quinta-feira, agosto 20

Hospital "mercado"

«A ideia de que se deve olhar para os hospitais como empresas da maior complexidade surge então naturalmente. Poucas empresas em Portugal lidam com centenas de milhões de euros por anos, milhares de pessoas como recursos humanos e como utilizadores nas suas instalações.   Apesar da naturalidade dessa comparação, na verdade, gosto de propor uma outra forma de pensar, outra analogia – o hospital como “mercado” onde um conjunto de agentes procura recursos (os médicos) e outro conjunto oferece recursos (a administração), não havendo preço mas negociação nessa relação. A analogia com um “mercado”, e não com uma empresa, resulta de haver duas cadeias de autoridade dentro do hospital, e não apenas uma como nas empresas. Por um lado,  a hierarquia médica, que define os tratamentos e solicita recursos para cumprir os objectivos assistenciais. Por outro lado, a administração, hierarquia administrativa, responsável por um orçamento global, e que disponibiliza os recursos necessários para os tratamentos.   Uma consequência desta analogia é que para perceber em que medida as instituições de saúde cumprem, de forma eficiente ou não, o seu papel é necessário que estas duas partes se relacionem da melhor forma possível.    Não é só necessário que a decisão de cada profissional de saúde seja a melhor possível. É também necessário que a gestão das instituições consiga garantir os recursos necessários no momento adequado, e de uma forma que faça um balanço entre as diferentes solicitações que recebe.    A atenção à qualidade da gestão intermédia nas unidades prestadoras de cuidados de saúde é um fator que pode contribuir para um melhor desempenho assistencial do Serviço Nacional de Saúde. Compreender melhor o contexto dessa gestão é, por isso, essencial. Curiosamente, na discussão pública sobre recursos humanos na saúde, a qualidade da gestão e a avaliação dessa qualidade de gestão é normalmente ignorada.    Provavelmente, faz mais diferença do que se pensa, pois os ganhos de eficiência que todos dizem querer ter no Serviço Nacional de Saúde para ajudar à sua sustentabilidade dependem de muitos pequenos passos que têm de ser definidos e aplicados pela gestão intermédia das instituições.   Se os conselhos consultivos criados ajudarem as organizações (os hospitais, desde logo) a olharem para a qualidade da sua gestão, então darão um importante contributo para uma maior eficiência do Serviço Nacional de Saúde.»
Pedro Pita Barros  link
É corrente a constatação de duas cadeias de autoridade nos hospitais: a hierarquia médica, que define os tratamentos e a hierarquia administrativa, que disponibiliza recursos necessários aos tratamentos.  
É dificil de aceitar, no entanto,  que a relação entre estas duas hierarquias sejam, essencialmente, relações de mercado ao ponto de caracterizar o hospital como “mercado” onde um conjunto de agentes procura recursos (os médicos) e outro conjunto oferece recursos (a administração), não havendo preço mas negociação nessa relação.
À medida que se foi desenvolvendo a organização dos hospitais com a inerente padronização de recursos adequados a cada situação clínica, estabelecimento de objectivos de eficiência/ qualidade e renovação do compromisso de autonomia médica, a hierarquia administrativa assumiu, progressivamente, maior controlo do poder de gestão das unidades hospitalares.
Hoje em dia, as relações de negociação quase permanentes entre as duas hierarquias foram sendo substituídas por relações empresariais traduzidas na obrigação de cumprimento de objectivos de produção/qualidade, constantes dum plano de actuação comum, elaborado por um grupo de gestores profissionais. Esta relação, cada vez mais empresarial, é tanto mais evidente nos hospitais PPP, onde o poder de contratação de profissionais médicos (e não só) é mais ampla.
Se cá nevasse fazia-se, cá, ski

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segunda-feira, agosto 17

SNS para inglês ver?…

A ‘silly season’ não pára de nos surpreender pelas suas leviandades. O último acidente de percurso que aborda as margens do fantasioso é exactamente um assunto de férias.
David Cameron chegou de vilegiatura ao nosso País. Trata-se de uma opção pessoal e recorrente (há 3 anos que o faz).
Desta vez o ‘espectáculo’ mereceu os encómios de uma singular encenação mediática sofisticada e, provavelmente, ‘cozinhada’.
O primeiro-ministro inglês chegou a Faro em voo ‘low cost’ link o que, também, é uma opção recorrente link.
Encontramos aí um esgar de uma classe política muito poupadinha, (medianamente) ‘remediada’, que passa férias como o comum dos mortais, isto é, fazendo contas à vida. Para os políticos esta postura é tanto mais necessária quando mais próxima está a imposição de medidas de austeridade a soldo do poder financeiro, sob pretextos de equilíbrios orçamentais e de combate ao endividamento público.
Todavia, as férias não são tão restritivas, ou ‘neutras’ – para o erário público - como se quer fazer crer. Paralelamente, terá sido necessário deslocar toda uma parafernália de segurança, com homens, veículos, comunicações, etc.
As férias que são períodos de relax e de divertimento encorparam, por vezes, acidentes, dissabores e imprevistos. Nem tudo na vida é um mar de rosas. E quando se procura denodadamente o mar, ou se frequenta swimming pools, percalços do tipo das otites do ouvido externo são comuns. São as ‘otites dos nadadores’ (“swimmer’s ear” na língua do Sr. Cameron). Esta a história banal e natural.
Existirá, todavia, uma outra estória. Idílica e com laivos de carochinha. Trata-se da ida do primeiro-ministro inglês ao Centro de Saúde de Monchique.
Todos conhecemos os défices de cobertura nacional em termos de cuidados primários onde até o responsável pela pasta da Saúde (apesar dos sucessivos expurgos de utentes) reconhece que mais de 1 milhão de portugueses não tem médico de família link.
É sabido que, no período estival, a região do Algarve triplica a população à custa de uma grande afluência de elementos flutuantes: - os chamados ‘veraneantes’ link. Não é, portanto, difícil imaginar a sobrecarga das unidades de cuidados primários durante o Verão.
Mas ao contrário do previsível David Cameron foi atendido de modo expedito. Apesar de ter recorrido a um Centro de Saúde no dia em que decorria uma greve de enfermeiros conseguiu disfrutar de um atempado atendimento. Ficamos sem saber se, na qualidade de turista, lhe terá sido cobrada alguma taxa moderadora.
À saída teve tempo e disposição (apesar do incómodo da situação clínica) para elogiar o SNS link que o seu companheiro no Partido Popular Europeu – Passos Coelho – segundo a propaganda eleiçoeira terá sido um ‘exímio salvador’.
Estão aqui reunidos todos os ingredientes de uma estória mal contada. Escamoteou-se numa veraneante pincelada as difíceis e morosas condições de acessibilidade reinantes, no dia-a-dia dos cidadãos, aos cuidados primários de saúde.
Ou a encenação algarvia terá sido um daqueles episódios … ‘para inglês ver’?

