quarta-feira, fevereiro 29

PK em Lisboa (2)

foto JP
Krugman também disse, e bem, que o País tinha caído numa armadilha ao aderir ao Euro. Este foi de facto o pecado original da crise que hoje vivemos. Algumas orelhas lusas naquela plateia (e não só) de economistas e financeiros terão ficado a arder.link

Reconhecidamente não tínhamos uma economia suficientemente competitiva e modernizada, que merecesse e justificasse uma moeda tão forte. Tanto mais num quadro de total abertura internacional de mercados.

Houve, então, quem tivesse avisado do perigo utilizando a imagem figurada da junção das panelas de barro e de ferro, mas poucos se importaram com isso. Afinal não tínhamos tido um percurso virtuoso na década de 90, tendo mesmo merecido rasgados elogios e servido de exemplo sobre a capacidade de aplicação dos fundos europeus? Tão bons alunos a dar os primeiros passos, o que nos impedia de competir em campo aberto com as economias mundiais mais fortes?

Hoje sentimos amargamente essa ilusão. O acesso ao dinheiro barato serviu essencialmente para aumentarmos a nossa divida pública e ainda mais a privada. Ao invés de modernizarmos e inovarmos o tecido produtivo, investimos no betão rasgando o País com auto-estradas onde bastavam vias rápidas e estas onde satisfaziam estradas municipais. Onde ontem circulavam modestos Fiats e Renaults, passaram a deslizar vistosos Audis e BMWs.

Enquanto isto foram desaparecendo as indústrias exportadoras baseadas em mão-de-obra intensiva, instaladas na década de 90 atraídas pelos baixos salários e generosos fundos comunitários, sem contrapartida de crescimento de bens transaccionáveis provenientes de indústrias de capital intensivo. Ou seja, sem que nos apercebêssemos, íamo-nos tornando cada vez mais gastadores á medida que íamos empobrecendo. Se a tudo isto juntarmos um pano de fundo de crise internacional e de corrupção e nepotismo político-partidário interno, percebemos melhor o buraco em que nos enfiámos.

Não me surpreende pois que PK venha dizer que os nossos salários tenham de baixar em média 20% relativamente aos Alemães para sermos competitivos no Euro. Aliás, esta declaração não é novidade pois à volta deste valor está já o ajustamento feito na função pública. O que gostaria era de perguntar ao Economista é: como é que um País endividado e com uma economia destruída, consegue levantar cabeça com uma moeda forte.

Tavisto

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