Reconduzir ou Reconstruir o SNS ?
Caro Tá visto:
Estou plenamente de acordo consigo quando enaltece o significado da política de criação do Serviço Nacional de Saúde “encetada por António Arnault 30 anos atrás”, porque nela se contém o reconhecimento do direito à saúde assumido pelo Estado na sua lei fundamental. Embora eu considere que a conquista maior foi a da liberdade que nos permite estarmos aqui a concordar ou discordar.
De facto, considero mais importante a afirmação do direito constitucional à saúde, como direito fundamental inerente à pessoa humana, e não a do modelo adoptado para concretizar esse direito. Modelo que, como afirma, “já não se sabe se é público, semi-privado ou em vias de privatização”. Mais até: a consagração constitucional do SNS é uma opção de acerto discutível. Não é consensual noutros países, que fizeram diferentes opções sem prejuízo do direito à saúde dos seus cidadãos, e nem mesmo entre nós merece consenso bastante. “Teve, desde o início, dois inimigos declarados: a Direita Política (grosso modo) e a Ordem dos Médicos (com raros interregnos)”. Foi o Ta visto que o disse, e, evidentemente, não entende que a cidadania é uma reserva da Esquerda Política e também não contesta a legitimidade da Ordem dos Médicos. Se é como diz, o SNS é uma opção fracturante na sociedade portuguesa e a Constituição não a deveria impor. Mas esta é uma discussão inútil, por duas razões poderosas:
- a primeira são as virtudes da própria opção SNS, e de um SNS predominante, que seja capaz de empurrar a medicina privada, de consultório ou de internamento, para um papel de mera complementaridade residual. E essas virtualidades afirmam-se, sobretudo, quando nos preocupamos com a equidade e com a generalidade (âmbito de intervenção ou capacidade) que devem reunir os serviços ao dispor de toda a população; é o que me convence que o modelo SNS é o melhor;
- a segunda razão tem a ver com a sociedade que somos: é a tendência generalizadamente arreigada de ver o Estado como entidade mítica de recursos inesgotáveis, por isso mesmo devedora da concretização das nossas aspirações e, não quando for possível, mas aqui e agora. Por isso, alterar, neste ponto, o dispositivo constitucional seria suicida para os partidos que o viabilizassem. Só o fariam por unanimidade (impossível), ou depois de rotura por iniludível falência do Estado (quando já não houvesse BP, CGD … nem mesmo Finanças para terem Ministro …).
Passando ao que mais interessa, o importante é, como o Ta visto afirma, haver ou não a coragem necessária para as medidas capazes de afirmar o SNS na dimensão e qualidade que deve ter, superando as insuficiências que, actualmente, ainda lhe são reconhecidas.
Só por avançada cegueira se não verá que as ameaças ao SNS não vêm de fora, mas sim de dentro: do que é o SNS e do que deveria ser e ainda não é, porque a criação do SNS, “encetada por António Arnault 30 anos atrás”, apesar do crescimento, inegável, que todos lhe reconhecemos, nunca atingiu a plenitude do estado adulto. O que quero dizer é que, até hoje, ainda não foi capaz de garantir à generalidade dos cidadãos a satisfação do direito que a CRP lhes reconhece e de que, como pessoas, já eram titulares antes de qualquer Constituição. Antes de mais, estou a pensar nos que, uma ou mais vezes, já teriam morrido nas listas de espera se não tivessem, eles próprios, recursos para procurar remédio fora do SNS.
Por que foi assim? É como diz o Ta visto: o que faltou em vontade, em coragem para, entre outros pontos (mas sendo este fundamental), “separar sectores, estimulando a actividade em dedicação exclusiva e definindo incompatibilidades", tem sobrado em cuidado para manter interesses que não são os do próprio SNS mas sim os de quem no seu âmbito se move e detém poder. E assim não se vai a lado nenhum. Curioso é que, neste ponto os assomos de coragem a que assistimos tenham vindo, não do PS, mas de Leonor Beleza e de Paulo Mendo: a primeira, tentando impor na base da carreira médica (supõe-se que como primeiro passo) o regime de dedicação exclusiva, o segundo, oferecendo aos médicos como opção este regime de trabalho. É certo que foram medidas de pouca convicção, aplicadas com distorções e de pouca duração; e é também curioso que tenha sido Manuela Arcanjo a minimizar o alcance do incentivo remuneratório associado à exclusividade, ao aceitar a igualização de remuneração (obviamente por cima) no trabalho prestado nas escalas de urgência.
