fazem e certas companhias que se evitam. Esquecendo este princípio básico da dignidade comportamental, os professores foram-se tornando ao longo dos anos numa verdadeira tropa fandanga, mal encarada, histérica e ridícula, que o País conhece dos pulos na 5 de Outubro, dos cartazes torpes, das ofensas sistemáticas e das viagens de autocarro em direcção às grandes manifestações de Lisboa, animadas pelo caminho com canções de revoluções perdidas e sandes de chouriço.

Objectivamente estes professores não têm sabido dar-se ao respeito. Nas décadas que levamos de democracia a classe perdeu todo o seu prestígio reduzindo-se a um bando ululante, invariavelmente à luta por uma má causa. Transformaram-se numa arma de arremesso das oposições, quaisquer que sejam, entregaram-se nas mãos de sindicatos conservadores, do "antigamente é que era bom" e do travar é que está a dar, que tanto servem a extrema-esquerda como a extrema-direita tal a sanha belicosa, o ódio destilado, a demagogia e a falta de escrúpulos.

São maioritariamente do Partido Comunista mas todos por junto seguem a máxima libertária do "se hay gobierno soy contra". A lista das suas "reivindicações" é longa e fastidiosa: das aulas de substituição à recente avaliação. Mas bem vistas as coisas só têm um e único objectivo: a de querer travar a todo o custo a evolução da sociedade portuguesa. É aliás revelador que esta gente que é suposto educar os mais novos desconheça qualquer verbo positivo e só saiba conjugar o adiar, o revogar, o interromper, o atrasar. Nunca se ouviu uma palavra de apreço pela introdução de computadores nas aulas ou por qualquer outra boa iniciativa dos sucessivos ministros. Pelo contrário, em cada nova ideia vê-se logo um problema, uma chatice. Esta gente é do contra quando devia ser a favor. Agarram-se ao passado quando deviam virar-se para o futuro.

E afinal para quê? Felizmente os professores têm sido sistematicamente derrotados. As reformas vão-se fazendo, o ensino vai-se adaptando às novas condições, muito por firmeza dos governos, mas sobretudo porque há mais professores do que aqueles que se prestam às tristes figuras que vemos nas televisões. Como em tudo, nesta classe também existe a boa moeda ainda que seja a má que domine. É essa que tem feito progredir o ensino em Portugal já que a outra passa os dias em reuniões para tomar as posições mais diversas desde que nenhuma seja vertical. É uma minoria de bons professores que tem aguentado este instável barco. Conheço alguns. Não são bem vistos pelos contestatários porque gostam do que fazem, se dedicam ao ensino e aos alunos e não têm paciência para as jornadas de luta.

Do ponto de vista do interesse do ensino e do País é pois preciso valorizar os bons professores. Ora a questão é mesmo essa. A contestação ao sistema de avaliação não tem nada a ver com os processos, com a papelada que é preciso preencher ou com algumas incongruências que devem ser corrigidas. Esta contestação é simplesmente contra qualquer forma de avaliação, porque muitos destes professores, sempre dispostos a sair para a rua em grande algazarra, mas invariavelmente cansados quando se trata de fazer alguma coisa na escola, sabem que a sua avaliação só pode ser má. A má moeda sabe que o é.
Leonel Moura, jornal de negócios, 17.11.08

12:02 da tarde  
Blogger e-pá! said...

A "BARCA BELA" DA EDUCAÇÃO…

Para alguns "pensadores" os interesses ditos nacionais nunca se “cruzam” com pretensões sectoriais ou profissionais. São sempre divergentes!
O conceito de que a "guerra dos professores" – nestes tempos qualquer contestação é transformada em guerra - passou a ser uma "guerra" contra toda e qualquer a avaliação é, mais uma perfídia urdida pelo ME, contra a dignidade dos professores.

