sábado, dezembro 15

Pérolas…


À beira da refundação, proclamada pelos neoliberais fundamentalistas, vale a pena revisitar algumas “pérolas” desta estranha forma de vida que há muito se instalou no sistema de saúde em Portugal.
Comecemos pelo caso de Coimbra, capital da Saúde. Exemplo extremo da ineficiência, do concubinato de interesses e do expoente máximo da perversão na combinação público-privado. 
Numa das cidades com menos população, de entre as capitais de distrito, onde existe um dos maiores agregados de equipamentos públicos de saúde proliferam, como cogumelos em cave escura, unidades privadas. Chega-se ao ponto de, uma delas, à saída de Coimbra propagandear, num mega outdoor, ser a maior responsável pela diminuição das listas de espera cirúrgicas em Portugal. Uma verdadeira ode à má utilização dos dinheiros públicos, à ineficiência e ao desperdício na utilização do dinheiro dos impostos. 
A mesma cidade que acolhe o único centro de responsabilidade integrada, cercado e pasmado no tempo e no modo, é exactamente a mesma cidade que cria condições para a proliferação de unidades privadas que se alimentam da incapacidade de pôr a funcionar, adequadamente, equipamentos que custam a todos nós, contribuintes, dezenas de milhões de euros por ano. 
Enquanto isto prossegue a novela dos estudos, contraestudos, relatórios e pareceres que vão servindo para disfarçar e para esconder a absoluta incapacidade do ministério em concretizar um qualquer simulacro que seja de reforma hospitalar. 
Um ministério à toa, esgotado na purga fácil do filão medicamento mas incapaz de funcionar e de fazer funcionar o SNS. 
Entretanto o oráculo das finanças, tão diligente no esbulho do rendimento dos pobres e reformados, vai-se contorcendo por todos os meios para retardar o inevitável cerco a essa abstracção que dá pelo nome de ADSE nem que para tal tenha de contrariar a troika. Para isso já tem coragem. Percebe-se que à beira da refundação seja um grande estorvo secar a fonte de alimento de dinheiro público que tem sustentado uma das saúdes privadas mais caras da OCDE dinamizando, desse modo, os apetites especulativos de empreiteiros e consultores da treta travestidos de empreendedores em saúde. link 
Estes mesmos que agora, desorientados e falidos, se viram (de novo) para a pantomina utópica do turismo de saúde. link 

Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência Relatório CRRNEU link 
Relatório do grupo técnico para a Reforma Hospitalar link 
Estudo para a Carta Hospitalar link 

Olinda

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5 Comments:

Blogger e-pá! said...

O ajuste (de contas)...

Tudo o que, neste momento, se passa em Coimbra - e a análise está correcta - acontece também pelos grandes centros urbanos do País, nomeadamente, no Litoral (assimetrias!).
A diferença é que Coimbra pela sua (pequena) dimensão dá mais nas vistas.
Todavia, como tem sucedido com outros sectores públicos, as transferências para actores privados ou sociais estão a processar-se paulatinamente. Ou melhor, orquestradamente e em todo o País. Não se trata de ‘destruir’ o Hospital A ou B, mas o SNS, pelo que a estratégia é necessariamente global.
Tendo como certo que as dificuldades financeiras das famílias não trazem mais saúde aos agregados familiares torna-se sintomático o brutal decréscimo de consultas nas unidades de cuidados primários. link
O ‘espanto’ do MS, perante estes ‘sinais’ é de um gritante e intolerável fingimento e de uma imensa hipocrisia. Um conceituado gestor terá a exacta noção dos danos que os cortes orçamentais, deste montante, acabam por provocar.
Afinal, para este Governo, tratar-se-á de mais um ‘ajustamento’ que está a correr bem (na perversa perspectiva de tentar resgatar os recalcitrantes doentes de imaginárias e dispendiosas maleitas).
O 'mercado' está preparado e a postos para abarbatar o SNS. O enigmático é acertar 'quando' vai tentar. E o difícil será dimensionar a 'pulsão' (convulsão) social que uma 'reforma' desta natureza, com certeza, desencadeará.
O resto é paisagem...

1:53 da manhã  
Blogger Tavisto said...

Com a situação de Coimbra em pano de fundo, Olinda sintetiza na perfeição a situação a que chegou a Saúde no País. O sector privado, desesperado pela quebra na procura em resultado do empobrecimento da população, agarra-se em aflição á bóia salvadora dos subsistemas públicos. Os gestores dos hospitais do SNS, entalados pelo sub-financiamento e sob a ameaça da lei dos compromissos, desesperam para, com menos dinheiro, conseguirem dar resposta à procura crescente de doentes com patologias mais graves.
Entretanto, no terreno, as diferenças no acesso aos cuidados de saúde acentuam-se entre cidadãos. Enquanto os utentes do SNS que ainda conseguem pagar a taxa moderadora, podem, sem direito de escolha, ter de aguardar mais de 1 ano por uma consulta de especialidade, os dos subsistemas têm acesso a preço módico (subsidiado por todos nós) a qualquer especialista e a todo o tipo de intervenções de diagnóstico e terapêutica.
A irracionalidade da ADSE, está bem traduzida neste caso que me foi contado por um colega: Quando pergunta ao doente o que o traz à consulta, este responde: Em que consulta é que estou? Como assim! É que marquei consulta para três especialidades e não sei em qual delas me encontro.
Tomado por um conjunto de interesses que a foram cercando ao longo dos anos, agravados nos últimos tempos pelo lobbying dos grandes grupos económicos, o nosso Sistema de Saúde encontra-se num impasse de desfecho imprevisível. Seja qual for a decisão do actual governo, com uma agenda política para o sector fortemente privatizadora/assistencialista, temperada por um Ministro da Saúde com os pés assentes na terra (aparentemente?), o actual sistema não é mais sustentável e vai ter de romper. Resta apenas saber por onde.

8:17 da manhã  
Blogger Isaura said...

Separar o publico do privado nunca teve tanta importancia como agora. A competição entre o publico e privado não é crime, agora fazer concorrencia desleal para acabar com o SNS é grave, muito grave.
Em Lisboa também ha hospitais privados a mais que vivem quase em exclusivo do OE.

9:12 da tarde  
Blogger Isaura said...

Hoje mais que nunca é necessario separar o publico do privado.Competição entre publico e privado não é crime, agora destruir o SNS é muito grave. Em Lisboa também ha muitos hospitais privados que funcionam quase em exclusivo com dinheiro dos nossos impostos.

9:16 da tarde  
Blogger xavier said...

Excelente post da Olinda, cheio de lucidez e a apontar a necessiadde de racionalizar o público e regular o privado no marketing e na suas aberturas - meias «doudas» e a acelerar o consumismo irracional na saúde que tem sido pago pelos contribuintes através da ADSE e dos progamas de listas de espera.

Ficamos à espera de posts sobre Porto e Lisboa que, como a nau catrineta também «têm muito que contar»!!!
Olha O Passarão

Hermes (mail)

11:37 da tarde  

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