quinta-feira, janeiro 7

É a economia...

foto JP
o professor Daniel Bessa em entrevista ao JP link tenta defender a privatização dos Serviços Públicos como forma eficaz de redução da despesa pública.
...
Mas cortar onde?
Não há verdadeira redução da despesa que não passe pela privatização de alguns serviços. Porque as outras alternativas é mandar funcionários públicos embora ou reduzir nominalmente os salários. Os países que enfrentaram esta questão de frente com bons resultados fizeram-no privatizando.
O quê concretamente?
Escolas e hospitais. As escolas continuariam de pé e os hospitais também, mas o Estado sai e os particulares vão ter de pagar, com políticas de apoio para os mais baixos rendimentos.
E a qualidade dos serviços não se ressentiria?
Não estou muito convencido disso. Tem efeitos reais no que diz respeito às pessoas. É evidente que custa menos mandar os filhos para os hospitais e escolas públicas. Agora, não estou convencido de que a qualidade dos serviços públicos seja melhor. .../
JP 04.01.10

O professor Daniel Bessa tornou-se especialista de tudo e de tudo fala com o à vontade de quem tudo estudou. O problema "são dois": 1º Aquele quadro corresponde ao de um "especialista" em ideias gerais, o que vale zero (mesmo que se faça pagar caro)! 2º Como todos sabemos os EUA estão a tornar o sistema de saúde mais público e universal, arrepiando caminho no seu carácter privado.
E qual a razão?
Económica, dado que os economistas mais reputados concluíram que assim a economia americana estava a ser seriamente prejudicada.

Diríamos então: É a economia, estúpido, não a política ou a politiquice.

Remeto ainda para a leitura de “Há cinco anos que despesa com remédios não crescia tanto” link . Vê-se que o MS anda atrás e a reboque dos problemas ... que vão rebentar como castanhas!
Quem quiser um SNS mais forte tem que ir ajustando continuamente o SNS, a rede e o funcionamento de cada serviço, doutro modo ficamos sem a eficácia necessária nem a sustentabilidade.
Então, virão os directamente interessados (privados da saúde) ou os especialistas de ideias gerais prescrever a privatização-

Fagundes Osório

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10 Comments:

Blogger tambemquero said...

Muitos serviços que hoje recebem doentes com tumores malignos podem fechar se a proposta para a organização das unidades que tratam cancro em Portugal avançar nos termos em que está definida. link

Lá se vai a proposta.
Tudo que é para fechar é um sarilho.
Só se fôr para privatizar.
O povo é sábio !...

9:18 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Em consulta e discussão pública, até ao final de Janeiro :
REQUISITOS PARA A PRESTAÇÃO DE CUIDADOS EM ONCOLOGIA link

3:31 da tarde  
Blogger Economico said...

Não me comparo ao Prof. Daniel Bessa, primeiro porque ainda me falta um grau académico para chegar a doutorado e em segundo porque não tenho nem a capacidade académica nem a experiência de vida do professor. No entanto, permitam-me um comentário na área da saúde.
Em primeiro lugar não existem provas de que o Estado na saúde é melhor ou pior que os privados, quer nos sistemas de Beveridge quer nos de Bismark quer mesmo em sistemas de financiamento mais privados do que públicos como o dos EUA. Em segundo a forma como os recursos são distribuídos nas sociedades de bem-estar (wellfare societies)não permitem distinguir entre quem paga mais ou menos para o sistema sendo - como já escrevi aqui - gratuitos na altura da prestação, qualquer outra forma criaria uma duplicação do pagamento para o sistema de saúde que iria reverter apenas e só para os prestadores, que absorveriam rapidamente a liquidez assim gerada. Em terceiro, e último, a espantosa afirmação"Percebo que o Estado esteja fragilizado, mas há consultoras internacionais que podem ser chamadas...", pois para mim sucede que o facto de o Estado estar sempre a chamar consultoras internacionais é que nos tem posto neste lugar, se querem um bom exemplo, basta lembrar a participação dessas empresas no SOMOS CONTAS, SOMOS PESSOAS, SOMOS COMPRAS. Como ouvi dizer no SUCH:"Olha SOMOS parvos..."

5:16 da tarde  
Blogger PhysiaTriste said...

