Estado paga cuidados de saúde fora do país a partir de Outubro de 2013
Presidente da Entidade Reguladora da Saúde, que hoje organiza uma conferência sobre a mobilidade de doentes, admite que sustentabilidade do SNS pode ficar em risco se não houver estudo e preparação. link
Falta apenas um ano e meio, mas a maior parte dos portugueses desconhece que vai passar a poder aceder a cuidados de saúde nos outros países da União Europeia (UE), em unidades públicas ou privadas, a partir de Outubro de 2013. É para antecipar os riscos e perspectivar as oportunidades que decorrem da mobilidade transfronteiriça de doentes na UE que a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) organiza hoje, no Porto, uma conferência, depois de ter apresentado um estudo preliminar sobre esta matéria.
Um estudo de 2011 indicava que o aumento de circulação de doentes poderia render a Portugal 1,18 milhões de euros.
Aprovada em Março de 2011, a Directiva 2011/24/UE link — a ser transposta pelos Estados-membros até 25 de Outubro de 2013 — assegura a mobilidade dos doentes relativamente a cuidados de saúde programados, desde cirurgias a consultas, tratamentos e exames. Na prática, isto significa que o Estado português passará a ter de pagar os cuidados prestados noutros países, no caso de não conseguir dar-lhes resposta em tempo útil. Ou seja, um português em lista de espera que ultrapasse o tempo máximo de resposta garantido em Portugal para uma cirurgia a uma catarata, por exemplo, pode ser operado em Espanha ou noutro país comunitário. Mas há condicionantes: apenas será reembolsado mais tarde (no valor da tabela do país de origem) e suportará os custos do transporte e estadia. Condições que, à partida, permitem antecipar que o novo modelo vai beneficiar sobretudo os cidadãos com maior capacidade financeira e informação.
“As pessoas não têm consciência do que pode acontecer. [A aplicação da directiva] pode representar uma enorme turbulência para o sistema de saúde português. E a turbulência tem riscos e oportunidades, que devemos antecipar. Não podemos esperar por 2013 e depois verificar que há centenas ou mesmo milhares de portugueses a procurar cuidados de saúde no exterior ou o inverso”, explica o presidente da ERS, Jorge Simões, lembrando que cada Estado membro deve fazer “o trabalho de casa, de modo a que não haja grandes surpresas”.
Este novo modelo pode pôr em risco a sustentabilidade do SNS? “Esse risco existe se não houver um estudo, se não pensarmos nos pontos de fragilidade”, admite Jorge Simões, que lembra, porém, que a directiva permite “escapatórias”, ao prever que os países concedam autorização prévia (nos casos de internamento de mais de uma noite e tratamentos altamente especializados e onerosos).
No cenário actual, será Portugal atractivo para cidadãos de outros países? “Há várias áreas em que supostamente vamos conseguir atrair cidadãos de outros Estados-membros”, acredita o presidente da ERS, que dá o exemplo da cirurgia cardíaca. Agora, o inverso — a saída de portugueses para tratamento no estrangeiro — também é previsível, “porque temos listas de espera com uma dimensão considerável”, frisa.
No estudo preliminar feito em 2011 pela ERS, os cálculos feitos a partir de dados da Comissão Europeia (CE) indicavam que o aumento de circulação de doentes poderia render a Portugal 1,18 milhões de euros. De acordo com a CE, em 2008 havia cerca de 7,8 milhões de pessoas em lista de espera e, dessas, 10% estariam disponíveis para receber cuidados de saúde fora do país. Portugal, à data com 80 mil utentes em lista de espera, gastaria 320 mil euros, a que se juntariam 3,3 milhões de euros para as despesas de aplicação e monitorização da directiva e mais 1,3 milhões para a criação de pontos de contacto nacionais e actividades informativas.
Mas estes dados precisam de ser actualizados e enquadrados e é isso mesmo que vai ser feito hoje na conferência que a ERS organiza na Fundação Engenheiro António de Almeida, no Porto.
Publico 20/04/2012
Render a Portugal mais 11,8 milhões de euros!!!!!!!
Onde estão os centros de excelência nacionais para atraírem europeus? O Presidente da ERS dá um exemplo único, a Cirurgia Cardíaca (certamente porque não lhe ocorre mais nenhuma área). E, se lhe perguntássemos - cite um centro? Responderia por certo, o Serviço de Cirurgia Cardíaca dos HUC. Diga outro, bem talvez …………..
