sexta-feira, janeiro 20

Sistema de saúde gratuito


É um erro dizer que «não podemos ter um “sistema gratuito”»

Pôr os portugueses a pagar mais para a Saúde é um «erro básico» que tem de ser «definitivamente erradicado» do discurso público. Quem o diz é Adalberto Campos Fernandes, um dos oradores convidados do 12.º Congresso Nacional de Bioética, que se realizou a 13 e 14 de Janeiro no Porto.

«Corremos o risco, perante os mais novos, de continuar a incorrer numa narrativa errada — a de que não podemos ter um “sistema de Saúde gratuito”» —, afirmou Adalberto Campos Fernandes, docente da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), justificando que entre nós vigora «um sistema de Saúde pré-pago». Isso significa, frisa, que «cada um contribui para os seus direitos» e cobre também «as necessidades de quem não pode descontar».

Segundo o ex-gestor do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que falava sobre «Escolhas em Saúde» no âmbito do 12.º Congresso Nacional de Bioética, é preciso dizer que o sistema de pôr quem paga a pagar mais «está ultrapassado, está no fim», ou seja: «Em Portugal, a contribuir para todos estão apenas 30% dos portugueses, que pagam mais também em sede de IRS e IRC.» E acrescenta: «É importante dizer aos mais novos que o sistema em Portugal é muito bem pago e é caro.»

Em jeito de resposta às críticas à «gratuitidade tendencial» do sistema, o gestor citou Constantino Sakelarides, que costuma dar o exemplo do sinistro automóvel: «Se eu for a uma companhia segurar o meu carro, a companhia não me pergunta se sou mais ou menos rico do que o vizinho do lado, que vai também segurar um carro igual.»
De resto, o princípio da «mutualização no seguro social ou no seguro público é esse», sublinha o médico e docente universitário, defendendo que não é lícito «penalizar os portugueses porque estão a ter um direito de uso abusivo», a «utilizar cuidados que não deviam» e que «se têm mais de 70 anos deviam morrer…». Adalberto Campos Fernandes incentivaria ainda os mais jovens «a não fazer escolhas induzidas numa narrativa técnica e cientificamente errada».

Que fazer então? Para o gestor, antes de atacar os cidadãos o «Estado tem de atacar a sua máquina». E «quando não resolvemos o problema dos centros hospitalares, o preço dos medicamentos, as gorduras do Estado, não temos o direito de ameaçar os cidadãos com uma punição», sobretudo porque os decisores «não fazem o trabalho de casa», acrescenta.

TM 23.01.12

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1 Comments:

Blogger tambemquero said...

Se Serviço Nacional de Saúde deixar de existir, PS deve mudar de nome

O histórico militante socialista António Arnaut desafiou na noite de sexta feira o secretário geral do PS a defender o Serviço Nacional de Saúde, argumentando que se o SNS desaparecer o partido "deve mudar de nome". link
"O nosso secretário geral ainda não se levantou para defender o Serviço Nacional de Saúde (SNS)", disse António Arnaut, num debate sobre o tema promovido pela Federação Distrital de Coimbra do PS.
Segundo Arnault, considerado o "pai" do Serviço Nacional de Saúde, os partidos de direita "querem destruir o SNS ou ter um SNS para coitadinhos".
Alegou que sem Serviço Nacional de Saúde "não há democracia nem estado social" e que este só pode existir "se for universal, geral e gratuito".
"Se não houver, estamos perante uma democracia amputada e, nessa altura, o PS deve mudar de nome", afirmou.
No debate, inserido no ciclo de tertúlias Fernando Vale e intitulado "Saúde: Serviço ou Negócio?", António Arnault disse que para os socialistas o Serviço Nacional de Saúde "é uma marca de água, é uma marca identitária".
"Sem o SNS, o PS deixa de ter justificação histórica", argumentou.
Também o médico Constantino Sakellarides - outro dos oradores convidados, a exemplo da anterior ministra da Saúde, Ana Jorge e dos médicos Fernando Gomes e Carlos Cortes - criticou as políticas do Partido Socialista para o sector, num passado recente.
Defendeu que o Serviço Nacional de Saúde sustenta-se em três pilares: "é um seguro social, uma estrutura prestadora de cuidados de saúde e está centrado nas pessoas. O PS esqueceu-se disto, no passado, com alguma frequência", declarou.
No período reservado a perguntas da assistência o anterior presidente da Federação de Coimbra do PS, Vítor Baptista, desafiou António Arnaut "a fazer alguma coisa" pelo SNS "num espírito de mudança".
"Tens andado muito distraído, nos últimos 33 anos não tenho feito outra coisa e às vezes, infelizmente, sou uma voz isolada no partido", ripostou António Arnaut.
Disse ter apelado, recentemente, a Mário Soares e à antiga ministra da Saúde, Maria de Belém, para se pronunciarem sobre as novas taxas moderadoras anunciadas pelo actual Governo e "a destruição do SNS", bem como a António José Seguro a quem escreveu "há três semanas".
"O Seguro ainda não respondeu, ainda não disse nada. Tenho mostrado alguma indignação, isto custa-me no meu partido, no partido que ajudei a fundar", disse António Arnaut.
Outro militante acusou António Arnault de ter "falado pouco" sobre o SNS nos tempos dos governos de António Guterres e José Sócrates.
"É considerado, e bem, o pai do SNS mas por vezes foi um pai desnaturado", disse, levando Arnaut a irritar-se na resposta: "você não tem o direito de me chamar desnaturado, você tem de ir ao médico, tem perturbações. Foi muito injusto e inconveniente na apreciação que fez", respondeu. .
JN, 20.01.12

12:28 da manhã  

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