O que Cavaco pensa da Saúde
“Estado não pode ser avaliador, prestador e financiador da Saúde” .
Lobo Antunes diz que o importante na reforma da Saúde é garantir que “ninguém é excluído”.
Quando o Parlamento discute uma reforma da Saúde através da revisão constitucional fica um conselho: “Não faz o menor dos sentidos termos um Estado que é financiador, prestador e avaliador ao mesmo tempo”.
Concorda coma proposta de revisão constitucional do PSD que avança com um novo paradigma na Saúde e Educação?
Mais uma vez foi a retórica extremista que falou. Pessoalmente não via necessidade em tocar no artigo da Constituição que diz respeito ao “tendencialmente gratuito”. Veio criar um conceito que permitiu a alguns ter a ousadia ou a desfaçatez de dizer que a Saúde não tem preço. A Saúde tem um preço, elevadíssimo e crescente. E, pior do que isso, tendencialmente insustentável. A essência moral de um SNS em qualquer país é que seja equitativo e acessível. Dêem-lhe a roupagem ideológica que quiserem, o que é preciso é que qualquer português, independentemente das suas disponibilidades, seja bem tratado. A nossa obrigação é garantir que estes valores possam ser preservados.
Com um sistema sustentável.
O resto é retórica na qual não entro.
Para si faz muita diferença ser um privado a prestar um serviço que agora é prestado pelo público?
Só faz diferença se houver discriminação. Não faz o menor dos sentidos termos um Estado que é financiador, prestador e avaliador ao mesmo tempo.
Em qual das três funções se deve o Estado concentrar?
Entrar para uma lista de espera não é prestar cuidados de saúde a uma população. O SNS português tem imensas virtudes. Tenho um enorme orgulho em servir o SNS e sirvo na clínica privada de outras formas. O SNS funciona quando um doente, finalmente, entra pela porta do meu serviço para ser tratado porque aí não há distinção.
Mas demora até que isso aconteça.
Por vezes é um labirinto. Um labirinto doloroso.
Chegam-lhe cada vez mais doentes com menos capacidade financeira?
Isso é evidente.
Pela perda de poder de compra?
Por aquilo que os doentes definem, de forma muito simples, como sendo “a crise”.
Que leitura fez da manifestação do último sábado, quando os jovens vieram para as ruas?
É triste que não tenham encontrado um substantivo mais elegante do que “a geração à rasca”. É uma geração que está inquieta, perplexa, aflita e, em alguns aspectos, perdida.
Esta foi das gerações com acesso a mais informação, mais competências e com maiores frustrações pelas dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Como se compatibiliza tudo isto?
Ou baixamos os braços e dizemos que não há nada a fazer, e iremos morrer como certas espécies que não conseguiram criar as condições para sobreviver, ou então vamos para a luta. Não há outra maneira. E a luta nasce na competência e na capacidade dessa competência ser exercida. Temos de criar as condições, essa é a responsabilidade dos mais velhos, para que as competências floresçam.
O Governo tem, apostado na Ciência. Temos valor e capacidade para continuarmos a ser uma base exportadora de cérebros mas, também, para os atrair, como acontece com a Fundação Champalimaud?
Não há dúvida nenhuma de que a Ciência foi um dos grandes triunfos, não diria do Governo socialista, mas do professor Mariano Gago.
É o ministro em funções há mais tempo desde o 25 de Abril.
Ele começou nestas fainas já no tempo de Cavaco Silva como primeiro-ministro. A Ciência tem um nome: é indiscutivelmente o de José Mariano Gago. E a razão do sucesso nasceu, em grande parte, porque introduziu na cultura da Ciência um dado novo: a avaliação independente, feita por estrangeiros. Subiu o nível de fasquia das candidaturas de tal maneira que se passou uma barreira que não foi atingida em mais nenhuma área da governação ou da vida política portuguesa. Falo da exigência na avaliação.
Comparando com os melhores casos internacionais?
Ao criarmos centros de excelência consideramos que há pessoas e grupos melhores do que outros e que o discurso igualitarista que, falsamente quisemos classificar de esquerda, é assassino. É preciso reconhecer os melhores e recompensá-los.
Como é sentida a crises nestes centros de investigação?
