António Barreto e a Saúde
O racionamento impudico…
O estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, vulgo Pingo-Doce, à Escola Nacional de Saúde pública começou a aparecer em pequenos sketchs (dificieis de analisar por falta de dados concretos), na edição de hoje do Expresso (pág. 20/21), a ilustrar uma inenarrável entrevista de António Barreto (AB) link, plena de banalidades, vacuidades e imprecisões, onde se faz uma impudica apologia do racionamento nos cuidados de Saúde, baseada em concepções orçamentais e "utilitaristas". Assumindo-se como patrono dos que pagam, i. e., dos contribuintes.
Confrontado com a pergunta: “Como é que se diz a uma pessoa com cancro que não pode ter um medicamento que lhe prolonga a vida porque tem 80 anos e, economicamente, não é viável?”
Resposta de AB: Não sei. É um drama terrível. Mas não tenho dúvidas de que nada é ilimitado. No mundo inteiro discute-se o racionamento. Em Portugal não, porque o país tem esta mitologia terrível de que discutir custos é economicismo. Em Inglaterra discute-se quem faz hemodiálise.
Pergunta seguinte: Mas quem tem dinheiro fará sempre…
Resposta AB: Não me encostam à parede com esse dilema! Não é possível fazer tudo a toda a gente. Isto chama-se racionamento. Mas quando falo nisso dizem-me que “vai matar os pobres”. Isso é demagogia. Racionar não é dar aos ricos e tirar aos pobres é dar a cada um o que precisa. E se não chega para todos, é preciso baixar um bocadinho a todos, com equidade. Portugal absorveu como ninguém no Mundo o princípio de que tudo é de graça.
Finalmente, do alto da sua torre de marfim o contemplativo sociólogo António Barreto deu um ar da sua graça.
“Racionar não é dar aos ricos e tirar aos pobres é dar a cada um o que precisa” (AB faz aqui um interessante inversão de palavreado) quando é verdade que os ditos “ricos” podem definir arbitrariamente (o dinheiro dita as regras) o que precisam, como querem e quando desejam. E adiante, diz: “E se não chega para todos, é preciso baixar um bocadinho a todos, com equidade”. Numa sociedade cavada por fracturas sociais (vamos adoptar a dicotomia pobres/ricos) como é possível usar desfaçatez de falar num cândido “baixar um bocadinho a todos”.
Dr. António Barreto os ricos não se baixam. Em Inglaterra, “os ricos” , com mais de 80 anos, não fazem hemodiálise fazem Home Dyalisis…
Na verdade, em sistemas como o norte-americano o racionamento em cuidados de saúde é fácil porque é determinado pela "ability to pay".
Nos países com sistemas nacionais de saúde, como é (ainda) o caso português, a questão do racionamento continua polémica (excepto na cabeça de AB!), já que se baseia no conceito de “necessidade”, que evitando cair em concepções “utilitaristas” (para não usar o termo “economicista” que desagrada ao sociólogo), estará, outrossim, dependente de uma alocação de recursos públicos equitativa (mesmo que limitada). E, como sabemos, equidade em Saúde cimenta-se no “não-mensurável” valor da justiça social e, simultaneamente, pelo princípio que deve garantir a igualdade de recursos e de prestações de cuidados para necessidades iguais ou idênticas.
A estrutura desigual e assimétrica da sociedade portuguesa não permite, como sabemos, assegurar estes princípios. Pelo que os apelos a racionamentos a coberto de falaciosas equidades são embustes ideológicos. Neoliberais, sejamos claros!
O estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, vulgo Pingo-Doce, à Escola Nacional de Saúde pública começou a aparecer em pequenos sketchs (dificieis de analisar por falta de dados concretos), na edição de hoje do Expresso (pág. 20/21), a ilustrar uma inenarrável entrevista de António Barreto (AB) link, plena de banalidades, vacuidades e imprecisões, onde se faz uma impudica apologia do racionamento nos cuidados de Saúde, baseada em concepções orçamentais e "utilitaristas". Assumindo-se como patrono dos que pagam, i. e., dos contribuintes.
Confrontado com a pergunta: “Como é que se diz a uma pessoa com cancro que não pode ter um medicamento que lhe prolonga a vida porque tem 80 anos e, economicamente, não é viável?”
