Sem vergonha nem esperança
Depois da recente crise que abalou todo o sistema financeiro do planeta, será que ainda vamos continuar a acreditar na fábula da "Mão Invisível" by Adam Smith ?
Portugal, ao que parece, nem categoria teve para figurar na crise internacional:
«A situação do BPN não tem necessariamente a ver com a actual situação dos mercados financeiros, embora ela tenha gerado dificuldades acrescidas para todas as instituições», explicou Teixeira dos Santos, acrescentando que a situação deste banco «tem a ver com perdas acumuladas com operações de legalidade e licitude duvidosa, objecto de inspecção por parte do Banco de Portugal (BdP) e denunciadas à Procuradoria-geral da República (PGR).
Ficou-nos a convicção que a não haver crise mundial, o nosso naive governador do Banco de Portugal, dr. vitor constâcio, teria certamente continuado, impávido e sereno a assobiar para o ar, à espera dos relatórios imaculados dos competentíssimos administradores do BPN.
A história da mão invisível, criada a pretexto da necessidade das forças de mercado actuarem em plena liberdade, mais não é que um artificio para justificar a ausência de regulação e fiscalização do Estado de forma a permitir que toda a espécie de vigarices aconteçam em plena paz do senhor, a bem dos bolsos de uns poucos.
«A situação do BPN não tem necessariamente a ver com a actual situação dos mercados financeiros, embora ela tenha gerado dificuldades acrescidas para todas as instituições», explicou Teixeira dos Santos, acrescentando que a situação deste banco «tem a ver com perdas acumuladas com operações de legalidade e licitude duvidosa, objecto de inspecção por parte do Banco de Portugal (BdP) e denunciadas à Procuradoria-geral da República (PGR).
Ficou-nos a convicção que a não haver crise mundial, o nosso naive governador do Banco de Portugal, dr. vitor constâcio, teria certamente continuado, impávido e sereno a assobiar para o ar, à espera dos relatórios imaculados dos competentíssimos administradores do BPN.
A história da mão invisível, criada a pretexto da necessidade das forças de mercado actuarem em plena liberdade, mais não é que um artificio para justificar a ausência de regulação e fiscalização do Estado de forma a permitir que toda a espécie de vigarices aconteçam em plena paz do senhor, a bem dos bolsos de uns poucos.
Que esperança podemos ter no futuro?
Apenas como certo a continuidade da mão invisível. A comandar a nossa economia e o nosso destino. Porque o Futuro não é garantia de competência (Milan Kundera).
Apenas como certo a continuidade da mão invisível. A comandar a nossa economia e o nosso destino. Porque o Futuro não é garantia de competência (Milan Kundera).
joaopedro
Etiquetas: joão pedro
6 Comments:
O Ministério da Saúde anunciou, esta sexta-feira, que as despesas com o pessoal dos hospitais-empresas estão a crescer além do previsto. Nos primeiros oito meses, a despesa cresceu 4,5 por cento nos 34 Hospitais Entidades Públicas Empresariais (EPE).
Segundo a análise do desempenho económico-financeiro relativa aos primeiros oito meses do ano, estas 34 instituições obtiveram uma melhoria dos resultados líquidos na ordem dos 60 milhões de euros - o que se traduz numa redução de 34,8 por cento dos prejuízos registados - mas continuam no negativo, registando um prejuízo de 112,3 milhões de euros.
Apenas onze instituições apresentaram um resultado líquido positivo, ao passo que, no ano passado, foram sete as instituições com semelhante desempenho, o que representa
um aumento de quatro hospitais EPE com resultado líquido positivo.
Os dados apresentados, esta sexta-feira, em conferência de imprensa pelo Secretário de Estado da Saúde indicam que neste período foram realizadas 1.346.786 primeiras consultas nestes hospitais EPE e 314.368 intervenções cirúrgicas.
O número de urgências baixou 1,5 por cento, totalizando 2.932.246, enquanto as cirurgias de ambulatório aumentaram 34,5 por cento, num total de 98.312 intervenções, segundo os mesmos dados.
Francisco Ramos anunciou ainda que vão ser tomadas medidas para regular o trabalho das empresas nas urgências, admitindo que a tutela está preocupada com os custos de pessoal nos hospitais-empresa.
