Carta aberta
a S. Exa. o Senhor. Presidente da República
Senhor Presidente permito-me dirigir, respeitosamente, a V. Exa. na qualidade de cidadão, empobrecido, da classe média, dividido entre a angústia da incerteza e a vontade de lutar.
Ouvi o Seu discurso de Ano Novo.
Confesso que fiquei desiludido e preocupado. Logo após os votos calorosos para 2009 V. Exa. dirigiu-se, explicitamente à categoria de Portugueses onde, compulsivamente, me sinto incluído isto é, aqueles que “sofreram uma redução inesperada dos seus rendimentos”…
Admito que senti um estrondo interno de emoção quando V. Exa. referiu: …” não se deixem abater pelo desânimo”…O vigor deste estímulo prolongou-se quando o Senhor Presidente se referiu aos nossos jovens: … “que tendo terminado os seus estudos, vivem a angústia de não conseguirem um primeiro emprego”…
Aqui compreendi o sentimento de frustração de V. Exa. por não ter conseguido, nos seus três governos, concretizar uma duradoura reforma do sistema educativo que tivesse lançado as sementes da qualidade do ensino, da competitividade e da empregabilidade dos jovens. Ter-se-ia evitado a emergência de fenómenos como a Universidade Moderna, a Independente ou a Internacional que mais não foram do que a expressão simbólica da degradação do ensino superior que decorreu de uma pouco exigente prática liberalizadora e “concorrencial” no ensino universitário. Já para não falar dos sinais de degradação do ensino secundário tão bem caracterizados, na altura pela ex-Ministra da Educação - Dra. Manuela Ferreira Leite quando se referiu à “geração rasca”. Os resultados nos anos que se sucederam (na Matemática, por exemplo) são disso um bom exemplo.
Naturalmente que em dez anos não é possível tudo fazer. Ainda por cima numa altura em que era necessário consagrar muita atenção à gestão dos fundos comunitários cuja dimensão não permitia distracções com questões de muito complexa resolução.
Registei também o cuidado com que V. Exa. se refere aos pequenos comerciantes que passam hoje por momentos muito difíceis. Infelizmente não foram capazes de se adaptar aos fluxos de modernidade que fizeram com que Portugal, durante o tempo em que V. Exa. foi Primeiro-Ministro tenha aberto o mercado da distribuição aos grandes empreendedores de que é ilustre exemplo o Sr. Eng. Belmiro de Azevedo. Hoje os pequenos comerciantes são, efectivamente, vítimas da incapacidade de utilização de sucessivas linhas de crédito e programas de modernização bem como da sua manifesta dificuldade em lidar com os mecanismos de “mercado” que V. Exa. tão bem inculcou na sociedade portuguesa.
Quase tanta incompreensão se poderia aduzir quando V. Exa. se refere ao problema dos agricultores. Longe vão os tempos dos montes não cultivados, do dinamismo do mercado dos veículos de tracção às quatro rodas ou até da utilização do gasóleo verde em fins não, necessariamente, agrícolas.
Não poderia estar mais perto do pensamento de V. Exa. quando refere: …” O mundo rural faz parte das raízes da nossa identidade colectiva. A sua preservação é fundamental para travar o despovoamento do interior e para garantir a coesão territorial do País”…Pena seja que os enormes recursos financeiros aplicados nas auto-estradas, que V. Exa. tão bem promoveu, não tenham sido suficientes para mobilizar os portugueses em direcção ao interior ao invés daquilo que aconteceu, de facto, do interior para o litoral. Com efeito os números têm tanto de injusto como de esclarecedores. Nunca, como nos últimos vinte anos, a desertificação do interior tinha sido tão intensa.
Reconheço perante V. Exa. que a marca mais distintiva do Seu discurso se exprime quando proclama: … “Devo falar verdade”…
Nada de melhor e mais útil.
Diz V. Exa. …”Portugal gasta em cada ano muito mais do que aquilo que produz. Portugal não pode continuar, durante muito mais tempo, a endividar-se no estrangeiro ao ritmo dos últimos anos”…Com efeito assim parece. Ficamos contudo hesitantes quando vemos largas manchas de prosperidade no nosso país como a Madeira, Lisboa, Gaia, Oeiras entre outros exemplos. Será que o endividamento se deve, outrossim, ao pagamento desse “monstro” que V. Exa. referiu nos idos anos de noventa, e para o qual teve a institucional generosidade, no momento da saída de funções executivas, de garantir reforçada continuidade?