Resposta de AB: Não sei. É um drama terrível. Mas não tenho dúvidas de que nada é ilimitado. No mundo inteiro discute-se o racionamento. Em Portugal não, porque o país tem esta mitologia terrível de que discutir custos é economicismo. Em Inglaterra discute-se quem faz hemodiálise.
Pergunta seguinte: Mas quem tem dinheiro fará sempre…
Resposta AB: Não me encostam à parede com esse dilema! Não é possível fazer tudo a toda a gente. Isto chama-se racionamento. Mas quando falo nisso dizem-me que “vai matar os pobres”. Isso é demagogia. Racionar não é dar aos ricos e tirar aos pobres é dar a cada um o que precisa. E se não chega para todos, é preciso baixar um bocadinho a todos, com equidade. Portugal absorveu como ninguém no Mundo o princípio de que tudo é de graça.
Finalmente, do alto da sua torre de marfim o contemplativo sociólogo António Barreto deu um ar da sua graça.
“Racionar não é dar aos ricos e tirar aos pobres é dar a cada um o que precisa” (AB faz aqui um interessante inversão de palavreado) quando é verdade que os ditos “ricos” podem definir arbitrariamente (o dinheiro dita as regras) o que precisam, como querem e quando desejam. E adiante, diz: “E se não chega para todos, é preciso baixar um bocadinho a todos, com equidade”. Numa sociedade cavada por fracturas sociais (vamos adoptar a dicotomia pobres/ricos) como é possível usar desfaçatez de falar num cândido “baixar um bocadinho a todos”.
Dr. António Barreto os ricos não se baixam. Em Inglaterra, “os ricos” , com mais de 80 anos, não fazem hemodiálise fazem Home Dyalisis…
Na verdade, em sistemas como o norte-americano o racionamento em cuidados de saúde é fácil porque é determinado pela "ability to pay".
Nos países com sistemas nacionais de saúde, como é (ainda) o caso português, a questão do racionamento continua polémica (excepto na cabeça de AB!), já que se baseia no conceito de “necessidade”, que evitando cair em concepções “utilitaristas” (para não usar o termo “economicista” que desagrada ao sociólogo), estará, outrossim, dependente de uma alocação de recursos públicos equitativa (mesmo que limitada). E, como sabemos, equidade em Saúde cimenta-se no “não-mensurável” valor da justiça social e, simultaneamente, pelo princípio que deve garantir a igualdade de recursos e de prestações de cuidados para necessidades iguais ou idênticas.
A estrutura desigual e assimétrica da sociedade portuguesa não permite, como sabemos, assegurar estes princípios. Pelo que os apelos a racionamentos a coberto de falaciosas equidades são embustes ideológicos. Neoliberais, sejamos claros!
E-Pá!
Etiquetas: E-Pá, liberais pacotilha
6 Comments:
Como é que se diz a uma pessoa com cancro que não pode ter um medicamento que lhe prolonga a vida porque tem 80 anos e, economicamente, não é viável?
Por que é que, quando se pretende pôr em causa serviços de saúde com cobertura universal, baseados em princípio de equidade e de gratuidade tendencial, se vão sempre procurar situações limite?
Sabemos que os recursos em Saúde são finitos e há seguramente situações extremas em que não se justifica, por razões de custo/benefício, ir além de um determinado ponto. Aí há que saber assumir junto do doente e dos familiares, a inevitabilidade da morte. Claro que se poderá sempre dizer, mas se é rico pode ….. E todos sabemos que pode. Acrescento porém, desde que pague do seu bolso.
Utilizando este tipo de exemplos, os que preconizam, sem o dizer abertamente, uma “ementa” de cuidados de saúde ajustada à riqueza de cada um, brilham. É que não se sentem mesmo obrigados a ter de responder sobre as consequências de cortes indiscriminados no sector ou a ter de explicar porque é que um Estado com manifestas dificuldades de financiamento prefere gastar o pouco que tem com novos acordos com privados, caso do recente acordo do Ministério das Finanças (ADSE) com o grupo Mello no Porto, ao invés de pagar o que deve aos hospitais do SNS.
