sábado, janeiro 31

Campanha suja


Tive um colega da tropa no norte de Moçambique que quanto se tratava de comentar a situação politica de então, desferia, invariavelmente, o mesmo comentário: "Isto é um país de merda".
O mesmo apetece dizer hoje a propósito da campanha mediática planeada contra Sócrates. «A atingir os limites da ignomínia». como refere Vital Moreira no Causa Nossa: «um tablóide dá todo o destaque à notícia de que, em 1998 (o que é que isto tem a ver com o Freeport, que se passa vários anos depois?), a mãe de Sócrates (que ainda nem sequer era ministro do Ambiente) comprou a pronto um apartamento em Lisboa, sem que se saiba de onde lhe veio o dinheiro. Sucede que, escondida dentro da própria notícia, está a resposta para o "mistério": no mesmo ano, a mesma senhora vendeu a sua moradia em Cascais. Será que o valor da venda não dava para comprar um apartamento em Lisboa?
O que mais nos reservará esta campanha suja.

9 Comments:

Blogger e-pá! said...

A exploração mediática do caso Freeport e as repetidas e sucessivas tentativas de incriminar José Sócrates, neste processo, pela sua insistência, pelo repisar de argumentos e pelo vazio de novos dados, dão uma péssima imagem do jornalismo - dito de investigação - português.

Se a consultora de Smith & Pedro - como afirma a imprensa de hoje - exigiu aos promotores do Freeport elevadas quantias em dinheiro a pretexto de ter de pagar luvas para conseguir o licenciamento, será assim tão difícil - às duas polícias de investigação (britânica e portuguesa) - tentar seguir o rasto desse dinheiro?

É que não estamos em altura de estar a ser governados por um PM que está a ser cozido, pela comunicação social, em banho-maria.

A calamitosa situação económica e social do País - e a inusitada "insistência" do envolvimento do PM - deve determinar excepcionais prioridades na investigação.

O Poder Judicial, penso eu, não tem sede em Marte.
Então, é altura de pôr fim a esta roleta russa.

Já não há pachorra para esta telenovela.
Ou sim, ou sopas.

Continuar neste engonhanço, NÃO!

8:03 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Enquanto os lideres dos partidos da oposição fazem contas à vida. Muitos dos responsáveis do PS quedam-se mudos a ver onde param as coisas.
Não é de estranhar.

Quanto a Aníbal Cavaco Silva... o habitual calculismo sorrateiro!

Variações sobre
O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
de Alexandre O'Neill

Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.

.../

8:29 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Segundo a única entidade competente, o procurador-geral da República, José Sócrates não é acusado de nada e, portanto, aquilo que eu desejo é que as coisas sejam esclarecidas, porque é muito ingrato para uma pessoa estar sujeita a ser julgada na praça pública”, disse Alegre em declarações aos jornalistas momento antes de proceder à inauguração da sede do Porto do MIC (Movimento de Intervenção e Cidadania).

Evitando comentar o silêncio do Presidente da República relativamente ao caso Freeport – “compete ao PR definir aquilo que deve dizer ou não deve dizer”- o ex-candidato presidencial disse que “parece que há dificuldade em investigar e as coisas demoram muito tempo e depois ninguém é acusado, ninguém é inocentado”. “Vive-se uma nebulosa e isso não é bom para a democracia”, rematou Manuel Alegre
JP 31.01.09

Ah, ganda Alegre.

11:27 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Xavier:

Já que andamos em ambiente de "revolta", de rebaldaria, de campanhas "porcas", gostaria que este blog assinalasse uma efeméride (faltam uns 30 minutos!)que julgo inultrapassável na nossa História:
O 31 DE JANEIRO (1891)!

Vou socorrer-me de um poema de Jorge Sena, que de alguma maneira faz a ponte entre a 1ª. temtativa de implantação da República e o actual momento político.


PÁTRIA ASSIM!

"Para se amar uma pátria assim, com tal pompa e tal doçura,
com tamanha e tão delicada memoria de ternura,
será preciso que ela seja escrava, ao mesmo tempo, de um passado glorioso, e de um presente cujo escândalo seja
em vileza diária a demissão de um povo, à culpa do estrangeiro
que reinará nos palácios e nas praças, usurpando o verdadeiro
senso de que só escravo se torna quem o era já.
...
Mas nós não temos de estrangeiros outros mais que nós.
Não dá portanto o que pensamos para tais doçuras.
Pois de nós mesmos - porcos - não brotam pátrias puras"

Jorge de Sena, in Poesia II, Moraes Ed., 1978.