Agora estão ameaçados, em parte pelo corte de verbas mas também por uma certa irregularidade nos concursos. Percebo que a ênfase tenha de ser dada aos salários,mas uma investigação como a que fazemos necessita de equipamentos poderosíssimos e temos de renovar o nosso parque tecnológico. No Instituto de Medicina Molecular cerca de 25% das nossas verbas vêm de concursos internacionais muito competitivos. Se não temos instrumentos, o último microscópico ou o último sequenciador, deixamos de ser competitivos.
Falta investimento público nessa área?
É uma das áreas prioritárias.
Também na cultura há corte do investimento público. É um apreciador de arte e cultura. Como vê a aposta política na Cultura?
Nos EUA existe um investimento privado na cultura por várias razões. Primeiro porque há ética protestante que obriga as pessoas a um imperativo moral de dar o que ganharam. Warren Buffet dizia que devemos deixar aos nossos filhos o suficiente para viverem e não para deixarem de trabalhar. Em Portugal, não há a tradição se dar. Para o americano, ser filantropo é uma medalha social.
Existe uma cultura de mão estendida?
Não gosto que me digam que não, porque não peço para mim, mas para boas causas. Muitas vezes tenho sucesso. Coisas modestas. Mas tenho dificuldade em perceber que as grandes empresas só se interessam pela tecnologia orientada para o seu ‘core business’ e não para a generosidade livre e sem retorno.Há muita coisa boa a fazer-se em Portugal mas é muito difícil perceber o papel do Estado nomecenato da Cultura. Sei que o Pacheco Pereira acha que o Estado não deve ter qualquer papel na Cultura, cada um que se “safe como talento que tem”.
Qual a sua opinião?
Defendo um modelo misto.
Lobo Antunes diz que o importante na reforma da Saúde é garantir que “ninguém é excluído”.
Quando o Parlamento discute uma reforma da Saúde através da revisão constitucional fica um conselho: “Não faz o menor dos sentidos termos um Estado que é financiador, prestador e avaliador ao mesmo tempo”.
Concorda coma proposta de revisão constitucional do PSD que avança com um novo paradigma na Saúde e Educação?
Mais uma vez foi a retórica extremista que falou. Pessoalmente não via necessidade em tocar no artigo da Constituição que diz respeito ao “tendencialmente gratuito”. Veio criar um conceito que permitiu a alguns ter a ousadia ou a desfaçatez de dizer que a Saúde não tem preço. A Saúde tem um preço, elevadíssimo e crescente. E, pior do que isso, tendencialmente insustentável. A essência moral de um SNS em qualquer país é que seja equitativo e acessível. Dêem-lhe a roupagem ideológica que quiserem, o que é preciso é que qualquer português, independentemente das suas disponibilidades, seja bem tratado. A nossa obrigação é garantir que estes valores possam ser preservados.
Com um sistema sustentável.
O resto é retórica na qual não entro.
Para si faz muita diferença ser um privado a prestar um serviço que agora é prestado pelo público?
Só faz diferença se houver discriminação. Não faz o menor dos sentidos termos um Estado que é financiador, prestador e avaliador ao mesmo tempo.
Em qual das três funções se deve o Estado concentrar?
Entrar para uma lista de espera não é prestar cuidados de saúde a uma população. O SNS português tem imensas virtudes. Tenho um enorme orgulho em servir o SNS e sirvo na clínica privada de outras formas. O SNS funciona quando um doente, finalmente, entra pela porta do meu serviço para ser tratado porque aí não há distinção.
Mas demora até que isso aconteça.
Por vezes é um labirinto. Um labirinto doloroso.
Chegam-lhe cada vez mais doentes com menos capacidade financeira?
Isso é evidente.
Pela perda de poder de compra?
Por aquilo que os doentes definem, de forma muito simples, como sendo “a crise”.
Que leitura fez da manifestação do último sábado, quando os jovens vieram para as ruas?
É triste que não tenham encontrado um substantivo mais elegante do que “a geração à rasca”. É uma geração que está inquieta, perplexa, aflita e, em alguns aspectos, perdida.
Esta foi das gerações com acesso a mais informação, mais competências e com maiores frustrações pelas dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Como se compatibiliza tudo isto?
Ou baixamos os braços e dizemos que não há nada a fazer, e iremos morrer como certas espécies que não conseguiram criar as condições para sobreviver, ou então vamos para a luta. Não há outra maneira. E a luta nasce na competência e na capacidade dessa competência ser exercida. Temos de criar as condições, essa é a responsabilidade dos mais velhos, para que as competências floresçam.
