"Meias-Tintas"...
Numa coisa Manuel Alegre link tem razão - não há nada pior, na política, do que as "meias-tintas". Mais cedo ou mais tarde paga-se o preço de não falar claro e de não ser eficaz.
Infelizmente, na saúde, não se tem conseguido dar um bom exemplo. Passou-se de uma fase de fúria desnorteada e desnorteante que transformou o sector num imenso campo de batalha em que a estratégia se afigurava errática, impulsiva e incompreensível para uma fase que se pode caracterizar como uma espécie de “morrinha” sensaborona e inconsequente. Da fase do impulso passou-se para a fase do “faz de conta” como se fosse possível supor que se conquista a confiança dos portugueses calendarizando a inauguração semanal de meia dúzia de camas de cuidados continuados ou o persistente lançamento de “programas” mais ou menos esotéricos que nada dizem à população
O que é mais espantoso é vermos a dificuldade em afirmar, claramente, uma política de saúde suportada em escolhas claras e na eficácia das políticas públicas. Ao invés observamos na política do medicamento um serpentear estonteante entre avanços e recuos, piscar de olhos em dias alternados à IF ou à ANF, agências de comunicação (LPM) a mediarem políticas de saúde, desacertos entre secretários de estado (da Economia e da Saúde), medidas “ad hoc” de natureza demagógica entre muitos outros absurdos. Prevalece a ambiguidade que começa no fim do contrato do HFF, na tolerância inexplicável das intoleráveis diatribes da Linha S 24, na entrega das PPP’s aos grupos privados. Afirma-se que, em caso extremo, não se recorrerá a um hospital privado e a seguir vê-se com bons olhos internatos médicos nos HH’s privados. Abomina-se o acordo da ADSE com o Hospital da Luz e a seguir o Ministério das Finanças faz acordo com o Hospital dos Lusíadas. Enquanto isto a ADSE continua, impávida e serena, a agravar o calote aos HH’s públicos comprometendo, por parte dos HH’s públicos, o cumprimento do Programa Pagar a Tempo e Horas criado pelo próprio Ministério das Finanças, Persiste-se em endeusar as USF’s assobiando para o lado perante o descalabro dos “velhos” Centros de Saúde agora retocados de ACE’s. Finge-se com exercícios de “animação” electrónica que mais de 500.000 pessoas não têm médico de família ao invés de libertando mais recursos financeiras negociar o alargamento das listas (o que resolveria de imediato o problema)
Critica-se a contratação de empresas (pondo anedóticos limites ao preço/ hora) nada se fazendo para incentivar a não reforma dos médicos com 55 anos ao mesmo tempo que se festeja o “grande feito” de fechar o dossier carreiras médicas na base das 35 horas facilitando assim a vida ao sector privado que pode continuar a dispor de terreno fértil para recrutamento no sector público, omitindo o impacto que tal medida vai ter no recurso ao trabalho extraordinário e no recurso às referidas (malditas) empresas.
É por estas e por outras que o PS está a ser penalizado.
Pode ser que tenha aprendido alguma coisa com o descalabro desta noite.
