sexta-feira, novembro 11

SNS

«O actual ministro da Saúde, Paulo Macedo, está a fazer o que já deveria ter sido feito. Ou seja, percebeu, rapidamente, dois aspectos fundamentais para a necessária reestruturação do Serviço Nacional de Saúde (SNS):
1º As ineficiências do SNS, criadas ao longo dos últimos 30 anos, são o principal inimigo do SNS;
2º Não é possível reestruturar o SNS, com eficácia, sem enfrentar os corporativismos que têm condicionado a gestão do SNS.

O que Paulo Macedo está a fazer agora já poderia ter sido feito por Correia de Campos, ministro da Saúde no primeiro governo de José Sócrates. Mas os corporativismos existentes e, por arrastamento, pressões políticas sucessivas quer do PSD quer da esquerda (mesmo no interior do PS) não o possibilitaram.
Recordo-me, perfeitamente, dos meses que antecederam a demissão de Correia de Campos dessa função. Foi o período da história de Portugal em que existiram mais nascimentos em ambulâncias (situação que, ainda, não vi refletida em nenhuma estatística). E as televisões estavam sempre lá para noticiar!

Numa recente entrevista ao Jornal i, Correia de Campos afirma: "Manuel Alegre e Arnaut podem ser os coveiros do SNS" .
Na realidade, ainda não consegui perceber o que é que "optimização de recursos" tem a ver com ser de esquerda ou ser de direita.
Durante a entrevista perguntam a Correia de Campos: E há, assim, tantas redundâncias para cortar?
Resposta de Correia de Campos: "Há, com certeza. Vou dar um exemplo, em Coimbra há duas maternidades, não sei se são necessárias duas maternidades. Depois há um hospital pediátrico imenso que custou 100 milhões de euros. E tem lá espaços absolutamente vazios."
E porque não reverteu a situação?
"Porque já não era possível do ponto de vista político. O PCP e o PSD ("vodka-laranja") estavam ali completamente aliados e infernizavam a vida a qualquer ministro".

Optimizar recursos, ou seja, eliminar desperdícios, fazer o mesmo ou melhor com menos, é a única saída do SNS para que seja possível manter um nível de qualidade adequado na prestação de cuidados de saúde. O SNS é o único sistema de saúde que muitos portugueses podem utilizar.

Esperemos que o actual ministro tenha a força e engenho necessários para reestruturar o SNS. Para isso, é importante que o PS (as suas cúpulas) não façam o que anteriormente o PSD fez a Correia de Campos. É essencial manter e melhorar o que o SNS tem de positivo, de forma a que as políticas de saúde estejam focalizadas nas pessoas e não nos interesses corporativos dominantes.

Um mau SNS (leia-se um SNS mal gerido) é o maior aliado da destruição do próprio SNS. Quem quer manter tudo como está, depois não se queixe! »


Rui Moreira, 08.11.11

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9 Comments:

Blogger Clara said...

O Miguel Vieira já posta no SaudeSA ? !...

2:43 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Lembram-se do arranque do Ministro da Saúde ? Um longo silêncio sem se dar por ele...
Foi o período de estudo e reflexão do sector.
Seguiu-se o anúncio do conjunto de medidas prioritárias e a tomada das primeiras decisões.
E alguns recuos e erros de palmatória (transplantes, Inês Guerreiro)
Tem sido a fase de ensaios, das primeiras experiências de laboratório para "apalpar" o poder das corporações e lobis da Saúde. E concluir que o SNS é pasto da captura dos mais variados interesses. Como se a política deste Governo não fosse o ariete dos interesses mais variados e agressivos no assalto dos privados ao serviço público. Com os Bancos à cabeça.
O essencial da anunciada politica de saúde, à Paulo Macedo, terá sido adiada para Janeiro do próximo ano: taxas moderadoras, encerramento de hospitais e maternidades.
Até lá, a conjuntura internacional talvez melhore. E, então, logo se vê!
Uma coisa temos de reconhecer em favor de Paulo Macedo: A ausência de fanatismo ideológico liberal pacotilha ao estilo dos seus colegas de Governo, como Vitor Gaspar, PPC e Miguel Raivoso.
E, isso, não sendo muito, é importante nos tempos que vivemos.