E-Pá!

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domingo, dezembro 30

Já não há pachorra


Os portugueses têm como marca identitária fundamental a tolerância e a resignação. Durante séculos, nos diferentes momentos da nossa história vemos registo dessa temperança e ponderação ainda que, muitas vezes, disfarçada por uma revolta interior marcada pela ironia e pelo azedume.
Talvez assim se explique a capacidade do povo em resistir à agressão de que tem vindo a ser vítima nos últimos tempos. Com efeito um grupo de “rapazolas” investidos em funções governativas descobriu estar legitimado para dar lições de moral sobre tudo e mais alguma coisa. Patética circunstância tendo em conta a biografia de tais personagens, suas histórias de vida e grupos de “amigos”.
O melhor exemplo desta pesporrência tem-nos sido dado pela persistente alusão à putativa circunstância de termos andado a viver acima das nossas possibilidades. Vindo de quem vêm os reparos o mínimo que podemos esboçar será um esgar de sorriso intrépido e complacente.
Na saúde também vão surgindo alguns apontamentos de humor que merecem destaque. Deixamos aqui alguns exemplos em jeito de balanço de final de ano com desejos expressos para o Novo Ano de 2013:
- Resolver o problema dos gestores instalados (há muitos anos) que descobrem (subitamente) problemas graves de absentismo e de produtividade que não hesitam em lançar anátemas populistas sobre os profissionais que tutelam.
- Esperar uma posição técnica e firme por parte da DGS relativamente ao “regabofe” comercial da “indústria” das cesarianas no setor privado da saúde.
- Descobrir a razão da destruição do programa de transplantação em Portugal.
- Descobrir como podem os portugueses partir para os “auto-cuidados” preventivos quando, em 2012, ocorreu o maior corte nos domínios da saúde pública e da promoção da saúde.
- Deixar de utilizar, politicamente, os “casos de polícia” para justificar o continuado agravamento das condições de acesso ao medicamento.
- Assumir que não haverá nenhuma reforma hospitalar ou das urgências dignas desse nome nem em 2013 nem em 2014.
Quanto ao resto pediremos apenas uma coisa: deixem de nos tratar como atrasados mentais com ar sobranceiro e paternalista. Não esqueçam de que mais cedo do que tarde regressarão à condição de simples cidadãos e, que além disso, a malta já não vos liga muito. Até porque, francamente, já não há pachorra… 

Olinda

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Assim vai a Saúde

1.º - As taxas moderadoras aumentam 2,8% a partir de janeiro, actualização de acordo com a inflação registada em 2012, com excepção dos cuidados de saúde primários (OE/2013). Assim, uma consulta hospitalar, por exemplo, sobe de 7,50 para 7,71 euros. Mais um empurrão nuns tantos utentes do SNS para fora da rede pública de cuidados.

2.º - As farmácias deixam de trocar seringas a partir de janeiro link
Um sério risco num país com elevada incidência do hiv/sida.

3.º - «O secretário de estado Leal da Costa considera que os portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do SNS, prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços.» 
Convém dizer uma ou outra coisa sensata de vez em quando. Principalmente na véspera de mais um aumento das taxas moderadoras.

4.º - O Expresso elegeu Miguel Macedo e Paulo Macedo como os melhores de 2012 (12,1 valores para ambos). 
Depois do caso do assessor da ONU, o pessoal do expresso anda meio abananado e não diz coisa com coisa.

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quarta-feira, maio 19

Pérolas da Liberdade de Escolha

na Prestação Privada e da Silly Season no SNS
Parte I
Doente operado ao braço errado no Hospital Particular de Lisboa
link
“Ao acordar na sala de recobro do Hospital Particular, em Lisboa, Fernando Castro sentiu um desconforto numa parte do corpo onde nada de diferente deveria sentir. Chamou uma enfermeira, pediu para lhe retirar o lençol que o cobria e verificou que tinha o braço direito envolto em ligaduras. O esquerdo, ao qual deveria ter sido operado, estava rapado e sem qualquer vestígio de intervenção clínica. Um engano. Um terrível engano ocorrido no passado dia 12 e cujo desfecho final parece encaminhar-se para uma sala do tribunal”


Imaginemos, por absurdo, que tal se passava num hospital público. Telejornais, primeiras páginas, talkshows pelo menos durante uns meses. Neste caso apostamos que o fogacho da notícia rapidamente se esbaterá na espuma dos dias “convenientemente” esquecido no meio dos noticiários sobre o défice e o TGV. É que as agências de comunicação não brincam em serviço. Alguém se lembra do estranho caso de um treinador de futebol que terá estado às portas da morte por ter sido alvo de uma cirurgia estética por médico para tal não credenciado? Alguém sabe o nome do médico? E o nome da clínica? E o nome da seguradora a quem distraidamente foi reportada lipoaspiração como herniorrafia? Conhecem a posição da OM? E da ERS?


Parte II
“A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) intimou dois hospitais públicos a pagarem a meias uma operação a um descolamento da retina
link que uma doente fez no hospital privado Cuf Descobertas (Lisboa), depois de esta não ter sido atendida de imediato nas duas unidades, por ser véspera de fim-de-ano. HUC aceitaram pagar 7.526 euros, ou seja, metade do custo da operação. A ERS conclui que houve violação grosseira do direito de acesso ao SNS. Os Hospitais da Universidade de Coimbra aceitaram pagar a sua parte (metade de 7.526,33 euros, custo da operação), mas o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) recusou, por discordar das conclusões da ERS e considerar que não há indícios de má prática clínica.
O director do Serviço de Oftalmologia do CHLC - que foi quem operou a doente na instituição privada - adiantou, porém, ao PÚBLICO que a administração já lhe pediu para apresentar um projecto para alterar a situação na unidade pública, de forma que casos como este não se repitam”…


Valha-nos o espírito de sacrifício e a disponibilidade do director do Serviço de Oftalmologia do CHLC que não sendo capaz de organizar o serviço público que dirige para responder às necessidades dos cidadãos contribuintes teve o denodo de estar disponível para o fazer no sector privado. Pode, porém, ficar descansado que o SNS irá pagar o que é devido a tal esforço.

