sábado, outubro 29

Mendes Ribeiro, o maior"

Ariete dos interesses privados.

Tive oportunidade de assistir ao debate sobre reforma hospitalar realizado na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, encontro que teve como figura central José Mendes Ribeiro. A uma audiência ávida em saber o que pretende o Governo fazer aos hospitais do SNS, o coordenador do Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar começou por dizer que muito pouco poderia avançar uma vez que o grupo que lidera está ainda em fase de estudo e reflexão.

Apesar da ausência de medidas concretas, ficámos a saber que Mendes Ribeiro se tem em muito boa conta atribuindo a situação de descontrolo nas contas dos hospitais EPE à quebra das boas práticas de gestão e controlo por si introduzidas no modelo SA. A imagem que tem de si próprio não é porém extensiva aos colegas pois afirmou, preto no branco, que os gestores do SNS não estão ao nível da qualidade da medicina neles praticada.

Manifestou desejo de que o sistema de financiamento baseado em “outcomes” viesse a substituir o actual assente em “outputs”, procurando dar mais peso à qualidade dos cuidados prestados. Sobre esta matéria manifestou especial preocupação com a elevada taxa de infecção hospitalar, no que todos estaremos de acordo. Tudo a favor, também, da necessidade de tornar o sistema mais transparente através da divulgação de resultados, estimulando assim práticas de “benchemarking”.

Confirmámos, que Mendes Ribeiro se revê na gestão privada dos grupos económicos, parcerias PP em particular, ao afirmar que o Hospital de Braga consegue preços mais baixos por patologia que os hospitais de São João e Santo António. A provocação e o preconceito anti gestão pública, servindo-se como referência de um hospital ainda em processo de arranque e já alvo de 3 multas por incumprimento contratual, geraram manifesto mal-estar traduzido num indisfarçável bruaá vindo da plateia.

Ficámos ainda a saber que Mendes Ribeiro não encontra benefícios nas ULS. Invocando um qualquer estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, alegou não trazer vantagem sobre modelos de cuidados não integrados. Além disso a verticalização leva a uma quebra da concorrência e da liberdade de escolha, resultando em prejuízo da medicina convencionada prática em que se revê.

Seguiu-se um role de intervenções/questões de um painel de convidados e de umas poucas vindas da assistência. As preocupações, incomodidades, desalentos, desconfianças e poucas expectativas manifestadas nada de relevante acrescentaram ao debate. De salientar, apenas, a referência de Mendes Ribeiro à importancia da cooperação com os PALOP dando a conhecer que há em Angola três hospitais construídos por Espanha, encerrados por falta de profissionais. Terá sido uma forma velada de avisar os médicos mais jovens que a sua sorte poderá estar fora do País?

Távisto

Etiquetas: ,

3 Comments:

Blogger Tavisto said...

Por lapso, no último parágrafo escrevi Mendes de Almeida, que tão pouco esteve na reunião, em vez de Mendes Ribeiro. As palavras por este proferidas foram em resposta á questão levantada por Lúcio Baptista sobre a necessidade de encarar a Saúde não apenas como fonte de despesa mas como potencial fonte de receita.

10:14 da manhã  
Blogger saudepe said...

Mendes Ribeiro, claramente uma carta (e que bisca!) a destoar no grupo de trabalho de Paulo Macedo, que, até ver, tem procurado atacar de forma racional as ineficiências do SNS.

12:11 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Ministro nega cortes cegos

E o futuro de quem tomou posse não será fácil, atendendo ao que se espera para o sector da Saúde nos próximos anos. Paulo Macedo garantiu que o que está em marcha é o «urgente» ajustamento dos recursos, reduzindo despesa «onde ela não é necessária». Aliás, o dirigente reforçou que «as reduções de custos são dirigidas à ineficiência», negando a existência de «cortes cegos». «Quando estamos a falar em cortes cegos estamos a falar é em ausência de gestão», frisou.
O ministro reconheceu que «não será tarefa fácil» a que os dirigentes da Saúde têm em mãos, já que «a dimensão do ajustamento necessário exige criatividade e determinação» para encontrar as oportunidades de aumento de ineficiência e para lidar com as «grandes resistências à mudança».
Mas, nas palavras do governante, a mudança será fundamental para assegurar que os portugueses vão continuar a ter um SNS de qualidade. Um SNS «diferente», sublinhou, com menos chefias, menos fraudes, menos duplicações, menos despesa com o sector convencionado, menos custos com medicamentos, menos horas extraordinárias, mas com maior concentração de unidades, maior acesso dos cidadãos ao médico de família, mais cuidados continuados, mais genéricos, mais regulação, mais racionalização de serviços, maior controlo de gestão e mais responsabilização, enumerou. Um SNS diferente, mas «conservando o seu ADN», garantiu.

TM 31.10.11

O discurso reformista do Ministro da Saúde é muito semelhante ao de Correia de Campos, repetindo, frequentemente, a necessidade de reformar o SNS como imperativo de sobrevivência.
Mesmo que acreditemos na boa fé de Paulo Macedo será que os seus colegas de governo ultra liberais como Vitor Gaspar e o seu chefe de comunicação Pedro Passos Coelho, não vão impôr ao Ministro da Saúde medidas mais radicais de forma a comprometer a preservação do ADN do SNS a que o ministro alude.
É que o fim último das medidas de austeridade não é conseguir o equilibrio das contas públicas e/ou o relançamento da economia, mas sim o ataque ao Estado Social.

12:32 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home