Desespero e Propaganda
No DN de hoje a jornalista presta-se a uma espécie de “frete” num tempo em que parecem estar na moda as “encomendas” aos jornais. link
Vista que está a dificuldade do PSD e da sua líder de “vender” a ideia de retalhar o SNS a fim de salvar o desespero dos grupos privados em busca do financiamento público as “agências de comunicação” acentuam o seu movimento. Vai daí “inventa-se” uma “notícia” com um título abrasivo com honras de chamada à capa: …”Número de médicos em exclusivo no privado dispara”…Desvalorizando o facto (referido pela própria jornalista) de trabalharem no SNS mais de 23000 médicos dos quais cerca de 51% em dedicação exclusiva a “notícia”-“artigo” prossegue no serviço à propaganda. link
Atentemos nas “subtilezas”: …”O Serviço Nacional de Saúde está com falta de médicos e muitos estão a chegar à idade da reforma. Mas os privados já absorvem uma fatia relevante dos recursos médicos. As principais unidades já têm mais de 700 clínicos a trabalhar a tempo inteiro. O número de médicos que abandonou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para ir trabalhar para o sector privado disparou nos últimos anos. Só as principais unidades dos três maiores grupos privados do País empregam hoje mais de 700 médicos a tempo inteiro, apurou o DN, um número que tem crescido "sobretudo nos últimos cinco anos", conta Isabel Vaz, presidente da Espírito Santo Saúde”…
Vale a pena enfatizar que estamos a falar de cerca de 4% dos médicos que trabalham no SNS…
Depois é a “cassete” habitual da JM Saúde. Da Engª. Isabel Vaz e do inenarrável Dr. Boquinhas: as melhores tecnologias, os melhores profissionais, etc… Diz a certa altura a Engª Isabel Vaz: …"O salário não é nem de perto nem de longe o mais importante. Um médico raramente decide ficar connosco pela questão monetária", omitindo a série longa de entradas e saídas, os sucessivos “casos” conhecidos e menos conhecidos…
Depois a grande dinâmica: …”Os três grupos têm uma fatia de 65% a 75% da facturação total do sector privado. Em 2008, os resultados dos três ascenderam a 527 milhões de euros em 2008”… o que equivale ao volume de actividade de dois ou três hospitais públicos de média dimensão.
A Engª. Isabel Vaz fala também em qualidade de vida: "Os médicos querem trabalhar apenas num sítio e acabam por escolher cada vez mais ficar no privado. E aqui têm boas condições e estruturas sofisticadas", conclui”… De facto contam com um excelente apoio técnico, de formação e suporte financeiro dos hospitais públicos. O que seria deste “eldorado” se o Estado garantisse a separação dos sectores e evoluísse nos hospitais para modelos de gestão inovadores?
Relativamente aos postulados do Dr. Boquinhas não valerá muito a pena levá-los a sério pelas razões que todos conhecemos.
Fica, no entanto, claro que o desespero é real. As agências de comunicação não vão parar até às eleições. Propaganda falaciosa sobre os negócios da saúde e ataque sistemático e brutal ao SNS.
Estejamos atentos…
Vista que está a dificuldade do PSD e da sua líder de “vender” a ideia de retalhar o SNS a fim de salvar o desespero dos grupos privados em busca do financiamento público as “agências de comunicação” acentuam o seu movimento. Vai daí “inventa-se” uma “notícia” com um título abrasivo com honras de chamada à capa: …”Número de médicos em exclusivo no privado dispara”…Desvalorizando o facto (referido pela própria jornalista) de trabalharem no SNS mais de 23000 médicos dos quais cerca de 51% em dedicação exclusiva a “notícia”-“artigo” prossegue no serviço à propaganda. link
Atentemos nas “subtilezas”: …”O Serviço Nacional de Saúde está com falta de médicos e muitos estão a chegar à idade da reforma. Mas os privados já absorvem uma fatia relevante dos recursos médicos. As principais unidades já têm mais de 700 clínicos a trabalhar a tempo inteiro. O número de médicos que abandonou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para ir trabalhar para o sector privado disparou nos últimos anos. Só as principais unidades dos três maiores grupos privados do País empregam hoje mais de 700 médicos a tempo inteiro, apurou o DN, um número que tem crescido "sobretudo nos últimos cinco anos", conta Isabel Vaz, presidente da Espírito Santo Saúde”…
Vale a pena enfatizar que estamos a falar de cerca de 4% dos médicos que trabalham no SNS…
Depois é a “cassete” habitual da JM Saúde. Da Engª. Isabel Vaz e do inenarrável Dr. Boquinhas: as melhores tecnologias, os melhores profissionais, etc… Diz a certa altura a Engª Isabel Vaz: …"O salário não é nem de perto nem de longe o mais importante. Um médico raramente decide ficar connosco pela questão monetária", omitindo a série longa de entradas e saídas, os sucessivos “casos” conhecidos e menos conhecidos…
Depois a grande dinâmica: …”Os três grupos têm uma fatia de 65% a 75% da facturação total do sector privado. Em 2008, os resultados dos três ascenderam a 527 milhões de euros em 2008”… o que equivale ao volume de actividade de dois ou três hospitais públicos de média dimensão.