Infelizmente, na saúde, não se tem conseguido dar um bom exemplo. Passou-se de uma fase de fúria desnorteada e desnorteante que transformou o sector num imenso campo de batalha em que a estratégia se afigurava errática, impulsiva e incompreensível para uma fase que se pode caracterizar como uma espécie de “morrinha” sensaborona e inconsequente. Da fase do impulso passou-se para a fase do “faz de conta” como se fosse possível supor que se conquista a confiança dos portugueses calendarizando a inauguração semanal de meia dúzia de camas de cuidados continuados ou o persistente lançamento de “programas” mais ou menos esotéricos que nada dizem à população
O que é mais espantoso é vermos a dificuldade em afirmar, claramente, uma política de saúde suportada em escolhas claras e na eficácia das políticas públicas. Ao invés observamos na política do medicamento um serpentear estonteante entre avanços e recuos, piscar de olhos em dias alternados à IF ou à ANF, agências de comunicação (LPM) a mediarem políticas de saúde, desacertos entre secretários de estado (da Economia e da Saúde), medidas “ad hoc” de natureza demagógica entre muitos outros absurdos. Prevalece a ambiguidade que começa no fim do contrato do HFF, na tolerância inexplicável das intoleráveis diatribes da Linha S 24, na entrega das PPP’s aos grupos privados. Afirma-se que, em caso extremo, não se recorrerá a um hospital privado e a seguir vê-se com bons olhos internatos médicos nos HH’s privados. Abomina-se o acordo da ADSE com o Hospital da Luz e a seguir o Ministério das Finanças faz acordo com o Hospital dos Lusíadas. Enquanto isto a ADSE continua, impávida e serena, a agravar o calote aos HH’s públicos comprometendo, por parte dos HH’s públicos, o cumprimento do Programa Pagar a Tempo e Horas criado pelo próprio Ministério das Finanças, Persiste-se em endeusar as USF’s assobiando para o lado perante o descalabro dos “velhos” Centros de Saúde agora retocados de ACE’s. Finge-se com exercícios de “animação” electrónica que mais de 500.000 pessoas não têm médico de família ao invés de libertando mais recursos financeiras negociar o alargamento das listas (o que resolveria de imediato o problema)
Critica-se a contratação de empresas (pondo anedóticos limites ao preço/ hora) nada se fazendo para incentivar a não reforma dos médicos com 55 anos ao mesmo tempo que se festeja o “grande feito” de fechar o dossier carreiras médicas na base das 35 horas facilitando assim a vida ao sector privado que pode continuar a dispor de terreno fértil para recrutamento no sector público, omitindo o impacto que tal medida vai ter no recurso ao trabalho extraordinário e no recurso às referidas (malditas) empresas.
É por estas e por outras que o PS está a ser penalizado.
Pode ser que tenha aprendido alguma coisa com o descalabro desta noite.
mudar de vida
Etiquetas: Politica de Saúde
9 Comments:
Trata-se efectivamente de uma politica de saúde de meias tintas. E também de troca tintas.
Á procura do que está a dar, do que é mais conveniente de molde a não ferir o eleitorado.
Só que o eleitorado não é estúpido e decidiu castigar os troca tintas.
Daqui em diante, falta saber se isto foi só um ameaço e o que irá fazer o PS até às próximas eleições.
Por certo não terá oportunidade de mudar grande coisa.
Na Saúde continuaremos, por certo, com a mesma morrinha, intervalada com as inaugurações semanais do costume.
Palavras para quê?
Saúde: Hospital Amadora-Sintra pára investimentos em Setembro se não receber mais dinheiro - presidente (c/fotos)
08 de Junho de 2009, 07:15
Lisboa, 08 Jun (Lusa) - As verbas que o Estado deu para passar o hospital Amadora-Sintra a Entidade Pública Empresarial estão esgotadas e a instituição terá dificuldades financeiras se não receber nova injecção de capital, alertou o presidente da instituição em entrevista à Lusa.
A partir de Setembro, e se entretanto não for realizado o capital estatutário [o montante que o Governo transfere quando concede às unidades de saúde a gestão empresarial], o hospital "deixa de ter possibilidade de fazer qualquer investimento", avisa Artur Vaz, o gestor que a ministra da Saúde recrutou à Espírito Santo Saúde, no final do ano passado, e que já tinha estado na génese da criação do hospital, em 1995.
Seis meses após a transformação deste hospital em Entidade Pública Empresarial (EPE), ao fim de 13 anos de gestão privada pela José de Mello Saúde, o presidente do Conselho de Administração do Hospital Amadora-Sintra, Artur Vaz, manifesta alguma apreensão e reconhece que alguns profissionais começam a revelar impaciência.