É claro que, mais uma vez, nada se passará.
Com o MS fechado para obras e entretido na gestão quotidiana das trapalhadas só podemos esperar muitos e enriquecidos capítulos nos próximos dias a ilustrar o fim triste do SNS.


Notas Finais:
Consta que o CA do CHLO terá reunido a totalidade da classe dirigente para comunicar que a Instituição estava falida…

Os hospitais militares não param de conhecer novos destinos. Depois de se constituírem promitentes e piedosos compradores desse exaltante estudo de caso que dá pelo nome de hospital dos Lusíadas parece que à falta de numerário (para ajudar a tapar o buraco) se viraram para o HPV. Não nos surpreenderíamos se na próxima semana fosse anunciado que, afinal, iriam para o Miguel Bombarda.

saloio

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domingo, julho 5

Gestão estarola


Este episódio da construção do Hospital Pediátrico no São João ilustra bem os tempos que vivemos. link
O HSJ assumiu-se como um estado-federado, apeteceu-lhe ter um hospital pediátrico, lançou a campanha do Joãozinho, com galas à mistura e chamadas de valor acrescentado. link
É a gestão estarola no seu melhor. Não tardará estarão a fazer merchandising, lançarão uma lotaria especial, transformarão a casa mortuária num bingo, montarão quartos privados com jacuzzi e filmes pré-pagos. Esperaremos para ver a corrida tauromáquica anual do HSJ e quiçá o arraial do S. João com martelinhos e alho-porro.
O que vale é que com a vinda da Dr. MFL o Prof. Rui Nunes (ministro ou PCA do HSJ) rapidamente criará o St. John’s Trust Foundation Hospital…

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terça-feira, maio 5

SNS, passa cheques

Descontando os comentários nostálgicos dos tempos do LFP e da (saudosa) gestão da JMS no Amadora-Sintra cujo epitáfio (em ambos os casos) está por escrever atentemos, então, no bendito Despacho. link
É verdade que parece ecletismo a mais para um grupo que se pretende de acção rápida e de eficácia máxima. Parece mesmo um daqueles grupos constituídos “à pressa” tipo “bora malta”. Concordo com o e-pá quanto ao risco de tanta gente nada de jeito vir a decidir. Fica o gesto e a boa intenção…
Já quanto à participação dos grupos privados (excluindo do grupo de trabalho importantes subsistemas como por exemplo o SAMS) voltamos a ficar com aquela sensação de existir “gato escondido com o rabo de fora”. Será assim tão difícil assumir o papel do SNS nas políticas públicas de saúde? Teremos de andar sempre com ziguezagues? A continuar assim acabaremos num SNS do tipo “passa cheques”: cheque-dentário, cheque procriação medicamente assistida, cheque-cirurgia, etc, etc…
Vale a pena continuar a monitorizar os diferentes protagonistas…
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segunda-feira, março 9

Contas à PKM

...”A saber, a compra de exames complementares de diagnóstico e terapêutica, consultas, cirurgias e internamentos, cresceu 700%. Outros dois exemplos concretos: as endoscopias cresceram 400% no sector público contra 950% no sector privado; a imagiologia cresceu 100% no sector público contra 300% no sector privado. Que significa este discreto fenómeno? Que enquadramento das políticas de saúde tem permitido legitimar esta evolução?”... link
…/…

PKM aflora uma questão relevante. No entanto a sua vertente não matemática de novo lhe pregou uma rasteira. Então e a a base de cálculo dessas percentagens?
Não deixa contudo, de ser verdade que a separação entre sectores, a eliminação das situações de conflito de interesses e uma orientação (contratualizada) da tutela sobre o princípio da auto-suficiência tendencial e a rentabilização da capacidade instalada muito estrita e sujeita a monitorização, com penalizações, resolveriam de uma penada este concubinato público-privado. (É por isso que os grupos privados tanto querem as PPP’s.)
Se houvesse coragem e determinação nas políticas…

O pior é o “tudo-jóia” que tem alimentado esta imensa “farsa” da complementaridade público-privado. Os ingredientes são conhecidos:
Directores de Serviço inimputáveis de responsabilidades. Ganham pouco. Mal dá para a mesada dos filhos. A OM nem vê como necessário que ganhem mais. O que é importante é evitar a dedicação (e ainda menos a exclusiva). Dirigentes médicos ou gestores que são simultaneamente peritos na DGS, Infarmed, ACS, MS. Decidem sobre programas de cirurgia da obesidade, vacinas e fármacos, licenciamentos e redes de referenciação. São também sócios, consultores, coordenadores de empresas privadas de prestação e de financiamento.
Alguma vez alguém, no seu perfeito juízo, vai acreditar que o sistema possa ser saneado refém que está deste imenso polvo?
Depois as políticas. Sempre as políticas. Um jeitinho aqui outro acolá. Uma cedência aqui outra por ali.
A gestão deste imenso “bolo” de oito mil milhões de Euros só poderá ser feita com transparência e em nome do interesse público se existir uma visão clara sobre o que defende o interesse público. De resto falamos apenas de bricolage táctico e não de reforma muito menos de transformação ou de sustentabilidade do SNS.

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segunda-feira, janeiro 12

Sinais preocupantes ...


O triste espectáculo a que temos vindo a assistir, nos últimos dias, com a Linha Saúde 24 ilustra, preocupantemente, a fragilidade do Estado, pondo em causa a sua autoridade e a sua capacidade de regulação.

Como é possível que, em pleno surto de gripe, num contexto em que as próprias autoridades de saúde recomendaram a utilização prioritária deste serviço (pago com o dinheiro público) sejamos confrontados com uma enorme demonstração de irresponsabilidade?

Pouco parecem importar as chamadas perdidas, os utentes por atender, as intermináveis esperas pelo atendimento. Tudo se parece resumir a um exercício de “guerrilha empresarial” no seio da qual os argumentos técnicos, ao invés de serem discutidos, ou negociados são, tentativamente, abafados.
Registemos todos, com muito cuidado, para memória futura que tudo isto se passa com a expressão mínima de uma PPP na saúde, em Portugal.