O Governo tem, apostado na Ciência. Temos valor e capacidade para continuarmos a ser uma base exportadora de cérebros mas, também, para os atrair, como acontece com a Fundação Champalimaud?
Não há dúvida nenhuma de que a Ciência foi um dos grandes triunfos, não diria do Governo socialista, mas do professor Mariano Gago.
É o ministro em funções há mais tempo desde o 25 de Abril.
Ele começou nestas fainas já no tempo de Cavaco Silva como primeiro-ministro. A Ciência tem um nome: é indiscutivelmente o de José Mariano Gago. E a razão do sucesso nasceu, em grande parte, porque introduziu na cultura da Ciência um dado novo: a avaliação independente, feita por estrangeiros. Subiu o nível de fasquia das candidaturas de tal maneira que se passou uma barreira que não foi atingida em mais nenhuma área da governação ou da vida política portuguesa. Falo da exigência na avaliação.
Comparando com os melhores casos internacionais?
Ao criarmos centros de excelência consideramos que há pessoas e grupos melhores do que outros e que o discurso igualitarista que, falsamente quisemos classificar de esquerda, é assassino. É preciso reconhecer os melhores e recompensá-los.
Como é sentida a crises nestes centros de investigação?
Agora estão ameaçados, em parte pelo corte de verbas mas também por uma certa irregularidade nos concursos. Percebo que a ênfase tenha de ser dada aos salários,mas uma investigação como a que fazemos necessita de equipamentos poderosíssimos e temos de renovar o nosso parque tecnológico. No Instituto de Medicina Molecular cerca de 25% das nossas verbas vêm de concursos internacionais muito competitivos. Se não temos instrumentos, o último microscópico ou o último sequenciador, deixamos de ser competitivos.
Falta investimento público nessa área?
É uma das áreas prioritárias.
Também na cultura há corte do investimento público. É um apreciador de arte e cultura. Como vê a aposta política na Cultura?
Nos EUA existe um investimento privado na cultura por várias razões. Primeiro porque há ética protestante que obriga as pessoas a um imperativo moral de dar o que ganharam. Warren Buffet dizia que devemos deixar aos nossos filhos o suficiente para viverem e não para deixarem de trabalhar. Em Portugal, não há a tradição se dar. Para o americano, ser filantropo é uma medalha social.
Existe uma cultura de mão estendida?
Não gosto que me digam que não, porque não peço para mim, mas para boas causas. Muitas vezes tenho sucesso. Coisas modestas. Mas tenho dificuldade em perceber que as grandes empresas só se interessam pela tecnologia orientada para o seu ‘core business’ e não para a generosidade livre e sem retorno.Há muita coisa boa a fazer-se em Portugal mas é muito difícil perceber o papel do Estado nomecenato da Cultura. Sei que o Pacheco Pereira acha que o Estado não deve ter qualquer papel na Cultura, cada um que se “safe como talento que tem”.
Qual a sua opinião?
Defendo um modelo misto.
DE, entrevista de Francisco Teixeira, 18.03.11
Nota final: O professor Lobo Antunes na abordagem do tema da Saúde não fugiu ao estafado preconceito liberal da separação das funções do Estado. Segundo o qual, o Estado serve apenas para pagar (bem) e avaliar (mal, como convém). As prestações, como é evidente, devem ser entregues aos prestadores privados que tão boa conta têm dado de si. Tudo a bem da sustentabilidade do sistema. E proveito do sector privado (merecido, presume-se). Para o professor Lobo Antunes, desta forma, a não discriminação dos doentes estará assegurada.
Nota final: O professor Lobo Antunes na abordagem do tema da Saúde não fugiu ao estafado preconceito liberal da separação das funções do Estado. Segundo o qual, o Estado serve apenas para pagar (bem) e avaliar (mal, como convém). As prestações, como é evidente, devem ser entregues aos prestadores privados que tão boa conta têm dado de si. Tudo a bem da sustentabilidade do sistema. E proveito do sector privado (merecido, presume-se). Para o professor Lobo Antunes, desta forma, a não discriminação dos doentes estará assegurada.
E, sobre Saúde, pouco mais acrescentou digno de registo.
A entrevista é fértil em "fait divers" como a deselegância da locução "geração à rasca”, na opinião do professor. E a nota oportuna em relação a Mariano Gago: «ter começado nestas fainas (aposta na ciência) no tempo de Cavaco Silva».
