sábado, janeiro 10

O Sapatinho da Saúde


Atravessamos uma época festiva que se caracteriza pela atitude de partilha, harmonia e dádiva tão expressiva na “prenda no sapatinho” com que os mais novos rejubilam. É também neste período que costumamos fazer o balanço das nossas realizações e perspectivamos o futuro dos nossos projectos.
Mas, voltando ao assunto, que prendas teremos no sapatinho da Saúde, sabendo que nesta área as prendas nunca são muito promissoras, pelo contrário – o que nos costuma caber são surpresas e a maior parte das vezes negativas.
A maior surpresa registada em 2008, ainda que previsível se considerarmos o ambiente criado à volta da sua pessoa, foi a saída do Professor Correia de Campos da titularidade do Ministério da Saúde. As circunstâncias políticas superaram as condições técnicas e a sua substituição efectivou-se.
A sua saída, no entanto, não foi inócua e ficaram muitas prendas no sapatinho da Saúde que a ele se devem e das quais destacamos: a colocação no terreno do programa de Cuidados Continuados Integrados; a reforma dos Cuidados de Saúde Primários, consubstanciada na criação das Unidades de Saúde Familiares e nos Agrupamentos de Centros da Saúde; as reformas na área hospitalar, com o alargamento da empresarialização dos hospitais, a requalificação dos serviços de urgência, a centralização dos blocos de partos; e finalmente a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde.
A sucessão ministerial fez-se de forma pacífica, as mudanças nas Secretarias de Estado processaram-se com normalidade e a operacionalidade do Ministério retomou a sua dinâmica em paz e tranquilidade.
O programa de Governo para a área da Saúde continuou a ser cumprido e as medidas nele consignadas estão no terreno, com as alterações que a sensibilidade que caracteriza este novo gabinete ministerial pretende instituir.
Exemplos dessas medidas são: a nomeação dos Directores dos Agrupamentos dos Centros de Saúde até final do corrente ano; o compromisso, arrojado, para o ano de 2009, do desenvolvimento do Programa de Cirurgia do Ambulatório; o pagamento das dívidas a fornecedores colocando os hospitais na linha do prazo médio de pagamento do circuito comercial.
É verdade que nem tudo correu bem no corrente ano. De referir, no entanto, que foram muitas e difíceis as vontades expressas, as medidas implementados e as realizações conseguidas.
Se a tudo isto juntarmos a vontade desta equipe ministerial e a sua intransigente defesa do Serviço Nacional de Saúde só poderemos dizer que o sapatinho da saúde, este ano foi bem preenchido.

Pedro Lopes, editoral GH n.º 40

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1 Comments:

Blogger e-pá! said...

O SILÊNCIO CAUTO ...

Sobre a "prenda" - Requalificação dos Serviços de Urgência - as informações mais recentes, mostram:

- os SUB's ficaram pelo caminho;
- os SUMC's não foram "requalificados";
- os SUP's, estão como estavam...

O recente surto de gripe no dia 26.12.08, "entupiu" as urgências hospitalares.
Depois desse fatídico dia, entraram em funcionamento com horário alargado os CPS's e, muito embora, continuassem a existir alguns problemas na drenagem que provocaram alongamentos do tempo espera para atendimento, começou-se a caminhar para uma situação controlada, nomeadamente, na altura do pico do surto gripal.

Esta conjuntura mostra a relevância do papel da urgência pré-hospitalar na requalificação das urgências.

Mas, notícias de hoje, revelam que faltam abrir 2/3 dos SUB's, quando estava prevista a rede estar a funcionar em pleno durante o ano de 2008.
O "grupo de acompamhamento" desta requalificação nunca mais reuniu, desde a saída de CC, e ao que se sabe, não planeia fazê-lo. Demitiu-se com CC.

Mogadouro, V. Nova Foz Côa, Moimenta da Beira, Cinfães, Arouca, Arganil, Sertã, Idanha, Ponte de Sôr, Coruche, Loures, Agualva-Cacém; Montemor-o-Novo, Moura, Serpa, Castro Verde, continuam em "pousio".
Os SUB's em funcionamento não estão conectados com os HH's de referência e nem sequer foi montada, nesses Serviços, a rede de oxigénio.

Para as situações mais dramáticas os 3 helicópteros de emergência médica a colocar em Macedo de Cavaleiros, Aguiar da Beira e Ourique, não apareceram, mas apesar disso já fizeram rolar cabeças no seio do INEM. Entretanto, Trás os Montes, onde 2 dos 3 helicópteros estão em falta, é exactamente a região mais atrasada na abertura de SUB's.
O típico planeamento português.

O que salvou esta reforma?
- O bom senso da Ministra.

Parou com o desenfreado encerramento de SAP's , onde não havia quaisquer alternativas optimizadas e que trnasmitissem segurança às populações (deve recordar-se que neste momento existem só 25 viaturas SIV), continuou paulatinamente a encerrar SAP's em ritmo tranquilo, com critérios, (Caminha, Cadaval, etc,), fechou as urgências do HH's de Vila do Conde e Estarreja...

Portanto, uma reforma gizada por CC, estudada por uma excelente comissão técnica, em vias de ser salva (falta ainda realizar muito!) pela actual Ministra.

A atitude da Drª Ana Jorge faz-me recordar um texto de Umberto Eco, in "A Ilha do Dia Antes":

...."Mas sede prudente também com os vossos iguais. Não humilheis com as vossas virtudes. Nunca falei de vós mesmos: ou vos gabaríeis, que é vaidade, ou vos vituperaríeis, que é estultícia. Deixai antes que os outros vos descubram alguma pecha venial, que a inveja possa roer sem demasiado dano vosso. Devereis ser de bastante e às vezes parecer de pouco. A avestruz não aspira a erguer-se nos ares, expondo-se a uma exemplar queda: deixa descobrir pouco a pouco a beleza das suas plumas. E sobretudo, se tiverdes paixões, não as ponhais à vista, por mais nobres que vos pareçam. Não se deve consentir a todos o acesso ao nosso próprio coração. Um silêncio cauto e prudente é o cofre da sensatez.
..."

11:40 da manhã  

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