quinta-feira, julho 18

Lembrar João Semedo

Há poucas horas, na Casa do Alentejo, num jantar promovido pelo BE para lembrar João Semedo, disse isto:  Se bem o conhecia, do que o João gostaria nesta altura era que, mais do que estivéssemos a falar dele, falássemos do que ele andou a fazer nos seus dois últimos dois anos de vida, juntamente com António Arnaut. Por isso, João, como nos conhecemos há bastante mais de quatro décadas, ainda antes do tal dia, é sobre isso que me dirijo a ti e aos teus amigos, hoje reunidos para passarem o serão contigo.
Poderíamos estar aqui a lembrar e celebrar a tua militância, mas se não lhe juntássemos a razão próxima dessa militância, não seria a mesma coisa. É que não nos perdoaríamos se não tivéssemos aproveitado a oportunidade única que representaram estes quatro anos para voarmos acima das nossas possibilidades e mesmo assim termos conseguido. Embora outros nos tivessem dito que não valia a pena, que era uma tarefa votada ao fracasso, que o que estava, estava bem, mesmo assim passámos-lhes a perna e ali nos mantivemos, uma vez mais, sempre uma vez mais, a dar a cara por aquilo que valia a pena. Tínhamos a lição bem estudada e nem os pormenores foram deixados ao acaso. Havia a consciência de que se tratava de um combate cujas consequências iam além do desfecho imediato. Era o teste de consistência ao espírito dos acordos de 10 de Novembro. Também por isso tínhamos de ganhar. Também, o que é raro entre nós, gente das esquerdas, não nos andámos a atropelar uns aos outros. Não precisámos do notário para que cada um soubesse o que tinha a fazer e fizesse o que tinha a fazer. Como naquele verso "aprendemos a seguir acertando a direcção". Sublinho, acertar mas não mudar de direcção. E foi isso que se fez na altura em que tinha de ser feito. Diria mesmo, no preciso momento em que as circunstâncias nos convocaram para o acerto de direcção. Nisso fomos exemplares. E foi porque levámos à letra o princípio " de cada um segundo as suas possibilidades", que chegámos aqui unidos e dispostos a fazer o resto do caminho. Espera- nos a azáfama de outros tantos dias, do ir e vir, de mesas redondas e quadradas, de plateias e plenários. 
No entanto, o mais importante mesmo, agora que chegámos aqui, com este desfecho, é estarmos preparados para exigir o cumprimento do que ficou escrito em cada linha do que ficou consagrado. Sem isso, o que andámos a fazer terá sido "um esforço inútil/um vôo cego a nada", havia de nos dizer o Reinaldo Ferreira. Para isso continuamos a contar contigo. 
Vai daqui aquele abraço, e vamo-nos vendo por aí.
Cipriano Justo in facebook

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domingo, julho 29

Notícias sobre o SNS a la Expresso

Percentagem do PIB atribuída aos cuidados prestados nas unidades de saúde é menor do que nos anos da crise.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) mereceu em 2018 a menor parte da riqueza nacional dos últimos 15 anos, apenas 4,3%. Nem durante os piores anos da crise, 2012 e 2013, a percentagem do produto interno bruto (PIB) foi tão pequena. A denúncia é feita pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, com base em dados da Conta Satélite da Saúde, confirmados pelo Expresso.
Vera Lúcia Arreiogoso , semanário expresso 21.07.18 link
 Notícias sobre o SNS a la Expresso: - se o orçamento do SNS for cortado em 2% mas a economia cair 3%, o orçamento da saúde aumentou (porque a despesa em % do PIB aumenta); - se o orçamento da saúde for aumentado em 2% e a economia crescer 3%, o orçamento da saúde diminuiu (porque a despesa em % do PIB cai). link
Diz que é informação da boa e da séria. O Expresso decidiu inovar no jornalismo económico. Então, é assim: as notícias sobre a dívida pública são dadas em valores nominais, ignorando que o que interessa é a dívida em % do PIB, porque é esse indicador que nos dá a relação entre a dívida e a capacidade de pagar essa dívida; e o orçamento do SNS, apesar de ter o valor mais elevado de sempre, é dado em % do PIB. Acontece que no SNS, ao contrário do que acontece na dívida pública, haver mais x de despesa (mais médicos, mais enfermeiros, mais camas) é mesmo mais x de despesa e de recursos, seja o PIB mais alto ou mais baixo. Na dívida não, porque dever mil quando se ganha um milhão não é o mesmo que dever mil quando se ganha mil. Enfim, pormenores pouco relevantes para o Expresso, que parece mesmo empenhado em desinformar.
 João Galamba in facebook link
 O financiamento da Saúde tem crescido não tanto quanto desejaríamos e as necessidades o determinam: «A despesa total consolidada do Programa da Saúde prevista para 2018 é de 10 289,5 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 2,4% (239,1 milhões de euros) face ao estimado para 2017 e a um aumento de 4,4% (360,2 milhões de euros) face ao orçamento de 2017.» OE18, página 144 link
Por sua vez, segundo a Conta Geral do Estado de 2017, o orçamento consolidado do Programa da Saúde de 2017 (realizado), totalizou 10 334,2 milhões de euros, 5,58% superior ao de 2016 (9 788,4 milhões de euros). link
É à volta destes valores que nós temos de ver o que irá acontecer relativamente ao OE da Saúde 2019. Contas a "La Expresso" só servem para confundir. Ignorância ou combate político de baixo nível.