Claro que na Madeira há essa questão, que ainda há poucos dias V. Exa. referiu a propósito das deslealdades do Parlamento e que tem que ver com a qualidade da Democracia.
A Democracia parece, de verdade, ter vindo a perder qualidade. Já muito pouco sobra da geração yuppie tão desenvolvida no seu tempo, das elites de empreendedores, de gestores e de investidores. Dessa tão brilhante casta vão sobrando apenas uns resquícios como se de pechisbeque se tratasse. Ainda por cima muitos deles encontram-se, injustamente, envolvidos na sordidez de processos que tanto tem diminuído a qualidade da nossa Democracia.
Mantendo a fidelidade à Verdade V. Exa. refere: …”Não devo esconder que 2009 vai ser um ano muito difícil. Receio o agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e exclusão social”…Todos tememos que tal aconteça. Já perdemos de vista o fio do optimismo e o convívio esperançado com o futuro.
Diz V. Exa. Senhor Presidente: …”A verdade é essencial para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes”…A culpa será dos cidadãos? Dos governantes? Ou de ambos? O que é facto é que é sempre mais fácil ao país mudar de políticos do que de cidadãos…
Veja-se o apego à coisa pública de políticos com Santana Lopes, Paulo Portas entre outros. A política parece ter uma natureza aditiva que impele comportamentos de dependência compulsiva.
É verdade, como refere V. Exa., que …”quando a possibilidade de endividamento de um País se esgota, só resta a venda dos bens e das empresas nacionais aos estrangeiros”…Tão verdade como verdadeira é a evolução da dependência do nosso país do petróleo, constantemente, agravada entre 1985 e 2006 e só agora, timidamente, aliviada com o forte investimento nas energias limpas.
…”As ilusões pagam-se caras”…É verdade, Senhor Presidente, todo o tipo de ilusões. Como também se pagam muito caras, na política, a prestidigitação e a dissimulação.
Concluo, Senhor Presidente, relembrando uma pequena frase de Anatole France: …”Sem se iludir, a humanidade pereceria de desespero e de tédio”…
Um Bom Ano de 2009 também para Si, Senhor Presidente.
Senhor Presidente permito-me dirigir, respeitosamente, a V. Exa. na qualidade de cidadão, empobrecido, da classe média, dividido entre a angústia da incerteza e a vontade de lutar.
Ouvi o Seu discurso de Ano Novo.
Confesso que fiquei desiludido e preocupado. Logo após os votos calorosos para 2009 V. Exa. dirigiu-se, explicitamente à categoria de Portugueses onde, compulsivamente, me sinto incluído isto é, aqueles que “sofreram uma redução inesperada dos seus rendimentos”…
Admito que senti um estrondo interno de emoção quando V. Exa. referiu: …” não se deixem abater pelo desânimo”…O vigor deste estímulo prolongou-se quando o Senhor Presidente se referiu aos nossos jovens: … “que tendo terminado os seus estudos, vivem a angústia de não conseguirem um primeiro emprego”…
Aqui compreendi o sentimento de frustração de V. Exa. por não ter conseguido, nos seus três governos, concretizar uma duradoura reforma do sistema educativo que tivesse lançado as sementes da qualidade do ensino, da competitividade e da empregabilidade dos jovens. Ter-se-ia evitado a emergência de fenómenos como a Universidade Moderna, a Independente ou a Internacional que mais não foram do que a expressão simbólica da degradação do ensino superior que decorreu de uma pouco exigente prática liberalizadora e “concorrencial” no ensino universitário. Já para não falar dos sinais de degradação do ensino secundário tão bem caracterizados, na altura pela ex-Ministra da Educação - Dra. Manuela Ferreira Leite quando se referiu à “geração rasca”. Os resultados nos anos que se sucederam (na Matemática, por exemplo) são disso um bom exemplo.
Naturalmente que em dez anos não é possível tudo fazer. Ainda por cima numa altura em que era necessário consagrar muita atenção à gestão dos fundos comunitários cuja dimensão não permitia distracções com questões de muito complexa resolução.
