terça-feira, setembro 14

Propaganda mentirosa

…”Os hospitais e clínicas privadas dominam o campo das consultas em Portugal e já asseguram 25 por cento dos internamentos do Serviço Nacional de Saúde. Associação Portuguesa de Hospitalização Privada justifica esta fuga aos serviços públicos com o crescente recurso aos seguros de saúde. A medicina privada está a ganhar terreno face ao Serviço Nacional de Saúde, segundo os mais recentes dados, fornecidos pela Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), na data em que se assinala precisamente o Dia do Serviço Nacional de Saúde. Os hospitais e clínicos privados já asseguram mais de metade do total das consultas realizadas em Portugal, 25 por cento dos internamentos, têm 25 por cento da capacidade cirúrgica e garantem cinco por cento dos serviços de urgência. Por outro lado, detêm 15 por cento das 5000 camas hospitalares. A razão deste aumento da procura aos serviços privados encontra-se, ainda segundo a APHP, na oferta crescente dos seguros de saúde, aos quais recorrem, actualmente, mais de dois milhões de pessoas, o que representa um quinto da população portuguesa”…

É de facto extraordinária a persistência desta Associação (APHP) e do seu presidente na propaganda falaciosa, não fundamentada e demagógica. Todos sabemos que o sector privado vive momentos de apreensão. Que estas entidades convivem mal com o sucesso do SNS e a respectiva impregnação e aceitabilidade social. Que a tentativa de “golpe de Estado” nas funções sociais do Estado (via projecto de revisão constitucional do PSD) correu mal. Que o desespero é muito com a possibilidade de terminarem as deduções (subsídios) fiscais aos mais ricos para consumirem cuidados privados de saúde suportados pelos impostos dos mais pobres. Que o sucesso do programa de reforma e de modernização da Escola pública está a provocar um desvio em massa da procura para o ensino público. Que este exemplo das escolas constitui um péssimo precedente de “finlandização” do país com consequências nefastas sobre os negócios da saúde. Sabemos tudo isto. Mas daí à persistente insistência na distorção dos factos vai a uma grande distância. É por isso, que em nome da verdade fica aqui um desafio ao senhor presidente da APHP para que nos ajude a encontrar respostas (sérias e verdadeiras) para as seguintes questões:

- Em 2009 o SNS realizou nos CSP cerca de 33 milhões de consultas enquanto nos CSH realizou cerca de 10 milhões. Confirma, portanto, o senhor presidente da APHP que o sector privado terá realizado, em 2009, mais de metade deste número em consultas, ou seja mais de 21 milhões de consultas? Ora consultando o site do principal operador privado, em Portugal, verificamos que afirmam nos respectivos indicadores de gestão terem realizado, em 2009, cerca de 742 mil consultas. Faltam por isso encontrar os outros vinte milhões…Será que o senhor presidente da APHP nos poderá ajudar?

O mesmo grupo (o maior) informa no respectivo site ter realizado, em 2009, cerca de 25 mil cirurgias. Descontando a complexidade sabemos que o SNS realizou em 2009 quase meio milhão de cirurgias nas respectivas unidades. Será que o senhor presidente da APHP nos poderá ajudar? Acresce que, pela primeira vez, em 2009 o número de utentes operados nos hospitais convencionados baixou dezanove por cento passando esses doentes a ser operados na rede pública.

Quando refere que já fazem cinco por cento das urgências estão a falar de quê? Descontando a complexidade será que consideram como urgência os atendimentos por médicos indiferenciados nos diferentes tipos de clínicas? Qual o numerador e o denominador deste indicador? Será que o senhor presidente da APHP nos poderá ajudar?

Para além deste repto fica aqui outro desafio: em vez de continuarem a enganar os jornalistas e, consequentemente, os portugueses promovam um debate televisivo no horário nobre e afoitem-se a discutir, seriamente, dados objectivos e rigorosos. Não se preocupem que da parte do SNS haverá interlocutores com o trabalho de casa bem feito.

Olinda

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2 Comments:

Blogger Adolfo said...

E lá veio outra vez a “cassete” dos dois milhões de portugueses com seguros de saúde metendo no pacote tudo desde seguros acoplados a cartões de crédito até cartões de desconto. O Sr. Eng. Teófilo deveria informar-se junto do Instituto Português de Seguros para não nos andar sempre a “azucrinar” a cabeça com a mesma “cassete” (pirata). Já agora a APHP podia divulgar os resultados operacionais e o desempenho económico dos seus diferentes associados. É que entre calotes e penhoras parece que nem tudo está a correr de feição…

12:06 da manhã  
Blogger e-pá! said...

A ironia maquiavélica dos números...ou, a rábula do feitiço contra o feiticeiro

[Re]Começou a saga dos números...que vão ser "torturados" para justificarem o [até agora] mais violento ataque ao Estado Social, em Portugal.
Mais para a frente - quando da discussão do OGE - surgirão outros números, outros malabarismos, outras "pressões"...
O lobby a funcionar a todo o vapor!

Entretanto, seria bom comparar estes brilhantes resultados globais [metade das consultas realizadas em Portugal!] com o aumento da carga fiscal que [seguindo a sua lógica] deveriam ter onerado [?] as 3 ou 4 grandes empresas financeiras que operam no sector privado. Com certeza que aí encontraremos o "gato escondido"...
Poderá estar aí [escondida] uma boa fonte de receita orçamental.
Que, por ironia do destino, poderia ser encaminhada para consolidar a sustentabilidade financeira do SNS...

9:33 da manhã  

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