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sábado, maio 3

Reforma hospitalar à Macedo

A montanha pariu uma portaria
Depois da nomeação de  vários  grupos de trabalho para a reorganização hospitalar e  das urgências,  múltiplos relatórios, estudos e mais estudos  contratados a consultoras privadas, Paulo Macedo decidiu-se, mui  discretamente (como quem não quer a coisa), pela publicação de uma simples  portaria (82/2014) link
Tanta descrição dá para desconfiar
Efectivamente, segundo a agenda do ministro, estará em jogo um ambicioso projecto de emagrecimento da rede de serviços públicos de saúde,  mobilidade e despedimento de milhares de profissionais do SNS, tudo concluído  até Dezembro de 2015. Objectivo para o corrente ano: contribuição para a poupança de 207 mil euros prevista no DEO 2014-2018. link
Bola de saída
Para já a portaria 82/2014 limita-se a propor nova  «categorização dos hospitais e definição da respetiva carteira de valências»  através da criação de quatro grupos consoante a base populacional e serviços definidos para a respectiva área de influência.
Sindicatos apelam à luta de profissionais e utentes
Face à publicação da portaria,  entendida  como acção deliberada  para fugir à discussão e negociação da reforma hospitalar, e preferência do ministro pela pega de cernelha, os sindicados preparam-se com afã para a pega de caras, sabendo-se que Paulo Macedo não sobreviverá às próximas eleições. Amen. link


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segunda-feira, maio 14

O cerco aperta-se

Subida de taxas moderadoras leva portugueses aos hospitais privados.
O aumento das taxas moderadoras está a levar a uma transferência de doentes das urgências dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para os privados. No primeiro trimestre, enquanto os hospitais públicos realizaram menos 6,7% atendimentos, o sector privado registou um acréscimo de utentes de 15% nas urgências.link

Nos seguros de saúde, o ligeiro crescimento é sustentável?
É. Neste momento, por razões orçametais, há dificuldades de financiamento do Sistema Nacional de Saúde (SNS), o que faz com que o Estado tenha limitações que podem propiciar que, a preços semelhantes aos que estamos a praticar, a diferenciação (dos seguros de saúde) em relação ao SNS é cada vez menor. Porque o que eu tenho de pagar a mais é, em termos relativos, cada vez menor. Isso justifica que as pessoas que querem ter liberdade de escolha e mais serviço, possam escolher mais os seguros. É o que temos vindo a assistir.
Entrevista do presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), Pedro Seixas Vale JN 02.05.12 link

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domingo, janeiro 3

2009 um Ano para Esquecer ...