A lógica autocrática de responsáveis impreparados para gerir “serviço público de saúde” tudo parece comprometer. Até mesmo a imagem corporativa da empresa que os tutela. Afinal quem responde pelos danos gerados no Grupo CGD?
Numa fase de intensa procura do serviço esperar-se-ia sentido de responsabilidade, capacidade de resolução interna dos problemas. Tudo isto em nome do superior interesse dos cidadãos.

Em boa verdade o que se passa é que estas “novas aventuras empresariais” emergem contaminadas por um espírito de mercantil basismo perante o qual parecem soçobrar todos os valores de serviço à comunidade.

Refere a comunicação social: …”Contudo, durante os últimos meses, o ambiente interno tem vindo a agravar-se. Esta semana, a empresa gestora – a LCS, do grupo Caixa Geral de Depósitos – começou a dispensar enfermeiros e oito (sete dos quais fundadores) já receberam cartas de despedimento. Os profissionais acusam a administração de "perseguição" e de "represálias" por terem denunciado "o caos organizativo". Cinco destes são testemunhas a favor da enfermeira suspensa, no seguimento das denúncias feitas à ministra”… A entidade gestora, LCS, emitiu ontem um comunicado anunciando a sua intenção de, nos próximos dias, "avançar com processos-crime" contra os que participaram na manifestação de ontem, à porta do centro de atendimento de Lisboa. Diz a empresa, que "já identificou" os manifestantes que participaram no protesto, que apelida de "acto de vandalismo". No comunicado, a LCS considera que a manifestação de funcionários e ex-funcionários foi uma iniciativa para "impedir o regular funcionamento do serviço de atendimento, através da destruição de meios de acesso às instalações". Os enfermeiros de Lisboa apenas voltaram ao trabalho depois de Francisco George se ter deslocado ao local e ter garantido que os vai receber amanhã.

Dos cerca de 40 funcionários que fundaram o Saúde 24, "apenas resta uma meia dúzia". Uns foram despedidos, outros "saíram pelo próprio pé, porque não aguentavam trabalhar nas condições impostas pela administração", afirma Lúcio Silva. O enfermeiro agora despedido defende que "a empresa se rege por critérios exclusivamente economicistas, que entram em conflito com a qualidade do serviço". O administrador Ramiro Martins justificou à Lusa os despedimentos por "má prestação" laboral. Mas ontem na manifestação Francisco George elogiou "o trabalho exemplar dos enfermeiros".

O que é isto?
Em que país vivemos?
Onde está a autoridade do Estado?
É esta a melhor utilidade do dinheiro público?

Honra seja feita ao Director-Geral da Saúde que teve a coragem de “dar a cara” e afrontar esta situação.

Falta, no entanto, exercer a autoridade, exemplarmente, em nome dos cidadãos sob pena de concluirmos que nem isto o Estado consegue regular…

silly season

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sexta-feira, dezembro 19

Rankings e ratings


A ERS trabalha ufanamente no seu SINAS laborando no delirante processo de se constituir, ao mesmo tempo, em Entidade Reguladora e Entidade Avaliadora.
A José de Mello Saúde contratou a uns amigos um estudo "taillor made" cujo endpoint essencial era dizer que o HFF era o melhor hospital do país nas suas mais variadas expressões.
Hoje é-nos dito, pela comunicação social, que o Hospital de São João, é um dos seis melhores da Península Ibérica (sendo contudo o único hospital português que integrou o estudo comparativo).
No paralelo 39, dir-se-ia, nada de novo…

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quinta-feira, dezembro 18

Portugal exaurido ...


…”Comissão Política Nacional do PSD confirmou a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa”… …”O ex-secretário de Estado Luís Mota Campos acusou hoje Paulo Portas de destruir a matriz democrata-cristã do CDS-PP e anunciou a criação de um movimento de reflexão para "reforçar uma alternativa não socialista”… …”Paulo Pedroso, deixou um desafio a José Sócrates: "Nas actuais circunstâncias, cabe à direcção do partido decidir se quer um congresso do tipo Convenção americana ou um espaço de debate. Não é ainda claro qual é a vontade da direcção. Enquanto não for, não há nada”…

Estes excertos da imprensa de hoje ilustram, pungentemente, o drama de Portugal – a incapacidade de regenerar e renovar as elites e, consequentemente, de melhorar a qualidade da democracia e a inovação do processo político. A política portuguesa está tomada por uma patologia crónica, de características insidiosas cuja morbilidade corrói a transformação da sociedade e o desenvolvimento social e humano do país. Os “velhos” protagonistas cristalizam numa agónica perpetuidade que lhes tolhe a auto-crítica. Vivemos dependentes de “elites” que se amarram entre si por grilhetas de interesses sustentados numa doentia reciprocidade.
Que podem trazer de novo a Portugal Santana Lopes, Paulo Pedroso ou Paulo Portas? Integridade, modernidade, inovação, ética? Qual o valor que acrescentam à transformação do País?
O que levará a política a ficar refém destes políticos? Onde estão os melhores? Os mais jovens? Aqueles que, pelo seu exemplo, e pela sua autenticidade podem ser os agentes de mobilização da sociedade?
Portugal tem hoje um preocupante problema de confinamento e de qualidade das elites.
A política é “rasca” na sua pior alegoria.
Pacheco Pereira exultou a credibilidade de Manuela Ferreira Leite como contraponto à irresponsabilidade dos “populistas” liderados pela facção de Santana Lopes. A mesma Manuela Ferreira Leite apresenta agora Santana Lopes como uma “aposta forte” do PSD para Lisboa.
Portugal precisa de expurgar da sua liderança os desempregados da vida que fazem da política o refúgio de sobrevivência.

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domingo, novembro 30

Uma lição exemplar ...