Grande reportagem da SIC na segunda-feira: Portugal 2010 – Ideias para a década.
Entre os entrevistados uma Médica Sáuria, formada em Cuba, a trabalhar num Hospital Público Português.
O que mais a chocou, ao chegar a Portugal, foi o consumismo: “Jamais me passaria pela cabeça comprar algo desnecessário”.
Sobre o SNS acha que o mais negativo é a falta de organização. Com organização este seria um dos melhores sistemas de saúde do Mundo.
Desejo para a década: a organização dos serviços de saúde.
Aqui está uma receita bem mais efectiva (e justa) que as propostas do Professor Daniel Bessa.

7:49 da tarde  
Blogger flickflack said...

Fiquei espantado com a falta de rigor e de noção do entrevistado. Fico com curiosidade para o que lhe vai chamar desta vez o Mário Soares...

A falta de rigor

Não diz exactamente o que defende para além de querer pôr todos a pagar a saúde e o ensino, que seriam só para quem pode. Ah, para os muito pobres o estado ajudava com qualquer coisinha, mas poucochinho, que o tempo não está para generosidades como o ensino público e saúde gratuita (tendencial).

Afinal se privatiza os hospitais alguém os compra, quem? Ah, os dois grupos de saúde (Mellos e BES) . Engrandeceriam o duopólio e não havia nenhuma concorrência nem poder negocial do Estado, que ficaria na mão daqueles, mas isso agora não interessa nada.

Trata-se de racionar os cuidados de saúde. Muito bem. Isso significa que muita gente chegará tarde, alguns demasiado, aos cuidados de que precisa, mas isso da universalidade, da solidariedade e equidade de acesso independente do rendimento não interessa. Acabemos simplesmente com a constituição, que o prevê.

A falta de noção

Qualquer gestor hospitalar médio sabe que quando se pretende eficiência macroeconómica, menor despesa no PIB para resultados em saúde semelhantes, são os SNS que vencem, quanto mais privado houver maior será a despesa em saúde. Por isso privatizar é exactamente o que não precisamos. Há muitos estudos e correlações a comprová-lo, desde a década de 80, peçam exemplos ao Jorge Simões ou ao Pita Barros, por exemplo.
Ora Portugal tem um SNS com uma das maiores percentagens privadas. Nos hospitais os serviços de apoio são por outsourcing, muitos dos exames e medicamentos são comprados a privados. Muitos serviços hospitalares são pagos a privados, por exemplo da CVP, das Misericórdias e das listas de espera. As PPP são privadas, toda a dentisteria, etc. Basta consultar um dos livros do C. Campos para quantificar o peso elevado que tem o sector privado.
Muitos dos serviços que o Estado paga são duplicados com a rede pública, por exemplo algumas ditas urgências no norte pagas a Misericórdias.

Alguns de nós ainda acreditamos que o privado traga, na saúde, maior escolha e produtos mais variados, menos tempo de acesso, melhores instalações, amenidades e atenção. Mas é para quem pode, que os preços são elevados!

Estes nossos economistas. Então andaram o Krugman e outros a provar que o sistema americano não servia para virem, agora, propor o contrário para Portugal.

O que fica da entrevista então?

A precipitação com que se prescreve uma ideia para dois sectores garantes de cidadania e liberdade, por isso estão na Constituição, sem cuidar de ver se solucionam alguma coisa do problema.

A cambalhota do ex-ministro socialista que vem agora defender o contrário do que quando governou, precisamente aquilo que alguns à direita não se atrevem. O Passos Coelho e o Nogueira Leite, agradecem.

11:11 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

As razões do professor

A intervenção do professor é um verdadeiro desastre.

Ao não apresentar fundamentação económica poderia tratar-se de convicção política.
Também não.
Ah...Fomentar a encomenda de assessorias para ultrapassar as fragilidades do Estado.
Esta não lembraria ao diabo.

Dar uma ajudinha aos investidores privados da Saúde numa altura crucial de "ou vai ou racha".
A eng.ª do speed e o dr. Salvador terão, certamente, apreciado esta intervenção..

Parabéns ao flickflack pelo seu consistente comentário anterior.

12:24 da manhã  
Blogger Joaopedro said...

Outra receita :

O economista Daniel Bessa dá a receita: “Vai ser preciso reduzir o défice em 10 mil milhões de euros no próximo ano”, afirma, confrontado com o cenário de crise iminente. Recusando-se a decretar já a falência do Estado, Bessa é crítico: “É tão fatal como o destino que acabaremos por pagar mais impostos – isto vai acontecer no muito curto prazo”, revela o economista, confirmando já palavras ditas em público nas últimas semanas. Quanto à forma como pode Portugal sair da crise, Bessa admite: “Se calhar, o Governo terá de congelar os salários, cortar nas despesas, criar novas taxas…”, diz o gestor que foi ministro da Economia do PS ao tempo de António Guterres.