Caros Amigos chegamos ao fim de 2009 num quadro de completa desilusão. Muitos de nós acreditaram, em 2005, num projecto mobilizador de transformação da sociedade e de modernização do país. Parecia evidente que o PS sob a direcção de JS tinha condições para fazer o país avançar libertando-se da teia dos interesses e rompendo com as capturas corporativas.
Também na Saúde tal pareceu possível. Puro engano.
O primeiro sinal foi-nos dado pela saída intempestiva de ACC. A partir daí foi ganhando espaço o tacticismo puro. Chegou-se ao ponto de desbaratar uma maioria absoluta em nome da determinação e do afrontamento aos interesses corporativos dos professores. Não escondendo o temor pela perda potencial do poder JS, entretanto enredado em sucessivos e insuportáveis casos, foi recuando até se fechar, isolado do país e das pessoas, na redoma protectora do seu núcleo duro. Este por sua vez há muito que perdeu a noção do país real. Há demasiado tempo que se acolitaram no aconchego dos gabinetes tendo perdido o contacto com o povo.
O “novo” governo espelha a agonia de um líder que há muito perdeu o país e começa a perder o partido. JS convenceu-se que era inesgotável o filão do faz-de-conta e das manobras de diversão tendo optado por substituir a estratégia e a determinação pelo jogo político dos “esquemas” e das aparências. Convenceu-se que podia dominar o país através do seu núcleo duro e desistiu da acção política nos diferentes ministérios. Intuiu que o efeito AJ, pré-pandémico, poderia ter réplicas de sucesso noutros ministérios.
O resultado está à vista na confrangedora maneira como Isabel Alçada tenta desempenhar o papel de secretária particular de JS para os assuntos de Educação (tal como já tinha sido ensaiado com AJ) e na perturbadora inconsistência política da equipa ministerial.
Quanto à Saúde nada de novo. Confirma-se o desastre.
Buraco orçamental como nunca visto. Avaliação dos CA´s nem pensar. FR nunca o quis aplicar porque iria tocar muita gente que lhe é próxima. É mais fácil queimar dinheiro em despesa corrente que deveria antes ser utilizado em reestruturação e em investimento. Com o desplante de se fazer passar a ideia de que 70 milhões representam alguma coisa em 1000 milhões. Curiosamente são aqueles que nunca quiseram avaliação que são agora brindados com este prémio de (mau) desempenho.
Os próximos meses acentuarão a deriva da política de plástico baseada em sucessivas e permanentes manobras de diversão. Na reforma dos HH’s aparecerá um grupo de “peritos” escolhidos a dedo para não levantar ondas nem acabar com nenhum tipo de preocupação de AJ. Manter-se-á a pequena política. O primum non nocere dos amigos e dos conhecidos. Fazer umas coisas para dar a crer que se tem uma estratégia. Um PIO aqui outro ali. Uma carrinha de cuidados continuados aqui uma USF acoli. Se a coisa se complicar pode ser sempre anunciada uma nova Faculdade de Medicina no Garcia de Orta para formar duas dúzias de médicos. Se o Tribunal de Contas voltar a pôr o dedo na ferida na “grande bouffe” do SUCH SOMOS as assessorias encarregar-se-ão de espalhar aos quatro ventos que o TC é uma força de bloqueio que faz evitar poupar muitos milhões que comprometem a sustentabilidade do SNS (omitindo o facto de estar há anos apenas e só a derreter milhões).

O ano de 2009 foi um ano da maior desilusão. O país precisa de um ciclo político novo com gente nova, séria e decente.
UM grande 2010 para o Xavier e para todos os amigos do SaúdeSA .

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quinta-feira, dezembro 24

(des) tapar o Sol com a Peneira ...


…”A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a ponderar abrir o capital da sua participada HPP – Hospitais Privados de Portugal, que é dona dos hospitais de Cascais, Lusíadas (Lisboa) Boavista (Porto), de Lagos, Faro e Sangalhos, avança a edição do SOL desta quinta-feira. Esta decisão prende-se com a difícil situação financeira da empresa, resultante de problemas de gestão. Segundo soube o SOL, o banco estatal já sondou, inclusivamente, os grupos Mello e Espírito Santo, dois operadores na área da Saúde. «A CGD ainda não tem qualquer decisão tomada», disse ao SOL fonte oficial do banco público, admitindo que «a abertura do capital a um parceiro é uma das possibilidades em cima da mesa» ”…
...
Depois de andar anos a fio a construir um tigre de papel com projectos megalómanos desprovidos de qualquer tipo de viabilidade económica o grupo CGD HPP afastou o principal mentor e enveredou por uma estratégia baseada em jogos de influências em detrimento de uma abordagem de gestão empresarial. A escolha deste caminho talvez tenha sido feita para melhor “convencer” o grande financiador Estado a fazer acordos e parcerias que suportassem o embuste do modelo e a fragilidade da gestão. Os anos foram passando e os prejuízos tornaram-se indisfarçáveis e insuportáveis. Na impossibilidade (mais barata) de mudar de equipa técnica optam por vender o Estádio e o Clube (a força que ainda têm as sociedades e as amizades semi-secretas…).
A história irá acabar como há muito tempo muitos de nós antevimos. Um dos dois grupos, verdadeiramente, profissionalizados (JMS e BES) irá incorporar os despojos desta aventura subordinados apenas, pela certa, por uma cláusula de salvaguarda: a perseveração dos imensos administradores e directores que entretanto se foram abrigando no conforto suave dos impostos que a todos nós vão sendo, rigorosa e fielmente, cobrados.