Bancários do SBSI rejeitaram parceria para gestão privada dos SAMS

…”Os associados do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) rejeitaram quarta-feira a proposta da direcção do sindicato para negociar uma parceria com os Hospitais Privados de Portugal (HPP) para a gestão dos SAMS. O SBSI convocou uma Assembleia-Geral referendária para pôr fim à especulação suscitada em torno das alegadas negociações para a privatização da gestão dos Serviços de Assistência Médico-Social (SAMS) e a maioria dos votantes optou por recusar essa possibilidade. Segundo o presidente do SBSI, Delmiro Carreira, até agora só existe um protocolo de entendimento entre as duas entidades para encontrar uma nova forma de gestão do hospital e do centro ambulatório dos SAMS. Com o resultado do referendo de quarta-feira o protocolo de entendimento com a HPP cai e 'fica inviabilizada qualquer possibilidade de acordo' para a privatização da gestão dos SAMS”…
…/…

O episódio acima referido ilustra bem o “espírito” que se vive no “mercado” privado da saúde em Portugal. A falta de planeamento estratégico, a ausência de critério e rigor nas decisões económicas e financeiras põem à vista os enormes graus de liberdade com que este tipo de actores funciona. Não deveremos, por isso, nos espantar com as sucessivas “incidências de mercado”, que têm ocorrido nas últimas semanas, do tipo BPN (Grupo Português de Saúde) ou BPP. Se tudo isto ocorresse no sector público não faltariam algozes a zurzir na gestão, nos gestores, nas políticas e no uso público dos bens. Aqui, mais uma vez, estamos num “graffiti” da clássica dinâmica do mercado.
Os mesmos que, ajudaram a construir, durante décadas uma iniciativa de apoio social, aos bancários e respectivas famílias, predispuseram-se agora, precipitadamente, a tudo fazer para alienar essa história, esse património e a persecução do bem comum. De uma forma aligeirada, ignorando propostas alternativas, prescindindo da disputa no mercado pelo valor do bem tudo fizeram para entregar por “ajuste directo” o velho SAMS nas mãos dos, preclitantemente emergentes, HPP. Mas afinal em nome de quê? De mais e melhor serviço? De mais sustentabilidade? Não será evidente para os promotores desta “parceria” a evolução real do negócio HPP? Trata-se apenas de juntar resultados negativos? Qual o modelo económico da parceria? E onde fica a história, a missão, os valores e o fim social e cívico de um projecto que tantos durante tanto tempo construíram.

Por vezes as “combinações” espúrias entre os homens comprometem a bondade dos projectos nas suas finalidades e nos seus melhores propósitos.
Neste caso, felizmente, verificou-se que vale a pena não interromper a democracia, mesmo que seja apenas por seis meses…

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quinta-feira, novembro 13

Ex- citações de PKM


Tal como era previsível, quando aparecesse a primeira notícia sobre o desempenho económico-financeiro do SNS, PKM surgiria, das trevas, desembainhando a espada e, numa fúria, intelectualmente descoordenada, distribuiria golpes em todas as direcções.
O seu último artigo no DE ilustra, com clarividência, quão sequioso estava de zurzir no SNS, no actual governo e nessa horda inqualificável de gestores e administradores, por este, nomeados.
Vale a pena, por isso, escalpelizar o artigo até porque, desta vez, PKM nos inundou com números e conceitos que, a julgar pelos equívocos expressos, lhe continuam a ser, manifestamente, pouco familiares.
Talvez, por formação, estar mais próximo das ciências sociais denota, nos temas económicos, alguma inconsistência conceptual.
O seu artigo começa por um sopro de inspiração que lhe advém das leituras do livro de
Marques Mendes beatificado, por si, na novel condição de referência sobre as matérias de “sujeição das práticas de gestão pública a uma agenda eleitoral colocando em segundo plano o melhor interesse público”. A este propósito, afirma: …” os observadores sabem que a situação quer financeira quer económica das diferentes entidades que integram o Serviço Nacional de Saúde está, desde meados de 2005, a degradar-se continuamente”…Para quem se reclama das “policies” e não das “politics” não está mal…Na temporalidade milimétrica vislumbra-se o sofisma político-partidário delimitando, preciosamente, a mudança de governo e de gestão na maioria dos HH’s do SNS. O “rigor” desta (tão científica) afirmação faz-nos supor que até meados de 2005 nunca existiram défices na saúde, nunca foram detectadas práticas de sub-orçamentação ou de desorçamentação e os custos com o SNS nunca subiram.
Vejamos então o que referia o Tribunal de Contas relativamente aos anos (2001-2004) anteriores a (meados) de 2005: …”A empresarialização dos hospitais públicos traduziu-se numa melhoria relativa da sua eficiência e qualidade, mas não conteve o endividamento, nem os défices, que continuam a aumentar. Esta a conclusão central de dois relatórios do Tribunal de Contas sobre os modelos de financiamento e gestão dos hospitais do sector empresarial do Estado no período compreendido entre 2001 e 2004.
O Tribunal de Contas assinala que "nos dois primeiros exercícios de funcionamento (2003 e 2004) os resultados líquidos globais dos hospitais SA revelaram-se negativos", tendo o défice económico crescido 82%, como resultado do agravamento da despesa total do exercício. Uma tendência que prosseguiu. Apesar de o ano de 2005 não constar do período auditado, o Tribunal refere já que ascendeu a 20 o número de hospitais SA com resultados negativos "aumentando em relação a anos anteriores"…
Ainda referente aos anos de 2001 a 2004 o Tribunal de Contas referia: …” A manter-se a persistência dos défices, fica um alerta: "pode exigir um financiamento líquido deste subsector por parte do Estado" que "poderá conduzir a um eventual agravamento do défice das administrações públicas na perspectiva das contas nacionais. O Tribunal de Contas lamenta a falta de transparência das contas do SNS em 2003 e 2004 apresentadas pelo IGIF. Quanto ao endividamento, verificou-se um crescimento das dívidas a fornecedores a partir de 2002, particularmente no período da transformação, com um acréscimo de 30%. Ainda no capítulo do endividamento, o Tribunal de Contas critica a actuação da Unidade de Missão Hospitais SA por não ter procedido em 2003 e 2004 a um "adequado controlo financeiro, em especial, ao endividamento resultante dos compromissos assumidos perante os fornecedores, no sentido de acautelar as necessidades futuras"…