A Engª. Isabel Vaz fala também em qualidade de vida: "Os médicos querem trabalhar apenas num sítio e acabam por escolher cada vez mais ficar no privado. E aqui têm boas condições e estruturas sofisticadas", conclui”… De facto contam com um excelente apoio técnico, de formação e suporte financeiro dos hospitais públicos. O que seria deste “eldorado” se o Estado garantisse a separação dos sectores e evoluísse nos hospitais para modelos de gestão inovadores?
Relativamente aos postulados do Dr. Boquinhas não valerá muito a pena levá-los a sério pelas razões que todos conhecemos.
Fica, no entanto, claro que o desespero é real. As agências de comunicação não vão parar até às eleições. Propaganda falaciosa sobre os negócios da saúde e ataque sistemático e brutal ao SNS.
Estejamos atentos…
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6 Comments:
O que seria deste “eldorado” se o Estado garantisse a separação dos sectores e evoluísse nos hospitais para modelos de gestão inovadores?
É bem verdade que os privados continuam a brilhar à custa das indecisões e indefinições do sector público, particularmente porque pouco ou nada se tem feito para separar sectores. Estamos habituados a que quando surgem declarações nesse sentido lá apareçam os profetas da desgraça a alertar para o risco do SNS ficar sem os melhores profissionais caso se avance com aquela medida.
O quadro aqui traçado, publicidade à parte, diz bem que a dita fuga para o privado ocorre precisamente por razões opostas às habitualmente apresentadas pelos ditos profetas. É precisamente por não se avançar na separação dos sectores, a par de novos modelos de gestão em que, entre outras medidas, o financiamento em função da produtividade e a componente de remuneração por desempenho, assumam valores expressivos, que o sector público vai sendo esvaziado dos melhores profissionais.
Mais importante que saber qual a percentagem dos que saem é conhecer a qualidade dos mesmos e quais as consequências da sua saída. Ainda recentemente Ana Jorge questionou JM Boquinhas por ter “roubado” quatro obstetras do Hospital Garcia de Orta, criando assim sérias dificuldades ao funcionamento daquele serviço público, para poder abrilhantar o projecto para a saúde do sector empresarial do Estado (leia-se Caixa Geral de Depósitos). No mínimo paradoxal não é assim?
Não pretendendo ser profeta da desgraça, qual Medina Carreira para a Saúde, não posso deixar de alertar para os riscos que corre o sector público hospitalar caso não sejam tomas medidas corajosas conducentes à separação de sectores durante a próxima legislatura.
A pressão é naturalmente proporcional ao desespero.
E está na altura de utilizar todos os expedientes.
Como é sabido, o sector privado não sobrevive sem o dinheiro do Estado. E como é seguro investir quando é o Estado a assegurar o pagamento da factura.
Esta peça jornalistica é descaradamente uma encomenda para encaixar no período eleitoral que atravessamos.
A escolha do tema e a forma como foi tratado sugeriu-me aquela anedota do busto do napoleão.
Parece-me não demonstrada esta ideia que muitos querem vender de que com MFL o Serviço Nacional de Saúde acabará. Compreendo tais afirmações no âmbito de uma campanha eleitoral e pela boca dos “políticos”. Tal como compreendo a "propaganda política" em sentido contrário!
Não a compreendo pela boca de “técnicos” que julgam ter toda a razão do seu lado e que defendem muitas vezes a ideia de um SNS onde os privados não tenham lugar ou apenas o tenham marginalmente.
E não deixo de notar que alguns dos que se fazem passar por iluminados na defesa do SNS, basta que os privados lhes acenem com um chorudo lugar para passarem a servir os que antes excomungavam; e também os há que por virtude de um “lugar ao sol” no SNS que defendem, antes serviram e defenderam com denodo o sector privado.
Como servidor do Sector Público há dezenas de anos (repito, há dezenas de anos) e sobretudo no domínio Social, sou dos que acreditam que os Serviços Públicos, em igualdade de circunstâncias (recursos materiais e humanos, responsabilidade a autonomia de gestão) são tão bons como os Privados (e melhores em muitos casos). Mas entendo que na Saúde (e não só) pode (e deve) haver lugar para os sectores Público, Privado e Social. Ao Estado caberá sempre o papel de Regulador e deve desempenhá-lo de modo eficaz. Muitos dos problemas que se conhecem têm muito mais a ver com “promiscuidade” (corrupção se assim quiserem entender) do que com falta de competências.
E quem se interessa por estas matérias também não ignora que há na UE países onde a opção por um modelo diferente, do tipo defendido por MFL (ou ainda mais apoiado no sector privado) não significa falta de Serviços de Saúde Universais, Gerais e Com Qualidade; antes pelo contrário.
Mas uma coisa parece evidente: o actual modelo tem servido muito bem as populações mas tem servido em grande medida muitos dos profissionais que nele trabalham “sem que tal se verifique na justa medida do trabalho que desenvolvem”.