Um Feliz Natal para o Xavier e para todos os amigos do SaudeSA com Votos de que em 2010 o Xavier continue a dinamizar este espaço de livre pensamento
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terça-feira, novembro 3

Dúvidas


As reformas no sistema de saúde têm, infelizmente, uma taxa de sucesso muito reduzida. A organização dos diferentes interesses consegue, na maior parte dos casos, anular as estratégias de mudança acabando, quase sempre, por anular os movimentos de transformação. Não deixa, por isso, de ser curioso confundir acalmia com eficácia política, ao mesmo tempo que se associa a turbulência mediática e a contestação das corporações a incapacidade governativa.

Na história da democracia portuguesa todos conhecemos as consequências económicas, sociais e políticas do diálogo pelo diálogo e da obsessão com a imagem e o silêncio das corporações e dos interesses. A questão que se coloca é se um governo ou um ministro devem ser intérpretes de um conjunto de estratégias eleitoralmente sufragadas e consequentes executores de políticas de interesse geral ou, se pelo contrário, deverão ser agentes reguladores dos interesses sectoriais ou corporativos das áreas que tutelam.

Esta dúvida estará na génese da transmutação política de Sócrates ao passar da determinação reformista, da atracção pelo afrontamento e pela ruptura para a fase oposta em que o núcleo político se fecha e os Ministérios não estratégicos enveredam pelo registo do “chá e simpatia” deixando o “controlo político” a secretários de estado de “confiança” do referido núcleo político cuja missão é “enquadrar” politicamente os “ministros simpáticos”.
Fica claro, neste cenário que o tempo das reformas acabou que a palavra de ordem é resistir e distrair. Na saúde também será assim. É claro que esta situação constitui um enorme deleite para os “conservadores” situacionistas que até sonham poder salvaguardar a liderança política “entretendo” o país e o sistema com “remodelações” de dirigentes como se o problema não fosse as estratégias e as políticas.

A fatalidade de tudo isto, infelizmente, é que a degradação do SNS se acentuará, num quadro de exaustão financeira abrindo caminho para que a direita quando regressar ao poder, daqui a dois anos, concretize o desmantelamento do SNS em cima de evidência técnica, económica e financeira que lhe será entregue de bandeja pelos “arautos” da acalmia. Os mesmos que persistem em confundir carreiras com regimes de trabalho, despesismo com inevitabilidade, sustentabilidade com economicismo, os mesmos que persistem em perpetuar poderes imobilistas e que têm uma visão do SNS que está fora do seu tempo há pelo menos mais de vinte anos. Pouco importará proclamar laudas acusatórias, a partir de Coimbra ou de qualquer outro ponto de país, contra a privatização destruidora do SNS porque esses mesmos incorrem na responsabilidade de a favorecer quando mostram não compreender a importância de reformar, transformar e modernizar.

Os próximos tempos vão ser muito difíceis. A “confusão” persistente entre a agenda técnica e a agenda política no caso da gripe A, a cedência a troco do silêncio e a desistência de uma agenda reformista afundará o resto de esperança que ainda muitos alimentavam. No plano da contestação social aqueles que teceram loas à acalmia constituindo-se nos maiores aliados passarão, rapidamente, na rua, a ser os principais algozes quando confrontados com a impossibilidade material de satisfação integral dos seus interesses.
Quanto ao resto o Antunes é muito claro na premonição do inevitável…
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terça-feira, setembro 22

Desespero e Propaganda


No DN de hoje a jornalista presta-se a uma espécie de “frete” num tempo em que parecem estar na moda as “encomendas” aos jornais. link

Vista que está a dificuldade do PSD e da sua líder de “vender” a ideia de retalhar o SNS a fim de salvar o desespero dos grupos privados em busca do financiamento público as “agências de comunicação” acentuam o seu movimento. Vai daí “inventa-se” uma “notícia” com um título abrasivo com honras de chamada à capa: …”Número de médicos em exclusivo no privado dispara”…Desvalorizando o facto (referido pela própria jornalista) de trabalharem no SNS mais de 23000 médicos dos quais cerca de 51% em dedicação exclusiva a “notícia”-“artigo” prossegue no serviço à propaganda. link

Atentemos nas “subtilezas”: …”O Serviço Nacional de Saúde está com falta de médicos e muitos estão a chegar à idade da reforma. Mas os privados já absorvem uma fatia relevante dos recursos médicos. As principais unidades já têm mais de 700 clínicos a trabalhar a tempo inteiro. O número de médicos que abandonou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para ir trabalhar para o sector privado disparou nos últimos anos. Só as principais unidades dos três maiores grupos privados do País empregam hoje mais de 700 médicos a tempo inteiro, apurou o DN, um número que tem crescido "sobretudo nos últimos cinco anos", conta Isabel Vaz, presidente da Espírito Santo Saúde”…
Vale a pena enfatizar que estamos a falar de cerca de 4% dos médicos que trabalham no SNS…