Será que também aqui se aplica o diagnóstico de LCC que, a outro propósito, (justificação do fim das PPP com gestão clínica) afirmou que o problema está na incapacidade de defender o interesse geral perante os interesses privados?
Do que não há dúvida é da pouca eficiência do sector público e das dificuldades que – num contexto de crise que LCC tão bem descreve (V Comentário de Joaopedro no Post "A Crise Agrava-se" link) – haverá em injectar mais recursos no SNS. Ora, todos sabemos que não há revisão de carreiras que não exija recursos adicionais. Sendo assim, que futuro pode antever-se para o projecto em curso de revisão de carreiras dos profissionais de saúde? Como se poderá fazer entender e aceitar a sua necessidade e oportunidade num quadro que, agora como poucas vezes, se reivindica e deve ser, antes de tudo o mais, de solidariedade social?
Aidenos
Estou plenamente de acordo consigo quando enaltece o significado da política de criação do Serviço Nacional de Saúde “encetada por António Arnault 30 anos atrás”, porque nela se contém o reconhecimento do direito à saúde assumido pelo Estado na sua lei fundamental. Embora eu considere que a conquista maior foi a da liberdade que nos permite estarmos aqui a concordar ou discordar.
De facto, considero mais importante a afirmação do direito constitucional à saúde, como direito fundamental inerente à pessoa humana, e não a do modelo adoptado para concretizar esse direito. Modelo que, como afirma, “já não se sabe se é público, semi-privado ou em vias de privatização”. Mais até: a consagração constitucional do SNS é uma opção de acerto discutível. Não é consensual noutros países, que fizeram diferentes opções sem prejuízo do direito à saúde dos seus cidadãos, e nem mesmo entre nós merece consenso bastante. “Teve, desde o início, dois inimigos declarados: a Direita Política (grosso modo) e a Ordem dos Médicos (com raros interregnos)”. Foi o Ta visto que o disse, e, evidentemente, não entende que a cidadania é uma reserva da Esquerda Política e também não contesta a legitimidade da Ordem dos Médicos. Se é como diz, o SNS é uma opção fracturante na sociedade portuguesa e a Constituição não a deveria impor. Mas esta é uma discussão inútil, por duas razões poderosas:
- a primeira são as virtudes da própria opção SNS, e de um SNS predominante, que seja capaz de empurrar a medicina privada, de consultório ou de internamento, para um papel de mera complementaridade residual. E essas virtualidades afirmam-se, sobretudo, quando nos preocupamos com a equidade e com a generalidade (âmbito de intervenção ou capacidade) que devem reunir os serviços ao dispor de toda a população; é o que me convence que o modelo SNS é o melhor;
- a segunda razão tem a ver com a sociedade que somos: é a tendência generalizadamente arreigada de ver o Estado como entidade mítica de recursos inesgotáveis, por isso mesmo devedora da concretização das nossas aspirações e, não quando for possível, mas aqui e agora. Por isso, alterar, neste ponto, o dispositivo constitucional seria suicida para os partidos que o viabilizassem. Só o fariam por unanimidade (impossível), ou depois de rotura por iniludível falência do Estado (quando já não houvesse BP, CGD … nem mesmo Finanças para terem Ministro …).
Passando ao que mais interessa, o importante é, como o Ta visto afirma, haver ou não a coragem necessária para as medidas capazes de afirmar o SNS na dimensão e qualidade que deve ter, superando as insuficiências que, actualmente, ainda lhe são reconhecidas.