Que o governo apoia estas reformas ninguém tem dúvidas.
Mas nessa guerra só aparecem os generais e o seu estado-maior que o rodeia.
O PS, enquanto partido maioritário e suporte político do Governo, não se "encontra", não aparece.
O "inimigo", o "adversário", ocupa largamente o campo de batalha.
Do outro lado, altos comandos reúnem nos gabinetes do ME e dispensam tropas… Bastam-lhe as certezas e os desmesurados tempos de antena. O que se passou na RTP1 depois da "manifestação dos 120.000" foi simplesmente sórdido: 20 minutos em directo!

Temos, portanto, na concepção de VM, um governo ameaçado por uma deriva corporativa...
Não haverá aqui um complexo de perseguição?
Ou uma corporativomania?

Na “guerra reformista” em curso, segundo VM, os professores devem ser tratados como gladiadores. Isolados nos curros e depois lançados às feras, perante uma multidão ululante sedenta de sangue.

A "regra de ouro" na luta reformista é outra! Será não entrar pelos caminhos da arrogância e da inflexibilidade.
É essa corte de conselheiros que induz o PM Sócrates a confundir determinação com prepotência e, caminhando neste roteiro, desembocar na perda de autoridade.
E transformar esta confusão de conceitos num activo político e eleitoral, vendível, como se procedeu com os subprimes.

O fundamento da argumentação dos "activos políticos" é literalmente eleitoralista.
É a permanente contabilidade das perdas e danos.
É a navegação de cabotagem, à vista.
É não ousar largar para as Indias...
É considerar que as perdas estão consolidadas e portanto o diálogo é inútil e dispensável.
É a concepção que daqui para a frente não é possível perder mais, pelo que mais vale permanecer firme e hirto e segurar o que está, como está. Seja bom ou mau, tanto faz!
É repetir o erro de avaliação político de Cavaco Silva ocorrido anos 90, em relação ao "insignificante" problema, daquele tempo: os "desordeiros" da Ponte 25 de Abril.
É transformar uma situação política num caso de polícia.
São muitas vezes pequenos problemas que provocam as grandes hecatombes eleitorais.
Esta é outra "regra de ouro" da luta política.

Nunca mais se ouviu falar das Escolas, enquanto pilar do sistema educativo. Troca-se o essencial pelo supérfluo. Os pais e os alunos frequentam, cada um do seu modo, as Escolas. Conhecem o ambiente que aí reina.
Este facto – esta incontornável degradação – mostra que o aparente controlo dos danos é uma ilusão. O que está verdadeiramente em causa é a qualidade da Escola pública.

O Conselho das Escolas órgão consultivo do ME, aprovou por maioria a suspensão do actual processo de avaliação. Não negaram a necessidade de haver uma avaliação – diferente do passado – e colocaram em causa a sua exequibilidade.
link
Os documentos saídos dos Ministérios - mesmo que trabalhados durante 2 anos – não são encíclicas papais, nem dogmas.

O post de VM, no Causa Nossa, é um simbólico recitar do poema A Barca Bela, de Almeida Garrett:

“Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Oh pescador!”


Nota: Defendo, por princípio, que os professores devem ser submetidos a avliações.
Só que não obrigatoriamente esta e nunca uma avaliação repudiada pela maioria dos professores.
A política - a boa política - ao contrário do que a Prof. Maria de Lurdes Rodrigues é induzida a pensar, faz-se com leis, mas essas leis, só serão eficientes se explicadas e aceites pelas pessoas. Leis que mereçam o beneplácito dos cidadãos.
O recitem de VM, enquanto ghostwriter deste Governo, é, acima de tudo, um apelo à tal intransigência que conduz inevitavelmente ao descalabro.
Lê-se esse texto e percebe-se porque Manuel Alegre está de saída...
Muitos portugueses têm filhos na escolas públicas. Estes, esperam que o Governo preserve essas instituições, lhe dê condições materiais e qualidades pedagógicas e fortaleça a sua auntonomia.

Aliás penso que a avaliação é, antes de tudo, o corrolário da Autonomia das Escolas.

12:44 da tarde  
Blogger PhysiaTriste said...

