Ana Jorge, fez um ano
foto semanário expresso
Hoje (29.01.09), ao completar 1 ano de exercício de funções, a Ministra da Saúde, Ana Jorge, referiu que um dos grandes problemas da saúde em Portugal é organizacional.
Ainda sobre a área hospitalar, acrescentou «tem falhado muito o envolvimento das administrações e dos directores de serviço" , e considerou que "são estes os grandes responsáveis pelo funcionamento do serviço hospitalar e por envolver os seus profissionais."link
Há aqui uma radical mudança de substrato no conteúdo do discurso da tutela.
De facto, no âmbito hospitalar, a administração tem sido centralizadora e dificultado a agilização do sistema.
A Ministra saberá que não basta empresarializar (SA ou EPE). Os HH's, há muito que deviam ter promovido a criação de CRI's e organizar-se neste âmbito. Isto é, descentralizar o "poder", chamar-lhe-ia, as "competências" dos CA's e desenvolver a clinical governance, concedendo aos Directores de Serviço o necessário espaço de manobra para cumprir objectivos e a indispensável autonomia para adequar e adaptar a capacidade de resposta.
Andamos anos a discutir, no âmbito da prestação de cuidados médicos, a eficiência. Embora sendo um cavalo de batalha dos textos sobre Economia da Saúde [*], nem sempre se concretiza qual o tipo de eficiência que falamos: tecnológica, técnica ou económica. Não se consegue escalpelizar, colectivamente, i.e., no grupo de trabalho, o conjunto de possibilidades de produção, etc. Faltam os CRI´s (abertos a todos os intervenientes do processo de prestação de cuidados).
Estes alertas para as inadiáveis alterações organizativas que a Ministra aproveitou o ensejo de exteriorizar, na passagem do seu 1º. aniversário à frente do Ministério, devem ser entendidas pelos protagonistas da perene "dualidade de poderes", nos HH's, isto é, entre administradores (ou gestores) e médicos.
O apelo de Ana Jorge dirige-se à necessidade de integrar estes dois "campos beligerantes" nos processos de decisão. Aparentemente, assistimos a uma demonstração votiva, de difícil execução, tal o acumulo de problemas gerados durante os últimos anos.
Ana Jorge - como médica hospitalar que é - sabe que terá de passar do diagnóstico à terapêutica. Conservadora ou cruenta?
Os próximos tempos o dirão ou, o fim de ciclo político, acabará, de adiamento em adiamento, por diferir estes inadiáveis assuntos para o próximo governo, ou para um novo Ministério...
Neste último caso, estaríamos na presença de uma inevitável "dissociação retórica", de consequências imprevisíveis.
Finalmente, a Ministra teve a preocupação de, nesta data, manifestar a sua inabalável confiança, e a sua forte convicção, sobre o futuro do SNS.
[*] - Acaba de sair a 2ª. edição revista do livro ECONOMIA DA SAÚDE, do Prof. Pedro Pita Barros, edição Almedina, Janeiro de 2009.
Hoje (29.01.09), ao completar 1 ano de exercício de funções, a Ministra da Saúde, Ana Jorge, referiu que um dos grandes problemas da saúde em Portugal é organizacional.
Ainda sobre a área hospitalar, acrescentou «tem falhado muito o envolvimento das administrações e dos directores de serviço" , e considerou que "são estes os grandes responsáveis pelo funcionamento do serviço hospitalar e por envolver os seus profissionais."link
Há aqui uma radical mudança de substrato no conteúdo do discurso da tutela.
De facto, no âmbito hospitalar, a administração tem sido centralizadora e dificultado a agilização do sistema.
A Ministra saberá que não basta empresarializar (SA ou EPE). Os HH's, há muito que deviam ter promovido a criação de CRI's e organizar-se neste âmbito. Isto é, descentralizar o "poder", chamar-lhe-ia, as "competências" dos CA's e desenvolver a clinical governance, concedendo aos Directores de Serviço o necessário espaço de manobra para cumprir objectivos e a indispensável autonomia para adequar e adaptar a capacidade de resposta.
Andamos anos a discutir, no âmbito da prestação de cuidados médicos, a eficiência. Embora sendo um cavalo de batalha dos textos sobre Economia da Saúde [*], nem sempre se concretiza qual o tipo de eficiência que falamos: tecnológica, técnica ou económica. Não se consegue escalpelizar, colectivamente, i.e., no grupo de trabalho, o conjunto de possibilidades de produção, etc. Faltam os CRI´s (abertos a todos os intervenientes do processo de prestação de cuidados).
Estes alertas para as inadiáveis alterações organizativas que a Ministra aproveitou o ensejo de exteriorizar, na passagem do seu 1º. aniversário à frente do Ministério, devem ser entendidas pelos protagonistas da perene "dualidade de poderes", nos HH's, isto é, entre administradores (ou gestores) e médicos.
O apelo de Ana Jorge dirige-se à necessidade de integrar estes dois "campos beligerantes" nos processos de decisão. Aparentemente, assistimos a uma demonstração votiva, de difícil execução, tal o acumulo de problemas gerados durante os últimos anos.
Ana Jorge - como médica hospitalar que é - sabe que terá de passar do diagnóstico à terapêutica. Conservadora ou cruenta?
