A Faculdade é solidária
Eixo da roda” foi expressão de Adriano Moreira na apresentação do livro que publiquei recentemente. Referia-se aos valores da acção médica e acrescentou “respeito pelo juramento, sobre o dever da obediência”. Profissionalismo, compromisso pela defesa da vida, competência, espírito de serviço e sentido de altruísmo são a essência da profissão, por isso o dever de os ensinar e dar testemunho. Permanência do essencial, sobre a espuma do acessório. O insucesso clínico, com a sua trágica repercussão de sofrimento individual e familiar, é a outra face da medicina científica, moderna e tecnológica, de que sucesso é a expectativa. Por isso, situações adversas são uma interpelação e uma exigência. Interpelação, porque é indispensável perceber o que correu mal para actuar de forma inteligente e prevenir repetições. Não é só um problema português, dramaticamente trazido, agora, à ribalta mediática, pelos resultados adversos do tratamento oftalmológico realizado em Santa Maria. Não há receita uniforme e global. Há, sim, metodologias de acção. Em primeiro lugar, competência profissional e recursos tecnológicos. Depois, rigor nos procedimentos, testados sucessivamente, segundo métodos em vigor na moderna aviação.
Nada disso terá faltado em Santa Maria, onde o esforço de modernização e reequipamento conduzido pela actual direcção tem sido notável. Actuação que, como director da Faculdade de Medicina, tenho reconhecido e enaltecido. Exigência, na procura da verdade — reconheça-se a abertura e isenção com que se desencadearam as investigações necessárias —, na adopção de regras da governabilidade clínica ( clinical governance), para implementação da qualidade e redução do risco terapêutico. Contemplam um conjunto de acções, desde processos electrónicos com preenchimento rigoroso, protocolos terapêuticos, reuniões de morbilidade e mortalidade, auditorias, internas e externas, enfim, estratégia de acção cuja generalização efectiva é um dos objectivos prioritários do Centro Académico de Medicina, que foi objecto de compromisso público com os dois ministérios da tutela e cuja formulação jurídica está praticamente concluída. Mas a exigência deve ser colectiva, comunicação social incluída. Na entrevista que me fizeram, a questão recorrente era a perda de credibilidade do Hospital e não a explicação ou reflexão sobre o ocorrido. Por esses dias, no mesmo hospital, num esforço multidisciplinar, foi possível salvar um jovem politraumatizado com rotura da aorta torácica, recorrendo à moderna tecnologia endovascular, state of the art, mas disso não se falou, porque o sucesso é a nossa obrigação, o nosso dever.
Nada disso terá faltado em Santa Maria, onde o esforço de modernização e reequipamento conduzido pela actual direcção tem sido notável. Actuação que, como director da Faculdade de Medicina, tenho reconhecido e enaltecido. Exigência, na procura da verdade — reconheça-se a abertura e isenção com que se desencadearam as investigações necessárias —, na adopção de regras da governabilidade clínica ( clinical governance), para implementação da qualidade e redução do risco terapêutico. Contemplam um conjunto de acções, desde processos electrónicos com preenchimento rigoroso, protocolos terapêuticos, reuniões de morbilidade e mortalidade, auditorias, internas e externas, enfim, estratégia de acção cuja generalização efectiva é um dos objectivos prioritários do Centro Académico de Medicina, que foi objecto de compromisso público com os dois ministérios da tutela e cuja formulação jurídica está praticamente concluída. Mas a exigência deve ser colectiva, comunicação social incluída. Na entrevista que me fizeram, a questão recorrente era a perda de credibilidade do Hospital e não a explicação ou reflexão sobre o ocorrido. Por esses dias, no mesmo hospital, num esforço multidisciplinar, foi possível salvar um jovem politraumatizado com rotura da aorta torácica, recorrendo à moderna tecnologia endovascular, state of the art, mas disso não se falou, porque o sucesso é a nossa obrigação, o nosso dever.
Apurar a verdade, sim, com rigor e isenção, mas crucificar o Hospital, os seus profissionais e a sua direcção — a Faculdade é solidária! —, minar a confiança pública, é injusto!
José Fernandes e Fernandes, Director da FML, semanário expresso, 15.08.09
Etiquetas: s.n.s. 2
5 Comments:
A solidariedade da Faculdade com o Hospital é um bom exemplo que, infelizmente, não é uma regra em todos os Hospitais portugueses, ditos, escolares ou universitários.
Mas isso é um complexo assunto que envolve o relacionamento de 2 ministérios (MS e do Ensino Superior), quando não 3 (o omnipresente Min. das Finanças).
O que começa a ser estranho é a demora em publicitar os resultados dos diversos inquéritos em curso...