Só por avançada cegueira se não verá que as ameaças ao SNS não vêm de fora, mas sim de dentro: do que é o SNS e do que deveria ser e ainda não é, porque a criação do SNS, “encetada por António Arnault 30 anos atrás”, apesar do crescimento, inegável, que todos lhe reconhecemos, nunca atingiu a plenitude do estado adulto. O que quero dizer é que, até hoje, ainda não foi capaz de garantir à generalidade dos cidadãos a satisfação do direito que a CRP lhes reconhece e de que, como pessoas, já eram titulares antes de qualquer Constituição. Antes de mais, estou a pensar nos que, uma ou mais vezes, já teriam morrido nas listas de espera se não tivessem, eles próprios, recursos para procurar remédio fora do SNS.
Por que foi assim? É como diz o Ta visto: o que faltou em vontade, em coragem para, entre outros pontos (mas sendo este fundamental), “separar sectores, estimulando a actividade em dedicação exclusiva e definindo incompatibilidades", tem sobrado em cuidado para manter interesses que não são os do próprio SNS mas sim os de quem no seu âmbito se move e detém poder. E assim não se vai a lado nenhum. Curioso é que, neste ponto os assomos de coragem a que assistimos tenham vindo, não do PS, mas de Leonor Beleza e de Paulo Mendo: a primeira, tentando impor na base da carreira médica (supõe-se que como primeiro passo) o regime de dedicação exclusiva, o segundo, oferecendo aos médicos como opção este regime de trabalho. É certo que foram medidas de pouca convicção, aplicadas com distorções e de pouca duração; e é também curioso que tenha sido Manuela Arcanjo a minimizar o alcance do incentivo remuneratório associado à exclusividade, ao aceitar a igualização de remuneração (obviamente por cima) no trabalho prestado nas escalas de urgência.
Será que também aqui se aplica o diagnóstico de LCC que, a outro propósito, (justificação do fim das PPP com gestão clínica) afirmou que o problema está na incapacidade de defender o interesse geral perante os interesses privados?
Do que não há dúvida é da pouca eficiência do sector público e das dificuldades que – num contexto de crise que LCC tão bem descreve (V Comentário de Joaopedro no Post "A Crise Agrava-se" link) – haverá em injectar mais recursos no SNS. Ora, todos sabemos que não há revisão de carreiras que não exija recursos adicionais. Sendo assim, que futuro pode antever-se para o projecto em curso de revisão de carreiras dos profissionais de saúde? Como se poderá fazer entender e aceitar a sua necessidade e oportunidade num quadro que, agora como poucas vezes, se reivindica e deve ser, antes de tudo o mais, de solidariedade social?
Aidenos
Etiquetas: Aidenós
10 Comments:
Caro Aidenos
Sabia que ia ser polémico ao declarar que o SNS teve desde o início dois inimigos declarados ...., daí ter procurado fazer justiça a alguns pondo entre parêntesis as expressões que constam do texto.
Considero no entanto, analisando o que se passou nestes 30 anos, que a resultante da actuação da Direita (lato sensu), da Ordem dos Médicos e hoje de alguns sectores do PS, é a da oposição ao modelo de SNS definido há 30 anos, em cuja caracterização António Arnault e a sua equipa tiveram papel central.
Estando em absoluto de acordo consigo quanto à questão da Liberdade e da afirmação do direito constitucional à Saúde, não posso deixar de sublinhar que, como bem sabe, entre a consagração de direitos e a fruição dos mesmos, vai uma distância enorme. E, no que à Saúde diz respeito, para que os direitos consagrados no texto constitucional sejam cumpridos com qualidade e de forma equitativa (sublinho o termo), o tipo de modelo de SNS é de importância central. Bem sei que outros países, com outros modelos, Holanda por exemplo, conseguem assegurar cuidados de saúde de excelente qualidade aos cidadãos. Mas, alguém de boa-fé acredita que um sistema convencionado, assente em seguros de saúde, teria os mesmos resultados em Portugal? E, não é isso que de forma mais ou menos declarada os opositores do SNS preconizam? Num país em que aproximadamente 50% dos cidadãos estão isentos do pagamento de taxas moderadoras por terem baixos rendimentos, alguém que saiba fazer contas e tenha sensibilidade social, pode defender esta mudança de paradigma?
