Um discurso bipolar
O teor da entrevista do dr. António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital São João, ao Jornal de Notícias de 04 de Janeiro link e os ecos que se lhe seguiram nos meios de comunicação social, com tomadas de posição diversas das organizações profissionais, levaram-me à conversa com um colega próximo a trabalhar naquela Instituição.
Ao que me disse, as declarações caíram como autêntica bomba na comunidade hospitalar gerando indignação geral. É que, pelo Natal, o CA tinha enviado a todos os trabalhadores uma missiva agradecendo o seu contributo pelos excelentes resultados conseguidos no ano de 2008. Em cópia que me foi enviada pode ler-se que durante o ano transacto foram atendidos mais doentes no SU, recuperadas listas de espera de consultas e cirurgia, realizados mais exames de diagnóstico e tratados mais doentes de internamento. Perante estes resultados, o CA refere “este aumento de produção obrigou-nos a uma renegociação do contrato-programa, felizmente bem sucedida, tendo como consequência que, em vez dos 12 milhões de euros de défice previsto, consigamos encerrar o ano em equilíbrio económico. Facto tão mais meritório num ano em que não nos foi atribuído qualquer subsídio de convergência”. Perante estes resultados o CA reconhece mesmo que “subestimámos a capacidade de resposta e, porventura, o profissionalismo da nossa comunidade hospitalar”.
Face a este discurso bipolar entre Natal e Ano Novo, é caso para pensar que ou saiu a fava do bolo-rei ao dr. António Ferreira ou então o champanhe do “Reveillon” era de fraca qualidade. É que fez precisamente o oposto do que faria um qualquer gestor de um hospital privado. Para o exterior, envia uma imagem apocalíptica da Instituição (absentismo, improdutividade, desconfiança) internamente, de grande regozijo pelos resultados alcançados.
Com atitudes deste género não admira que “inimigos” assumidos do SNS público, como é o caso de PKM, persistam no discurso catastrofista de tudo quanto seja gestão pública. É que se este ilustre pensador nem na eficácia da lei anti-tabágica acredita, acreditaria certamente mais na eficácia da lei de má memória que obrigava ao uso de licença de porte de isqueiro, como convencê-lo que é possível reformar o Hospital Público com estratégias de discurso como a empreendida pelo PCA do Hospital de São João?
Ao que me disse, as declarações caíram como autêntica bomba na comunidade hospitalar gerando indignação geral. É que, pelo Natal, o CA tinha enviado a todos os trabalhadores uma missiva agradecendo o seu contributo pelos excelentes resultados conseguidos no ano de 2008. Em cópia que me foi enviada pode ler-se que durante o ano transacto foram atendidos mais doentes no SU, recuperadas listas de espera de consultas e cirurgia, realizados mais exames de diagnóstico e tratados mais doentes de internamento. Perante estes resultados, o CA refere “este aumento de produção obrigou-nos a uma renegociação do contrato-programa, felizmente bem sucedida, tendo como consequência que, em vez dos 12 milhões de euros de défice previsto, consigamos encerrar o ano em equilíbrio económico. Facto tão mais meritório num ano em que não nos foi atribuído qualquer subsídio de convergência”. Perante estes resultados o CA reconhece mesmo que “subestimámos a capacidade de resposta e, porventura, o profissionalismo da nossa comunidade hospitalar”.
Face a este discurso bipolar entre Natal e Ano Novo, é caso para pensar que ou saiu a fava do bolo-rei ao dr. António Ferreira ou então o champanhe do “Reveillon” era de fraca qualidade. É que fez precisamente o oposto do que faria um qualquer gestor de um hospital privado. Para o exterior, envia uma imagem apocalíptica da Instituição (absentismo, improdutividade, desconfiança) internamente, de grande regozijo pelos resultados alcançados.
Com atitudes deste género não admira que “inimigos” assumidos do SNS público, como é o caso de PKM, persistam no discurso catastrofista de tudo quanto seja gestão pública. É que se este ilustre pensador nem na eficácia da lei anti-tabágica acredita, acreditaria certamente mais na eficácia da lei de má memória que obrigava ao uso de licença de porte de isqueiro, como convencê-lo que é possível reformar o Hospital Público com estratégias de discurso como a empreendida pelo PCA do Hospital de São João?
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3 Comments:
Pedro Nunes no seu melhor
1. - Divulgação das listas de assiduidade e produtividade dos funcionários.
É uma coisa absolutamente bizarra. De repente, para dar emprego a esta gente toda que sai das faculdades de Economia e que não faz a mais pequena ideia do que é o acto médico, criou-se uma perversão que está a destruir o Serviço Nacional de Saúde
Pedro Nunes, bastonário da OM
JN, 05.01.09
2.- Um sistema interno de televisão viola profundamente os direitos humanos. Não se admire que um cidadão vá ao hospital praticar um acto que é íntimo e que seja vigiado por câmaras. Isso tem um nome: fascismo.
Pedro Nunes, bastonário da OM
JP, 05.01.09
É evidente que as palavras do Bastonário são exageradas, mas, não deixa de ser também verdade, que o PCA do HSJ se pôs a jeito.