Os próximos tempos o dirão ou, o fim de ciclo político, acabará, de adiamento em adiamento, por diferir estes inadiáveis assuntos para o próximo governo, ou para um novo Ministério...
Neste último caso, estaríamos na presença de uma inevitável "dissociação retórica", de consequências imprevisíveis.
Finalmente, a Ministra teve a preocupação de, nesta data, manifestar a sua inabalável confiança, e a sua forte convicção, sobre o futuro do SNS.
[*] - Acaba de sair a 2ª. edição revista do livro ECONOMIA DA SAÚDE, do Prof. Pedro Pita Barros, edição Almedina, Janeiro de 2009.
e-pá!
5 Comments:
Se os administradores hospitalares não servem, então a responsabilidade é do Ministério da Saúde, pois é a tutela quem os escolhe e que não tem coragem de os demitir. O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Pedro Lopes, não gostou de ouvir a ministra da Saúde dizer que os administradores e directores de serviços hospitalares são a causa dos problemas do sector. Rejeitando críticas, Pedro Lopes frisa que quem nomeia as administrações hospitalares é o Ministério da Saúde e que "nem sempre as pessoas escolhidas são as mais competentes, as mais dedicadas, as mais experientes".
Na entrevista dada ontem à agência Lusa, Ana Jorge disse que o principal problema do sector é "organizacional" e que os administradores e directores de serviço hospitalares são "os grandes responsáveis pelo funcionamento do serviço hospitalar".
Ao PÚBLICO, Pedro Lopes aludiu à "falta de coragem" do ministério para demitir os administradores, cujo desempenho não é o melhor" e salientou que "os ministros não podem ficar só pelas palavras. É preciso tomar atitudes". O presidente da APAH referiu ainda que as críticas da ministra "não são absolutas, porque o ministério tem responsabilidades" e perguntou o que se passa com o processo de avaliação dos conselhos de administração - um instrumento que "é fundamental, quer para o ministério, quer para os avaliados
JP 30.01.09
Onde está o sistema de avaliação das administrações hospitalares que o MS se comprometeu implementar?
É evidente que o Ministério da Saúde continua a escolher mal os administradores hospitalares.
Há um conjunto de circunstâncias que faz com que este objectivo fracasse.
Falou muito bem, desta vez, o dr. Zaratusta, presidente da APAH.
Na minha interpretação a Ministra Ana Jorge fez um diagnóstico da situação.
Melhor, um dos diagnósticos... ou, sendo mais preciso, o seu diagnóstico.
Demorou um ano!
Temos de reconhecer que a situação é complicada.
Vou elencar algunas problemas.
Tem, ainda, tempo para iniciar terapêuticas?
O fim do presente ciclo político inibe-a (já) de actuar?
O PS dá-lhe autonomia suficiente para atacar os males detectados, no que diz respeito a nomeações?
Os indicadores de qualidade do funcionamento hospitalar são fiáveis e credíveis, permitindo uma avaliação idónea?
Terá aprendido alguma coisa com as ACES?
E podíamos continuar...
Os media e Ana Jorge
Ana Jorge completou um ano como ministra da Saúde, e vários foram os media que tiveram a mesma ideia: uma entrevista balanço. A Agência Lusa foi um dos que a concretizou, e tratou-a em sucessivos despachos, como é próprio das agências. Azar de Ana Jorge...
A ministra quis dizer que as administrações dos hospitais EPE e os directores de serviço precisam de assumir responsabilidades e, através de uma boa comunicação interna e do uso da imaginação, gerar soluções inovadoras e eficazes... e no take da agência, por definição lacónico, «disse» que a culpa das ineficiências (todas) é dos «administradores»... Resultado? Muita gente zangada, acusadora, perguntando por responsabilidades do Ministério...
Também quis explicar como vai o Ministério buscar mais médicos portugueses para servir no SNS, explicitando que gostaria que os estudantes de Medicina emigrantes viessem terminar os cursos nas nossas faculdades... e a ideia foi zurzida de todos os lados, argumentando-se — e bem — com a «injustiça» de tratamento daqueles que, não tendo entrando por umas décimas nas nossas faculdades, seriam agora «ultrapassados» pelos que, tendo posses, mas notas mais baixas, foram estudar para Espanha, República Checa, ou... Chegámos mesmo a ler que Pedro Nunes teria dito que seria mais «sensato estimular os alunos a regressar a Portugal no final dos seus cursos, para exercer actividade», como se tal representasse uma diferença abissal em relação ao que a ministra disse.
Em futura circunstância idêntica, alguém deverá explicar a Ana Jorge que a entrevista a uma agência noticiosa não pode ser dada da mesma forma que a um jornal de grande informação ou a um jornal médico, os quais a tratarão de maneira diferente, de acordo com estilo da publicação, público-alvo e condicionamentos técnicos. Ninguém o faz?
J.M.A. , TEMPO MEDICINA 02.02.09
«tem falhado muito o envolvimento das administrações e dos directores de serviço" , "são estes os grandes responsáveis pelo funcionamento do serviço hospitalar e por envolver os seus profissionais."
Sobre este diagnóstico a ministra da Saúde está certíssima.
Lamenta-se, no entanto, que não haja em conformidade: promovendo a avalição do desempenho dos senhores administradores. Demitindo aqueles que não conseguem cumprir os objectivos que lhe foram propostos.
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