Neste percurso de 30 anos do SNS é justa a referência que faz a Paulo Mendo e Leonor Beleza por terem conseguido implementar algumas medidas estruturantes. Neste propósito, sublinho a do trabalho em DE, alvo desde o início de contestação da OM. Houve até um Bastonário, forte opositor da medida, que requereu a exclusividade antes da passagem à reforma. E, aqui, o que designa por inimigos internos do SNS, tiveram grande responsabilidade ao concederem, sem critério, aquele regime de trabalho cedendo a todo o tipo de oportunismo (o País no seu melhor).
Por último, a questão de negociar carreiras profissionais em tempo de crise. Reconheço que levar as negociações a bom porto é quase conseguir-se a quadratura do círculo. Em termos financeiros o espaço do Governo é estreitíssimo, em contrapartida as expectativas dos profissionais são enormes tendo em conta as diferenças salariais (pelo menos no caso dos Médicos) entre o público e o privado. Será pois difícil aumentar salários sem assegurar contrapartidas de aumento da produtividade (exclusividade, regras de incompatibilidades, contratualização). Estará Ana Jorge mandatada para o fazer? Estarão os parceiros sociais dispostos a negociá-lo? Uma coisa me parece certa, o tempo do sol na eira e chuva no nabal tem os dias contados na Saúde.
Felicito Aidenós e Tá Visto pelo nível e elegância dos seus comentários e também por evitarem cair em maniqueísmos, tão frequentes entre nós.
Pouco acrescentarei ao que escreveram, mas creio que vale a pena frisar alguns pontos que não podem ser apagados da memória porque, compreender o passado, é condição necessária para perceber melhor o presente.
Comecemos então pela Ordem dos Médicos. Conforme recorda Jorge Simões (Retrato Político da Saúde – Liv. Almedina- 2004) a oposição da direcção da Ordem dos Médicos à Lei do Serviço Nacional de Saúde foi expressiva, acusando-a de “limitar o princípio da livre escolha do médico pelo doente, de transformar os médicos em funcionários públicos, de “caixificar” e “sovietizar o sistema de saúde, de afastar Portugal dos modelos de seguro-doença dos países mais desenvolvidos da Europa.
Em momento posterior, acrescenta o mesmo autor, “não deixa a Ordem dos Médicos, de reafirmar ainda o carácter “anti-democrático, demagógico e errado do artigo 64º da Constituição.”( Documento “Direitos Iguais”, do Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos, de 20 Fevereiro de 1986).
O Dr. António Gentil Martins é um prestigiado Cirurgião, uma personalidade respeitada e um homem coerente com os seus princípios e valores, por diferentes que estes sejam daqueles que defendemos.
Não tenho mesmo dúvidas em afirmar que, não obstante a sua discordância política, terá prestado ao SNS serviços mais relevantes que muitos dos que não perdem a menor oportunidade de protestar a sua inquebrantável fé no nosso Serviço de Saúde.
A posição da Ordem dos Médicos, relativamente ao SNS, parece ter mudado muito. O actual Bastonário fez aquilo que o Dr. Gentil Martins nunca faria: assinar a petição do BE em defesa do SNS. Assim sendo, tem razão Aidenós quando afirma: “Só por avançada cegueira se não verá que as ameaças ao SNS não vêm de fora, mas sim de dentro.”
Refere ainda Aidenós os “assomos de coragem de Leonor Beleza e Paulo Mendo” e, mais uma vez aplaudo a recusa do maniqueísmo. Não é correcto avaliar Leonor Beleza na exclusiva perspectiva Leonor Beleza/Costa Freire. A escolha de Costa Freire foi um erro e a cegueira da ex-Ministra pelo seu Secretário de Estado representa o que pior teve o seu consulado. Mas Leonor Beleza foi também a responsável pelo Plano de Saúde Materno Infantil que produziu os resultados que se conhecem.