3:48 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Empresa de Relvas alia-se à de Passos

Fomentinvest SGPS consegue uma espécie de dois em um: realiza um encaixe que lhe permite financiar o programa de investimentos sem pedir ‘sacrifícios’ aos acionistas (Ilídio Pinho e principais bancos) e inicia, na área do ambiente, uma nova cruzada externa. A associação à Finertec “permite recorrer à sua base logística no Brasil e África para entrar nesses mercados”, diz ao Expresso Álvaro Nunes, administrador da Fomentinvest.
O objetivo da aliança “é reforçar a vocação internacional” e fugir do ambiente depressivo em que o mercado doméstico se move. Em 2012, o grupo tem um programa de investimentos de €30 milhões, suportado em €11,5 milhões de capitais próprios. A Fomentinvest Ambiente verificou que as competências desenvolvidas em Portugal são preciosas em mercados como Brasil e Angola. Só no Brasil, “há oportunidades de negócio da ordem dos €2 mil milhões”, diz Álvaro Nunes. Comprar uma empresa brasileira figura na agenda da nova empresa.
A Fomentinvest é um dos principais operadores no negócio do ambiente, atuando na recolha de lixo e limpeza urbana, gestão de resíduos industriais, tratamento de solos e na consultoria ambiental. Participa em sociedades que asseguram a gestão de resíduos de 30 autarquias. Em 2011, fechará o ano com €3 milhões de lucros antes de impostos e vendas de €22,5 milhões, metade do volume de negócios da Fomentinvest SGPS.

expresso 12.11.11

3:51 da tarde  
Blogger e-pá! said...

As "reformas" dos serviços públicos de saúde não são isentas de riscos (muitas vezes previamente monitorizados) que, frequentemente, são ocultados aos utentes.
Devemos seguir de perto a "guerra" que está, neste momento, a ser travada na “reforma” do NHS (a reforma Lansley) sobre a ocultação dos impactos previsíveis (fundamentalmente da equidade) atribuíveis a esse ímpeto reformador liberalizante do Governo de David Cameron. link
É que - como sabemos - não existem reformas "politicamente neutras" e socialmente assépticas.


E voltando a um pormenor do post...

De facto, existem (no SNS) vários tipos de redundâncias. E no momento em que o SNS está sob um implacável cerco neoliberal continuam as jactâncias retóricas, neste momento, regadas com uma celestial candura.

A saber:

"E há, assim, tantas redundâncias para cortar?

Resposta de Correia de Campos: "Há, com certeza. Vou dar um exemplo, em Coimbra há duas maternidades, não sei se são necessárias duas maternidades.

Deu um exemplo e, de imediato, interroga-se sobre a realidade. Lança uma acha para a fogueira e esconde a mão.
Na verdade, o ex-ministro da Saúde sabe - como de resto toda a gente - que a existência de 2 maternidades em Coimbra é mais do que uma redundância, será uma evidência...
Mas a forma hipotética (interrogativa) como achou por bem colocar a questão mostra que não consegue libertar-se dos nebulosos meandros como se faz política em Portugal. Isto é, para usar a uma figura de estilo idêntica, a versão do “cocktail rose bonbon”

Concluindo - à margem da necessidade de reformas - ajustar contas à posteriori com o passado, nem sempre é um bom caminho.

4:06 da tarde  
Blogger tambemquero said...

Conselhos do presidente da Fundação Pingo-doce para Paulo Macedo

«O Estado Social será diminuído, pelo menos, durante uns anos. É possível fazer isso com muito cuidado, estudo e informação a fim de evitar os cortes a eito. É possível, em vez de cortar a eito, procurar fazê-lo de acordo com métodos de avaliação da situação social e económica das pessoas", declarou o também presidente do conselho de administração da Fundação Manuel dos Santos. link

JN 12.11.11

Vaselina e muito jeitinho para a reforma da saúde.
Estes pensadores de serviço (desta maioria & Cavaco)parecem cada vez mais patetas.