Registei também o cuidado com que V. Exa. se refere aos pequenos comerciantes que passam hoje por momentos muito difíceis. Infelizmente não foram capazes de se adaptar aos fluxos de modernidade que fizeram com que Portugal, durante o tempo em que V. Exa. foi Primeiro-Ministro tenha aberto o mercado da distribuição aos grandes empreendedores de que é ilustre exemplo o Sr. Eng. Belmiro de Azevedo. Hoje os pequenos comerciantes são, efectivamente, vítimas da incapacidade de utilização de sucessivas linhas de crédito e programas de modernização bem como da sua manifesta dificuldade em lidar com os mecanismos de “mercado” que V. Exa. tão bem inculcou na sociedade portuguesa.
Quase tanta incompreensão se poderia aduzir quando V. Exa. se refere ao problema dos agricultores. Longe vão os tempos dos montes não cultivados, do dinamismo do mercado dos veículos de tracção às quatro rodas ou até da utilização do gasóleo verde em fins não, necessariamente, agrícolas.
Não poderia estar mais perto do pensamento de V. Exa. quando refere: …” O mundo rural faz parte das raízes da nossa identidade colectiva. A sua preservação é fundamental para travar o despovoamento do interior e para garantir a coesão territorial do País”…Pena seja que os enormes recursos financeiros aplicados nas auto-estradas, que V. Exa. tão bem promoveu, não tenham sido suficientes para mobilizar os portugueses em direcção ao interior ao invés daquilo que aconteceu, de facto, do interior para o litoral. Com efeito os números têm tanto de injusto como de esclarecedores. Nunca, como nos últimos vinte anos, a desertificação do interior tinha sido tão intensa.
Reconheço perante V. Exa. que a marca mais distintiva do Seu discurso se exprime quando proclama: … “Devo falar verdade”…
Nada de melhor e mais útil.
Diz V. Exa. …”Portugal gasta em cada ano muito mais do que aquilo que produz. Portugal não pode continuar, durante muito mais tempo, a endividar-se no estrangeiro ao ritmo dos últimos anos”…Com efeito assim parece. Ficamos contudo hesitantes quando vemos largas manchas de prosperidade no nosso país como a Madeira, Lisboa, Gaia, Oeiras entre outros exemplos. Será que o endividamento se deve, outrossim, ao pagamento desse “monstro” que V. Exa. referiu nos idos anos de noventa, e para o qual teve a institucional generosidade, no momento da saída de funções executivas, de garantir reforçada continuidade?
Claro que na Madeira há essa questão, que ainda há poucos dias V. Exa. referiu a propósito das deslealdades do Parlamento e que tem que ver com a qualidade da Democracia.
A Democracia parece, de verdade, ter vindo a perder qualidade. Já muito pouco sobra da geração yuppie tão desenvolvida no seu tempo, das elites de empreendedores, de gestores e de investidores. Dessa tão brilhante casta vão sobrando apenas uns resquícios como se de pechisbeque se tratasse. Ainda por cima muitos deles encontram-se, injustamente, envolvidos na sordidez de processos que tanto tem diminuído a qualidade da nossa Democracia.
Mantendo a fidelidade à Verdade V. Exa. refere: …”Não devo esconder que 2009 vai ser um ano muito difícil. Receio o agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e exclusão social”…Todos tememos que tal aconteça. Já perdemos de vista o fio do optimismo e o convívio esperançado com o futuro.
Diz V. Exa. Senhor Presidente: …”A verdade é essencial para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes”…A culpa será dos cidadãos? Dos governantes? Ou de ambos? O que é facto é que é sempre mais fácil ao país mudar de políticos do que de cidadãos…
Veja-se o apego à coisa pública de políticos com Santana Lopes, Paulo Portas entre outros. A política parece ter uma natureza aditiva que impele comportamentos de dependência compulsiva.
É verdade, como refere V. Exa., que …”quando a possibilidade de endividamento de um País se esgota, só resta a venda dos bens e das empresas nacionais aos estrangeiros”…Tão verdade como verdadeira é a evolução da dependência do nosso país do petróleo, constantemente, agravada entre 1985 e 2006 e só agora, timidamente, aliviada com o forte investimento nas energias limpas.
…”As ilusões pagam-se caras”…É verdade, Senhor Presidente, todo o tipo de ilusões. Como também se pagam muito caras, na política, a prestidigitação e a dissimulação.
Concluo, Senhor Presidente, relembrando uma pequena frase de Anatole France: …”Sem se iludir, a humanidade pereceria de desespero e de tédio”…
Um Bom Ano de 2009 também para Si, Senhor Presidente.
inimigo público
Etiquetas: inimigo público
9 Comments:
Excelente texto, que subscrevo na íntegra.