Curiosamente, quando se apontam os nomes dos putativos inimigos do SNS, poucas vezes vejo referido o nome do seu sucessor, protagonista do principal ataque ao SNS, ao pretender criar o seguro complementar de saúde. Valeu que as Seguradoras não quiseram arriscar e perderam, definitivamente, o comboio.
Bem observada também a actuação de Manuela Arcanjo, que tal como aconteceu com Arlindo de Carvalho, parecia unicamente apostada em fazer tudo ao contrário da Ministra anterior.
E aqui chegamos a um ponto preocupante. O PSD e o PS não têm, nenhum deles, uma política de saúde consistente e navegam ao sabor da idiossincrasia do ministro de ocasião.
Esta história de reconstução do SNS tem que se lhe diga.
Reconstruir quererá dizer refundar.
Ora o SNS não precisa de ser refundado.
O que o SNS precisa é de investimentos criteriosos, modernização e de boa organização.
Todos sabemos qual tem sido a política deste governo relativamente ao SNS: facilitar a privatização da Saúde.Entregar a prestação de cuidados ao sector privado. Ficando o Estado com o papelo de regulador e financiador.
É por isso que Sócrates, ainda recentemente, repetiu: O Serviço Nacional de Saúde não pode manter as organizações de há 30 anos.
Quererá o primeiro ministro dizer com isto: "não poder manter as carreiras médicas?"
País da malandragem
Dias Loureiro, antigo administrador da Sociedade Lusa de Negócios, reafirmou hoje que alertou, em Abril de 2001, António Marta, vice-governador o Banco de Portugal, para o “modelo de gestão” do grupo então liderado por Oliveira e Costa, dizendo que este o deixava “intranquilo”.
As equipas de investigadores destacadas pela Polícia Judiciária e pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para o BPP estão a trabalhar, não dirigindo a palavra aos funcionários do banco. Em causa estarão, segundo se sabe, operações de mercado de capitais consideradas irregulares, suspeitas de branqueamento de capitais e relações pouco transparentes entre empresas do grupo BPP e os seus accionistas
O presidente demissionário da Assembleia Geral (AG) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Mesquita Machado, voltou a criticar duramente as arbitragens dos jogos do Sporting de Braga com Benfica e FC Porto e frisou "não pactuar com estas situações". Quanto às "verdades" que prometeu revelar, disse já ter dito "muitas" e voltou a frisar ter tido "conhecimento de que teria havido influências externas para que o árbitro fosse alterado" no jogo com o Benfica. Prometeu dizer "nomes quando for aberto um inquérito pela Procuradoria-Geral da República", para "não prejudicar essa investigação
O líder do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, defendeu hoje a necessidade de uma "investigação célere" no caso Freeport e um "apuramento da verdade sem condenações apriorísticas".
O Presidente da República alertou hoje para a necessidade de melhorar a qualidade da legislação, por considerar que só com melhores leis será possível ter “uma justiça melhor”.
Página do JP on line 01:51
Cardos deste jardim à beira mar plantado.
A merecer um texto inspirado do nosso colega inimigo público.
Os sindicatos médicos numa ultrapassagem à Ministra da Saúde, Ana Jorge, pretendem pedir a intervenção do primeiro ministro, José Sócrates, nas negociações sobre o novo diploma das carreiras. link
O tempo urge que as eleições estão próximas.
Quando no meu comentário me referi ao seguro complementar de saúde queria obviamente dizer seguro alternativo de saúde.
Hospital de Santo António no Porto envia doentes de Urologia para o sector privado
Chefe do serviço está demissionário e atribui situação à decisão da ARSN de concentrar as urgências nocturnas de Urologia
no Hospital de S. João
O Serviço de Urologia do Hospital de Santo António (HSA), no Porto, referenciado como um dos melhores do país, está neste momento sem capacidade de resposta para prestar assistência aos doentes ali internados, registando, ao mesmo tempo, uma redução da actividade a nível de cirurgias. Por outro lado, aquele hospital não tem actualmente médicos especialistas em urologia para realizar novas cirurgias a doentes que estão em lista de espera, estando, por isso, a encaminhá-los para o sector privado.
