quinta-feira, fevereiro 25

Morte lenta

Quando o Governo anuncia o congelamento dos vencimentos dos funcionários públicos como medida inevitável de redução da despesa pública, deve estar consciente dos efeitos desta decisão nos serviços prestados pelo Estado às populações. Um exemplo grave é o Serviço Nacional de Saúde.
Quais os médicos, enfermeiros e pessoal especializado dispostos a manterem-se num serviço com perspectiva de deterioração do nível de vida? O sector privado de saúde não terá de se esforçar muito para captar os mais experientes e capazes, e nem é preciso imaginação para visionar a desqualificação dos hospitais públicos que serão procurados apenas pelos mais desfavorecidos. É um caso que ilustra a irresponsabilidade que representou o aumento deliberado do défice público para níveis incomportáveis com o necessário ajustamento a médio prazo.
Haverá outras opções?
Talvez suspender grandes investimentos de duvidosa utilidade, cujos encargos, num futuro longo, contribuirão indirectamente para a desqualificação dos serviços públicos. Ou talvez o Governo esteja com razão e os investimentos em transportes sejam mesmo úteis, especialmente no Natal e nas férias, quando uma parte importante dos portugueses quiser visitar a família em Portugal.
...
Adivinhe quem escreveu este texto?
Pensou no deputado Bernardino Soares? Enganou-se.
No deputado João Semedo? Também não acertou.
Imagine que é da autoria de Manuela Ferreira Leite podendo ler-se na primeira página do suplemento de economia do Expresso.
É notável o grau de hipocrisia que ressuma deste texto, conhecido o programa para a Saúde do PSD nas últimas eleições e porque o congelamento dos salários da Função Pública terá sido por certo uma das exigências desta senhora para o PSD se abster na votação do programa do Governo.
Apesar da indignação que, vindo de quem vem, este texto gera, o que prognostica para o SNS não deixa de ser verdade. Bem se sabe que Ferreira Leite é mais apologista da morte súbita para o SNS, mas que esta política de meias tintas do PS levará ao mesmo resultado lá nisso tenho de concordar.

Tavisto

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7 Comments:

Blogger cotovia said...

Eu não quero morrer devagar!
Eu não quero morrer devagar!
Xutos & pontapés

2:41 da tarde  
Blogger Blogger de Saúde said...

Divulguem e Compareçam ao II Encontro Nacional de Blogueiros

12:11 da manhã  
Blogger Blogger de Saúde said...

Colocamos nos links do Cogitare em Saúde o vosso blog pediamos que fizessem o mesmo. Parabéns pelo blog !

12:11 da manhã  
Blogger tambemquero said...

A situação já foi referida várias vezes: os centros de saúde têm neste momento dois modos de funcionamento, o que criou "desigualdades" na prestação de cuidados, dependendo do local onde o utente é atendido, reconhece o director da Missão para os Cuidados de Saúde Primários, Luís Pisco. Até ao final de 2012, o Governo conta que a reforma dos centros de saúde esteja terminada e o acesso seja mais igualitário, mesmo que a homogeneização tenha que ser imposta.

A reforma dos centros de saúde arrancou em 2006, com o ministro Correia de Campos, assentando sobretudo na criação de uma nova forma de organização interna nos centros de saúde - as chamadas Unidades de Saúde Familiar (USF). Neste modelo, um pequeno grupo de médicos, enfermeiros e administrativos podia, voluntariamente, auto-organizar-se propondo-se prestar cuidados até um máximo de 18 mil utentes.

Condições? Cada médico de família teria que alargar a sua lista de 1550 utentes para 1750, de modo a dar resposta a pessoas até aí sem clínico; os médicos comprometiam-se a substituir-se uns aos outros em caso de falta de um deles; a equipa assumia a prestação de um número definido de actos à sua população (desde citologias a vigilância de doentes diabéticos) e a ter horários adaptados ao seu meio envolvente, o que permitia a abertura até mais tarde durante a semana e, em alguns casos, ao fim-de-semana. Por seu lado, os profissionais envolvidos neste modelo recebem reforços de remuneração, o que significa que, também em termos salariais, se criaram dois sistemas.

Até ao momento estão a funcionar 232 Unidades de Saúde Familiar, que abrangem cerca de 30 por cento da população (2,9 milhões). Mas a meta traçada já pela actual ministra da Saúde, Ana Jorge, era ter 250 USF no terreno até final de 2009. "Não temos tido capacidade para colocar no terreno todas as candidaturas", admite o director da Missão, Luís Pisco.

Em resultado da reforma, 350 mil utentes ganharam médico de família, referem números oficiais. Mas continua a desconhecer-se exactamente quantos portugueses ainda não têm clínico assistente: uma das últimas estimativas do Ministério da Saúde, do ano passado, apontava para entre 450 mil a 500 mil pessoas.

