sábado, outubro 15

Mentiroso

«Fomos até onde podíamos ir»
Vida difícil para o País, vida difícil para o sector da Saúde. Era um cenário esperado, mas os anúncios feitos por Pedro Passos Coelho vão ainda mais além dos sacrifícios esperados, sobretudo para quem trabalha na máquina do Estado, como médicos e enfermeiros.
«No Orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e da Educação. Neste aspecto, fomos até onde podíamos ir — no combate ao desperdício, nos ganhos de eficiência.» As palavras de Pedro Passos Coelho na declaração ao País, no passado dia 13, consolidavam aquilo que há muito se esperava: o cenário era negro nas contas nacionais e a Saúde não escaparia aos cortes programados para equilibrar a balança orçamental. Contudo, o primeiro-ministro também garantiu: «Não podemos ir mais longe nestes cortes sem pôr em causa a qualidade dos serviços públicos» e «sem pôr em causa o acesso dos cidadãos a estes serviços. E isso não faremos.» TM 17.10.11
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Em 2012, o SNS sofrerá cortes de mais de 800 milhões. Objectivo que excede largamente o limite do razoável, comprometendo seriamente o acesso e a qualidade deste serviço público.
«Não podemos ir mais longe nestes cortes sem pôr em causa a qualidade dos serviços públicos» e «sem pôr em causa o acesso dos cidadãos a estes serviços. E isso não faremos.»
Passos Coelho mente mais uma vez. Depois de ter mentido durante toda a campanha descaradamente. Passos Coelho, primeiro ministro, continua a mentir tentando esconder dos portugueses o seu verdadeiro programa de reforma ulra-liberal que arruinará o SNS e arrastará Portugal para o abismo.

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3 Comments:

Blogger e-pá! said...

Fomos até onde podíamos ir!...

Esta certeza no c**** deixa-me esbabacado.

Claro que, para quem sabe da poda, os cortes na Saúde, foram para além do razoável.
Não será mais possível falar em qualidade, equidade, universalidade.
E sobre o que resta falaremos em Janeiro (quando sairem as "taxas moderadoras")

Sr. 1º. Ministro:
Neste OE foi longe de mais. Quando o notar não se esqueça de justificar que foi por causa da dívida de 3.000 M€ (trate-a como uma "dívida oculta").
Ah! e que não havia alternativa...
Ou, então, que perante a ânsia de superar a "troika" confundiu gorduras com ossos.

Mas não venha com aquela justificação do "falei demais" porque, na realidade, o que está a fazer é "falar à mão" (como o povo chama aos "empatas").
Deixe de ser um esparolado!

12:53 da manhã  
Blogger DrFeelGood said...

Os cinco pecados da troika

Estamos sob escrutínio diário da troika. Mas devemos demitir-nos do ato cívico de avaliar nós próprios as suas propostas e ação? O Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal da Faculdade de Direito de Lisboa, dirigido por Eduardo Paz Ferreira, se bem o pensou, melhor o fez. Eis a minha avaliação do acordo com a troika: 1) não há uma ideia nova no documento que não tivesse sido já estudada e sugerida por algum economista português; 2) e ele contém pecados graves. Eis cinco.

1) O pecado da agiotagem: as condições iniciais em que nos foi concedida a assistência financeira contemplavam taxas de juro inadmissíveis. Com efeito, taxas de juro acima dos 5% nunca seriam pagas com o crescimento previsto para Portugal até ao final da década. Resultado: o Conselho Europeu de 21 de julho corrigiu o tiro, baixando os juros para cerca de 3,5%.

2) O pecado da urgência: não vai ser possível reduzir um défice que este ano, sem receitas extraordinárias, estará acima dos 8%, para 3% dentro de dois anos. Manuela Ferreira Leite disse-o: a aplicação deste programa é inexequível no prazo previsto. E Cavaco Silva sublinhou: a austeridade não pode ser a única solução para a crise. Mas no acordo não há nenhuma medida para estimular a economia.
3) O pecado da soberba: há uma enorme fé entre a troika de que a aplicação total do programa conduzirá no fim do processo ao triunfo de Portugal como economia aberta e competitiva na Europa e no mundo. É pouco provável que uma economia reduzida a escombros empresariais e sociais, com inúmeras falências e uma pesada taxa de desemprego, renasça das cinzas em três anos e se afirme internacionalmente, quando temos apenas cerca de 30.000 empresas exportadoras e destas 3200 representam 95% das exportações. Pouco, demasiado pouco para cumprir a meta de atingir 40% das exportações em percentagem do PIB.