"Toda esta realidade é nova e resulta de uma directiva da Administração Regional de Saúde do Norte que decidiu concentrar as urgências nocturnas de Urologia da região no Hospital de S. João", declarou o director demissionário do Serviço de Urologia do Centro Hospitalar do Porto (CHP), a que pertence o Santo António. Filinto Marcelo acrescenta que a medida obriga a que os médicos do HSA façam urgência dois dias por semana no Hospital de S. João. Desta forma, adverte, o HSA deixa de ter meios para responder aos doentes.
A título de exemplo, Filinto Marcelo revela que, há dias, "o serviço e o Hospital de Santo António ficaram sem médico, tendo havido necessidade de transferir um doente de 92 anos que se encontrava internado no Serviço de Urologia para o S. João, por ter arrancada a algália". "Isto é estar a brincar com os doentes!", insurge-se este especialista, que decidiu pedir a demissão do cargo por discordar da decisão da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) que acusa de "nunca" ter considerado a "alternativa" que lhe apresentou, e que passava pela Urgência Regional de Urologia (URU) funcionar alternadamente em períodos de 15 dias no S. João e no Santo António.
Assim sendo, explica Filinto Marcelo, "os médicos do Santo António assegurariam a URU no período de 15 dias, ao mesmo tempo que efectuariam a residência [internamento], enquanto os restantes médicos dos hospitais de S. João, Vale do Sousa, IPO-Porto, Hospital da Feira e Pedro Hispano responsabilizar-se-iam pelos 15 dias da urgência no Hospital de S. João".
Filinto Marcelo disse ainda ao PÚBLICO que a existência de um médico de urologia residente no HSA evitou que, no dia 20 de Janeiro, uma docente internada a quem foi "necessário efectuar um procedimento cirúrgico do foro urológico, cerca das 3h50, por um quadro de sepsis (coma) fosse transferida". "Se não tivéssemos médico residente, o que aconteceria?", pergunta. Anteontem, assegura, aconteceu uma situação idêntica.
Lamentando que "os mais prejudicados" com este tipo de decisões sejam "como sempre os que menos merecem", Filinto Marcelo colocou o lugar à disposição da tutela. Alega não estar disposto a pactuar com "erros tão grosseiros de má prática clínica" e que, acima de tudo, quer continuar de "consciência tranquila".
O PÚBLICO contactou ontem a ARSN, mas o assessor de imprensa informou que não havia ninguém da direcção disponível para fazer declarações.
JP 29.01.09
Será este mais um caso exemplar do processo de recontrução do SNS de que fala o Aidenós?
Quanto à defesa do Serviço Público já sabemos que a ministra da saúde, Ana Jorge, faz o que pode. Que é muito pouco.
O processo de privatização da Saúde lançado por LFP e dinamizado por CC segue o seu curso inexorável.
Daqui a meia dúzia de anos o que restará do SNS?
Primeiro que tudo, agradeço os comentários recebidos.
Agora queria apenas referir que o meu texto deixou claro o meu posicionamento perante o modelo SNS de organização dos Serviços de Saúde, de resto em consonância com o que escrevi noutros textos postados no Saudesa. Expressamente referi a minha convicção de que o modelo SNS é o melhor, e até disse porquê.
Quanto à reconstrução do SNS (e não recondução aos seus princípios originais) parece-me que também ficou claro o sentido do termo reconstrução. Na verdade, pretendi salientar dois pontos:
- primeiro, relevar no SNS as características de equidade e de generalidade, não só a universalidade: um SNS predominante, que seja capaz de empurrar a medicina privada, de consultório ou de internamento, para um papel de mera complementaridade residual; ou seja, capaz de evitar situações como a que o DrFeelGood denuncia na Urologia do HGSA e que citei generalizadamente quando referi a morte em lista de espera. Estas situações indiciam claramente que, em termos de equidade, o SNS que temos não está no ponto desejável;
- depois, afirmar a importância de medidas como as enunciadas pelo Tavisto, a começar pela dedicação exclusiva, que faltou no diploma de A. Arnault, apesar de ser tão fundamental que condiciona tudo o resto. Não duvido que terá dura oposição, mas, volto a dizer, quem conseguir implantar a DE estará a reconstruir o SNS.