Divulgar listas de assiduidade e produtividade individuais, mesmo que só de acesso interno, viola normas do código de trabalho pelo que outras medidas e atitudes deverão ser tomadas para resolver dois problemas efectivos do SNS. E, na minha perspectiva, tal consegue-se fundamentalmente através de dois mecanismo: motivação e discriminação positiva dos profissionais. Se a primeira é uma medida de atitude, traduzida em capacidade de liderança com tudo o que tal significa (mérito reconhecido de quem dirige, poder mobilizador, sentido de justiça …...); a segunda pressupõe a existência de formas de compensação dos melhores serviços (incentivos de grupo) e profissionais (incentivos individuais). Neste último caso tal só está previsto nos CRI cuja implementação está bloqueada, percebe-se lá bem porquê, apesar do reconhecimento dos bons resultados do único existente (CRI do Serviço de Cirurgia Torácica dos HUC) e mantendo-se em vigor a legislação que sustenta a sua criação (Decreto-Lei nº 374/99).
Decorrida praticamente uma década desde a publicação do referido decreto, pouco ou nada se avançou ao nível da organização dos hospitais para associar mecanismos de contratualização interna a incentivos materiais que levem os profissionais a fazer mais e melhor. Em vez de se reestruturem os serviços segundo esta filosofia, aumentando-se assim a produtividade em geral, de forma equilibrada e sustentada, optou-se, para resolver o problema das listas de espera (apenas nas cirurgias), por reforçar programas especiais de que o SIGIC é a última versão. Sucede que este tipo de resposta, que desejavelmente deveria ser de excepção e temporária, se tem vindo a consolidar perversamente pois a sua execução é feita muitas vezes à custa da redução da produção normal, sem que as penalizações previstas na lei se apliquem, valorizando patologias mais simples em detrimento das mais complexas.
Dizer, por último, que se não faz qualquer sentido tornar públicos dados individuais, faz todo o sentido a exigência de obrigar os hospitais a divulgar resultados em termos de morbilidade (infecção hospitalar e outras complicações) e mortalidade por patologia, à semelhança do que recentemente foi decidido pelo NHS. Desta forma será possível comparar hospitais por tratamento fazendo reflectir internamente as consequências de uma boa ou má prática clínica.
UM ESPERTO!
NÃO NECESSARIAMENTE UM “EXPERT”…
O Dr. António Ferreira para quem o (re)conhece na sua frenética e exaltada actividade como PCA do HSJ, certamente que detectou o seu aparente arrebatamento, excessivo na forma e no conteúdo, o seu temperamento simulador e comportamento de embuçado e, finalmente, a sua postura cobiçosa e imoderada. Um ser carregado de espertezas!
Como gestor as questões éticas estão-lhe arredias no seu dia a dia e pouco, ou nada, influenciam as suas ambições.
Pertence àquela "gentalha" que se define como pragmática, porque executam obstinadamente missões, não parando - nem um segundo - para questionar princípios.
A sua entrevista de Ano Novo ao JN é um exemplo de descontrolo verbal no plano dos projectos estratégicos para o HSJ e quanto aos recursos humanos de uma inabilidade e de uma homérica incapacidade de liderança.
É, neste último terreno, que faz saltar o Dr. Pedro Nunes, cheio de razão, mas como sempre truculento. Bastava-lhe evocar a legislação que regula o regime laboral e a Comissão de Protecção de Dados.
Mas o mais abstruso serão as anunciadas medidas expansionistas da área de Pediatria, com recurso a extravagantes PPP’s, com canais de TV e o que adiante se verá.
O HSJ conhece este tipo de negócios desde o célebre contracto com o BragaParques.
Por um lado este tipo de concepção concorrencial com o Sector Privado e, por outro, a apetência por parcerias com esse mesmo sector, mostram bem aquilo que o post sublinha: um carácter bipolar.
Nem sequer tenta um arremedo de sentido de oportunidade. No momento em que as PPP’s, na área da Saúde, estão a ser objecto de avaliação por parte de uma Comissão nomeada pela Ministra, nem esse facto, lhe faz refrear a sua galopante marcha.
O pragmatismo obscurece-lhe o racicinio. A vontade de protagonismo, também.
Mais adiante, atira-se a uma “requalificação hoteleira” com custos da ordem dos 82 M€, em que preconiza o regime de co-pagamento para o SNS.
Diz ter necessidade “de encontrar fontes alternativas de financiamento”.
Nesse sentido vai “abrir portas para termos espaço para quartos particulares. Serão destinados a doentes do SNS que querem ser internados, mas ficando num quarto particular. Pagam do bolso deles”
Já não ficamos pelas taxas moderadoras. Devia ser-lhe enviado um exemplar do texto constitucional.
Entretanto, para suportar estas medidas põe-se em execução um plano estratégico onde se prevê a redução de cerca de 300 camas. Assim, independentemente de qualquer estratégica global do SNS quando a camas hospitalares, dá prioridade à criação de um amplo espaço para uma futura área de negócio.
Se não for imposto tento a estas veleidades, em breve não estaremos no terreno concorrencial, mas teremos saltado a cerca e passado para o mesmo campo e tipo de negócio. Basta, por exemplo, propor um aumento do capital social da EPE, aberto a investidores externos…não institucionais.
O Dr. António Ferreira, como gestor, é um esperto mas, pelo que mostra, não necessariamente um "expert"…
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