sábado, abril 7

Passos Coelho e Dimitris Christoulas

e/ou nós e a Grécia…
O suicídio de um cidadão grego, de 77 anos, reformado, na praça Syntagma (em frente ao Parlamento)
link teve, em Portugal, um aproveitamento inédito.

O Governo de Passos Coelho – no meio da maior balbúrdia, desonestidade política e de insanáveis contradições – anunciou que os cortes nos subsídios de Férias e de Natal dos trabalhadores da FP, das empresas públicas, pensionistas e aposentados, prosseguirá durante, pelo menos, mais um ano. E, de concreto, ficou o seguinte: “adiante se verá!”.

Os contornos desta indigna rábula política têm sido amplamente comentados.
Traduzem o desnorte do Governo para a execução de um plano previamente definido (o Memorando de Entendimento) elaborado para conduzir ao resgate do País dos graves problemas orçamentais e da dívida soberana e mostram o permanente recurso a medidas extraordinárias (ou melhor extraordinariamente penalizantes) para contornar erros políticos com terríveis consequências económicas e sociais. O maior dos quais é hoje bem visível: “ir além do programa da Troika”.

Passos Coelho e a sua equipa governativa fecharam os olhos (à realidade económica e social) e “mandaram-se” para a frente (até às bordas de 2015 – ano eleitoral). Escondem-se por detrás de alienantes miragens do “não existirem alternativas” e, pedantemente, encenam um perverso mimetismo - o do “bom aluno”. De facto não são acolhidas, nem discutidas alternativas geradas no âmbito interno, mas quando vêm do exterior (basta um funcionário da Direcção-Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia) lançam logo o alarme, a confusão e estimulam, de imediato, instintos de subserviência (subsidiários do papel de “bom aluno”).

Foi o que sucedeu em Portugal no passado dia 4 de Abril, quando Passos Coelho usou uma evasiva e “sarnenta” (sic) entrevista à RR
link , para perorar sobre o prolongamento, à distância, de severas medidas de austeridade (cortes de subsídios) que foram inicialmente anunciadas para 2 anos.

De facto, no mesmo dia e praticamente à mesma hora, fizémos questão de mostrar que “não somos como a Grécia”. De facto é verdade. Por cá os suicídios acontecem – por enquanto – nos ambientes domésticos. Mas, no fundo, temos as mesmas razões que levaram o farmacêutico e pensionista grego Dimitris Christoulas a suicidar-se em frente à casa da Democracia em Atenas ou, melhor, a ser uma das (múltiplas) vítimas do bailout grego que se tornou visível ao Mundo.
Mas, na realidade, é natural que sejamos diferentes: não somos capazes de exibir simbolismos ( actos e das ideias) que tem sido uma marca relevante da cultura (civilização) helénica.

Para termos a noção disso é necessário comparar o que sucedeu em Atenas (na praça fronteira ao Parlamento) e em Lisboa (nos estúdios de uma rádio)...

E-Pá!

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2 Comments:

Blogger Tavisto said...

Quando se é violentado diariamente por medidas recessivas e não surgem políticas alternativas, a coesão social vai erodindo e o equilíbrio emocional dos cidadãos entra em ruptura. Se a isto juntarmos a mentira repetida e a dissimulação política, a nuvem do descrédito mais se adensa e a desconfiança nas instituições instala-se.
Neste contexto, o estado de espírito para atitudes limite como o suicídio por desânimo ou a agressão como punição, embora indesejáveis, só surpreendem os distraídos. A Grécia é cada vez mais o nosso espelho e a índole dos povos não é tão diferente como se proclama, estejamos pois atentos e preparados para sobressaltos sociais atendendo aos últimos desenvolvimentos políticos no País.

12:30 da tarde  
Blogger Tavisto said...

Nota de Homicídio



Via Real World Economics Review, a tradução da nota deixada por Dimitris Christolas, de 77 anos, que deu um tiro na cabeça à frente do parlamento grego na passada 4ª feira:

"O governo de ocupação de Tsolakoglou* retirou-me o meu último meio de sobrevivência – uma pensão de reforma inteiramente financiada por mim (sem qualquer apoio do Estado) ao longo de 35 anos.

Uma vez que a minha idade não me permite recorrer à força (ainda que, se algum compatriota pegasse numa Kalashnikov, eu seria o primeiro a juntar-me a ele), não encontro outra solução que não seja procurar um fim digno, antes de me ver forçado a vasculhar no lixo em busca de comida.
Acredito que, um dia, a nossa juventude sem futuro pegará em armas e pendurará os traidores desta nação de cabeça para baixo na Praça Syntagma, como os italianos fizeram em 1945 com Mussolini (na Piazza Loreto, em Milão)."

* Referência ao governo actual liderado por Papademos, equiparado ao governo colaboracionista liderado por Georgios Tsolakoglou aquando da ocupação nazi da Grécia (1941-42).



Transcrito do blogue “Ladrões de Bicicletas”

2:10 da tarde  

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