O inconcebível, para os cidadãos à beira de uma drástica crise, foi a reacção dos partidos políticos (ditos com assento paralamentar) que, em coro, se apressaram em rever-se nesta mensagem.
O português apesar dos acordos ortográficos tornou-se uma língua de difícil interpretação. Traiçoeira.
Um exemplo, entre muitos:
O Dr. Augusto Santos Silva acredita numa só palavra do "seu"(?) comentário à mensagem de Ano Novo do Senhor Presidente da República?
Ou, pensa que pode ad eternum encanar a perna à rã?
Ou, por fim, é demasiado céptico (não acredita no que ouve) para ser um político?
Meu caro Xavier
Venho rogar-lhe que não volte a tecer críticas ao director do Tempo Medicina pois temo pela sanidade mental do dito senhor. Lendo a última crónica de JMA no TM verifico que, para além de olhar para este espaço de debate como se de uma pocilga se tratasse, me atribui, na parte final de um arrazoado texto, um comentário que não fiz. Dizendo dos interventores do Saúde SA o que Maomé não diz do toucinho, JMA não consegue resistir à prosa da ninhada do “porco” Xavier e, sempre que a pouca elasticidade (mental?) do tempo lhe permite, faz clique sobre o site vindo abastecer-se do fel com que distribui bengaladas por quantos aqui, alimentados a bolota, se acoitam sob a capa do anonimato.
Ao “inimigo público” envio os meus parabéns pela excelente carta aberta ao discurso do Senhor Presidente da República. Estou certo que JMA não deixará também de apreciar a qualidade literária do seu texto bem como a pertinência das observações. Imagino-o, porém, a pensar roidinho de inveja:
- Anda um plumitivo deste quilate, a deitar pérolas a porcos no Saúde SA, escrevendo textos nos intervalos da incompetência de gestor hospitalar, quando poderia dar azo à sua veia humorística no jornal que superiormente dirijo. É que ele há mesmo tipos que gostam de chafurdar na lama …
«Excelente texto, que subscrevo na íntegra.»
Faço meu o comentário do é-pá.
"Prestidigitação e a dissimulação" é o que temos tido de Aníbal Cavaco Silva.
Caros Xavier e Távisto fui ler o "editorial" do Sr. José Antunes. Permitam-me que vos sugira que não respondam. Que nenhum dos bloggers do SaúdeSA responda. Perante a insolência, o desnorte, a falta de educação e a boçalidade a única resposta deve ser o silêncio. Este senhor não se enxerga. Provavelmente, perturbado pela falta de anúncios comporta-se como um voyeur que rejeita o "objecto" da sua fixação mas não resiste a espreitá-lo doentiamente. Ninguém pode ser culpado por ser muito ou pouco inteligente, por escrever melhor ou pior português. Quem não se conhece a si próprio dificilmente perceberá o mundo e as respectivas mudanças. Nunca conseguirá compreender a blogosfera. Continuarei a ler o SaúdeSA com muito interesse. Confesso que não tenho o mínimo interesse em ler o Tempo Medicina. Não sei porquê remete-me, quase sempre, para o ideário de leitura de uma qualquer bula de medicamento sujeito a receita médica salpicado, aqui e acolá, por textos fossilizados de alguns colunistas que se vão arrumando esquecidos no armário das antiguidades do sistema de saúde.
O que o senhor JMA refere sobre o Xavier não é verdade.
Além de falta de educação e a boçalidade que lhe são reconhecidas, o senhor JMA é também mentiroso.
Um grande texto sobre o discurso (sempre cinico)do PR.
Excelente texto.
Nada que nós não soubessemos de Aníbal Cavaco Silva.
Na escrita soberba do "Inimigo Público".
Quanto ao JMA, trata-se de um problema do Tempo de Medicina e dos seus financiadores. Hoje em dia, o TM tem menos leitores que o saudesa.
A necessitar de renovação urgente.
A suave Mensagem
A mensagem do Presidente foi suficiente para despertar algum desejo de consenso pró-activo em vários quadrantes.