Associação Portuguesa de Hospitalização Privada emitiu hoje um comunicado, em reacção às declarações da ministra da Saúde, Ana Jorge, que disse querer limitar aos hospitais públicos a realização de partos de bebés prematuros, admitindo que essa exclusividade fique já definida nas normas de licenciamento das maternidades privadas que a tutela está a ultimar. A APHP está “incrédula e estupefacta” e não compreende “as motivações de tomada de posição tão radical e completamente dissonante da evolução da prestação de cuidados médicos em Portugal”.
De acordo com a associação representativa do sector “o bebé prematuro, em primeiro lugar, não é algo, é um ser humano” e os privados “também dispõe de equipas multidisciplinares tão ou melhor preparadas para prestar cuidados intensivos neonatais”. “Só quem desconhece a realidade do seu próprio país pode afirmar o contrário”, lê-se no comunicado.
Por outro lado, a APHP critica a posição da tutela, de tomar uma decisão de forma precoce e antes de se conhecerem os resultados destes serviços nos privados. “O Ministério da Saúde deve estipular os padrões de funcionamento, os critérios de actividade e não fazer proibições”, explica a associação, que defende que “quem cumprir os critérios definidos pela lei deve poder exercer a actividade livremente”. Os privados acusam Ana Jorge de “em função de um mero exercício de adivinhação” estar a impedir o sector de “exercer a actividade em situação de igualdade com os congéneres do sector público”.
A APHP teme, ainda, que com esta “política institucionalizada” o cidadão perca a liberdade de escolher o hospital onde quer ser atendido. “A gestão e viabilização de organizações de saúde privada em Portugal é um desafio diário”, desabafam. E questionam: “Quem pagaria um serviço duas vezes (pelos seus impostos e indirecta ou directamente a um prestador privado) se tivesse plena confiança no SNS?”.
APHP lembra evolução
Os privados terminam o comunicado dizendo que introduziram no mercado cuidados de saúde complexos e sofisticados e que já tratam muitas situações que eram exclusivas do Serviço Nacional de Saúde. Por outro lado, lembram que criaram uma rede competitiva que atrai estrangeiros e que levou ao “aumento da procura no ‘nicho’ de mercado do turismo sénior de elevado valor acrescentado”.
Ana Jorge defendeu a realização de partos de bebés prematuros apenas nos hospitais públicos, argumentando que os níveis de segurança só se alcançam em instituições com 70 a 80 partos de recém-nascidos pré-termo por ano e "uma unidade privada nunca vai ter" esses números.
O presidente do colégio de obstetrícia da Ordem dos Médicos, Luís Graça, citado pela Agência Lusa, alertara hoje para os riscos de partos prematuros realizados em hospitais que não garantem o tempo necessário de internamento dos bebés. "Os hospitais privados trabalham em 99 por cento dos casos com seguradoras que têm plafons reduzidos e, salvo em seguros de valor excepcional, o que está previsto é o internamento de dois ou três dias da paciente e do bebé". No entanto, uma criança que nasça prematura vai "forçosamente" exceder os três dias, alertou o obstetra.
JP 30.01.09
O Luís Graça levanta uma questão da maior importância. Tem a ver com a transferência de doentes do privado para o público quando o plafond do seguro esgota. A juntar a este motivo, há o das transferências por razões clínicas ou ausência de meios técnicos (internamentos em UCI, por exemplo). Aqui, o que haveria a fazer era legislar no sentido do SNS poder imputar a despesa de internamento destes doentes ao hospital que procede à transferência. Talvez assim estes senhores da APHP fossem menos arrogantes nas posições que tomam e os hospitais públicos deixassem de ser válvula de escape das limitações de vária ordem do sector privado hospitalar.
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