4) O pecado da ignorância: como não pode desvalorizar a moeda, a troika insiste numa desvalorização por outra via, através da redução da taxa social única. Os resultados até poderiam ser interessantes se não tivessem de ser extensivos a todas as empresas; e se esses cortes não tivessem de ser muito significativos para obterem efeitos. Se a ideia avançasse, a quebra nas receitas da segurança social seria catastrófica (€3200 milhões no caso da descida de 8 pontos na TSU, em que insiste Poul Thomsen, do FMI). Como seria compensada esta quebra, é uma questão sem resposta credível até agora.

5) O pecado da teimosia: a questão do financiamento à economia é crucial. A troika insiste que os bancos têm de recorrer à linha de crédito de €12 mil milhões para se financiar. Mas ao mesmo tempo forçam-nos a reduzir o rácio crédito/depósitos de 150% para 120%. Isso significará retirar à economia €40.000 milhões de financiamento. E o aumento de capital não resolve este problema, nem abre um milímetro a porta de acesso dos bancos nacionais ao financiamento dos mercados internacionais. O que quer dizer, por outro lado, que os €76 mil milhões que nos emprestaram não chegam. Serão necessários mais €30 mil milhões para que o Estado pague às empresas públicas e estas aos bancos as suas dívidas.

Tivemos de aceitar este acordo. Mas compartilho a opinião de Fernando Ulrich e Henrique Granadeiro: ele é de uma enorme pobreza intelectual.

Nicolau Santos, semanário expresso 15.10.11

10:02 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Já somos a Grécia

A receita que nos é oferecida é um caminho para o desastre. Não é possível vislumbrar nenhum círculo virtuoso nesta solução: as receitas do Estado só poderão retrair-se, o défice e a dívida tenderão a crescer

Até há dias, a estratégia do Governo passava por diferenciar Portugal da Grécia. Paradoxalmente, para evitar sermos vistos como a Grécia, a solução agora proposta é a mesma que levou ao descalabro económico e social que se vive nas ruas de Atenas. O fim dos subsídios de férias e de Natal, a somar a todos os outros cortes salariais e aumentos de impostos, terá inevitavelmente duas consequências: o colapso da procura interna e uma recessão ainda mais profunda do que o previsto. Entrámos definitivamente numa espiral recessiva que nos deixa apenas uma garantia — ao fundo do túnel, encontraremos um túnel ainda mais longo e escuro. Com o que se anuncia para o Orçamento de 2012, Portugal passou a ser a Grécia.
O primeiro-ministro justificou os cortes bem além do memorando da troika com base num conjunto de surpresas que terá encontrado. Nenhum dos documentos de execução orçamental conhecidos dá cobertura às afirmações de Passos Coelho. O único desvio conhecido resulta da Madeira, do BPN e da degradação da receita fiscal, fruto da austeridade adicional. Até prova em contrário, o elemento de surpresa é o conjunto de mitos em que assentou a campanha eleitoral do PSD. Recuperar as justificações de Passos Coelho para chumbar o PEC4 é penoso e fragiliza hoje a capacidade política do primeiro-ministro. Da austeridade que era excessiva passámos, como por arte mágica, para uma austeridade necessária. Para quem se alcandorou na verdade, estamos falados.

A receita que nos é oferecida é um caminho para o desastre e assenta num voluntarismo que recupera o pior dos amanhãs que cantam. Não é possível vislumbrar nenhum círculo virtuoso nesta solução: as receitas do Estado só poderão retrair-se, o défice e a dívida tenderão a crescer em percentagem do PIB, a economia colapsará e as famílias ficarão bem mais pobres, com o desemprego a disparar para valores que não encontram paralelo na sociedade portuguesa das últimas décadas. Tudo em nome de uma austeridade expansionista que não passa de uma ambição ideológica, desprovida de sustentação empírica — particularmente num contexto de crise económica que nos deixa dependentes de exportações que nunca poderão compensar todas as outras perdas.

Pedro Adão e Silva, expresso 15.10.11

11:23 da tarde  

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