TSF 09.11.08
Depois dos medicamentos, temos a despesa com pessoal.
A coisa promete este ano.
"Please save us from the banks".
guardia, mensagens dirigidasa Obama
"Por mim, dava como esgotado o prazo de validade de Vítor Constâncio: basta de negligência. E, afinal, para calcular défices de conveniência há mais quem sirva."
António Freitas Cruz, "Jornal de Notícias"
Mais tarde ou mais cedo, um BPN iria rebentar-nos nas mãos. Acabou por rebentar tarde de mais e sem nada que ver com a crise financeira mundial. O BPN não ficou falido, com 700 milhões a descoberto, devido a dificuldades da conjuntura ou até a erros de gestão. Não, o BPN faliu devido às vigarices em que se envolveu e que estavam na raiz da sua própria criação: por alguma razão o baptizaram de Banco Português de Negócios. Negócios de lavagem de dinheiro, de «off-shores», de financiamento da corrupção, enfim, de todo o cardápio de malfeitorias possíveis neste ramo de negócio. O BPN não foi criado nem por banqueiros nem por gente com algum conhecimento ou experiência no ramo. Foi criado por gente que vive e prospera nessa zona cinzenta onde confluem a política e os negócios: um pouco de bloco central, com os ‘socialistas’ dos negócios e muito do supostamente defunto núcleo do cavaquismo dos anos 90. À frente do BPN, nos tempos do fartar-vilanagem, esteve o dr. Oliveira e Costa, sibilina figura do ‘cavaquismo de província’, que então foi secretário de Estado do Fisco e no BPN se dedicou a abrir cerca de oitenta contas em «off-shores», onde se esconde dinheiro e não se paga impostos. Por aqui se pode ver desde logo o estofo moral de alguns que às vezes nos calham em sorte na governação. É sem dúvida revoltante e paradigmático que o dinheiro dos impostos que tanto custam a pagar a tanta gente sirva agora para evitar a falência de um banco que as tropelias de um ex-responsável pelo Fisco levaram à falência. É sempre assim: quando tudo o mais falha — a cautela, a vigilância de quem deve, a simples decência e vergonha — resta o dinheiro dos contribuintes para apagar o incêndio.
Quando, há quase um ano, saltou para a praça pública a peixeirada interna do BPN, isso não surpreendeu rigorosamente ninguém, pois que, à boca cheia, já tudo e todos comentavam o que lá se passava e a impunidade de que parecia gozar o banco. Compreendo que o Estado tenha optado agora pela nacionalização como forma de defender o dinheiro dos depositantes, mas, 280.000 ou não, duvido que eles não achassem estranho que o BPN remunerasse mais o seu dinheiro que qualquer outro e que não desconfiassem de nada, nem que fosse apenas olhando para os nomes e caras daquela gente. De então para cá, tiveram tempo e informações suficientes para poderem sair e ir para paisagens mais arejadas. Mas não o fizeram, talvez porque, como ouvi agora a alguns deles, tinham a garantia de que o Estado (isto é, os contribuintes) acorreria, como acorreu, em caso de necessidade. Aliás, soube-se há menos de um mês (já depois de ter sido chamada a polícia), que o Estado, através da Caixa Geral de Depósitos, tinha emprestado 200 milhões ao BPN e soube-se agora que lá mantém uma conta-corrente, cujo montante não nos é dado conhecer. Não sabemos assim até que medida a nacionalização não visa também proteger a falta de juízo do próprio Estado.
Tenho sinceras dúvidas de que a opção de deixar o BPN ir à falência, declará-la fraudulenta com as respectivas consequências criminais e garantir aos depositantes aquilo que recentemente foi garantido para todos, não fosse a melhor decisão para os contribuintes e a mais saudável para a vida económica. Servia pelo menos como aviso para futuros candidatos à generosidade pública.