Recentemente, tivemos conhecimento (pelos media) que, nos doentes atingidos pela terapêutica endo-ocular estão a ser aplicados anti-inflamatórios tópicos, em fase experimental, oriundos do Canadá.
Aparentemente, utilizam-se todos os meios para tentar reverter ou minorar os efeitos da terapêutica inicial.
Este é um esforço meritório dos profissionais do HSM, do Infarmed, do MS, mas têm um "buraco" que é impossível esconder.
As sucessivas tentativas terapêuticas para reverter a situação dos doentes atingidos pelo tratamento com a avastina, em minha opinião, pressupõem a existência de um claro e conciso diagnóstico da actual situação.
Ninguém acredita que alguns doentes tenham sido operados "às cegas" ou, paliativamente, e, que, as mais recentes tentativas terapêuticas, não sejam fundamentadas num diagnóstico seguro da situação clínica observada nestes doentes.
Portanto, os utentes do SNS devem rever-se na solidariedade institucional publicamente manifestada pelo Prof. José Fernandes e Fernandes, mas não vamos transformar um inquérito de avaliação de um trágico insucesso terapêutico, pejado de efeitos colaterais imprevisíveis e ineperados, num rotineiro e arrastado processo de investigação judicial - onde, por norma, só ao fim de anos aparecem conclusões (acusações, despachos, etc.)... porque, se for este o caminho, não há meio de evitar que a confiança dos utentes do SNS na rede hospitalar nacional -e não só no HSM -, não seja abalada...
Os HH's têm introduzido (a ritmo lnento) inovações nos meios de comunicação interprofissional e no registo dos actos médicos, de enfermagem e técnicos mas estão longe de possuirem, a exemplo das aeronaves, um alto nível de monitorização do tipo da "caixas negras"...dos aviões!
Portanto, por ora, celeridade e rigor no esclarecimento público para conservar a credibilidade.
Neste momento, a solidariedade sendo importante, não basta!
Adenda:
Segundo as mais recentes informações disponíveis o novo (?) medicamento tópico a ser utilizado - parece que ainda não terá sido - é um colírio de nepafenac, cuja principal indicação será prevenir e tratar a dor e a inflamação que podem ocorrer após intervenções em cataratas.
Continuamos, nós e os doentes, na... escuridão!
Como é possível um acidente desta gravidade num Hospital "onde o esforço de modernização e reequipamento tem sido notável." E de organização.
Se compararmos as condições de funcionamento do HSM com os demais hospitais do SNS, facilmente concluiremos que são únicas.
É por isso que eu penso, que a hipótese de ter havido mão criminosa no sucedido (que eu saiba, ainda não descartada) devia ser devidadmente explorada.
O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou hoje que estão actualmente em construção seis novos hospitais e que isso contribui para combater a crise e qualificar os serviços de saúde.
"Este hospital é importante para o Tâmega e Sousa mas é sobretudo fundamental para o Serviço Nacional de Saúde. Estamos a fazer um grande esforço de investimento na área dos hospitais. Temos seis hospitais em construção, em Cascais, Braga, Guarda, Hospital Pediátrico de Coimbra e também em Lamego", referiu José Sócrates, que falava, em Amarante, no lançamento da primeira pedra do novo Hospital de Proximidade.
Para o chefe de Governo, a nova unidade "cumpre um duplo objectivo". "Em primeiro lugar, serve para combater a crise e dar mais oportunidades de emprego e por outro lado qualifica o nosso Serviço Nacional de Saúde", sustentou.
"Isso é absolutamente essencial para a melhoria da qualidade de vida", concluiu o primeiro-ministro, que se escusou a comentar os últimos indicadores do desemprego. O número de desempregados inscritos nos centros de emprego, excluindo regiões autónomas, subiu em média 22,4 por cento no primeiro semestre, face igual período de 2008.
JP 17.08.09
Os dois maiores em regime de PPP (Cascais e Braga). Que não é bem a mesma coisa no que concerne à qualificação do Serviço Público.
se tivesse cegado apenas um doente, ninguém dava por nada, nem ligava nenhuma, nem "media", nem diap, nem nada ...
e se a família desse doente reclamasse, o mais certo, era ser um processo arquivado.
mas como foram 5 doentes, a coisa deu nas vistas ...
qando o doente morre, morre apenas um, mas se fossem 5 doentes a morrer de uma só vez.....
hoje é notícia 80 casos de negligência que estão sob investigação. - http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1396423
99,999999 % dos casos são arquivados.
o relatório autóptico diz que foi causa natural ... e pronto, não se fala mais nisso.
Arquive-se !
Cumpra-se !
Somos todos cumplíces deste silêncio escabroso...e "assassino".
até quando ??????
Enviar um comentário
<< Home