7:19 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Porquê olhar apenas para esta ou aquela árvore esquecendo a floresta? Portugal tem uma despesa em Saúde em percentagem do PIB ao nível da média da OCDE; uma comparticipação para a qual a componente da despesa privada é das mais elevadas; recentemente o nosso SNS foi considerado como dos que melhor utilizam os recursos disponíveis.
Porquê então olhar para o pormenor desta ou daquela redundância, quando a questão que hoje se coloca com mais pertinência é a da sustentabilidade do SNS face aos cortes financeiros anunciados? Como explicar que, perante esta evidência, Correia de Campos continue mais preocupado com as obesidades do SNS quando o que o deveria afligir era o risco de anorexia face à dieta prescrita?
Há seguramente espaço para optimizar, mais que racionalizar, recursos ao nível do SNS mas tal deverá ser feito de forma pensada cortando no sítio certo e não a eito. Por exemplo, adoptar regimes de trabalho que permitam diminuir o número de horas extraordinárias faz todo o sentido; cortar no seu valor é irracional pois representa uma desvalorização do valor trabalho levando à desmotivação profissional. Notícias recentes sobre a redução do número de transplantes não serão já uma consequência desta irracionalidade?
Ouvindo alguns destes opinadores perorar sobre a reestruturação do SNS a impressão com que se fica é que pretendem apenas diminuir a despesa custe o que custar. Para eles o essencial é que o SNS perca peso, cortar-lhe uma perna ou emagrecer-lhe a cintura tanto faz.

11:57 da tarde  
Blogger saudepe said...

O problema são os compromissos assumidos com a Troika com datas de execução extremamente apertadas, a falta de dinheiro para os investimentos que esta reforma requer, e a loucura do ministro das finanças apostado no cumprimento da sua agenda ideológica.
Tudo somado deste molho de bróculos só poderão resultar cortes a eito. Com amputações graves do SNS.
É o que nos espera a partir de Janeiro do próximo ano.
Desiludam-se os que pensam que esta crise poderia servir de oportunidade para levar a cabo as reformas necessárias.
E o PS não terá alternativa senão seguir o pagode. Ou desaparecer na contestação popular que se avizinha.

1:10 da tarde  
Blogger saudepe said...

...
«O argumento de que a redução de salários na administração pública é um mal menor quando comparado com a possibilidade de despedimento, ou a de que os vencimentos da função pública são, em média, superiores aos do sector privado — o que não é verdade —, ou sugerindo que se poderiam dispensar dezenas de milhares de funcionários públicos ou baixar-lhes os vencimentos sem consequências para as populações é arrasador para a imagem e para a percepção do valor do contributo dos funcionários públicos.

Temos de ter presente que estamos a falar, por exemplo, de médicos, enfermeiros, professores de todos os graus de ensino, educadores de infância, juízes, forças de segurança, sectores em relação aos quais, quase diariamente, as populações reclamam por mais e melhores serviços.

A desqualificação e desmotivação destes sectores da administração pública tem um valor económico difícil de avaliar, embora se saiba que a sua insuficiência ou ineficácia afetam gravemente o desenvolvimento económico e social do país.

Receio, por isso, que o dano causado na opinião pública pelos argumentos apresentados seja superior ao causado pela própria medida [a eliminação dos subsídios de férias e de Natal].»

Este texto publicado no Expresso desta semana foi escrito por Manuela Ferreira Leite e não por Carvalho da Silva como poderá parecer.

1:15 da tarde  
Blogger HCM said...

Cito: "Depois há um hospital pediátrico imenso que custou 100 milhões de euros. E tem lá espaços absolutamente vazios."
E porque não reverteu a situação? ..."
* Ignoro o que se terá passado em 1999; o Plano funcional do Hospital Pediátrico foi aprovado pelo ministro Correia de Campos que, em Fevereiro de 2002, louvou o espírito de contenção do Hospital Pediátrico.
* Desde a aprovação do Plano, o HP foi mantido à margem do processo até pouco tempo antes da inauguração. A responsabilidade da obra cabe exclusivamente à tutela.
H. Carmona da Mota

11:40 da manhã  

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