A mensagem do Presidente foi bem acolhida. Permite olhar o País com lentes bifocais: ao perto e ao longe. Ao perto, o desemprego e a crise da confiança bancária. Trazida para perto, onde não costumava andar, foi a questão da dívida externa, pública e privada. Mais ao longe, as questões das desigualdades e da capacitação de recursos humanos. Como pano de fundo cultural as divisões e querelas que enfraquecem, assentes na habitual inveja, no tradicional espírito de campanário, ou no moderno oportunismo político-social. O facto de as críticas serem vagas e dispersas, pode significar uma de duas coisas: ou ambiguidade na mensagem ou oportunismo na recepção. É possível que exista uma combinação das duas, mas tal não desmerece o esforço: a mensagem foi suficiente para despertar algum desejo de consenso pró-activo em vários quadrantes. Esperemos que dure para além de uma semana.
Analisemos estes pontos pela prioridade temporal. O desemprego vai aumentar, sem dúvida. A população desempregada no 3º trimestre, apesar de se ter reduzido de 11 mil em relação ao trimestre homólogo aumentou de 24 mil em relação ao anterior. Não será de estranhar que os actuais 434 mil desempregados possam chegar perto dos 500 mil. Os remédios estão lançados, nas políticas passivas. Mas nas activas o investimento público, do Estado e das Autarquias, é essencial. Na febre dos centros comerciais e do emprego que estes geram, as autarquias esqueceram o pequeno comércio, adiaram a recuperação humana dos centros históricos. Não fora o Programa Polis e as nossas cidades médias seriam agora florestas de medíocre habitação com ribeiras, terrenos abandonados e lixeiras no centro das cidades. Talvez haja novo espaço para parcerias entre Estado e municípios, como na grande depressão.
A crise da confiança bancária tem os seus remédios já no terreno, necessitando de acompanhamento diário. O que não ajuda nada são os cartazes a induzirem a população a pensar que o Estado deu dinheiro à Banca e não o dá às pessoas. Francamente, será necessário montar um curso de rudimentos de economia e finanças para esta iliteracia económica ser combatida? Distorção voluntária, deliberada, puramente comunicacional.
A questão da dívida externa, pública e privada, foi bem colocada pelo Presidente. A anestesia prolongada pelo bom comportamento do défice orçamental levou a pensar que a dívida se empurrava com a barriga. A realidade segmentou os países entre norte e sul da Europa. O problema não tem solução de curto prazo, a não ser o conter o seu crescimento. No médio prazo, já sem os mecanismos de desvalorização da moeda e da inflação (convém lembrar que a moeda única evitou uma crise social maior que a de 1983-84), a saída está na produção exportadora, como vinha a acontecer nos três últimos anos. Perde agora o ímpeto pelo congelamento económico dos países de destino. Solução: continuar a disciplina financeira pública, selectividade no crédito ao consumo de bens e serviços importados (como as férias no estrangeiro), reforço das políticas activas de apoio à exportação.
A luta contra as desigualdades resulta de todas as anteriores, bem como das políticas de combate à pobreza, com algum êxito e sem a demagogia do CDS contra o rendimento social de inserção. Crescem os beneficiários do complemento solidário para idosos e dos seus apoios de saúde (medicamentos e próteses). Mesmo apesar da graduação dos que atingiram patamares de autonomia, o que revela novas necessidades. Uma terceira geração de políticas sociais, mais selectivas, como o exemplar programa das "novas oportunidades" demonstram como se passou da intenção ao acto.
Quanto às querelas que dividem e enfraquecem, a oposição de sindicatos de professores a uma avaliação capaz e diferenciadora é a mais visível e a menos racional. O País despendeu reservas de energia e emoção com este tema. O esforço negocial permitiu ceder no acessório, embora importante, sem perder o essencial. A avaliação de instituições, dirigentes e funcionários que já se faz na função pública geral, também com muitos papeis e uso de tempo, mas com bons resultados, deve ser observada pelos que se acham injustiçados. Estão a perder os favores da opinião pública, semana após semana. Que o espírito do ano novo os ajude a eles e a todos nós. Francamente, agora que a lei confirmou a razoabilidade, poupem-nos a mais querelas desnecessárias e deixem que professores e escolas encontrem os seus caminhos.
Correia de Campos, DE 05.01.09
O comentário é que é demasiado suave. a pssar a mão pelo pelo, como se costuma dizer.
O que faz correr (ainda) CC?
Um dos melhores posts publicados no saudesa.
Como Portugal poderia ser diferente não fora a miopia tacanha da maioria dos nossos políticos.
Dissimulação e o frio calculismo postos ao serviço de interesses pessoais (carreira politica)não permitiram a ACS qualquer rasgo politico digno de nota.
Restaram-nos os autoestradas.
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