Depois é a “cassete” habitual da JM Saúde. Da Engª. Isabel Vaz e do inenarrável Dr. Boquinhas: as melhores tecnologias, os melhores profissionais, etc… Diz a certa altura a Engª Isabel Vaz: …"O salário não é nem de perto nem de longe o mais importante. Um médico raramente decide ficar connosco pela questão monetária", omitindo a série longa de entradas e saídas, os sucessivos “casos” conhecidos e menos conhecidos…

Depois a grande dinâmica: …”Os três grupos têm uma fatia de 65% a 75% da facturação total do sector privado. Em 2008, os resultados dos três ascenderam a 527 milhões de euros em 2008”… o que equivale ao volume de actividade de dois ou três hospitais públicos de média dimensão.

A Engª. Isabel Vaz fala também em qualidade de vida: "Os médicos querem trabalhar apenas num sítio e acabam por escolher cada vez mais ficar no privado. E aqui têm boas condições e estruturas sofisticadas", conclui”… De facto contam com um excelente apoio técnico, de formação e suporte financeiro dos hospitais públicos. O que seria deste “eldorado” se o Estado garantisse a separação dos sectores e evoluísse nos hospitais para modelos de gestão inovadores?

Relativamente aos postulados do Dr. Boquinhas não valerá muito a pena levá-los a sério pelas razões que todos conhecemos.

Fica, no entanto, claro que o desespero é real. As agências de comunicação não vão parar até às eleições. Propaganda falaciosa sobre os negócios da saúde e ataque sistemático e brutal ao SNS.
Estejamos atentos…

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domingo, maio 10

A República das (dos) Bananas...

art work prescrire
Ontem à noite, (08-05-09) a TVI passou no Jornal da Noite uma reportagem, de quase quinze minutos, que ilustra bem o clima de fantasia que se vive no sector da saúde e, em particular, na área do medicamento. O país teve a oportunidade de ver o despudor e a falta de seriedade a que o negocismo e a venda de prescrição conduziram a profissão médica em Portugal. O que vimos foi o relato fotográfico feito por uma empresa (J Neves) sem quaisquer pergaminhos de prestígio (antes pelo contrário) na investigação e no desenvolvimento. O que vimos foi a imagem degradada e ridícula de médicos de família (a brincar aos piratas) numa fingida participação, num suposto congresso, cujo programa oscilava entre Kuala-Lumpur, praias paradisíacas, jantares dançantes e cujo tema “científico” dominante era o “dia livre para actividades particulares”. Um dos médicos entrevistados referiu que, por ano, ia a mais de dez congressos. Uns de Ginecologia outros de Diabetes e assim por diante (naturalmente em função do número de genéricos de marca que prescreve e com a provável finalidade de ir aferir as últimas novidades da comunidade científica sobre esses mesmos genéricos num qualquer resort tropical de cinco estrelas).

Ao que sabemos em 2006 (data desta paródia) já o novo quadro legal estava em vigor. Ficam por isso aqui algumas perguntas:
˜ O Ministério Público terá visto o Jornal da Noite?
- O MS poderá divulgar publicamente quais as comissões gratuitas de serviço (pagas pelos contribuintes) concedidas aos profissionais que participaram neste evento? Poderá divulgar a lista de comunicações (Orais e Escritas)? Poderá divulgar os Relatórios de Participação em Evento Científico? Poderá divulgar se neste evento estariam (por mero acaso) médicos com funções dirigentes na estrutura do MS (DGS, ACSS, Unidades de Saúde)?
- Poderá divulgar o perfil de prescrição de medicamentos comercializados pelo laboratório J Neves pelos diferentes participantes?
˜ E já agora o Infarmed (qual musa subitamente acordada) poderá interpelar o laboratório por esta prática e fazer aplicar a lei?
- Ou será que o laboratório J Neves é um daqueles que comercializa os genéricos (de marca) com os excipientes, as cores e as formas que mais confianças dão aos médicos?
˜ E o Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos não se sentirá envergonhado pelo desprestígio a que tem vindo a conduzir a profissão médica?
˜ Será que o Ministério da Saúde, Ordem dos Médicos e a Apifarma podem colocar online nos respectivos sites a lista de todos os médicos (pelo menos os que trabalham no SNS) que participam em Congressos ou outro tipo de acções de “Formação” sempre que haja envolvimento financeiro da IF? Será que o MS pode publicar o relato escrito destas participações “científicas”?
˜ Será que o Infarmed, finalmente, se dá conta do papel a que se tem prestado? Será que poderá explicar as centenas de registos de cópias e genéricos, a falta de firmeza na garantia absoluta de qualidade de todos os medicamentos a quem concede AIM? Será que algum dia será capaz de fazer cumprir a lei e atenuar a promiscuidade entre a IF e alguns médicos?