Face a tanta pose, chegados ao fim, tudo espremido, ficou-nos a sensação de vazio, pobreza de conteúdo confrangedor.
clara gomes
Etiquetas: Entrevistas, s.n.s
7 Comments:
O presumível sucessor de Ana Jorge a ensaiar o discurso para a clique laranja ouver.
Lobo Antunes fez a sua formação nos Estados Unidos e sabe muito bem o que é fazer distinção em Saúde. Os 50 milhões de americanos que não têm cobertura de cuidados de saúde, nem direito têm a poder entrar numa lista de espera que lhes permita conseguir a consulta ou a cirurgia de que carecem.
Que SNS tem defeitos e sofre de iniquidades todos o sabemos, mas tem essa grande virtude do doente poder aceder e nele ser tratado sem distinções, embora nem sempre com a celeridade que se deseja.
Em que sentido pretende Lobo Antunes mudá-lo? Estará o Professor em condições de nos garantir que, no modelo defendido por Passos Coelho, os doentes que são hoje tratados sem distinção no seu serviço no H.Stª Maria o poderão fazer de futuro, em idênticas condições de acesso, na clínica particular onde exerce?
Talvez que dentro do seu serviço privado continue a poder tratar os doentes sem distinção, mas, a montante, o crivo da discriminação sócio-económica encarregar-se-à de seleccionar a elite que a ele passará a poder aceder.
A falácia da sopa...
Continuo sem perceber - salvo o devido respeito sobre a idoneidade científica do entrevistado - a crescente ansiedade de algumas cabeças pensantes sobre a insustentabilidade de SNS e, a partir daí, o leque de soluções mercantis que propõem...
Na verdade, insustentável - para o Homem contemporâneo e para a cultura europeia - será a destruição do Estado Social ou a sua substituição [preversão] por um "mercado de serviços" de bens sociais, livre, ou se quisermos, liberal.
Trocadilhos de circunstância como aquele que partindo do princípio expresso na dúbia frase "tendencialmente gratuito" aporta ao bizarro conceito de que a "populaça" pensa que saúde "não tem preço" deveriam, também, ser proferidos de forma mais elegante, mais elaborada e mais respeitadora da "gentalha" que paga avultados impostos e taxas.
A Saúde [conceito de bem estar...] não tem, de facto, preço, é um bem imaterial. O que tem custos financeiros [e outros] são os serviços prestadores de cuidados de saúde... é a prevenção da doença, etc.
Todavia, a inexistência [de prestações], ou sua adulteração, têm graves custos políticos e sociais, também contabilizáveis.
Afinal não é só a designação de "geração à rasca" que é deselegante.
Deselegante é, também, baralhar conceitos, prestações, regulação e resultados, para servir preconceitos ideológicos...
Quando ouço doutos palpites sobre o SNS lembro-me, invariavelmente, do que escreveu Hemingway:
"Um idealista é um homem que, partindo de que uma rosa cheira melhor do que uma couve, deduz que uma sopa de rosas teria também melhor sabor"...
Livro “Saude 24 horas” – guia de saúde para todos com soluções e dicas para mais de 100 problemas de saúde, Gripe, constipações, febre, tosse, garganta inflamada, colesterol, tiróide, diarreia, obstipação, queimaduras, bebés, grávidas, contracepção, menstruação, disfunção, entre outros. Plataforma de apoio www.saude24horas.net. Deplanobooks editora.
www.saude24.net agora em livro, livro Saude 24 horas, de Carlos Edgar
Oportuna a abordagem deste naco de entrevista.
O professor Lobo Antunes tão fluente em tudo o que aborda na comunicação social, sobre a Saúde não consegue ir além do trivial.
A sua opinião sobre a separação de funções do Estado no que respeita à Saúde dá para se mostrar e fazer o alinhamento com as teses dos liberais de pacotilha.
A ser eleito/escolhido,vamos ter um novo ministro da saúde palaciano a falar de tudo o que é mundano (in), em detrimento do que é importante.
Um sinal positivo para os "investidores" privados da saúde.
Audição na Assembleia da República sobre prescrição por DCI
João Cordeiro diz que bastonário da OM «não percebe nada» de biodisponibilidade.
A proposta de José Manuel Silva para que o Infarmed faça testes de equivalência terapêutica aos medicamentos genéricos endovenosos utilizados na anestesia é rebatida pela ANF. Pois, segundo João Cordeiro, eles são administrados directamente, tendo uma biodisponibilidade de 100%.