“A única possibilidade de garantir uma avaliação eficaz, adequação das escolas ao meio onde se encontram, competência e motivação dos profissionais e participação democrática das populações na educação é a autonomia das escolas. Autonomia pedagógica, autonomia na gestão, autonomia contratual semelhante à que existe nos hospitais públicos e autonomia na avaliação dos professores.”
E eis como, subitamente, no presente Outono, me revejo quase totalmente nas palavras de Daniel Oliveira, no Expresso do último sábado.
O que está a acontecer na Educação é uma ironia deste Governo. Enquanto se inundam as escolas de novas tecnologias e se faz passar a imagem de adaptação do ensino às necessidades da sociedade moderna, a equipa ministerial reforça, obstinadamente, uma burocracia típica dos serviços públicos do estado industrial, tudo tentando prever e normalizar a partir do próprio Ministério.
O problema do Ministério da Educação está muito longe de se confinar à avaliação dos professores. Para quem está de fora, mas se interessa pelos problemas do país, a ideia que fica é que a equipa ministerial se afasta progressivamente da realidade e, mais uma ironia, se recusa a avaliar as suas próprias políticas.
Agora o que é interessante no artigo de Daniel de Oliveira é que dê como exemplo, a seguir na Educação, o que acontece na Saúde, com os hospitais públicos. Parece-me óbvio que o articulista se refere aos hospitais empresarializados e não posso, por isso, deixar de sublinhar aquela afirmação, que vem mostrar como as boas ideias acabam por fazer o seu caminho.
Pena é que uma boa ideia se possa transformar numa má solução. Quando se aumenta a autonomia dum serviço público, aumenta-se também a sua responsabilidade. E cria-se a necessidade de aperfeiçoar o sistema de avaliação da sua performance.
Será isso que está a acontecer na Saúde?

1:06 da tarde  
Blogger PhysiaTriste said...

“A única possibilidade de garantir uma avaliação eficaz, adequação das escolas ao meio onde se encontram, competência e motivação dos profissionais e participação democrática das populações na educação é a autonomia das escolas. Autonomia pedagógica, autonomia na gestão, autonomia contratual semelhante à que existe nos hospitais públicos e autonomia na avaliação dos professores.”
E eis como, subitamente, no presente Outono, me revejo quase totalmente nas palavras de Daniel Oliveira, no Expresso do último sábado.
O que está a acontecer na Educação é uma ironia deste Governo. Enquanto se inundam as escolas de novas tecnologias e se faz passar a imagem de adaptação do ensino às necessidades da sociedade moderna, a equipa ministerial reforça, obstinadamente, uma burocracia típica dos serviços públicos do estado industrial, tudo tentando prever e normalizar a partir do próprio Ministério.
O problema do Ministério da Educação está muito longe de se confinar à avaliação dos professores. Para quem está de fora, mas se interessa pelos problemas do país, a ideia que fica é que a equipa ministerial se afasta progressivamente da realidade e, mais uma ironia, se recusa a avaliar as suas próprias políticas.
Agora o que é interessante no artigo de Daniel de Oliveira é que dê como exemplo, a seguir na Educação, o que acontece na Saúde, com os hospitais públicos. Parece-me óbvio que o articulista se refere aos hospitais empresarializados e não posso, por isso, deixar de sublinhar aquela afirmação, que vem mostrar como as boas ideias acabam por fazer o seu caminho.
Pena é que uma boa ideia se possa transformar numa má solução. Quando se aumenta a autonomia dum serviço público, aumenta-se também a sua responsabilidade. E cria-se a necessidade de aperfeiçoar o sistema de avaliação da sua performance.
Será isso que está a acontecer na Saúde?

1:08 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

É aqui que está uma grandes causas do nosso impasse. Realmente com esta malta não vamos lá.

Salvo raras excepções trata-se de uma turba de profissionais incompetentes.
Nesta altura do campeonato o Governo se recua sai esmagado.

É urgente avaliar a classe de professores para triarmos os melhores. Como acontece com todas as profissões.

1:16 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Interessante texto de um avaliador que se demitiu...