Repare-se que PKM aparenta uma espécie de amnésia lacunar relativamente ao período dos “orçamentos rectificativos” e do descontrolo da despesa pública, em saúde, nos anos compreendidos entre 2001 e 2004.
É claro que neste período dominavam as políticas de LFP de que PKM se constitui herdeiro ideológico. Talvez por essa razão a delimitação temporal ser tão rigorosa. Ou então terá sido porque foi nessa altura que se registaram os movimentos entre a extinta Unidade de Missão dos Hospitais SA e o BPN (de triste memória).
Continuando a análise fina deste artigo publicado num jornal “especializado” em Economia vejamos o que escreve PKM: …” Em pouco mais de um ano apenas, o saldo negativo dos hospitais SPA passou de -744,1 milhões de euros para -978,0 milhões de euros. Por outro lado, os chamados “resultados operacionais” dos Hospitais EPE, ou seja, os prejuízos acumulados ultrapassavam, em Novembro de 2007, mais de 800 milhões de euros”…Sendo colunista (há tanto tempo) de um jornal económico e com tantas pós-graduações seria útil clarificar a diferença ente “resultados operacionais” e “passivo”.
Aqui, para além da imprecisão técnica fica evidente a superficialidade da análise de quem parece desconhecer que o universo de HH’s EPE entre 2005 e 2007 variou, significativamente, em número e em volume e, por essa razão, naturalmente os saldos transitaram de um sector para o outro.
PKM prossegue depois numa prolixa manifestação de falta de rigor técnico e económico, untada de má-fé política dizendo mais uma coisa extraordinária: …” Como os prejuízos acumulados nos hospitais SPA não contam para o défice orçamental, o actual governo com a sua sagacidade e competências de engenharia, neste caso financeira, tem transferido discretamente para estes hospitais SPA parte do efeito da gestão incompetente das administrações hospitalares EPE que nomeou em meados de 2005”…
Caro PKM olhe que não. O que não conta para o défice do Estado são os EPE’s. Os HH’s SPA’s mantêm-se no perímetro da administração pública (tem de ler um pouco mais e melhor). Quanto ao juízo valorativo, generalista sobre a incompetência das administrações hospitalares EPE já todos sabemos do seu recalcamento. Compreendemos a saudade que tem dos tempos dos coronéis, engenheiros e gestores “emprateleirados” dos HH’s SA. Quanto a isso nada podemos fazer.
Neste seu precipitado artigo diz ainda: …”Ou seja, parte da aparente redução do défice dos hospitais EPE terá sido promovido à custa da discreta degradação dos hospitais SPA”…Mas afinal segundo PKM o défice dos HH’s EPE subiu ou desceu? Em que modelo económico-financeiro se baseia PKM para teorizar sobre esta ideia singular de transferências entre HH’s SPA e HH’s EPE? O que é uma discreta degradação?
Refere depois: …”Estamos a aguardar que nos sejam revelados os números até ao quarto trimestre de 2008”…Recomendamos a PKM uma leitura assistida e apoiada por alguém que esteja convenientemente habilitado.
É claro que a redução, sistemática e consolidada, do défice dos HH’s EPE nos últimos três anos nada dizem a PKM. Nem a contenção, objectiva, dos custos operacionais, o aumento da actividade e a melhoria do acesso.
No meio de tanta confusão confessa: …”Se os resultados negativos até podem ter alguma explicação, o facto é que admitir as dificuldades e os erros parece uma prática proibida entre a classe política”…para passar ao que lhe dá mais gosto: atacar o governo: …”o actual governo com a sua sagacidade e competências de engenharia”…Caro PKM em matéria de sagacidade e contabilidade criativa o governo e os HH’s EPE são humildes aprendizes quando comparados com os seus ídolos neo-liberais (o BPN daria um excelente estudo de caso para as suas aulas)…

Conclui fazendo o que mais gosta: política partidária: …”Estes dados demonstram de uma forma inequívoca o agravamento contínuo da situação financeira e económica do SNS. A actual ministra da Saúde, ou o seu chefe de governo, tem que explicar à população como vai resolver a crise financeira do SNS e, para tal, apresentar um plano de intervenção quinquenal para o período 2009-2014 e garantir os compromissos que agora assumiu para recuperar os prazos de pagamento. Em defesa do SNS, sem demagogias fantasiosas?”…
Pasme-se: o ideólogo-sombra da oposição, putativo candidato a qualquer coisa exige explicações ao chefe de governo ao mesmo tempo que propõe “planos quinquenais”??
A terminar deixamos, serenamente, a PKM duas pistas que constituem interessantes propostas para futuras reflexões na sua coluna quinzenal no DE:
- Eduardo Dâmaso no DN: …” A história do primeiro contrato celebrado entre o Estado e um grupo privado, no caso o Mello Saúde, que entregava a este a gestão de um hospital do Serviço Nacional de Saúde, o Amadora-Sintra, ficará como um monumento ao que não deve ser feito nas agora tão discutidas parcerias público-privado”…
- Na UE o Tribunal de Contas Europeu continua a detectar várias deficiências nos controlos em 2007 e considera ser ainda cedo para avaliar o impacto das medidas correctivas da Comissão Europeia.

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segunda-feira, novembro 10

Hipocrisia


O Ministério da Saúde admitiu hoje a necessidade de corrigir "alguns aspectos" do financiamento aos hospitais, assegurando que a nova tabela de actualização de pagamentos vai entrar em vigor já no próximo ano. Esta é a reacção da tutela à notícia de hoje do “Correio da Manhã”, segundo a qual existem doentes que ficam mais dias em internamento nos hospitais públicos, sem que tal seja necessário, para as unidades conseguirem “arrecadar um maior financiamento do Governo”.
À Lusa, fonte oficial do ministério de Ana Jorge indicou que já foi feita uma revisão da tabela de pagamentos aos hospitais, uma vez que havia "necessidade de corrigir alguns aspectos". "A nova tabela de actualização de pagamentos aos hospitais, que já esteve em consulta pública, vai entrar em vigor no próximo ano", acrescentou.
Entretanto: …”O bastonário da Ordem dos Médicos considera que a situação "é inaceitável". Em declarações à TSF, Pedro Nunes lamenta a "manipulação miserável" a que são submetidos os doentes nas unidades que praticam o esquema, assegurando que os médicos que cooperem com esta política "serão seguramente punidos pela Ordem dos Médicos", por violarem o código deontológico destes profissionais.
Ainda à rádio, Pedro Nunes defendeu que estes casos devem ser alvo de uma investigação por parte da Inspecção-Geral da Saúde.
…/…
Esta é a reacção, vigorosa, do Sr. Bastonário indignado por uma “não notícia”. Pode ser, no entanto, o prenúncio de uma nova atitude, mais exigente e mais isenta no plano da ética e da deontologia. Se o quiser fazer, encontrará no regime de internamento, no sector privado, dos beneficiários da ADSE e dos sub-sistemas farta matéria para analisar em conjunto com a IGAS. Talvez seja desta que lhe ouviremos uma palavra sobre a selecção adversa de doentes no sector privado (convencionado com o Estado), dos doentes oncológicos “despachados” a meio dos ciclos terapêuticos para os Hospitais públicos, do incumprimento dos ratios e perfis de competência técnica e profissional em clínicas e hospitais privados. Talvez seja, ainda, desta que o vamos ver a fazer visitas-surpresa a blocos operatórios, UCI’s, Unidades de Internamento e Urgências no sector privado. Se o vier a fazer estaremos em condições de desfazer, em definitivo, a ideia que vai perpassando, neste tipo de juízos e comentários de parecerem haver “vícios privados e públicas virtudes”…

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quarta-feira, novembro 5

Despudor ...