As posições assumidas pelo bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, a propósito da prescrição de medicamentos por denominação comum internacional (DCI) «demonstram um desconhecimento total» sobre a bioequivalência e a biodisponibilidade. A acusação é de João Cordeiro, presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), e foi feita, no passado dia 16, durante uma audição na Comissão Parlamentar de Saúde da Assembleia da República.
O dirigente da ANF, alegando que teve acesso ao documento deixado pelo bastonário na mesma sede, acusou ainda José Manuel Silva de querer «amedrontar» as pessoas quando se refere, por exemplo, aos anestésicos genéricos. Neste caso, porque são fármacos endovenosos, administrados portanto de forma directa, sendo a respectiva biodisponibilidade de 100%, João Cordeiro afirmou que «não faz sentido estar a falar de estudos» e que os mesmos só podem ser pedidos «por quem não percebe nada do assunto».
Preocupado com a qualidade dos genéricos, o bastonário da OM tinha deixado o seguinte repto aos deputados: «Obriguem o Infarmed a disponibilizar ao público os dossiês de aprovação dos medicamentos.» Isto para que os médicos, doentes e peritos possam «escrutiná-los» e tenham acesso à biodisponibilidade e bioequivalência de «cada genérico».
A elaboração de testes de equivalência clínica, por parte do Infarmed, aos medicamentos endovenosos utilizados na anestesia foi particularmente proposta por José Manuel Silva.
«De acordo com as guidelines, a bioequivalência dos fármacos endovenosos não necessita de ser testada, mas os anestesistas afirmam haver diferenças de efeito clínico entre distintas marcas do mesmo princípio activo», lê-se no documento que reproduz afirmações do bastonário da OM na Comissão Parlamentar de Saúde.
«A farmacovigilância obriga a notificar essas situações. Não se pode vir é com suspeitas que nunca são clarificadas», retorquiu o presidente da ANF, cerca de um mês depois da ida do representante dos médicos ao Parlamento.
João Cordeiro também se disponibilizou a entregar na Comissão Parlamentar de Saúde, caso fosse essa a vontade dos deputados, os estudos de biodisponibilidade efectuados pelo Laboratório de Estudos Farmacêuticos (LEF), do qual a ANF é proprietária. «Houve medicamentos que foram retirados do mercado como resultado de boletins analíticos do LEF», aproveitou para informar, sublinhando a dificuldade em provar que um fármaco de uma multinacional não tem qualidade.
TEMPO MEDICINA 2011.03.21
...
«O bastonário assustou-me»
Foi a deputada Maria Antónia Almeida Santos, do PS, quem confrontou João Cordeiro com a posição assumida pela OM. «O bastonário assustou-me ao dizer que os doentes estariam em perigo», confessou, citando a seguinte passagem do documento escrito: «Se persistir a insistência na troca de marcas de genéricos nas farmácias e se essa troca apenas for evitável pela fundamentação técnica, a OM recomendará a todos os médicos que, caso o entendam, justifiquem a proibição com a expressão “garantia de biodisponibilidade e bioequivalência”.»
Na resposta, o presidente da ANF considerou ser «falta de seriedade» o tipo de «alarmismo» veiculado pela OM. «Se os doentes correm perigo tem de se assumir responsabilidades e dizer quais são os medicamentos em causa», declarou, apontando então para a notificação das situações.
«Não reconheço ao bastonário da OM que ele seja o dono da ciência. Aliás, li toda a sua intervenção e não sei como é que esta Comissão de Saúde aguentou», comentou João Cordeiro, com alguns deputados a exclamarem prontamente que já estavam habituados.
Refugiando-se também no campo científico, o presidente da ANF fez-se acompanhar de António Bica, director técnico do LEF. A ideia foi defender a bioequivalência e a biodisponibilidade dos genéricos com base em «ciência publicada».
«Um dos mitos que normalmente surgem nesta avaliação é de que dois medicamentos bioequivalentes em termos de eficácia e segurança podem apresentar diferenças nas biodisponibilidades até 45%. Isto é completamente errado», assegurou António Bica, alertando que, se tal fosse verdade, as diferenças nos resultados clínicos seriam da mesma dimensão.
Quando se fala num intervalo de confiança entre 80% e 125%, explicou, o mesmo não se refere à biodisponibilidade propriamente dita, mas sim aos «extremos de uma metodologia estatística» na qual entram outros parâmetros farmacocinéticos.
Tempo de Medicina
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