Tudo isto acontece (está impresso nos livros da história) quando o poder se fragiliza, não se exerce, se acomoda… As tribos emergem, reforçam a captura do sistema e a política vai morrendo às mãos dos interesses…Um Estado frágil, sem autoridade, sem rigor, incapaz de dar o exemplo é um Estado doente.

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sexta-feira, março 6

Smart Operators


As declarações de SM link não se devem ficar, apenas, pela mera interpretação da “espuma” retórica sobre a grande ameaça que paira pelo país fruto da alegada, tão inopinada quanto inoportuna, “viragem à esquerda" em matéria de política de saúde.
É preciso ir mais fundo e conhecer, com detalhe, as verdadeiras inquietações dos grupos privados que investiram, sem norte nem sensatez, na fundada esperança de que, mais tarde ou mais cedo, parte do apetitoso bolo de mais de oito mil milhões de euros lhes iria cair nas mãos.

Em boa verdade, o argumento, a coreografia e os “artistas” tudo faziam prever que tal iria, acontecer. Bastaria, para tal, contar com um ou outro ex-político nos quadros, uma adequada intermediação das consultoras e dos escritórios de advogados mais apropriados, umas boas agências de comunicação e uma boa montagem do script de lobbying.
Esta percepção resulta da simples observação do “modus operandi” de cada um dos principais grupos e da leitura de um ou outro jornal para, rapidamente, captar os diferentes pictogramas que compõem o filme.
Ainda hoje, um semanário, reincide numa en-sol-arada crónica sobre a dramática temática dos doentes com cancro perdidos em intermináveis listas de espera enquanto o (sacrificado) sector privado persiste de braços abertos, sub-utilizado, refém desta estratégia “maldita” de primeiro esgotar a capacidade instalada no sector público.
É claro que não sabemos até quando o efeito destas persistentes, periódicas e repetidas crónicas que resultam de ”alianças”, bem conhecidas no meio, não quebrarão (finalmente) esta tão incomodativa resistência do sector público.
É que há sempre o perigo de fazer repetir, nesta e noutras áreas, a experiência do PIO (Programa de Intervenção em Oftalmologia) e, recorrendo, apenas ao sector público, resolver de uma penada mais um conjunto de crónicos problemas. E este é apenas um dos reais motivos de preocupação dos grupos privados. Tendo apostado, quase tudo, na captura do diagnóstico e tratamento do doente oncológico veêm retardar, dia após dia, o retorno do investimento em equipamentos e em recrutamento de profissionais.

Quando SM diz: …” Esta realidade que resulta da livre escolha e da procura crescente dos cidadãos não é contudo tida em consideração pelos poderes públicos os quais, por força de condicionamentos preconceituosos não têm feito um melhor aproveitamento das potencialidades do sector privado na prestação de cuidados e consequentemente na optimização do sistema nacional de saúde”… em boa verdade não saberá muito bem o que diz.
Compreende-se contudo o desespero. As unidades que integram o seu grupo começam a sofrer o efeito da perda da almofada Amadora-Sintra e a estratégia agressiva da BES Saúde tem feito o resto. A isto acresce a dinâmica brutal de anulação de seguros (individuais) de saúde, principalmente, por falta de pagamento fruto da crise económica que o país vive.

Mas não são apenas estes (tão importantes) factores que enervam SM e o fazem produzir a blague verbosa da “viragem à esquerda”. É que ao nível dos CSP a experiência das USF tornou inviável, por muitos anos, a destruição e a privatização desta tão importante área de prestação de cuidados. E, pior ainda, sinalizou quão fácil é, afinal, através da alteração do modelo de organização e de responsabilização dos profissionais transformar, radicalmente, o sistema com claríssimos resultados ao nível da satisfação dos utentes e dos profissionais.

A replicação deste tipo de reforma nos outros níveis de cuidados constituirá o verdadeiro toque de finados nas ambições e na estratégia dos smart operators.

No meio de tudo isto não deixa de ser penosa a “lenga lenga” de que o Estado se deve remeter ao papel de regulador (que tão bons resultados deu na experiência Amadora-Sintra) e “libertar os tais oito mil milhões de euros para a “dinâmica” iniciativa privada.

É hoje claro, para todos, que o esforço de propaganda das virtudes privadas começa a perder efeito. Compreendemos a aflição gerada pelos “buracos” em que se encontram GPS e HPP. Compreendemos, igualmente, a ansiedade da JMS pelos sinais que lhe chegam em cada dia que passa.