Afinal, em que ficamos?
Talvez tudo ao molho e fé em Deus.

12:52 da manhã  
Blogger Hermes said...

Sou dos que acreditam que Portugal necessita de medidas difíceis e corajosas que passam certamente pela redução da despesa pública e pelo aumento das suas receitas - seja através de impostos, contribuições e taxas pelos serviços (moderadoras na saúde).
As medidas devem acrescentar valor, em melhorias da competitividade, do desenvolvimento das pessoas e da qualidade de vida, gerando benefícios superiores aos custos para a sociedade.
A privatização dos hospitais é ineficaz na redução da despesa de saúde e provocaria problemas no capital humano, por menor saúde e produtividade, e na coesão social, por desproteger quem mais precisa de saúde (pobres) e aumentar a desigualdade social existente.
A Escola de Chicago, conhecida pelo seu liberalismo extremo, propunha a privatização da saúde, do ensino e da segurança social. Mas até o governo conservador da Sr.ª Tatcher recusou a privatização da saúde e do ensino, precisamente pela sua ineficácia (economia) e pela reacção popular que provocaria (política).
Portugal é um país pobre, desigual, em que dois terços das pessoas votam em partidos de ideologia social-democrata e em que o Estado é omnipresente, mesmo nas empresas que não dispensam o seu apoio.
Como acreditar que o estado social, modelo vigente em toda a EU, deve acabar em Portugal?
Mas é isso que é proposto.

11:07 da tarde  
Blogger Antunes said...

A ministra da Saúde admitiu hoje que é impossível o Serviço Nacional de Saúde competir com os privados, que pagam quatro vezes mais aos médicos, mas assegurou que estão a ser tomadas medidas para reter os clínicos no sector público. link

“Depois, em discussão com os sindicatos, podemos regulamentar as carreiras que podem ser uma forma de reter os profissionais”, fazendo-os sentirem-se reconhecidos pelo seu trabalho e constatarem que a sua actividade tem influência na sua progressão na carreira e desenvolvimento profissional.

Segundo a ministra, está prevista a constituição de uma equipa de projecto que irá trabalhar com as Administrações Regionais de Saúde para criar modelos de organização do trabalho interno do hospital que possam ir ao encontro das necessidades dos profissionais para os motivar.
JP 06.01.10

Poderão estas medidas contribuir para a defesa do sector público.
De qualquer forma vai ser preciso mais dinheiro (que não há) para motivar decisivamente os profissionais a permanecerem neste sector.

12:12 da manhã  
Blogger Tavisto said...

A Ministra diz ser impossível ao SNS competir com os privados por não poder praticar os mesmos salários. Sabe porém que o dinheiro que falta para reter os clínicos no sector público sobra para financiar os privados, através de convenções e de subsistemas públicos, que lhes permite aliciar esses mesmos clínicos com vencimentos quatro vezes superiores.
Com as dificuldades orçamentais conhecidas, vai ser difícil impedir que a sangria dos melhores profissionais do SNS continue. Tal exigiria medidas corajosas e concertadas entre ministérios que impedissem, por exemplo, desacertos como o que se verificou entre Ana Jorge e Teixeira dos Santos a propósito da ADSE. Ou, impedir que organismos públicos, como é o caso da Caixa Geral de Depósitos, fossem concorrenciais como o SNS ao entrarem no mercado privado da saúde. Exigiria, ainda, a imposição de regras concorrenciais que delimitassem sectores e pusessem cobro aos conflitos de interesses existentes.
Era preciso assumir, com a clareza com que Santos Cardoso aqui o deixou escrito, que um médico a trabalhar nos dois sectores, ao praticar um acto no sector público que em nada vai alterar o seu salário, e ao reconhecer que esse mesmo acto praticado no sector privado lhe podia valer muito mais, é evidente que é incentivado a praticá-lo no sector privado. Era preciso ainda, aliar a remuneração à produtividade impedindo aumentos salariais cegos que só irão agravar iniquidades.
Se tudo continuar na mesma, não vão ser palavras bem intencionadas de uma qualquer equipa de projecto que irão motivar os profissionais do SNS a nele permanecerem.

1:13 da manhã  

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