11:30 da tarde  
Blogger saudepe said...

A justiça no nosso país não julga casos. Faz politiquice de mexericos com que destrói cidadãos.
Para isso é que existe o segredo de justiça. Uma forma de dar o exclusivo da alcoviteirice aos senhores magistrados.

12:20 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Amanhã, segunda feira, recomeça a campanha.
Quem viu a reportagem da Cândida Pinto, hoje da SIC, deveras esclarecedora sobre a incompetência que grassa no Ministário da Justiça.

12:12 da manhã  
Blogger tambemquero said...

«Manuel Pedro, associado da Smith & Pedro, em comunicado enviado à Lusa, afirma que nunca procedeu a «pagamentos ilícitos» e que a única vez que se encontrou com Sócrates foi no Ministério do Ambiente numa reunião pedida pela autarquia de Alcochete.»
Ficam assim categoricamente desmentidas pelos próprios as suspeitas de reuniões "clandestinas" e de pagamento de "luvas" (o mesmo desmentido já tinha sido feito por Charles Smith). Será que os media que têm intoxicado a opinião pública com manchetes sobre manchetes com as mais mirabolantes revelações sobre o caso vão agora dar o mesmo destaque a esta notícia que as contradiz integralmente, ou vão remetê-la, como é costume, para um lugar secundário, como sucede, em geral, com tudo o que contrarie a opinião preconcebida?!
vital moreira, causa nossa

12:13 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Freeport (2)

Outro argumento pouco sério diz respeito à alteração dos limites da ZPE em Alcochete.
Primeiro, o licenciamento do empreendimento (que foi construído no lugar de uma antiga fábrica) foi feito independentemente (e antes) dessa alteração, não podendo a sua legalidade ser posta em causa, mesmo dentro da ZPE (com as restrições ambientais que foram impostas ao empreendimento). Segundo, as pequenas alterações da ZPE, que foram feitas a pedido do município, estavam há muito em estudo e visaram exluir zonas urbanisticamente degradadas, cuja possibilidade de requalificação o regime da ZPE dificultava ou tornava mais demorada (como se mostrou no caso do Freeport).

Freeport (1)

Um dos mais desonestos argumentos no caso Freeport respeita a uma suposta celeridade anormal na concessão da declaração de conformidade ambiental que finalmente permitiu a construção do empreendimento
De facto, se os serviços competentes já conheciam o processo em todos os seus pormenores desde há muito, dado que o estudo de impacto ambiental do promotor tinha sido recusado duas vezes; se, à terceira vez, o promotor se conformou inteiramente com as objecções que tinham motivado os "chumbos" anteriores e com as condições postas (incluindo uma grande redução do projecto); então há que concluir que a demora adicional de dois meses para verificar isso não é "anormalmente célere", mas sim excessivamente lenta (sobretudo tendo em conta a grande duração que o processo já levava acumulada e a enorme importância desse investimento estrangeiro, em termos de dinamização económica local e de criação de emprego)!
Custa a crer como é que imprensa séria continua a bater nesta tecla, ainda por cima sonegando a informação relativa à demora global do processo (2 anos) e às alterações feitas ao projecto, em consonância com as exigências ambientais feitas ao promotor.
vital moreira, causa nossa, 02.02.09

3:52 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O caso Freeport como "questão de Estado

Uma simples suspeita de corrupção, totalmente infundada, pode equivaler a uma espécie de "fraude eleitoral perfeita"