"Sempre pensei e escrevi e disse que este modelo de avaliação de desempenho era impossível. Sempre pensei e escrevi e disse que era desejável que este ano lectivo se seguisse a recomendação nº 2 do CCAP. Porque permitia às escolas e aos professores organizarem-se numa outra lógica de acção: mais sensata, mais económica, mais holística. Com, provavelmente, menos danos colaterais. Com menos falsificações. Com menos faz-de-conta. Não que se resolvesse o problema de fundo. Mas, a meu ver, atenuava-se e poderia permitir ambientes mais respiráveis até uma revisão obrigatória para o 2º ciclo avaliativo. Que vai ser inevitável.

Agora, um número indeterminado de escolas e de docentes vivem na asfixia. Na maldição do tempo. Na invenção de realidades. Na fuga. Na revolta mais ou menos latente. A raiar o esgotamento e a desmotivação. Não serão todas. Mas serão, provavelmente, a maioria.

E isto causa dilacerantes problemas éticos. Ameaças identitárias cujos impactos no ser e estar na profissão são muito difíceis de prever. Ninguém está a ganhar nestes ambientes. Todos estão a perder. Os alunos, as famílias, os professores, as escolas. Em última análise, o próprio Ministério. Obviamente.

Salvam-se apenas aquelas (suponho que poucas) escolas que tiveram a inteligência (e alguma ousadia) de colocar os alunos primeiro. De centrarem a acção e o tempo dos professores na tarefa de ensinar e de avaliar o resultado da sua acção profissional. De criarem dispositivos de securização.

Como professor que procura ler e compreender o que (não) se passa, não posso deixar de compreender as razões e os sentimentos que vão levar os professores e educadores a Lisboa no dia 8 de Novembro (no que à avaliação de desempenho diz respeito). E de desejar que um compromisso seja possível em nome do mais importante: as pessoas e as suas aprendizagens."

link

José Matias Alves
Ex-membro do Conselho Científico para a Avaliação de Professores.
Demitiu-se em 20 de Outubro de 2008.

9:33 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Apostila:

Depois da atitude avisada e previdente do demissionário, um imprevisível acidente:

- a súbita morte política da líder da oposição...

A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, perguntou hoje numa dissertação proferida num almoço promovido pela Câmara de Comércio Luso-Americana, se:

"não seria bom haver seis meses sem democracia" para "pôr tudo na ordem"
Comentário às reformas que o actual Governo tem realizado em áreas como a justiça, educação ou saúde."...
link

9:58 da tarde  
Blogger rezingão said...

“Pôr tudo na ordem”...

No final de um almoço promovido pela Câmara de Comércio Luso-Americana, Manuela Ferreira Leite perguntou, a propósito da reforma do sistema de justiça, se "não é bom haver seis meses sem democracia" para "pôr tudo na ordem".
A direita portuguesa é mesmo assim. Desprovida de substância ideológica cai num profundo desnorte sempre que está na oposição. O equilíbrio estrutural desta direita, e do seu maior partido, apenas é conseguido, de forma transitória, quando exerce o poder. Fora disso é o descalabro. Representada, maioritariamente, num partido (PSD) que representa uma eclética federação de interesses, profundamente, contraditórios vai procurando, ansiosamente, líderes que lhe tragam de novo o poder sem olhar à substância dos mesmos. Mais do que afirmar-se pelas ideias ou pelos ideais joga tudo na experimentação dos estilos. Foi assim com Barroso, Santana, Menezes e Manuela Ferreira Leite. A inconsistência programática vai corroendo a imagem de alternativa. Prevalece o imediatismo táctico sobre o ideário de projecto.
Passada a experimentação populista ensaiou, num passo de mágica, um novo estilo cuja coreografia teve como argumento central a ideia de credibilidade.
O que temos vindo a assistir mostra o pior do conservadorismo português fundado na vacuidade intelectual, na velha ordem moral, na retórica dos costumes, do “olhar sempre para trás”. Em Manuela Ferreira Leite sinalizamos o fado português, marcado pelo destino, quase fatal, do empobrecimento, da contenção, da retracção, ou do castigo.
O PSD empurra-nos para o passado, diz-nos todos os dias que o único caminho possível é o da comiseração e do lamento.
O PSD não se consegue libertar do passado. Vive amarrado aos seus piores fantasmas. Teme a boçalidade anti-democrática de Alberto João Jardim ao mesmo tempo que eterniza a submissão perante o arrastado torpor de Pedro Santana Lopes.
Manuela Ferreira Leite vive à margem do tempo e do mundo. Estranha as pessoas dando sinais de não perceber os afectos, as diferenças e as mudanças. Não parece ter compreendido, ainda que o modelo económico e social que sempre defendeu se esgotou.
Resta-lhe por isso, talvez, esperar. Esperar pelo dia próximo em que o partido que a escolheu a venha a rejeitar, tão somente, porque será preciso experimentar um outro estilo.