“grande feito” de fechar o dossier carreiras médicas na base das 35 horas
Ana Jorge que ainda há pouco proclamava o trabalho médico a tempo inteiro no SNS cedeu numa questão estruturante para o Serviço Público, o horário base de trabalho. A médica que até há bem pouco tempo trabalhava em dedicação exclusiva bem sabe que a aceitação das 35 horas como horário base é perpetuar um dos principais vícios do sistema: o trabalho a tempo parcial e a consequente promiscuidade público-privada. Assim sendo, por que cedeu numa questão vital para a sobrevivência do SNS dando até um passo atrás uma vez que é na base das 40 horas semanais que os actuais contratos individuais de trabalho estão a ser assinados? A aceitação deste princípio representa um perigoso recuo relativamente ao anterior decreto das carreiras médicas (DL-73/90) que estabelecia o trabalho em dedicação exclusiva como regime normal de trabalho.
Temos pois que uma ministra de um governo socialista não teve a fibra que 20 anos antes Leonor Beleza demonstrou ao negociar um decreto de carreiras que, satisfazendo os justos anseios dos médicos, dava garantias de continuidade ao SNS reforçando a ligação dos profissionais ao sector público.
Compreende-se a posição dos sindicatos na defesa das 35 horas. É que, quer se queira quer não, os tempos são outros: O trabalho em funções públicas está em vias de extinção, de futuro os profissionais de saúde estarão todos em contrato individual regulamentado pelo código de trabalho. A negociação passa pois a ser feita por contratação colectiva como os demais trabalhadores do regime geral, à semelhança do que acontece com qualquer unidade de saúde privada. E nisto em nada se distinguem as unidades locais de saúde e hospitais EPE das PPP. Havia pois da parte das organizações sindicais a necessidade de garantir as melhores condições contratuais base, “plafond” a partir do qual poderão ser conseguidas majorações em sede de contratação colectiva, como seja a do prolongamento do tempo de trabalho para além das 35 horas e, eventualmente, a dedicação exclusiva se tal for do interesse das partes.
Será esta a filosofia que melhor serve o SNS? Não creio, mas em boa verdade foi ao que conduziu a política de “meias tintas” do PS ao decidir que o regime de emprego público deixaria de se aplicar aos trabalhadores da saúde metendo público e privado no mesmo saco. Atentando bem, a promiscuidade público-privado deixou de ser um mal ameaçando tornar-se no princípio geral do sistema.
Excelente post.
A resenha perfeita do que tem sido esta política de saúde de meias tintas.
O Epitáfio do SNS
O colega Távisto escreveu o epitáfio de uma medida irresponsável que vai comprometer o futuro do SNS de uma forma irreversível. Nem LFP teria feito melhor. Venham as empresas dos “mercenários”, venham as horas extraordinárias à discrição, continue o “festim” da prosmicuidade na relação público-privado. É o que dá “políticas” e “políticos” sem qualidade que tomam decisões irresponsáveis no meio de um “blá-blá” cheio de contradições. Ficam os “amigos” satisfeitos, o interesse público alienado e o fim do SNS decretado. Quem responde por isto? Será que a paz podre no sector da saúde vale tudo? A que preço? Insustentabilidade financeira e demagogia que se transformam na mais poderosa antecâmara de privatização generalizada de um sector que é dos cidadãos e não pode estar à mercê de “políticos aprendizes de feiticeiro”.
Este post devia ser dado a ler ao primeiro ministro, José Sócrates, para ele compreender algumas das causas profundas da sua recente derrota.
Um excelente resumo da politica de meias tintas seguida por este Governo.
Quanto à ministra da Saúde... um perfeito desastre. Melhor que tivesse continuado na sua devota missão de medica do SNS.
Mais uma aposta falhada de José Sócrates, certamente muito mal aconselhado pelos militantes simpatizantes de Manuel Alegre.
Mas afinal onde está a inteligência do PS, vocacionada para tratar dos problemas da Saúde?
Excelente post.
Excelentes comentários.
PRECISA-SE: Um debate aprofundado dos problemas da Saúde e do que tem sido a política de saúde deste Governo.
Sem meias tintas.
Afinal, onde para o é-pá!
Meteu a viola no saco?
Caro João Pedro:
Por ora, contemplo o espectáculo que o Mundo me oferece.
Trabalhei no SNS desde o 1º dia. Vi muito, passou-me muito ao lado e fechei os olhos a tanta asneira e arrogância.