Para não responder a perguntas dos jornalistas sobre o caso Freeport, o Presidente da República afirmou que aquela não era ocasião apropriada para se pronunciar sobre "assuntos de Estado". Sou dos que pensam que, com os contornos que ele assumiu, o caso se transformou numa efectiva questão de Estado, que por isso mesmo não se compadece com o silêncio presidencial.
A questão está na gigantesca instrumentalização de uma investigação penal inconclusa e reservada, planeadamente "filtrada" para o exterior, para efeitos de um verdadeiro julgamento político-mediático do primeiro-ministro, tendente a torná-lo suspeito (na melhor das hipóteses) ou sumariamente condenado (na pior) aos olhos da opinião pública, por alegada corrupção, apesar de o Ministério Público, que é a autoridade responsável pela investigação, ter vindo asseverar publicamente (embora somente ao fim de duas semanas de intensa campanha de suspeições e especulações) que Sócrates nem sequer está a ser investigado, por não haver no processo nenhum elemento que o justifique.
O que transforma este caso numa incontornável questão de Estado são as violações qualificadas dos mais elementares princípios do Estado de Direito e da lisura, transparência e responsabilidade do combate político.
Em primeiro lugar, é inaceitável que uma investigação destas, iniciada há cinco anos com uma denúncia anónima, tenha demorado este tempo todo sem adequado esclarecimento, tanto mais que já em 2005 tinha havido uma conspiração para tentar inculpar o então candidato a primeiro-ministro, envolvendo agentes ligados ao processo, militantes dos partidos de Direita e jornalistas (conspiração que entretanto foi devidamente exposta e judicialmente punida). O bom nome dos investigados, sobretudo quando políticos, não é compatível com tal demora.
Em segundo lugar, não é admissível que, subitamente, no início de um ano eleitoral, todos os elementos do processo, incluindo denúncias em bruto sem qualquer confirmação ou prova, que deveriam permanecer reservados, tenham começado a aparecer nos media, obviamente a partir de dentro do processo, numa óbvia manobra planeada para denegrir e comprometer pessoal e politicamente o primeiro-ministro. Desde o caso Casa Pia que se não assistia a uma tão maciça "fuga" de dados em segredo de justiça para efeitos de perseguição política.
Ora, no meio desta ostensiva campanha de "assassínio político" do primeiro-ministro, diariamente amarrado ao pelourinho, Cavaco Silva optou por não se pronunciar. Sendo evidente que o Presidente da República não pode nunca pronunciar-se sobre uma investigação penal nem tem de socorrer politicamente o primeiro-ministro, o silêncio não é porém uma opção quando estão em causa os princípios do Estado de Direito e a transparência e responsabilidade das instituições.
O Presidente da República perdeu uma excelente ocasião, no seu discurso na sessão inaugural do ano judicial, de denunciar e censurar em geral a inaceitável demora das investigações penais (em prejuízo do bom nome dos suspeitos inocentes), a recorrente e impune violação do segredo de justiça (que vincula toda a gente) e a frequente instrumentalização de informações ou pseudo-informações não confirmadas, para fins de ataque político qualificado. Justificava-se também o apelo para o rápido apuramento das responsabilidades (se as há), para impedir que o caso Freeport continue a envenenar a vida política e a manchar irremediavelmente a credibilidade do chefe do Governo.
A jurisdição constitucional do PR, como supervisor do sistema político, não consiste somente em impedir os eventuais abusos de poder do governo e da maioria parlamentar, mas também em defender as instituições contra o abuso de funções por parte de poderes não responsáveis democraticamente, ainda por cima ocultos. O silêncio de Belém é tanto mais controverso, quanto é certo que, se não for esclarecida a tempo, esta operação de "julgamento popular" do primeiro-ministro, por via mediática, pode vir a ter efeitos colaterais decisivos no actual ano eleitoral.
Sendo óbvio que o enlameamento de Sócrates e a difusão da suspeição política sobre ele poderá acarretar consideráveis perdas eleitorais ao PS - sendo esse obviamente o objectivo deliberado dos que desencadearam e alimentam esta operação, que repete de forma mais "profissional" o ensaio de 2005 -, é por demais evidente que o resultado da eleições pode vir a ser decisivamente influenciada por ela. A oposição pode vir a beneficiar ilegitimamente de uma oportunidade que nem o julgamento da acção do Governo nem a sua própria alternativa política manifestamente lhe poderiam proporcionar.
É evidente que numa democracia a sério nenhum primeiro-ministro poderá sobreviver a uma acusação fundada de corrupção. Mas também é inegável que dificilmente deixará de ser eleitoralmente penalizado em caso de simples suspeita de corrupção, mesmo que totalmente infundada, se não puder contrariá-la eficazmente a tempo de limitar os estragos. O que não se pode tolerar é que, por acção conjugada de uma deliberada instrumentalização de uma investigação penal (em que nem sequer está a ser investigado) com a prestimosa colaboração de uma opinião politicamente motivada, um primeiro-ministro seja eleitoralmente punido por outros motivos que não sejam os eventuais deméritos do seu governo e dele próprio. Isso daria à oposição uma imerecida vantagem eleitoral. Para dizer tudo, equivaleria a uma espécie de "fraude eleitoral perfeita".
Como se verificou com o infame assassínio político de Ferro Rodrigues, abjectamente dado como envolvido no caso Casa Pia, não se pode consentir novamente que forças não identificadas (provavelmente as mesmas) manipulem outra vez uma investigação penal no espaço público, para mais uma cruzada contra outro líder político (por acaso, também do PS).
Vital Moreira, JP 03.02.09

10:35 da manhã  

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