O que é facto é que a reforma dos CSP está no bom caminho. A rede de CCI prossegue o seu desenvolvimento. A sustentabilidade económica e financeira do SNS tem sido mantida. O acesso tem sido melhorado e as listas de espera diminuídas.
Se ao nível político houver coragem e decência o SNS terá reencontrado o seu caminho. Basta para tal que os “amiguismos” e as “cumplicidades” não façam vencimento. Que a política seja nobre, transparente, séria e feita apenas em nome do interesse público.
Os dados recentes do último trabalho do Prof. Villaverde Cabral são muito claros quanto à reconquista do espaço, do prestígio e da confiança do SNS junto dos cidadãos.
Bem podem vir os smart operators com estudos taillor made” tipo Power Health ou Amadora-Sintra”.

É pena que a ideologia não seja ainda mais segura, consistente e coerente na acção política. Em boa verdade as PPP’s de Braga, Cascais e Loures deveriam ter caído no exacto momento em que caiu o contrato do Amadora-Sintra.

Se houver coragem e decência o SNS terá futuro.

O Estado deverá, com efeito, sem nenhum tipo de hesitações, retirar da sua capacidade instalada tudo aquilo que pode retirar. E ao deixar de comprar fora retirará o tapete aos smart operators que jogam nos dois tabuleiros e que, cinicamente, ameaçam com a fuga maciça para o privado. Embora esta fuga faça lembrar a lógica propagandística com que, recorrentemente, se anunciam nos jornais económicos as imensas e esmagadoras vagas de investimento em unidades privadas (que nalguns casos por junto não chegam à dimensão de um departamento de um grande hospital público) não deixa de ser revelador da estratégia de corrosão persistente que pretende ser criada.

Consolidar a reforma dos CSP, ampliar a rede de CCI, promover a reforma do modelo organizativo dos HH’s conferindo poder e autonomia aos profissionais, resolver, prioritariamente, os problemas ainda existente de listas de espera no SNS recorrendo, se necessário, a programas específicos no interior do SNS, investindo e centralizando no seio do SNS o diagnóstico e o tratamento do cancro, criando condições para a delimitação clara dos sectores e, finalmente, delimitando a capacidade de intervenção dos “smart operators” especializados em “agilizar” pontes entre o sector público e o sector privado e que têm sido os grandes responsáveis pela tentativa de desarticulação e destruição do sistema.

Em síntese, coragem política, transparência, determinação, espírito de missão no cumprimento do dever de servir o interesse público.
A crise económica e financeira ensinou-nos tudo o que precisávamos de saber para que de uma vez por todas possamos separar as águas entre aqueles que ainda acham que a saúde é um mero negócio e aqueles que acreditam que a saúde é uma das obrigações públicas mais relevantes do Estado social.
Se isto é virar à esquerda viremos então à esquerda.

sns

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quinta-feira, fevereiro 12

Assim, prossegue a crise...

Ricardo Salgado, anunciou um aumento de capital do banco, que este ano apresentou pesada diminuição dos lucros. Na mesma conferência de Imprensa, a engenheira Isabel Vaz, anunciou novos hospitais e readaptação de outros já existentes - Porto (novo), Arrábida, Cliria (Aveiro) e a ampliação das instalações do Hospital da Luz .../

Nada melhor para justificar, perante os accionistas e depositantes (mais) um aumento de capital compensador das diatribes financeiras do que, ao mesmo tempo, abrilhantar a “cerimónia” com umas pinceladas de “responsabilidade social”. Já Miguel Cadilhe tivera, há poucas semanas, o mesmo instinto fatal. Para compor o tsunami financeiro da mega fraude cuja sigla oscila entre SLN e BPN também, Miguel Cadilhe veio proclamar a aposta “estratégica” na saúde. O Grupo Caixa não tardará a fazer o mesmo a curto prazo. “Entalado” entre os indisfarçáveis resultados negativos dos HPP e a continuada injecção de capital no BPN (uma espécie de Banco dos Irmãos Metralha), também o Grupo Caixa se sentirá tentado a dizer que vai comprar mais umas dezenas de Clínicas ou Sub-Sistemas falidos, semi-falidos ou em vias de falir.
É assim… O sector da saúde converteu-se numa espécie de “washing machine” dos grupos financeiros.
Alguém que esteja no sector acredita nisto?