O dr. Miguel Cadilhe é o mais improvável herói desta suja história. Seguramente que sabia ao que ia e imaginava bem o que iria encontrar, quando aceitou, em Junho, a presidência do BPN. E tanto o sabia que tratou de negociar, como condição de aceitação, um sumptuoso plano de reforma, para o caso de as circunstâncias o virem a obrigar a ir-se embora antes de tempo. Mas o que viu, quando lá chegou, acabou também por forçá-lo, à cautela, a chamar a polícia, não fossem depois acusá-lo de ter omitido a gravidade da situação. Ao mesmo tempo, propôs à tutela que lhe emprestasse os 700 milhões de euros que estavam a descoberto, sem nenhumas garantias efectivas de poder pagar e apenas para garantir que o negócio continuaria, como de costume. Se bem percebi as suas intenções, a polícia trataria do passado do BPN, os contribuintes tratariam do presente e ele manteria o seu lugar para o futuro. Teixeira dos Santos recusou e fez bem. Cadilhe vingou-se, descarregando a sua ira no supervisor, o majestático dr. Constâncio — que, verdade se diga, está adormecido há séculos.
Mas são coisas diversas, a falta de regulação e a falta de escrúpulos. A única coisa comum é a saturação deste bloco central dos negócios e dos cargos públicos. Em troca de tantas benesses, cargos e atenções do poder que sempre tem recebido esta gente, o que lhes deve, afinal, o país?
Miguel Sousa Tavares, semanário expresso o8.11.08
Aqui está!
Promiscuidade entre o mundo dos negócios e a política.
Caso BPN um caneiro a céu aberto. Sem condenados.
Quando lemos na imprensa que alguém foi condenado por roubar um saco de laranjas, o que devemos pensar?
Éste escandalo rebentou demasiado tarde, como diz o MST.
Estou certo, como refiro no post, a não haver a actual crise financeira mundial este caso vergonhoso continuaria silenciado.
Que abra um precedente e torne públicas todas as diligências tomadas pelo Banco de Portugal nos últimos anos para apurar as trafulhices que foram cometidas no Banco Português de Negócios. É que, caso contrário, todos nós teremos motivos para considerar que o banco central fechou os olhos a muita coisa, porque durante anos foram mais que muitos os indícios de irregularidades no BPN.
expresso 08.11.08
Crise moral,
falência política
A recente crise financeira veio provar à saciedade que estamos muito longe de viver na tão apregoada "Democracia". Alguns regimes do planeta serão até, inqualificáveis mas, no chamado mundo ocidental, aquilo em que vivemos é muito mais uma Plutocracia, o regime dos muito ricos.
Se fossem ricos de trabalho sério e produtivo, talvez não viesse grande mal à terra, mas, infelizmente, o que tem vingado é a especulação desenfreada, o ilícito, a fuga ao fisco, a lavagem de dinheiro sujo, as tentativas de monopólio, etc.
Escusado será dizer que as preocupações sociais não entram nesta equação. E cada vez mais a fatia maior do mercado é dominada por cada vez menos, reunidos em organizações poderosas e muito discretas, que ninguém elege nem escrutina.
Estamos perante uma crise moral e de princípios profundíssima que é, ao mesmo tempo, causa e efeito do descalabro político.
A coisa funciona em termos simples: os "ricos" financiam e controlam as campanhas eleitorais elegendo quem lhes interessa. Estes, uma vez no Poder, têm obviamente que favorecer quem lhes fez os favores. Com o tempo alguns trocam até, de lugares.
Perante os vários escândalos financeiros, o que fazem os governos? Pegam no dinheiro dos contribuintes e transferem-no para os cofres de muitos daqueles que pela sua cupidez e ganância são responsáveis pelo desastre em que estamos.
A falta de vergonha só tem paralelo na impunidade em que tudo se passa, como é bem ilustrado pela comezaina realizada algures na Côte d'Azur pela administração de um dos maiores bancos belgas, falido, que terá custado a módica quantia de 300 mil euros!
Argumenta-se que não restaria aos Governos outra hipótese a fim de não provocar o descalabro do sistema financeiro internacional. Pode ser, mas tal só será aceitável se se responsabilizarem os agentes económicos e financeiros que se portaram mal, bem como os organismos que falharam na prevenção das práticas lesivas da boa gestão e dos bons costumes, e se se produzir legislação que regulamente eficazmente a actividade financeira.
Se tal não acontecer, acarretará o total descrédito da classe política que, aliás, mesmo afirmando-se da mais fina linhagem democrática, já pouco crédito tem.
João J. Brandão Ferreira
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