quarta-feira, janeiro 21

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3 Comments:

Blogger PhysiaTriste said...

Numa recente entrevista à Pública airmava Titanguy:
"A pessoa é uma só. A pessoa que sapara o ele é e o que ele faz não é um bom carácter."
Obama é dos raros políticos que parece ter uma única face.

12:18 da tarde  
Blogger PhysiaTriste said...

Caro Xavier:

Com as minhas desculpas repito o comentário, com as devidas correcções.

Numa recente entrevista à Pública afirmava Pitanguy:

"A pessoa é uma só. A pessoa que separa o que ele é e o que ele faz não é um bom carácter."

Obama é dos raros políticos que parece ter uma uma única face.

5:44 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Carregador de esperanças

As expectativas elevadas de muitos admiradores e o enfado mais ou menos inconfessado dos seus detractores tentaram diminuir o alcance das suas palavras. Obama fez decerto discursos mais empolgantes ao longo da sua caminhada eleitoral. Mas as suas palavras de 20 de Janeiro de 2009 estão muito longe da vulgaridade que alguns lhe atribuem e merecem ser relidas com atenção. Desde logo porque recentram os EUA nos seus princípios fundadores: o estado de direito e os direitos humanos. A lei e as liberdades ficaram vezes demais reféns, nos anos W. Bush, de uma administração que sequestrou o país em nome da segurança e dos negócios. Esta é uma mudança fundamental que não se afoga na retórica costumeira. Obama foi claro quando rejeitou como falsa a escolha entre a segurança e os ideais.

No século XXI, numa terra que se distinguiu pelas liberdades, devia estar adquirida a compatibilidade entre direitos fundamentais e segurança. A restauração do estado de direito é assim uma mudança estrutural que limpa as nódoas dos anos mais recentes.

Faz toda a diferença dizer que "uma nação não pode prosperar quando só favorece os prósperos" ou que "sem um olhar vigilante o mercado pode ficar fora de controlo". Reafirmado o poder do mercado na geração de riqueza e na expansão da democracia, o novo presidente separou as águas, marcando distinções claras que fazem acreditar que os EUA voltarão a estar à altura da sua história.

O orgulho na herança de diversidade étnica, cultural e religiosa e o desassombro com que assumiu "a nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus - e não crentes" não são afirmações comuns. Correspondem ao perfil e à síntese de um homem global incomum, fruto de uma travessia de continentes, culturas e religiões, que pôs à prova a terra das oportunidades. O discurso de Barack Obama fica além da celebração da mudança. Talvez por isso fale pouco em mudança. É antes a substância da mudança prometida. Obama confronta a América com as suas debilidades, desafia a América a levantar-se, a reconstruir-se, fiel aos seus ideais fundadores. Responsabiliza e responsabiliza-se. É um discurso realista no sentido em que não ilude as dificuldades, o trabalho árduo, o sacrifício e as decisões desagradáveis. Aponta direcções, assume convicções, valores antigos arredados da ganância contemporânea.

Alguns sorriem perante a força da enunciação e o agitar de tanta esperança. Reduzem tudo à retórica hábil da oratória porque convivem mal com os silêncios cúmplices do passado e não perceberam a profunda mudança que a eleição de Obama encerra. Até à investidura, só tínhamos palavras encantatórias, uma lúcida interpretação da História, boas intenções, ideias geralmente justas. Tempo de promessas para muita ansiedade e frustração. O primeiro dia trouxe as primeiras acções. Serão simbólicas e insuficientes para avaliar a consequência das palavras, mas demonstram já a exigência que o novo presidente coloca na salvaguarda do estado de direito e na gestão dos dinheiros públicos, os tais "dólares do povo". A contenção dos salários dos mais altos cargos do seu governo, as restrições ao poder de influência dos "lobbyistas" e o alargamento das obrigações de transparência da administração contrastam com a irresponsabilidade e a arbitrariedade recentes.

Ninguém pode garantir até que ponto Obama estará à altura das circunstâncias e dos acontecimentos mais ou menos imprevisíveis.

Veremos até que ponto sabe lidar com a complexidade dos ‘checks and balances' do sistema político americano. É obviamente cedo para qualquer avaliação. Muito menos para qualquer desvalorização ou vulgarização do seu mandato. Barack Husein Obama derrotou os cínicos - por isso também lhes dedicou o discurso inicial -, os que não compreendem que "o chão se mexeu debaixo dos seus pés". A irresponsabilidade e a ganância fizeram tantas vítimas que foi preciso um homem invulgar para voltar a induzir confiança num sistema político inundado em mesquinhez, recriminações e dogmas gastos. Nos EUA e em muitas partes do mundo percebeu-se a serena lucidez do intérprete das muitas crises do nosso tempo. Obama era um presidente improvável. Tornou-se a esperança global. Mais do que o seu discurso, como diz Moisés Naím, é ele próprio e a sua história a mensagem. Obama é a mensagem. O que não deixa de ser algo perturbador. Não há homens providenciais. O carregador de esperanças e desafios sabe-o bem. E por isso confronta cada americano com as suas obrigações para com a América e o mundo. A tal "nova era de responsabilidade".

António José Teixeira, DE 23.01.09

1:19 da manhã  

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