10:46 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Evidentemente

À força de ovos e de manifestações, a ministra da Educação cedeu aos professores e agora admite recuar no sistema de avaliação. A resposta dos sindicatos que representam toda a classe não surpreende ninguém: querem a suspensão, pura e simples, da avaliação. Nada de novo. Há muito que se sabe o que eles tentam esconder: não querem ser avaliados e ponto final. Acham que merecem terminar a carreira sempre no topo e têm uma visão muito própria da igualdade. E já ameaçam com uma greve.
Esta tarde, José Sócrates prometeu concluir, em breve, a reforma das Forças Armadas. Eis mais uns interesses corporativos que o chefe de Governo ameaça. Daqui a nada, sucede-se a rotina: protestos, umas passeatas pelas ruas e ameaças espalhadas por aí. Bem podem os militares seguir o exemplo dos professores e fazer uma grevezita. Deve ter força suficiente para assustar o país. Ou simplesmente será um dia em que se poupa graxas para as botas.
Mesmo sem fazer mossa a quem quer que seja, um protesto dos militares será sempre um protesto. Que só permite tirar uma conclusão: o país é mesmo irreformável.
Publicada por Emídio Fernando, Correio Preto

11:03 da manhã  
Blogger Hospitaisepe said...

A Fenprof-Federção Nacional de Professores abandonou a reunião que decorria esta manhã no Ministério da Educação, em Lisboa, com a ministra da Educação, por esta se recusar a suspender o actual processo de avaliação de professores.

Em declarações à saída, o seu líder, Mário Nogueira, disse: “Não há propostas. A ministra recusou suspender o processo e avaliação”, disse o líder deste sindicato, Mário Nogueira, citado pela Lusa.

Mário Nogueira disse que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues apenas quis ouvir a opinião deste sindicato (o maior da classe docente) sobre o processo de avaliação de professores e que não avançou com qualquer proposta para ultrapassar o conflito com a classe. Em declarações às televisões, reiterou a ideia de que a suspensão do processo de avaliação era o ponto de partida da Fenprof para esta reunião...
JP 19.11.08

Com o país em crise esta tropa fadanga anda a brincar com o Zé povinho, principalmente com os pais dos alunos.
Sinto vergonha que os meus filhos tenham professores desta estirpe.

11:32 da manhã  
Blogger Hospitaisepe said...

A generala no seu labirinto

O PSD não deixa de dizer que quer fazer reformas e não consegue deixar de pensar que as não conseguirá fazer

Na passada semana critiquei alguns aspectos do formato burocrático das avaliações dos professores e da estratégia de comunicação do Governo em relação a isso. Parecia-me que a intenção era adiar as reformas, tentando assim comprar paz (como se a paz fosse uma commodity que resultasse de um negócio...).