É óbvio que o sector privado não está imune (antes pelo contrário) à gravidade da crise económica que tem vindo a destruir o rendimento das famílias. O que se vê é um imenso circo de “fugas para a frente” em que um conjunto semi-organizado de engenheiros vai convencendo os “pobres” dos accionistas de que a saúde é o “negócio” do futuro. Todos sabemos o “imenso gozo” que dá ter um hospital ou uma clínica e meia dúzia de médicos disponíveis para atendimento diligente 24 horas por dia.
É óbvio que se a ADSE respondesse pelo dinheiro público que desbarata, se as deduções fiscais na saúde não fossem “únicas” na Europa, se os seguros de saúde se regessem por bons princípios de “governo” técnico, económico e financeiro e acabassem as “carteiras” ruinosas, este louco eldorado teria um fim tão trágico quanto teve Wall Street.
Mesmo com a ajudinha da Entidade Reguladora da Saúde (principal partner da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada), dos “envergonhados” e comprometidos regimes de convenções, do concubinato público-privado.

É claro que do lado público a fragilidade das políticas é evidente. Basta ver a irresponsabilidade com que foi deixado prosseguir a PPP de Braga com a José de Mello Saúde. Foi pena o MS não ter retardado mais a negociação que o Grupo Mello ainda pagaria para ficar com o Hospital de Braga. É que os Ministros e os Governos (felizmente) mudam tanto que os contratos facilmente se renegoceiam. Basta ter os “lobbistas” certos nos lugares certos…
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sábado, novembro 22

Estranheza ...


- Qual a finalidade deste grupo de trabalho? link
- Validar a retoma da opção das PPP's com gestão clínica?
- A partir do estudo desta "micro-experiência" de São Brás de Alportel?
- Porque não estudar também a Linha Saúde 24?

Há aqui algo de estranho...

Seria, absolutamente, extraordinário que em tempo de "simulacros" estivéssemos perante um ensaio de marcha à ré para devolver de novo o capital perdido aos grupos financeiros tão exauridos que estão nas suas apostas na saúde.

BPN's e BPP's fazem-nos lembrar a metáfora do "gato escaldado da água fria tem medo"...

É que a circulação de "vectores" entre os sectores público e privado tem, como único, objectivo fazer "aquilo que é necessário fazer".

Apesar de tudo não acreditamos que o resultado do estudo sobre São Brás de Alportel servisse para renegar a opção política (séria) feita há cerca de oito meses.

No entanto nunca nos deveremos esquecer de, que embora, no lo creamos en brujas pero que las ai, ai"...

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domingo, novembro 16

Assim vamos...de política de saúde





Eng.ª Isabel Vaz, sempre divertida…
A propósito das anunciadas medidas legislativas do Governo relativas à saída de profissionais de saúde do SNS
link a Engª Isabel Vaz, em entrevista ao Tempo Medicina, explicou que a forma de segurar os médicos são «políticas próprias» que cada organização deve desenvolver «para atrair, motivar e reter os profissionais de elevada diferenciação» considerando que essa estratégia «não se faz com a legislação», mas sim com a tentativa da organização, internamente, «perceber porque é que está a perder [profissionais]» e com as correcções dos motivos que os levam a querer sair. «Não é uma coisa que se faça por decreto», frisou. Isabel Vaz exemplificou com as muitas vezes que tem de responder à pergunta sobre se o sector privado é o culpado da saída dos médicos do público: «Respondo que os hospitais públicos de onde saem esses profissionais é que devem perguntar-se a si próprios [o porquê da saídas]».

Sempre divertida e bem disposta, a Engª. Isabel Vaz falou na qualidade de ilustre dirigente de um Hospital privado que, em matéria de entrada e saída de profissionais, é um verdadeiro catavento. Há quem diga até que face ao turnover de entradas e saídas a porta principal deveria ser rotativa…
Mas como tem imenso fair-play veio dar “aulas” ao sector público sobre como motivar e reter profissionais. Ficamos-lhe muito agradecidos…

Espantoso…
Pedro Pimentel apresenta critérios de inclusão na referenciação hospitalar
link
Privados podem integrar rede oncológica
O coordenador Nacional para as Doenças Oncológicas quer estabelecer requisitos para a integração das unidades na rede nacional de referenciação hospitalar de Oncologia e defende que estes têm de ser cumpridos tanto pelo público como pelo privado.
Agora, atendendo às novas realidades, nomeadamente aos «novos hospitais», à constituição dos «centros hospitalares» e à «actividade crescente dos privados» na área assistencial oncológica, é necessário um novo olhar para a rede e ponderar mesmo a «eventual» integração do sector privado.

Há mesmo necessidade urgente de transferir fluxos financeiros para sossegar a aflição dos privados.
Quanto à desnatação e desmembramento do sector público, ao risco de atomização das competências e à “mercantilização” de uma área tão sensível o Sr. Coordenador nada diz…

SNS

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