E muitos deles são exactamente os defensores do status quo, pensando muito mais nos interesses pessoais do que públicos.
No entanto uma coisa é certa: não será possível que tudo continue como está e como tem sido dito que está!!!
(continua)
(continuação)
O SNS carece de reforma e as "reformas" até agora levadas a cabo estão longe, muito longe do necessário.
Os Cuidados Coninuados transformaram-se em Lares para onde são remetidas pessoas que em boa verdade deveriam continuar hospitalizadas. Ali vão morrer com taxas naturalmente elevadas. Por outro lado, algumas que deveriam regressar a casa (sobretudo a casa de familiares) são colocadas nos "lares"(chamam-lhes Unidades de Cuidados Continuados) porque existe uma boa "cunha" e é a solução mais cómoda (podendo mesmo não ser a mais económica) para a família. E será a admissão nas UCC um processo transparente?
As USF são uma boa solução no imediato. Serão a solução para médio/longo prazo? Ou são uma forma de alguns profissionais de saúde arrecadarem mais umas centenas de euros por mês, mesmo que a qualidade não seja a desejada?!
Os SUB são uma significativa melhoria quando vistos fora do contexto geográfico. Mas serão um serviço de proximidade, sobretudo nas zonas mais interiores do país?
Não deixam de ser os novos "SAP´s" agora melhor dotados de instalações e alguns equipamentos-básicos e isso já é de louvar.
Mas que dizer dos Hospitais?
Que fazer quando, como referem as notícias, as dívidas dos hospitais subiram 20% entre Janeiro e Julho, sendo mais de metade com mais de 90 dias?!
Como explicar que tendo baixado em finais de 2008, (graças a transferências de verbas para tal fim) os gestores tenham "conduzido" as dívidas a uma subida de menos de 400 milhões de euros para os actuais mais de 520 milhões?
O SNS é naturalmente merecedor de uma BOA REFORMA mas uma reforma centrada nos interesses dos cidadãos e onde os vários sectores poderão e deverão ter lugar.
E se é verdade que muitas foram as medidas de desagrado de CC (mitigadas com AJ) outras medidas se seguirão (também dolorosas), qualquer que seja o Governo. As promessas rapidamente serão esquecidas (no futuro como no passado).
E muito rapidamente o financiamento do SNS será temas de grandes discussões. E não faltarão os tais "fanfarrões" que tudo sabem. Alguns deles, não há muito tempo, defenderam os co-pagamentos dos cuidados de saúde. Lembram-se?
Página 19 da edição desta semana do semanário SOL:
Hospital a meio gás:
Desde que foi entregue ao gestor privado. Hospital de Cascais baixou a produção para metade.
"...A ARS conclui ter-se verificado uma forte redução nos índices de produtividade do Hospital de Cascais a todos os níveis: consultas, internamentos, exames e cirurgias. No final do primeiro trimestre de 2009, segundo as informações recolhidas pelo SOL, esta quebra já atingia os 30%, tendo-se verificado um agravamento no segundo trimestre. Isto em comparação com os índices de 2008."
Claro que o Dr.Boquinhas contrapõe tudo isto e diz que com menos 28 médicos aumentou em 20% o número de Internamentos e muito mais.
Claro que não interessa falar de que já por dois dias as urgências funcionaram com apenas um médico no atendimento aos utentes durante algum tempo ou das dispensas de funcionários em serviço há anos no CHC e a contratação de outros funcionários para os substituir com ordenados superiores.
Uma melhoria em todos os níveis...
De facto nesse dia o DN prestou-se a um frete. Talvez não tenha sido propriamente esse do aumento de médicos no sector privado, mas é esse que aqui se discute.
Como em posts anteriores já tinha afirmado o problema, segundo a minha opinião, é a de considerar que existem médicos em número suficiente em todos os hospitais privados e do sector social, quando todos sabemos que os mesmos médicos que de manhã trabalham nos hospitais públicos durante o resto do dia se dedicam à actividade própria (dita privada).
Quanto ao Dr. Boquinhas só um pequeno ponto prévio, se calhar à dois anos atrás ninguém lhe iria apontar canhões, visto que ele e a sua equipa estavam num dos Centro Hospitalar de Lisboa. De anjo a diabo num instante. Será que o Dr. Boquinhas perdeu tantas qualidades quando passou para o grupo da Caixa Geral de Depósitos?
Voltando ao problema em discussão, parece-me que este não é o da passagem dos médicos para o sector privado, o problema é que os médicos têm uma ideia do seu valor (salário/vencimento) que não pode ser suportado pelo SNS de forma isolada, e como tal, o modelo misto é o melhor para atingir o valor considerado justo. Nesta mesma perspectiva o sector privado, tal como existe, não conseguiria, também, suportar os vencimentos que os médicos pensam ser o justo valor do seu trabalho e dai existirem mesmo nesses hospitais privados alguns conflitos relativos aos consultórios privados dos clínicos fora dessas unidades.
O equilíbrio só se conseguiria alterar com maior oferta de médicos no sistema o que como é sabido não é muito bem aceite pela Ordem dos Médicos com base no argumento da qualidade do ensino da medicina.
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