Nas Jornadas Parlamentares do PSD que estão a decorrer em Évora, o líder parlamentar do maior partido da oposição, Paulo Rangel, classificou o projecto do PS como «capitalismo de Estado ou neo-socialismo», dizendo que desqualifica progressivamente a democracia em Portugal. …/…
Como é possível falar em desqualificação da democracia em Portugal? Não foi o imenso “laranjal” que construiu e alimentou um dos maiores logros do sistema financeiro em Portugal? Quem foram os protagonistas desta (triste) história? Desde Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Daniel Sanches e tantos outros? Afinal quem desqualifica o quê?
O PSD sempre se caracterizou por ser um partido sem uma matriz ideológica clara e bem definida. Vive enredado num tacticismo eleitoral que levou a que, passados mais de 30 anos sobre a sua fundação, se tenha transformado num partido sem identidade, sem rumo e sem alma. Na prática trata-se de uma formação política que deambula entre impulsos: ora social-democrata, ora populista, por vezes conservador ou até mesmo neo-liberal.
Nesta insane deambulação é preciso despudor para acusar o governo de «capitalismo de Estado ou neo-socialismo».
Se restasse uma réstea de ética política deveriam ter defendido o funcionamento do mercado (com a inevitável falência do BPN) e a penalização dos seus responsáveis. Mas isso o PSD nunca poderá fazer porque no seu âmago está a expressão política da “criatividade” económica e financeira. O PSD vive condicionado pelos seus fantasmas. É por isso que quando é espontâneo se indigna com o aumento do salário mínimo…
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domingo, outubro 26

O Estado que pague a crise

Ainda a propósito da crise financeira internacional vão emergindo, aqui e ali, (hoje por exemplo no Expresso em Opinião) alguns colunistas que com supremo desplante e alguma, indolente, persistência se insurgem contra o fim do liberalismo. Vão dizendo que se tratam de “reajustamentos” que em nada prejudicam o capitalismo, o mercado ou os ideais neo-liberais.
Tudo isto faz-nos vir à ideia algumas inquietações…
- Será que, à semelhança do SNS, se deverá criar uma Comissão para estudar a Sustentabilidade do Sistema Financeiro?
- Será que (estando o sistema financeiro na sua esmagadora maioria privatizado) se deve pedir ajuda, ao ex-Ministro Luís Filipe Pereira, para se criar um programa de Parcerias Privado-Público para a Banca? E estas deverão incluir gestão financeira ou apenas instalações e equipamentos?
- Valerá a pena criar uma Unidade de Missão para os Bancos, EPE?
- Qual a diferença que existe entre a intervenção do Estado a tapar “buracos” no sistema financeiro, por dolo especulativo, e a intervenção do Estado nos Hospitais Públicos para cobrir défices por estes tratarem doentes?
- Será que no primeiro caso (Banca) se trata de “contingências do mercado” e no segundo (Hospitais) de má gestão?
- Qual a utilidade maior dos impostos dos cidadãos: cobrir as irresponsabilidades de entidades privadas geridas por seres “superiores”, principescamente pagos, ou financiar o sistema de saúde gerido por “incompetentes” (ainda por cima mal pagos)?
Valha-nos a tranquilidade de saber que nas PPP’s em curso (com gestão clínica) nenhum dos operadores privados tem motivos para dormir mal. É que se as coisas correrem mal haverá sempre um fundo que acautelará males maiores.
Ainda há tempos PKM escrevia que nos privados quando as coisas correm mal quem assume o risco são os accionistas. Ter-se-á esquecido de referir que, infelizmente, os accionistas (à força) somos todos nós.
Afinal isto da partilha de risco já foi chão que deu uvas…
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domingo, outubro 5

A Crise


E os Liberais de Pacotilha

Será que a Caixa Geral de Depósitos...
Não se coloca em causa que a Caixa Geral de Depósitos esteja em excelente situação financeira, mas a venda à Parpública de parte das suas participações na REN e na Águas de Portugal surge numa altura de tal forma delicada que dá azo a várias conjecturas, a mais benéfica das quais a de que o banco está a ser preparado para apoiar outros bancos que possam entrar em dificuldades. semanário expresso 04.10.08
Não está na hora de rever nomedadamente as remunerações principescas e as mordomias dos gestores desta vetusta instituição bancária (do estado) ? ochoa

Caro Ochoa não tenha muitas esperanças quanto a isso. Pode não haver dinheiro para investimento reprodutivo ou, até para simples crédito aos pequenos empresários ou para os jovens poderem adquirir casa própria. Haverá, no entanto, dinheiro garantido na CGD (via HPP) para “aventuras empresariais” na saúde abrindo e mantendo unidades inviáveis ou mesmo adquirindo sub-sistemas de saúde falidos. É este o padrão dos neo-liberais de pacotilha. Basta lê-los nos jornais e ouvi-los nas televisões. Pateticamente, vêm agora dizer que o problema não está no liberalismo (vide Expresso e Sol de hoje) mas sim na gritante falha de regulação do Estado. É assim como o problema não estar num criminoso, que comete uma infracção, mas sim no polícia que não cumpriu o seu dever. Faz-me lembrar a expressão que ouvi, há tempos, a um dirigente de um hospital privado a propósito da regulação que teve a pueril sinceridade de dizer: …"se o Estado não é capaz de regular e deixa roubar o problema é do Estado”…

Valha-nos a animação a que vamos assistindo enquanto o liberalismo se vai desmoronando, pelo mundo. Estamos perante uma rábula divertida (quase circence) ao ver os benditos neo-liberais de pacotilha a contorcerem-se tentando explicar que, de facto o edificio está a ruir, mas o projecto e os materiais eram tão bons… Pena foi que o fiscal da obra fosse tão, profundamente, incompetente.
Em ano pré-eleitoral, meus caros amigos, o caminho será, seguramente, para desgosto de muitos, mais Estado e melhor Estado…
Nota Final:
PKM não vê, no serviço público, grandes motivos para celebrar os 30 anos de SNS. Não deverá desanimar porque, apesar de tudo, a evolução objectiva dos indicadores, não é má de todo. Certamente devido ao facto de, nestes trinta anos, termos podido contar com o Hospital da CUF, a Clínica de São Lucas, a Clínica de Oiã, o Hospital Particular e, meia dúzia de anos de JMS no Amadora-Sintra. Se não tivesse sido assim…
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domingo, setembro 14

