segunda-feira, novembro 7

Depois da humilhação na AR

Leal da Costa elogia Inês Guerreiro. link link

Aproveitando a publicação de um artigo na «Revista dos Cuidados Continuados», cuja rede faz agora cinco anos, o secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, tece um rasgado elogio ao trabalho desenvolvido por Inês Guerreiro, coordenadora da unidade de missão para os cuidados em causa.
«Não posso deixar de saudar e agradecer tudo o que já foi feito por todos os que se envolveram na concepção e implementação dos cuidados continuados. Uma palavra especial, com muita estima e consideração, à Dra. Inês Guerreiro que corporiza uma equipa notável em todos os aspectos», escreve o governante, já depois de ter classificado a RNCCI (Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados) como «um marco na evolução do Sistema de Saúde em Portugal».
Tais palavras ganham um valor acrescido quando há bem pouco tempo, mais exactamente no passado dia 12 de Outubro, durante uma interpelação do PCP na Assembleia da República, o ministro da Saúde fez a seguinte acusação perante os deputados: «O “dossier” dos cuidados continuados é dos mais desastrosos que encontrei no Ministério.»
A expansão da rede prevista no mandato anterior, com Ana Jorge à frente da pasta, concretizou Paulo Macedo, não tinha sido acompanhada do respectivo financiamento. «Não tem uma verba de um tostão orçamentado», denunciou o governante.
Pelo caminho, apesar de não identificar Inês Guerreiro pelo nome, mas por «responsável» da Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados, o ministro da Saúde contou, num registo indignado, que quando lhe foi perguntado pelo orçamento ela respondeu: «Disseram-nos que isso não era problema. Abriu-se o máximo possível.»

De «desastroso» a herança de «grande responsabilidade»

Depois da contundência das críticas de Paulo Macedo, o secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde vem então agora moderar o discurso.
«Quero também reconhecer o trabalho dos governantes que nos antecederam e que contribuíram para a criação do que agora temos. Recebemos uma grande responsabilidade e muitas dificuldades», faz questão de escrever Fernando Leal da Costa no citado artigo, disponibilizado hoje no Portal da Saúde
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Conforme havia sido assumido anteriormente, o responsável reitera que «a orçamentação para os cuidados continuados em 2011 era insuficiente».
Isto porque todas as fontes de financiamento previstas acabaram por ficar aquém das expectativas: «O jogo foi insuficiente, as poupanças de farmácia não surgiram e o desvio do orçamento do SNS é impossível.»
Não havendo dinheiro, o secretário de Estado assume que «a manutenção em funcionamento de algumas unidades é muito complicada». A RNCCI, recorde-se, foi muito montada à volta das misericórdias que, ultimamente, têm vindo a público quase todos os dias reclamar pelos pagamentos devidos pelo Estado.
«O crescimento da rede para 2011 terá de ser limitado e temos dúvidas sobre o que poderemos fazer em 2012 e 2013», continua a assumir Fernando Leal da Costa.
«Não quer isto dizer que iremos desistir da Rede. A RNCCI é indispensável. Mas, para que ela possa manter-se e até crescer, precisamos de ponderar muito cuidadosamente cada passo», apressa-se a acrescentar, garantindo: «Vamos assegurar que o que existe não deixa de funcionar. Vamos tentar abrir tudo o que está pronto para funcionar. Vamos avaliar a oportunidade de tudo o que está em obra. Vamos esperar por melhores dias para os projectos».
Em termos orgânicos, fica a confirmação de que a unidade de gestão central da RNCCI será «incluída» na ACSS, enquanto nos níveis regional e local as ARS serão envolvidas na respectiva gestão - em conjunto com as estruturas da Segurança Social.

Sérgio Gouveia, TM 04.11.11
Depois do show do ministro na AR, à custa da humilhação de Inês Guerreiro, vem agora Leal da Costa tentar reparar o irreparável. É necessária muita paciência para entender esta gente.

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