Hoje, aposentado, vou sustentando alguns hobbies. Menos dos que, inicialmente, tinha planeado, mas mesmo assim, mais límpidos, mais transparentes.
Sempre, desde que resolvi intervir no SaudeSA, insisti que os problemas da Saúde, nomeadamente os do SNS, deveriam ser comandados pela política.
Sempre disse que a política estava primeiro…
Outros sonhavam que a gestão eficiente e o pragmatismo do quotidiano supriam as deficiências ou as insuficiências políticas.
Hoje, não temos qualquer consistência política e desde a saída de CC que estamos a viver o dia a dia, um pouco vegetativamente, a ver se chegamos incólumes às Legislativas.
Contemplamos os “jogos de cintura” que os EUA nos oferecem na procura de um sistema universal a custos módicos, de saldo. Mais pragmatismo…
A grande vantagem é que, mesmo no epicentro de uma grande crise económica mundial, em que o nosso PIB vai dar um trambolhão de arromba, ninguém mais falou em sustentabilidade...
Se fizermos uma busca não será difícil encontrar muitas vozes de escárnio quando António Arnaut levantava a voz sobre os princípios programáticos do SNS.
O que valia era uma gestão eficiente, a sustentabilidade e, mais recentemente, a avaliação dos CA's.
O PS perdeu porque jogou no tabuleiro do centro.
Não pode ser imputada alguma penalização por aquilo que nunca fez: uma política social socialista.
O PS foi penalizado pelo Centro que, para fazer a sua política na Saúde, prefere os seus fiéis. Não precisa de intermediários - prefere LPF a CC.
Quem defendeu a política socialista na Saúde, ou se quisermos de Esquerda, quem em pleno "pico" de contestação das reformas necessárias, mas sem calendário, sem ordem, sem prioridades, sem tacto, lançou uma petição em defesa do SNS, obteve nestas eleições, substanciais ganhos. Não fez nada mas mostrou a sua disponibilidade.
Mas estas eleições são o que são e não conduzem qualquer partido ao Governo.
Funcionam como a ronca da barra de Aveiro. São avisos à navegação.
Nada indica que os que colheram louros no domingo possam manter o élan até às Legislativas, embora as mudanças a 3 ou 4 meses das eleições, não possam deixar de ser consideradas manobras "eleitoralistas" e, obviamente, desvalorizadas.
Fico à espera do programa eleitoral do PS sobre Saúde para as próximas Legislativas.
E, mais concretamente, sobre alguma coisa de firme e determinado que desvende os caminhos futuros do SNS, face às ameaças das PPP’s, do crescimento exponencial do sector privado e do quase monopólio do sector social nos Cuidados Continuados. Os CPS, para já, mantêm-se rigorosamente vigiados.
Agora que o big helmsman da política de Saúde do PS estará ocupado em Estrasburgo pode ser que nasça, de muita gente válida que por aí anda (nem todos vão nus!), alguma inovação, algum passo qualitativo em frente.
“Coisas” não fundamentadas em ódios de estimação: aos médicos, aos gestores, aos farmacêuticos, aos enfermeiros, aos auxiliares…
E, assim vou arranjado “saco” para aguentar este País.
Mas não tenho viola, nem sei tocar!
Lembrar-me-ei sempre deste post como o espelho da derrota do PS nestas Europeias.
É perceptível, pelos comentários que me é dado ouvir por todo o lado, que este resultado eleitoral é fruto do desejo de vingança do zé povinho contra a arrogância, a política troca tintas deste PS de José Sócrates.
E em relaçãoàs próximas legislativas o PS que se cuide.
Por mais sondagens que contrate, José Sócrates já devia saber que as sondagens não dão vitórias eleitorais.
Efectivamente, os casos do diploma de engenheiro e especialmente as dúvidas sobre o caso Freeport, causaram um enorme desgaste na imagem do primeiro ministro, dificil de ultrapassar.
A juntar a isto o trabalho desastroso que está à vista de alguns (muitos) dos ministros da equipa de José Sócrates.
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