Repare-se no paradoxo, recrutados por países como a Alemanha e a França, os médicos estão a sair do País. Teríamos agora o efeito inverso, saem os profissionais mas entram os doentes. Isto faz algum sentido?
Esta directiva, gizada pelos países mais ricos da EU, vai delapidar ainda mais os recursos para a Saúde dos países periféricos. Aqui só há dois beneficiários possiveis, esses mesmos países e as elites dos “PIGS”. Dentro de pouco tempo veremos em que sentido correm os milhões.
Tavisto
Etiquetas: c, Tá visto, transfronteiriços
3 Comments:
Uma medida que vai ao encontro da construção de políticas sociais sem fronteiras e que pretende descer do papel ou das declarações de princípios para a prestação efectiva de serviços e cuidados aos cidadãos europeus.
Relativamente a Portugal ao mesmo tempo que se equaciona o problema dos custos e o seu reflexo sobre a sustentabilidade do sistema público interessaria questionar a acessibilidade.
Na realidade este sistema não "chegará" aos doentes com menor capacidade financeira que encontrarão uma série de dificuldades, a primeira das quais, será a antecipação de pagamento.
E mesmo que exista essa 'capacidade' - cada vez mais rara nos tempos que correm - para quando o seu reembolso?
Com a actual 'política' postergação de pagamentos do MS, só para as calendas gregas...
Este é, também, (mais) um dos exemplos de como o "empobrecimento", que se tornou uma bandeira do actual Governo, não nos condena somente enquanto portugueses, i. e., não tem efeitos "só" paroquiais. Vai acabar por condicionar o exercício da cidadania europeia na sua plenitude. Mais um estigma da UE que se está construindo a múltiplas velocidades...
Quebra de 15% nas dádivas tem dificultado abastecimento do SNS. Medidas de exceção avançam
Vários hospitais públicos, sobretudo na área de Lisboa, estão com mais dificuldades em abastecerem-se de sangue e em alguns foi já necessário fazer ajustes na gestão das cirurgias e nos procedimentos utilizados. O Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), que fornece o sangue, confirma “uma quebra de 15% nas dádivas” e revela que, em breve, os hospitais vão voltar a fazer colheitas. Neste momento é residual o número dos que as fazem.
“Este ano a dificuldade em receber unidades de sangue tem sido mais aguda e agravou-se há duas semanas”, diz a presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Maria João Pais. A médica explica que foi necessário fazer ajustes: “Por exemplo, em vez de se fazer uma transfusão para tratar uma anemia grave faz-se tratamento com ferro; funciona na mesma e poupa unidades de sangue”.
Problemas semelhantes foram verificados no Hospital de Santa Maria — integrado no Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN). “Estamos aflitos, mas o pior já passou e estou mais tranquilo do que há 15 dias. Não tivemos de adiar nada, mas confesso que passei uns dias a dormir mal”, reconhece o diretor do Serviço de Imuno-hemoterapia do CHLN, Álvaro Beleza.
Para evitar males maiores, o hospital criou a sua própria reserva de sangue — “a partir de março começámos a poupar e agora temos um total de 80 unidades de O e A negativos” — e tem reprogramado algumas intervenções. “Cirurgias da anca, que levam quatro a cinco unidades de sangue, em vez de se fazerem hoje, quando a pessoa tem 80 anos, fazem-se aos 81, por exemplo”, explica o médico.
As carências são confirmadas pelo presidente do IPST. “No final da semana passada senti aqui as dificuldades, portanto os hospitais também as sentiram e, provavelmente, cirurgias não urgentes foram reprogramadas. No fim de semana as brigadas foram para a rua e já estamos confortáveis; mas tenho sempre uma reserva de centenas de unidades para uma emergência”, afirma Hélder Trindade.
expresso 21.04.12
Os recentes desenvolvimentos da citada "história dos dadores de sangue" contem todos os ingredientes de uma saga que vai acabar mal.
Entretanto, o MS continua 'convicto' que esta situação é conjuntural. Que nada tem a ver com uma atitude reactiva gerada pela despoproporcional, abusiva e anti-social subida das taxas moderadoras.
Melhor seria criar, desde já, (mais) uma "comissão" para explicar este imbróglio aos portugueses, como se fossemos uns ignaros aparvalhados...
Poderia começar por discorrer sobre Eros e Tanatos dois instintos que - se calhar - comandam a fragilidade e a inocência dos comportamentos. É caso para pensar que embora possamos ter uma natureza ambivalente, não somos - necessariamente - todos masoquistas.
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