Ou, ainda, sobre as consequências do racionamento no abandono dos melhores profissionais dos hospitais do SNS, deixando de fazer procedimentos de comprovado benefício em termos de tempo e qualidade de vida (transplantes, cirurgias tecnicamente mais exigentes, técnicas curativas inovadores), para se dedicarem no privado à chamada medicina de conforto (necessária mas não prioritária)mais lucrativa.
Se temos a divida externa que se conhece, o País tem dificuldades de financiamento externo e o PIB vai diminuir nos próximos anos, uma maior contenção na despesa em Saúde é uma exigência de todos os agentes. Faça-se porém com racionalidade e não racionando com prejuízo para os que só têm os serviços públicos como opção.
António Barreto, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, é daquelas personagens intrigantes da nossa sociedade, que nunca tendo conseguido uma carreira académica ou de investigador capaz, tem dedicado a sua vida a fazer de entertainer televisivo. No campo da política as suas intervenções, cada vez mais reacionárias, são muito apreciadas por determinada direita e muito em especial por Maria Cavaco Silva.
António Barreto, curiosamente sucessor de José Mendes Ribeiro na presidência da Fundação Pingo Doce (cadeia de supermercados condenada em tribunal por fuga ao fisco de milhares de euros), decidiu desta vez meter o bedelho na Saúde e tentar dar uma ajudinha oportuna a este governo liberal pacotilha nos cortes a eito que pretende efectuar.
E aí temos António Barreto numa confrangedora entrevista ao Expresso, a falar do que não sabe, em defesa da redução do nosso sistema universal de Saúde a um pacote mínimo de cuidados (ou de prestações mínimas de saúde garantidas pelo estado).
Ditosa pátria que tal gente paristes. É por causa de gajos deste tipo, pseudo qualquer coisa, que este país não ata nem desata.
Caro Xavier
Os académicos e os investigadores validam os resultados da investigação na forma de publicações por extenso em revistas indexadas e arbitradas. Começamos a ter em Portugal vagas de estudos cujos conteúdos, total ou parcialmente, nunca foram objecto de avaliação inter-pares anonimizada (arbitragem). Aliás a produção científica apenas pode e deve ser medida por essa métrica. Que não é perfeita, todos o sabemos. Mas este país promove, através da comunicação social, opinadores a investigadores, sendo AB um expoente deste processo. Contudo, os académicos têm inumeras responsabilidades. Quantos, e quantas vezes, particularmente na área da saúde, não nos deparámos com a divulgação de estudos, pela comunicação social, cujos resultados apenas e só poderiam ser verdades, e que nunca foram objecto de escrutinío quanto à coerencia da questão de investigação, à qualidade e adequabilidade dos métodos, ao tratamento dos dados obtidos e à sua transformação em novo conhecimento ?
Quantos dos "gurus" portugueses em saúde têm publicação científica internacional, indexada, com divulgação do índice de impacto da publicação e anonimamente arbitrada ?
O país entrou num trajecto perigoso, já que a produção de evidência científica de apoio à tomada decisão, pouco passa, em diversas áreas do conhecimento, da opinião de perito, ainda que apresentada sobre a forma de ... estudo !
Depois queixamo-nos do AB !
Só agora tive oportunidade de ler na íntegra a entrevista do A.Barreto. Sobre a questão da separação de sectores a da defesa do princípio do trabalho em exclusividade nos serviços públicos, tenho a dizer que concordo (não é de agora) com o que diz.
Admito que esteja nesta entrevista a antecipar medidas que estão na agenda do governo para a reforma do SNS.
Independências
António Barreto dá este fim-de-semana uma longa entrevista ao Expresso. O objectivo é o de divulgar os resultados de um estudo encomendado pela organização que preside – a Fundação Francisco Manuel dos Santos – sobre a saúde em Portugal. A tónica é clara: ainda é possível alçar o garrote no SNS. A conclusão, que certamente agradará ao ministerial inventor da Medis, vem acompanhada das habituais tiradas sobre “os ricos que paguem a saúde” (um princípio destruidor do SNS, link como já notou o José Maria Castro Caldas) e a possibilidade de activar lógicas de “racionamento” equitativas. link
...
Miguel Cardina, Arrastão
Caro Vareja
É o que se chamaria "Gestão baseada na evidência"...
Mas continuamos entregues a opinadores "peritos"...
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