Cuidados domiciliários
Tive oportunidade de assistir à sessão de encerramento do Programa da Semana de Cuidados Continuados, e posso dizer-vos que valeu a pena. Valeu a pena conhecer o que de bom se tem feito pelo país nesta área, ouvir os testemunhos de profissionais empenhados e motivados, perceber que esta talvez seja a jóia da coroa da Reforma dos Cuidados de Proximidade, pela solidez das ofertas e pelos resultados. Pena é que ainda não tenha chegado a Lisboa, e por isso não tenha tido a visibilidade que merece junto dos mídia e dos fazedores de opinião.
Dispondo de quase três mil camas, com o objectivo de se aproximar no próximo ano do dobro. A RNCCI abrangeu em 2 anos 14.749 utentes, dos quais 10.307 passaram pelos internamentos, com taxas de ocupação elevadíssimas. Vale a pena passar os olhos pelo vídeo institucional colocado na página da UMCCI link, mas ficarão ainda mais surpreendidos se virem o vídeo da ARS Algarve sobre Cuidados Continuados Integrados Domiciliários, que naquela região abrange mais de uma dezena de equipas e mais de 1500 doentes diariamente, link. Diz-me quem conhece a experiência, que não se trata de propaganda, fantástico !
avicena
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2 Comments:
De facto, trata-se do melhor desenvolvimento das politicas de Saúde desde meados de 2005.
O modelo integrado foi adoptado em boa hora ainda que de dificil implementação em Portugal onde o SNS cristalizou na cultura hospitalar de cuidados agudos.
A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados introduz uma verdadeira modernização das respostas de apoio social e, no longo-prazo, permitirá “racionalizar” a utilização dos recursos hospitalares (para colocarmos a questão da necessária ‘requalificação hospitalar’ de forma diplomática).
A RNCCI é de crescimento lento, ou pelo menos devia ser, para garantir a sua consolidação e as necessárias e profundas alterações nas práticas profisisonais exigidas assim como nos processos de referenciação entre níveis de prestação de cuidados de saúde e apoio social.
Notável a forma como Carmen Pignatelli e Inês Guerreiro conseguriam avançar contra ventos e marés (com origem, sobretudo, dentro dos HH) e, discretamente, colocar no terreno aquela que deverá ser a reforma mais complexa desde 1979.
A RNCCI merece todo o nosso apoio e esperamos que sobreviva ao ‘sobre-aquecimento’ provocado pela previsivel utilização dos resultados para fins da demagogia eleitoral que por aí anda e que esta não perturbe o seu crecimento efectivo (ainda que necessáriamente lento o que a poderá proteger da cultura da demagogia eleitoralista).
SAÚDE, HUMANISMO E SOLIDARIEDADE
A tarefa de criação de uma rede de Cuidados Continuados Integrados (CCI) é, para o MS, um dos seus desígnios mais conseguidos, embora pouco explorado mediaticamente e relativamente afastado da propaganda sistemática do Governo. Vamos ver se mantêm esta distância com os tempos eleitorais que se aproximam.
Até aqui têm navegado em águas calmas, tranquilas. Mas, Navegar é preciso, como diria Fernando Pessoa.
Dentro deste tipo de cuidados, as situações seguidas em ambulatório, isto é, o apoio no domicílio do doente é, sempre, um esforço acrescido.
É bom tomar conhecimento do esforçado trabalho que se está a realizar por todo o Pa+is e com particular relevo no Algarve.
Trabalho metódico, organizado, profícuo – longe dos múltiplos rankings que por aí já pululam… e o que adiante se verá!
Queria aproveitar esta oportunidade para chamar a atenção para um dos campos mais problemáticos desta área:
os cuidados paliativos.
O apoio domiciliário aos doentes terminais (não gosto do termo mas entrou na gíria oncológica) é, pura e simplesmente, um trabalho desgastante, esgotante para qualquer equipa empenhada.
Não é por acaso que estes trabalhadores da Saúde são frequentemente acometidos do conhecido “a sindrome de burnout”.
É a exaustão física e psíquica.
Em português vernáculo é a saturação perante situações que induzem grande stress, ansiedade uma impiedosa sensação de impotência, de frustração, perante estas situações “terminais”, necessariamente fatais.
É aquilo que o povo diz: “começou a queimar da panela”!.
O que significa isto?
Que estas equipas precisam de ser rodadas com alguma periodicidade e, elas próprias necessitam de psicoterapia interna.
Estima-se que essa periodicidade não exceda os 2 anos ininterruptos.
Exactamente, o tempo que algumas equipas já estão no terreno.
Como assegurar a continuidade desta realidade já em “marcha de cruzeiro”?
Cuidar da formação de novas equipas. Passado este período de arranque, estes "bandeirantes" deveriam integrar-se em equipes de formação.
Esta é uma tarefa prioritária para o MS.
A renovação, o refrescamento, deve ser planeado e apoiado.
Sendo uma tarefa prioritária não será obrigatório que essa formação seja prestada pelo próprio MS. Ela pode ser contractualizada.
Mas atenção! Integrar nessa formação a experiência dos que, com todas as dificuldades, arrancaram e puseram em marcha este projecto.
Como fortalecer e garantir qualidade à formação?
Insistindo no mesmo princípio que tem norteado as equipas funcionais que têm trabalhado no terreno: a multidisciplinaridade, a interacção com os doentes e famílias e a cultura de espírito de grupo.
Aliás, a formação deverá ser muito bem programada. Não é um assunto para o “simplex”.
Os assuntos, mesmo restringindo aos cuidados paliativos, são vastos: controlo sintomático (fundamentalmente da dor), tipos de comunicação com o doente terminal, a abordagem da morte, preparar o luto, apoiar a familiar em todas as áreas, manter em todas as circunstâncias (mesmo em situações dramáticas) uma postura ética, etc.
É muito difícil cuidar do “bem-estar” dos doentes e das famílias.
Mas se o Ministério da Saúde não o fizer, desde já, pode transformar um programa de sucesso e absolutamente necessário para uma população envelhecida, indispensável para o equilíbrio em meios e capacidades instaladas no SNS, num mero “fogacho”.
Além disso, o “bolo” é apetecível e um cada vez mais poderoso Sector Social da Saúde está atento a esta soberana oportunidade que o sector público não pode descurar, sob pena de não o conseguir regular.
A regulação é a palavra de ordem do momento. O ferrete contra o neoliberalismo em dificuldades que, estou convicto, não deixaria passar ao lado esta oportunidade, desenvolvendo-a a seu modo.
Dava para promover as suas seráficas “caridadezinhas”! em troca do assalto ao SNS.
Era como dar um "bodo aos pobres"….
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