Felizmente que estava, pelo menos parcialmente, enganado. Não, o Governo não vai adiar nem desistir das avaliações. Sim, o Governo percebeu que o Ministério da Educação só por acaso é que prepararia algo prático e eficaz e vai simplificar e agilizar o modelo para o tornar mais adequado à realidade. Sim, a estratégia de comunicação do Governo melhorou.
Ainda bem para o sistema educativo e para o processo reformista. Adoro, neste tipo de situações, não ter razão. E até admito - quiçá sem modéstia - que críticas como as minhas (e de outros poucos que defendem as avaliações) tenham contribuído para o que parece evidente ter sido uma entrada em jogo do primeiro-ministro, com os efeitos de que adiante se falará.
Não podemos ter ilusões. Se eu tivesse ou viesse a ter razão no que escrevi há uma semana, o sinal estava dado: reformas na educação pública não se fariam mais e as já feitas iriam regredir pela pressão dos sindicatos e dos professores. E avaliações de docentes nunca mais seriam viáveis: alguém imagina um governo de direita a conseguir dos professores o que um governo de esquerda deixasse de tentar, com isso reconhecendo a inevitabilidade de permitir que o ensino público se continue a degradar por comparação com o privado?

A situação parece clara. Os sindicatos - fortes da sua convicção de que podem paralisar o sistema, numa lógica soreliana que me não surpreende, mas deveria preocupar os comunistas - radicalizam as posições e assumem uma postura onde não haverá armistício possível. José Sócrates - por convicção, teimosia, sentido de Estado e visão estratégica, em doses que cada leitor decidirá conforme lhe parecer melhor - vai transformar o combate pela educação pública e pela accountability dos professores numa peça central da sua estratégia política para 2009.
A situação é também evidente. Os sindicatos - ao radicalizarem após a entrada em cena do primeiro-ministro - querem derrubar o Governo (porque Sócrates queimou os barcos e recuar já não é viável) ou que as eleições decorram pela confrontação entre o Governo e a sua esquerda tendo a avaliação como factor determinante. Isso é bom para as ambições de Mário Nogueira, bom para o poder sindical (pois os exemplos copiam-se e a estratégia seria repetida um pouco por todo o lado) e bom para o PCP.

Mas Sócrates sabe isso e também tem tudo a ganhar com esta contraposição. Sobretudo porque as cedências que agora irá fazer servem para mostrar à opinião pública e ao PS que não é intransigente, ao contrário do outro lado. Para todos nós vai ficar mais evidente que os professores não querem ser avaliados e que os sindicatos lutam pelo privilégio que ganharam em 30 anos: na prática o direito a dirigir nos bastidores a política educativa através dos sucessivos governos.

Os reflexos nas famílias e nos cidadãos vão virar-se contra os sindicatos e os professores que insistirem em os apoiar, se o Governo for capaz de aguentar a pressão, as greves, a recusa de dar notas aos alunos, até o caos em muitas escolas. E o veredicto popular se encarregará de reforçar a legitimidade para continuar o programa de reformas sem o qual a escola pública nunca poderá ser o essencial e nuclear sistema de criação de igualdade de oportunidades.

Neste contexto, o PSD e a sua líder agiram com uma falta de sentido de Estado e com uma ingenuidade e impreparação que bradam aos céus. Manuela Ferreira Leite, para o bem e para o mal, foi ministra da Educação. Exigir-se-ia que nestas matérias tivesse opiniões consolidadas e propostas preparadas. Para um partido com ambição de governo, e a um ano de eleições, não basta colar-se aos sindicatos e exigir a suspensão do processo de avaliação. Para isso há o PCP e o BE. O mínimo que se deve exigir é que, em simultâneo com a proposta de suspensão, tivesse apresentado um modelo alternativo de avaliação. E o razoável é que o tivesse apresentado há muito tempo, visto que a questão dura há muitos meses.
Nada disso aconteceu. O resultado é perda de credibilidade, perda de autonomia estratégica em relação ao PCP e ao BE (o que não é pouco...) e improbabilidade de o PSD se apresentar a eleições com um credível programa que não possa soar a deslocado, atrasado e inviável, por causa da própria atitude do partido em questão.
O problema que isto revela, como venho aliás dizendo há muito tempo, é a dificuldade do PSD agir como um partido reformista. O lapsus linguae de Ferreira Leite só por isso tem importância. É disparate dizer que ela quer suspender a democracia: é disparate dizer que estava a fazer ironia. O que exprime a sua frase é a terrível constatação do óbvio ululante. O PSD não consegue deixar de dizer que quer fazer reformas e não consegue deixar de pensar que as não conseguirá fazer. Vendo o Governo numa linha reformista, deveria limitar-se a pedir mais e melhores reformas, em vez de agir de modo a inviabilizá-las. Este tipo de dilema interior é insustentável de forma permanente. Tem de se libertar a tensão. Perante este tipo de contradição psicológica profunda entre o dito e o indizível, as palavras vingam-se e surgem os lapsus linguae ou calami.
Assim, perdida no seu próprio labirinto, invadida e paralisada por contradições, fazendo lapsus atrás de lapsus, Manuela Ferreira Leite em nada contribuirá para o que sei que quer: melhorar e tornar mais justo o nosso país. E é pena. Por ela, pelo PSD e acima de tudo pelo país que precisava de uma oposição pela direita e não de uma direita a fingir opor-se pela esquerda.
José Miguel Júdice, JP 21.11.08

