segunda-feira, agosto 3

A trupe...

O pântano em que ameaça afundar-se o regime democrático resulta mais de uma profunda crise de valores do que de meros circunstancialismos político-partidários. No entanto importa recordar que o velho PPD, nascido nos idos anos de setenta, nada tem que ver com aquilo em que o PSD se transformou. Nesta débacle auto-fágica que o acomete existe um antes e um depois marcado, na história, por aquilo a que se convencionou chamar “cavaquismo”. A concentração e a duração do poder atraíram muito do que pior têm as “elites” políticas. A partir de então o PSD transformou-se num grande entreposto de interesses e de negócios. Os fundos comunitários deram o mote para um verdadeiro desaforo em que, quase sempre, a política dos interesses se sobrepôs à política dos valores. Foi o tempo da renegação das ideologias, da proclamação do fim das diferenças entre esquerda e direita, dos yuppies.
A este propósito valeria a pena um trabalho académico, de natureza sociológica, que correlacionasse dirigentes políticos, deputados, titulares de cargos públicos, com escritórios de advogados e com a ocorrência de grandes negócios. Seria muito interessante conhecer as variações de riqueza de muitos destes actores entre o antes e o depois. Com efeito o cavaquismo transformou o PPD num PSD que se organizou para os “negócios” de Estado, com o Estado e a partir do Estado.
Resistiu o sector da saúde até onde pôde. Mas não resistirá mais se o PSD regressar, a curto prazo, ao poder. É que há já tão pouco para delapidar que a necessidade se afigura extrema. A “trupe” está pronta e ávida para com o blá-blá da livre-escolha, da concorrência e da eficiência engolir o serviço público de saúde. Muitos se lembrarão, certamente, das “orientações” políticas que levaram os hospitais SA a serem clientes do BPN.
O pior é no que no PS pululam, infelizmente, muitos “vendilhões do templo” prontos a cooperar mediante a simples possibilidade de se sentarem à mesa do grande festim e de poderem partilhar (ainda que apenas os restos) do faustoso repasto…
Simplício

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6 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Embora profundamente decepcionado com o desempenho deste Governo e do primeiro Ministro, José Sócrates, nesta legislatura, apelo ao voto útil no PS.

9:36 da manhã  
Blogger tonitosa said...

E assim, mais uma vez, um blog que tem por objectivo:

Temas da Saúde. Crítica das Políticas de Saúde dos XV, XVI e XVII Governos Constitucionais

Se transforma em puro veículo de propaganda política em tempos de campanha.
Isto será honesto?

11:13 da tarde  
Blogger Joaopedro said...

Honestíssimo.
Sempre assim foi e assim vai continuar .
As próximas eleições vão ser, ouso dizer, como nunca, importantes para o nosso país.

É necessário debater o futuro de Portugal, dos portugueses e do nosso SNS.
Evidentemente há quem não queira debater. Quem esconda o candidato (por ser mau de mais e com passado comprometedor). Quem esconda o Programa eleitoral.

O Tonitosa está nesta onda.

11:59 da tarde  
Blogger rezingão said...

Resisitir

Caro João Pedro não posso estar mais de acordo consigo. É preciso lutar contra as toupeiras que tendo medo da luz se refugiam no medo de discutir ideias ou porque delas se envergonham ou porque pura e simplesmente as não têm
Nas próximas eleições decide-se o futuro do SNS na sua matriz fundacional universal.
Este PSD moribundo, corroído pelo gérmen da negociata, pelo pacovismo atávico dos novos-ricos deslumbrados pela traficância de influências e pela usurpação do Estado destruiria, inexoravelmente, o último dos bens públicos democráticos que resiste no sistema de saúde.
O regresso desta trupe ao poder teria como consequência um sistema de saúde a duas velocidades. De um lado as clínicas de luxo (pagas pelos nossos impostos) onde os ricos iriam ser tratados (depois de uma bela viagem de iate ou de uma qualquer rave party) do outro um sistema público residual, de cariz assistencialista onde a caridade pública mediada pelas misericórdias cumpriria o sagrado dever da piedade. É certo que nas clínicas dos ricos poderiam ser criados alguns empregos para enfermeiros e outros técnicos de saúde que embora sendo filhos de pobres teriam a compensação de folhear a Hola ou a Caras no intervalo dos tratamentos das elites sociais.
Eu declaro, neste blog, que tenho um conflito (muito sério) de interesses – votarei PS sem perder a independência moral nem o juízo crítico mas tão só porque não quero Isaltinar o meu país…

12:03 da manhã  
Blogger Clara said...

Aqui está.
Completamente de acordo com o JP e com o Resingão.
Resistir, combater a regresso da Trupe das negociatas e dos jogos baixos.

12:10 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Mas quem assim fala de interesses e negócios não tem nada a dizer sobre Alcântara e a Lizponte e sobre o que já escreveu o TC sobre o processo?
E já esqueceu o caso Manuel Pinho e a estranha compra da sua casa?
E achou normal o negócio do museu Berardo?
E acredita na transparência do negócio com a J. P. Sá Couto? E no derrube ingénuo dos sobreiros de Setúbal?
E na clareza do projecto Freeport?

PS.: Para que não fiquem dúvidas, estas minhas observações não constituem qualquer apreciação sobre o mérito ou demérito do que vem sendo dito sobre estes casos. O que não posso é concordar que os maus estão todos de um lado e os bons todos do outro!

1:01 da tarde  

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