segunda-feira, outubro 31

Mais um ajustamento em Novembro

Mais um “ajustamento”, i. e., pôr justo ou certo, regular, tratar ou combinar, contratar, assentar (peças), …

A renegociação do memorando de entendimento com a troika em Novembro, anunciada por Passos Coelho fora do País (Assunção / Paraguai), sob a designação de um “ajustamento”, é - como se depreende dessa revelação - a constatação que necessitamos de um reforço do programa de assistência financeira externa.
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O motivo oficialmente invocado é a necessidade de “garantir um mais adequado financiamento à economia”. Na verdade, esse “ajustamento” servirá para sanear as contas das empresas públicas (com vista a uma privatização mais “tranquila” para os eventuais investidores) e para a eventualidade de o esforço de recapitalização dos bancos ir além do previsto nas decisões da última cimeira europeia.

Mais uma vez, tentando aproveitar a onda de contestação que começa a varrer o País e ameaça a coesão social, baseada no facto que para além dos duros sacrifícios que têm sido impostos aos portugueses (uma severa austeridade) nada está a ser feito em prol do crescimento económico e no combate ao desemprego, o Governo cavalga a situação com um “ajustamento para o financiamento da economia”.

Não há almoços grátis, o Governo sabe-o. Ao anunciar a “ajustamentos” está a prenunciar mais medidas extraordinárias, mais “reformas estruturais”, mais austeridade. Está a defender para os portugueses o “insustentável” ou, pior, o ignominioso. Portugal, por este caminho, não vai só empobrecer até aos limites do inimaginável. Vai, simultaneamente, hipotecar a identidade e a dignidade. E, depois, ninguém quererá “ajustar” nada connosco.

Todo este conjunto de políticas “sem alternativas” começa a desmoronar-se como um baralho de cartas. De cartas viciadas.

Entretanto, como qualquer empresa insolvente, o Governo pretende contrair (“ajustar”) um novo empréstimo (25 mil milhões de euros?
link para acumular com o de há 5 meses.

Esta é uma estratégia pírrica: mais uma vitória em Novembro e estamos perdidos.
Chegou a altura de desmontar o conteúdo do “inevitável” que impende sobre crise nacional (financeira, politica, económica e social) para que não se torne “inelutável”. Ou trágica.

E-Pá!

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6 Comments:

Blogger Clara said...

'A lógica perversa de compressão salarial na função pública vai produzir efeitos nefastos. Além da desmotivação, os incentivos para a saída dos mais qualificados são tantos que a capacidade da administração para defender o interesse público ficará ainda mais fragilizada e a degradação progressiva dos serviços será inevitável. Não por acaso, esta semana já pairou a ameaça de uma debandada geral de médicos que estão em exclusividade no SNS.

Esta reforma do Estado irracional e feita ad hoc esconde objetivos políticos. Por um lado, é-nos dito que a via para a competitividade do país passa pelo empobrecimento generalizado na função pública; por outro, é recuperado, com trinta anos de atraso e particular intensidade, um conjunto de ideias muito populares nos meios académicos sobre as ‘falhas de Estado’ e a forma como os funcionários de topo, em última análise, se apropriam dos recursos públicos, promovendo uma lógica despesista extravagante. Só isso pode explicar a ambição de desmantelar os serviços públicos que está na base da ação deste Governo. Que Portugal tenha sido escolhido para laboratório de um radicalismo académico anquilosado é, se nada mais, assustador.'

Pedro Adão e Silva, expresso 29.10.11

Porque hesita o PS em chumbar o OE/2012?
Sem uma oposição capaz estamos entregues a este governo liberal pacotilha FP.

1:27 da tarde  
Blogger tambemquero said...

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1. O uso ambivalente da bandeira da austeridade

Indo direito ao ponto: decidir a austeridade como resposta à possibilidade de incumprimento das nossas obrigações é uma coisa; decidir a austeridade como solução estrutural para os impasses económicos do país é outra, bem diferente. Comprar a primeira é uma inevitabilidade para o bom senso; a segunda só compra quem quer. De facto, aceita-se, dentro de limites razoáveis, o regime da austeridade como resposta de emergência, e portanto provisória, a uma necessidade de correcção de um endividamento insustentável. Mas, muito diferente desta ideia é a que vai sendo insinuada aqui e ali por quem manda politicamente, e que se resume à pretensão de que é preciso forçar os portugueses a um empobrecimento, e que só por um claro recuo das suas remunerações, embaratecendo assim o trabalho em Portugal, as dificuldades económicas do país se resolvem. Não distinguir clara e inequivocamente as duas ideias, simplesmente concorre para tornar suspeita a justificação política para a austeridade.

