domingo, março 4

Tx desemprego, 14,8%


O Eurostat estima em 14,8% a taxa de desemprego em Portugal no mês de Janeiro, o mais novo valor recorde desde que há registos. link
Portugal com a terceira maior taxa de desemprego da zona euro: 1.º Espanha (23,3%) 2.º Grécia (19,9% , Nov.); 3.º Portugal a par da Irlanda (14,8%).

É esta a obra da troika liberal pacotilha: Portugal um país de felicidade.

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2 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Voltemos ao tema do momento, que é também o mais grave que hoje em dia se coloca à sociedade portuguesa: o desemprego. No último trimestre de 2011, a população residente era de 10,6 milhões de pessoas, das quais 5,5 constituíam a população activa e 5,1 a população inactiva.

E, dentro da população activa, 771 mil estavam desempregadas, o equivalente a 14% do total. É a taxa mais alta de que há memória no país. E tem tendência a subir.

Sucede que estes números estão subavaliados. Desde logo, a população empregada, de 4,7 milhões de pessoas, incluía 633 mil com emprego a "tempo parcial". E a dúvida é legítima: parcial como? Metade do tempo? 30%? 70%? Se, por hipótese, admitirmos um emprego a meio tempo, isso significa que, na prática, 316,5 milhares estavam de facto desempregadas. Logo, a taxa de desemprego era da ordem dos 20% e incluía mais de um milhão de pessoas.

Mas há mais. Ao desdobrarmos os 5,1 milhões da população inactiva, vamos encontrar 203 mil "disponíveis" para trabalhar, mas que não conseguem arranjar emprego. E mais 83 mil "desencorajados", que nem sequer o procuram porque lhes falta motivação. Também aqui a dúvida é legítima: estes 286 mil indivíduos são "inactivos" ou "desempregados"? Se optarmos pela segunda hipótese, a taxa de desemprego sobe para 24% e envolve 1,4 milhões.

Observemos agora os diferentes grupos. Mesmo assumindo como boa a taxa de desemprego de 14% no quarto trimestre de 2011, há situações mais chocantes do que outras. Por exemplo: 53% dos desempregados estão nessa situação há mais de um ano; nos jovens de 15-24 anos, a taxa é de 35,4%; e 10,6% dos desempregados têm um curso superior. Sejamos frontais: as classes políticas que nos últimos anos nos governaram deveriam corar de vergonha.

O problema é que, entretanto, os centros de decisão saíram de Portugal e transferiram-se para os controladores do euro, em especial a Alemanha. São eles que ditam as leis. E a ‘troika' que nos impingiram adora a asfixia - com o apoio entusiástico do primeiro-ministro português. Se exceptuarmos o crónico problema espanhol, as situações mais graves de desemprego estão hoje nos países que eles "ajudaram" - a Grécia, a Irlanda e Portugal.

Até quando?

Daniel Amaral, DE 02.03.12

1:15 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

É perfeitamente compreensível que o Governo procure valorizar as avaliações positivas da “troika” sobre o cumprimento do Programa de Assistência Financeira.

Mas já não é normal esta encenação trimestral de euforia a propósito das avaliações periódicas, sobretudo quando acompanhadas de preocupantes revisões em baixa do crescimento económico e de brutais revisões em alta do desemprego.

A atitude do Governo revela um perigoso equívoco sobre o que significa ter sucesso na execução do Memorando. É que uma coisa são as metas de referência, que é necessário cumprir; outra coisa é o objectivo central que se visa alcançar. A redução do défice é uma meta de referência importante, que tem de ser cumprida. Mas o objectivo fundamental do Programa é outro: o regresso de Portugal aos mercados, em Setembro de 2013.

Acontece que o regresso aos mercados não depende só da redução do défice. Depende, sobretudo, da confiança dos mercados na capacidade de crescimento da economia portuguesa, em termos que permitam gerar a riqueza suficiente para honrar os seus compromissos. É por isso que foi um erro a austeridade "além da troika", precipitadamente decidida quando já se desenhava um abrandamento da economia europeia e assente num conjunto de medidas adicionais fortemente recessivas, em muitos casos comprovadamente desnecessárias. E só não vê quem não quer: uma recessão agravada, para além de ameaçar as metas do défice, é o caminho mais directo para o fracasso no objectivo de conquistar confiança e conseguir o regresso aos mercados no próximo ano. Nestas condições, a euforia do Governo é simplesmente grotesca.

Menos eufórica foi a reacção dos mercados. Decorriam ainda as festividades comemorativas da avaliação da "troika" e já os juros da dívida soberana portuguesa subiam de novo nos mercados financeiros (num movimento apenas acompanhado pelos juros da Grécia), atingindo os 13,8% no prazo a 10 anos e os 16,6% no prazo a 5 anos. A tal ponto que o BCE se viu forçado a intervir mais uma vez no mercado secundário, adquirindo títulos de dívida portuguesa.

É certo, numa altura em que os mercados dão sinais de ter percebido que uma austeridade destrutiva da economia não pode inspirar confiança, seria difícil não reparar que o Ministro das Finanças, em apenas oito meses de Governo, cometeu a proeza de apresentar cinco (!) previsões diferentes para o crescimento da economia portuguesa em 2012. E cada uma pior do que a outra: em Julho previa uma recessão de -1,7%; em Agosto de -1,8%; em Outubro de -2,8%; em Novembro de -3% e agora, em Fevereiro, chegou aos -3,3%. Entre a primeira e última destas previsões a diferença já vai em 1,6 p.p. do PIB (!), ou seja, a recessão deste ano vai ser o dobro da inicialmente prevista pelo ministro das Finanças!

Ao contrário do que pretende o Governo, uma evolução tão negativa ultrapassa em muito os efeitos do abrandamento da economia europeia. O próprio INE explicou que a recessão de -2,7% registada no 4º trimestre de 2011 se ficou a dever não à Procura Externa Líquida, que até aumentou em resultado da "acentuada diminuição das importações", mas sim ao "significativo agravamento do contributo negativo da Procura Interna". Não vai ser fácil o Governo convencer alguém de que a sua austeridade "além da troika" não tem nada a ver com isto.
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Pedro Silva Pereira,
De 02.03.12

1:19 da tarde  

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