Grupos privados


A história dos grupos privados, em Portugal, tem muito de improvisação e de “achismo”. Aparentemente contagiados pela expressão popular que diz que …”de médico e de louco todos temos um pouco”… alguns grupos financeiros e investidores empresariais julgaram ver na saúde, o filão de rentabilidade garantida que lhes ia rareando noutros domínios da actividade económica. Vai daí recorreram, quase todos, a uma estratégia, aparentemente, fundamentada numa espécie de “sopa da pedra”: juntam-se uns engenheiros, condimenta-se com umas consultoras internacionais e tempera-se, finalmente, com powerpoints de “achismo”, quanto baste, sobre a reforma e a evolução do sistema de saúde aveludando depois, com um souflée macio de “soundbytes” veiculados por alguns jornalistas especializados em discorrer, a partir da leitura cruzada, de cabeçalhos de livros e jornais. Entre PPP’s e lojas da saúde, o sector privado está longe de encontrar o seu quadro de referências persistindo em navegar à vista. No primeiro caso (PPP’s) temos andado, há vários anos, a fazer de conta. Do lado dos operadores privados faz-se de conta que se domina a evidência económica, financeira e clínica. Do lado do Estado, faz-se de conta que se acompanham e gerem os contratos. Os resultados são conhecidos. No entretanto, o processo vai fazendo o deleite dos grandes escritórios de advogados e das consultoras internacionais, Estas, como se sabe, têm sempre produtos “taillor made” para explicar o inexplicável e propor “bons negócios”. Estarão mesmo, neste momento, a preparar o lançamento de novas estratégias para explicar a grave falha de mercado que constituiu, na maior e mais liberal economia do mundo, a nacionalização da Fannie Mae e da Freddie Mac. Em Portugal a desorientação do mercado está à vista: o GPS depois de um percurso atabalhoado afunda-se na loja de saldos do BPN. Outros grupos ao verem aproximar o vermelho forte da “bottom line” ensaiam fugas para a frente e propõem-se comprar “à força” sub-sistemas ou coisas parecidas. Neste frenesim empreendedor a ADSE parece fazer de banda que abrilhanta a procissão no alimento das ilusões. Em tempo de “vacas magras” e de melhoria (apesar de tudo) da eficiência do SNS a desorientação surge como inimiga da racionalidade.

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quinta-feira, setembro 11

É tão difícil viver em Portugal


Há que reconhecer que o dia de hoje (10.09.08) foi esquisito. Não sabemos se por efeito do início da experiência com o mega acelerador de partículas ou se por qualquer outra razão. Começando pelo fim, a selecção faz uma das suas melhores exibições, com o Deco em grande forma. Começa a ganhar e acaba a perder por 2-3. O PR faz um comunicado inédito mostrando-se abespinhado com declarações proferidas por um dos Ministros mais aziagos deste governo. O deputado Paulo Pedroso regressa, do “exílio” interno, e dá uma entrevista, tipo lança-chamas, sugerindo (se necessário) uma coligação com o PSD. Neste partido, o ex-líder Menezes contra-ataca, rasteirinho, levando ao extremo a sede de vingança. Manuela Ferreira Leite persiste em não perceber como foi atirada aos lobos pelo Prof. Marcelo e vai tendo, como cavaleiro andante, o inenarrável António Borges. Este, por sua vez, parece ensaiar uma qualquer doutrina sobre como conciliar a sua velha máxima de “menos Estado e melhor Estado” com a nacionalização da Fannie Mae e da Freddie Mac nos EUA. O Rui Tavares, do Público, continua à espera de perceber (tal como cerca de mais de 9 milhões de Portugueses) se o PSD de MFL é liberal, conservador, social-democrata ou outra coisa qualquer quejanda, capaz de fundamentar alguma diferença na comparação com o pragmatismo de José Sócrates. O Mário Crespo arrasta na SIC Notícias o seu penoso sofrimento por ter de continuar a fazer de pivot, num canal de notícias, num país (irritantemente) governado por socialistas. A espaços socorre-se de filósofos sociais, neo-catastrofistas (tipo Medina Carreira e Joaquim Aguiar) assim como quem toma um Alka-Seltzer para aliviar a tamanha azia que lhe invade a alma. O Prof. João César das Neves profetiza a recessão técnica, em Portugal. Entretanto o petróleo não pára de cair e “fecha” em Londres nos 98 dólares. Um grupo de malfeitores lesa o Estado em mais de 250 milhões de Euros com importação ilegal de álcool, assistimos durante anos a um mega-julgamento e, no final, um desgraçado (apenas) tem prisão efectiva. Um juiz liberta um criminoso que dispara cinco tiros dentro de uma esquadra de polícia.
É tão difícil viver em Portugal…
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quinta-feira, agosto 28

Uma pérola


do que perdurará por muito tempo…

Insecto, da família dos coleópteros, ataca novo projecto privado.
"Não sabemos de onde surgiu a ideia. Este insecto, da família dos coleópteros e ainda a ser identificado foi detectado segunda-feira durante uma análise de rotina numa sala adjacente ao bloco e decidimos pelo encerramento por razões de estrita segurança". link Presidente da administração do Hospital dos Lusíadas.

Ao que se julga saber o insecto não tinha seguro de saúde presumindo-se, por tal razão, que as suas intenções não seriam as melhores. Tratar-se-ia de um agente biológico ao serviço da concorrência? (Há quem afirme ter visto o coleóptero a voar perto do Hospital da Luz…). Não poderá, igualmente, ser excluída a possibilidade de o vector ter sido instilado, no novel Hospital, a partir de um qualquer concorrente público EPE ou SPA (pela proximidade, suscitam suspeição Santa Maria ou o Curry Cabral). Finalmente, não deverá ser descartada a hipótese de se tratar de uma estratégia comunicacional de lançamento do projecto. Todos se recordam do “efeito “ Eusébio no Hospital da Luz…Neste caso o coleóptero faria parte de uma sofisticada acção de marketing na linha dos cartazes de lançamento com a fotografia da jovem com aparência de anemia ferropénica…
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