Não estou a dizer que os problemas económicos não se resolvessem dessa maneira, por uma “vietnamização” da economia portuguesa, lembrando esse paraíso de produtividade para “nikes” e “timberlands” que tanto agradam o luso gosto domingueiro por montras de shoppings. Ou poupando o povo vietnamita a comparações menos agradáveis e que um passado nosso, ainda recente, bem dispensa se recordarmos, por exemplo, o trabalho domiciliário infantil que por décadas se praticou no Vale do Ave e, curiosamente, mas não por coincidência, também no setor têxtil e do calçado.

É preciso entender que esta forma de resolver o problema económico é uma escolha e não uma necessidade; e que é, ainda, uma escolha por jogar com as mesmas cartas gastas, em vez de trazer novas cartas ao jogo. Cartas novas, ou recuperadas, o que vai dar no mesmo, é apostar, por exemplo, na reanimação do sector mineiro, como se está a fazer, e muitíssimo bem, agora; seria também apostar seriamente no mar e nas pescas; e na inovação tecnológica, e nas potencialidades endógenas do território nacional. É um trabalho difícil e lento, que não se resume a uma resposta, mas provavelmente a uma centena de respostas diferentes, com escalas e alcances diferenciados, mas, no seu conjunto, essenciais, e que compete ao ministério da economia agilizá-las. Esperar jogar com as mesmas cartas, sempre em jogo, mas cada vez mais gastas, é que não.
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André Barata, blog Sedes link

1:38 da tarde  
Blogger tambemquero said...

JN: Como avalia a desvalorização interna que o Governo português está a pôr em curso?

PdG: É uma estratégia de alto risco. É verdade que Portugal tem de conseguir uma desvalorização interna, mas vocês terão de aplicar medidas tão duras, que conduzirão a uma recessão profunda. Os mercados podem não vos dar o tempo de que precisam. Estão muito nervosos, e poderão colocar-vos mais e mais pressão. Pode acontecer que as coisas ainda piorem, como aconteceu na Grécia, exigindo mais e mais austeridade que torne uma crise gerível numa crise insolúvel.

Entrevista a Paul De Grauwe JN 31.10.11 link

1:53 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Tudo o que nos está a cair em cima parece mau de mais para ser verdade. O que este Governo está a aplicar já não é o programa da Troika, assemelha-se mais a um programa de economia de guerra fazendo letra morta da legislação vigente e de acordos sociais estabelecidos em democracia. A questão que hoje se me coloca é saber se nas medidas tomadas há essencialmente uma opção ideológica ou se a situação do País é assim tão má que tudo justifica, todos estes cortes e um novo resgate financeiro.
Neste aspecto o pendor do voto do PS será decisivo. Viabilizar, por acção ou omissão, este orçamento só pode significar o assumir da culpa sendo a confirmação de que afinal o desvio era mesmo colossal.

2:54 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Uma clarificação ao texto de Pedro Adão e Silva aqui postado pela Clara. Manda a verdade que se diga que quem ameaçou debandada do SNS não foram médicos que estão em exclusividade no SNS mas sim colegas em regime de contrato individual de trabalho (40 horas sem exclusividade). Contratados naquelas condições, muitos têm salários bem acima dos colegas em exclusividade e, compreensivelmente, não aceitam ver os seus vencimentos diminuídos.

7:20 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". conselho do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre, aos jovens desempregados portugueses. link

«A estratégia mais fácil de dar cabo do Estado social é "manter" o desemprego a nível elevado durante o tempo necessário para que os eleitores percam a paciência, passem a achar que as despesas públicas com o apoio aos desempregados são insustentáveis e que o que é preciso é os malandros saiam da "zona de conforto”,» Hugo Mendes, jugular
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Temos é de tirar estes liberais de pacotilha FP do Governo (a natural "zona de conforto" dos políticos incompetentes.

11:52 da tarde  

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