sexta-feira, setembro 18

Eleições e Reforma da Saúde


Todos sabíamos, utentes em particular, que o modelo organizativo dos Centros de Saúde estava exaurido e que alguma coisa teria de ser feita sob pena do seu esgotamento por inacção. Impunha-se pois uma mudança estrutural de fundo e ela foi empreendida pelo actual Governo sendo mérito a reconhecer.

À parte algumas vicissitudes e momentos menos bons no desenvolvimento do processo, a reforma dos CSP tem evoluído a bom ritmo. É de toda a justiça referir que, para o seu sucesso, em muito têm contribuído os profissionais e suas organizações, médicos em particular. Tal facto demonstra que as imprescindíveis reformas no SNS são possíveis no diálogo e cooperação com os principais intervenientes.

Pela dimensão que tomou e pelas provas já dadas, a reforma em curso dos CSP parece-me imparável tendo sido já interiorizada pelas diversas forças políticas. Tal explica, por exemplo, que os costumados e contumazes “abutres” do SNS nesta área não tenham aparecido em momento eleitoral. Os pregadores dos tão falados projectos dos centros comerciais de saúde, onde entre uma ida ao cabeleireiro e a compra de um qualquer produto de necessidade, se poderia ser visto por um qualquer médico e realizar uns tantos exames diagnósticos, parece já terem entendido que o corpo que esperavam estraçalhar afinal não era ainda cadáver.

O mesmo não se passa com os cuidados hospitalares em termos de reformas estruturais. Estas foram sucessivamente adiadas e mais que uma vez aqui tenho dado testemunho de preocupações quanto ao futuro do SNS nesta área. A indefinição em que permanece o sector hospitalar explica que os grandes grupos privados, através da APHP, tenham vindo de novo a reclamar o tratamento dos doentes do SNS em lista de espera para cirurgia, colocando perante a opinião pública o MS sob pressão.

Partimos pois para a próxima legislatura com uma grande indefinição quanto ao futuro do sector hospitalar público. A vitória da direita seria catastrófica, tendo em conta os programas dos partidos desta área. Uma maioria do PS, dando algumas garantias da continuação da linha programática seguida após a saída de Correia de Campos, não inspira total confiança tendo em conta o peso que sectores representantes dos grandes grupos económicos mantêm dentro deste partido. Nestas circunstâncias, a correlação de forças à esquerda na próxima legislatura poderá vir a ser determinante quanto ao futuro do sector público hospitalar.

távisto

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