1:33 da tarde  
Blogger Clara said...

(...) A título de nota, não posso deixar de referir que nestes últimos dias recebi dezenas de emails de irados professores em resposta ao meu artigo da semana passada. Embora só tenha lido alguns, bastou para constatar que muitos professores não são só preguiçosos, mas também gente muito ordinária e mal-educada. A dificuldade em perceber a diferença entre um artigo de opinião e uma notícia – a maioria trata-me por "jornalista" – a dificuldade em construir uma simples frase com sentido, o recurso sistemático ao insulto e à ameaça, denotam uma classe muito infiltrada por arruaceiros quando se esperava que a vasta maioria fosse dominada por princípios de discernimento, apego à liberdade de expressão e convicção democrática. É certo que uns quantos emails não reflectem o pensar da maioria dos professores. Mas são um sintoma do estado de degradação profissional e moral a que chegou uma classe que tem por missão preparar os mais jovens para a sociedade futura. Assusta.

Os mais recentes episódios, em que os mesmos sindicatos que não param de exigir diálogo se recusam a qualquer negociação, mostram que a chamada luta dos professores já não é contra a ministra e o programa do Governo, mas contra o País. Por isso insisto: com estes professores e estes sindicatos, Portugal não vai a lado nenhum. Ceder agora seria dar razão a Manuela Ferreira Leite quando diz que para fazer reformas é preciso suspender a democracia. Não é, de todo, aceitável.
Leonel Moura, JN 21.11.08

1:54 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

A cidade vive há anos debaixo da mesma incerteza. A terra voltará tremer e talvez por isso convém ir fazendo treinos para o dia fatídico. Mas confessámos a nossa estranheza com o pormenor com que a catástrofe se abaterá em Lisboa hoje à tarde. A saber:

2 750 elementos operacionais
1 798 figurantes
234 mortos (a brincar)
795 feridos ( na reinação)
769 desalojados (estes se calhar não têm mesmo casa)

Resta esperar que o próximo terramoto tenha a hombridade de também fazer um press release para não apanhar a protecção civil desprevenida.

Entretanto os sindicatos (desta vez os da Função publica) preparam-se para manifestar no centro da cidade ao mesmo tempo que o simulacro – Miséria!
Reinaldo Rodrigues, Correio Preto

3:39 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Deve ser a terceira vez que repito a anedota neste espaço, mas não resisto a fazê-lo a propósito das posições assumidas pelos sindicatos dos professores em relação à avaliação. Aqui vai.

O compadre que estava no quarto do bordel com duas meninas foi surpreendido por uma rusga, questionadas pela polícia uma das meninas justificou-se dizendo que era manicura, a outra explicou que era cabeleireira. Foi então que o nosso compadre exclamou: "querem ver que a prostituta sou eu?".

No outro dia ouvi o líder da FENPROF assegurar que nem lhe passa pela cabeça que não haja avaliação, hoje ouço o líder da UGT assegurar que os sindicatos sempre foram a favor da avaliação. Perante tanto sindicalista a defender a avaliação começo a pensar que é a ministra da Educação que está contra a avaliação.

Enfim, não há limites para a hipocrisia e para a falta de honestidade intelectual.

O Jumento

3:46 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home