terça-feira, março 29

Entendam-se, porra !

Quando um governo, para não prejudicar o Turismo, se propõe baixar para 6% o IVA do golfe e, ao mesmo tempo, os barcos de cruzeiros no Douro ficam parados no cais de Gaia, por não haver dinheiro para recolocar as bóias de sinalização no rio, forçoso é concluir que já não há Governo.
Na verdade, há muito que não temos Governo. A acção governativa ficou limitada a uns poucos Ministros preocupados em resolver problemas de tesouraria, nem que para isso tivessem de recorrer a um Coronel Líbio de triste memória.
Entretanto, Portugal tem vivido sob a influência da SSP (Síndrome de Serpa Plus). Eu explico-me: À Câmara de Serpa concorreram o Nicolau Breyner pelo CDS e João Rocha pelo PCP. Adversários na política, mas amigos na vida real, diz Nicolau Breyner nunca ter visto duas pessoas tão aflitas como ele o seu amigo na noite das eleições: Rocha com medo de perder e Nicolau com medo de ganhar. Nós temos assistido ao estertor de um Primeiro-ministro cheio de medo de sair e à titubeante oposição do putativo sucessor, cheio de medo de entrar. É a Síndrome de Serpa. Plus porquê? Porque neste caso há uma terceira personagem que, de quando em vez, dá uns espirros e passa o resto do tempo a lavar as mãos.

De repente tudo se precipita. Na iminência de ter de pedir ajuda externa, Sócrates, com a astúcia política que se lhe reconhece, armou um laço político. Um laço feio, muito feio, mas, pelos vistos, bem armado.
Empurrado por uma eminência parda do PSD que, segundo e imprensa, lhe terá dito - este ano vais ter eleições de qualquer maneira, ou no país ou no partido – e com os ouvidos cheios do sonoro - agora ou nunca – gritado no congresso do CDS, Coelho deu um passo em falso. Subordinou-se à lógica partidária e, no dizer de Pacheco Pereira, “abandonou o mais puro bom senso que é a evidência de que ela (a crise) tem de ser defrontada pelos partidos com base na procura de entendimentos.
”Apelos ao entendimento foram feitos por Mário Soares, Jorge Sampaio e Miguel Cadilhe que fez um apelo dramático aos partidos com assento parlamentar, com ressaibos de José Régio: “Entendam-se. Meus Deus.
Que diabo! É o país que está em causa!" O Povo, esse, mais depressa se recordando da célebre frase do paredão do Alqueva, terá vontade de gritar: Entendam-se, porra!

Brites

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3 Comments:

Blogger e-pá! said...

Infelizmente, chegamos ao ponto de que um hipotético "entendimento" só é viável se for ditado de fora...
Assim do tipo: não há laranjinhas então não há circo.

Perdemos tudo. A identidade política que nos resta está, desde há muito, incapacitada de lidar com causas nacionais [já não falo em interesses públicos].
O "programa" PSD apresentado aos portugueses depois do Conselho Nacional é um indigente chorrilho de vulgaridades, lugares comuns e aleivosias.
Serviu unicamente para transmitir ao País que a sociedade e a economia serão fustigadas por receitas neoliberais [ainda por cima mal amanhadas] que o vão pôr em polvorosa...
O aproveitamento desta[s] crise[s] para desencadear processos sociais e económicos profundamente fracturantes [notórios nas arengas de PPC], é o mesmo que "atear fogo a um palheiro", sem portas nem janelas.
Vamos acabar todos "chamuscados"...

Acho que gritar porra já não chega, será necessário dizer: basta!

Não há pachorra para contemplar [suportar] este circo político.

7:57 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Afinal, ao contrário do que se supunha, o PSD rejeitou o PEC não por discordar das medidas propostas mas sim por ele não ir "suficientemente longe" !?
Mas não é verdade que antes de o rejeitar, o PSD nunca usou tão comprometedor argumento? E não é verdade que nunca fez menção de referir as medidas adicionais ou mais ambiciosas que defendia? E será que agora, depois de ter aberto uma crise politica e ter colocado o País na senda da ajuda externa, o PSD já pode enunciar essas medidas, para que os portugueses possam ter uma ideia do que esta leviandade politica lhes vai custar a mais ?

vital moreira, causa nossa

10:17 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Por que é que o Presidente da República ainda não aceitou a demissão do Governo, uma semana depois de esta ter sido apresentada, no seguimento da rejeição do PEC pela aliança de todos partidos de oposição?
Não é politicamente aceitável forçar um Governo a manter-se supostamente em plenitude de funções quando lhe foram retiradas as mínimas condições para governar. E não há nenhuma razão para ligar a data de demissão do Governo à data de uma provável decisão de convocar eleições antecipadas.

vital moreira, causa nossa

10:17 da tarde  

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