Em resultado das transferências de médicos de centros de saúde convencionais para USF, quantos utentes ficaram sem médico assistente? Luís Pisco admite que isso possa ter acontecido muito pontualmente, uma vez que muitas das USF ficaram precisamente à espera de abrir para assegurar que o médico transferido fosse substituído. Dos 1.642 médicos que fazem parte de USF, cerca de 80 por cento já estavam no centro de saúde onde continuaram a exercer funções, sublinha. E apenas 20 por cento resultaram de transferências. Estão também abrangidos 1.666 enfermeiros e 1.309 administrativos.

Há 400 candidaturas a USF e 301 aceites para avaliação. Mas, sendo um modelo voluntário, chegará uma altura que deixará de haver candidatos, admite Luís Pisco. "Se os profissionais não se querem organizar, os serviços são obrigados a fazê-lo".

Por essa razão o Governo criou uma espécie de plano B: as chamadas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, que pretendem que o sistema "fique mais parecido com as USF e o utente não note diferenças". Ou seja, esgotado o voluntarismo de médicos que se oferecem para alargar a sua lista de utentes, o Governo vai tentar aproximar deste modelo os profissionais que ficaram de fora da reforma.
JP 22.02.10

12:05 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Os hospitais deverão
ser dos serviços mais afectados
pela greve, sendo os serviços mínimos
“os prestados pormédicos
aos domingos e feriados” sobretudo
nas urgências. “Nas consultas,
não é obrigatório serviços
mínimos”, frisou. Já os serviços
de hemodiálise e tratamentos do
foro oncológico, serão assegurados,
como manda a lei.
DE 23.02.10

9:02 da manhã  
Blogger PhysiaTriste said...

Algumas das questões que, com toda a oportunidade, o Tavisto aqui tem levantado estão, a meu ver, relacionadas com um monstro burocrático que dá pelo nome de ACSS.
A penosa releitura dos seus Estatutos, aprovados pela Portaria nº 646/2007 de 30 de Maio, fortaleceu a minha convicção de que a criação da ACSS foi o erro maior do anterior Governo, na área da saúde.
A análise deste diploma serviria de tema para vários posts. Por ora quero restringir-me aos problemas de pessoal e retomo uma afirmação de Tavisto no seu comentário á Trapalhada:

“Hoje não são apenas os privados a aliciar os melhores profissionais para os seus quadros, são os próprios EPE a competir entre si, levando a roturas assistenciais e a um disparar do custo de mão-de-obra, médica em especial, que ameaçam a própria sustentabilidade do SNS.”

Esta competição entre os EPE, da forma como se processa, não faz nenhum sentido.
Mas poderia ser evitada se a ACSS exercesse as competências que lhe estão legalmente atribuídas pelos seus Estatutos, nas alíneas b) e c) do Artigo 4.º:

“Garantir a harmonização e coerência estatutária dos corpos especiais da saúde, no âmbito de um regime de carreiras ou no contrato individual de trabalho, designadamente quanto a condições de trabalho e estatutos remuneratórios.”

“Intervir na negociação dos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho e assegurar o relacionamento com as associações sindicais do pessoal do Serviço Nacional de Saúde”.

Quase três anos depois, da publicação do diploma, que acções desenvolveu a ACSS para cumprir estas disposições?

12:02 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

Habilidades jornalístcas

Noticiando que Sócrates não vai ser acusado no caso Freeport, o Público dizia ontem que o «Primeiro-ministro foi suspeito durante quase seis anos, nunca tendo sido constituído arguido.»
Há aqui uma dupla incorrecção. Primeiro, Sócrates nunca esteve na situação de "suspeito" na investigação, pela simples razão que nunca houve contra ele nenhum indício relevante; segundo, para a generalidade da imprensa ele não foi simplesmente suspeito, mas sim expeditamente acusado e sumariamente condenado. Em vez de continuar a insinuar suspeitas que nunca tiveram o mínimo fundamento (persistindo em referir "indícios" inexistentes), a imprensa que participou no prolongado e malévolo "julgamento popular" de Sócrates deveria agora retractar-se e pedir desculpas ao visado e aos seus leitores.
Era o mínimo exigido pela seriedade, responsabilidade e boa-fé jornalística. Mas já se viu que tal não vai suceder. A instrumentalização mediática do processo Freeport contra Sócrates, nascida de uma comprovada conspiração política, há-de permanecer como um escandaloso exemplo de irresponsabilidade e de perseguição política da imprensa em Portugal. Se tivessem vergonha, deveriam envergonhar-se...

Vital Moreira, Causa Nossa

12:39 da manhã  

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