Desemprego
Já se suspeitava e as estatísticas do emprego ontem
reveladas pelo INE confirmam-no: Portugal transformou-se num país onde vive
mais de um milhão de deserdados de um dos bens mais fundamentais de qualquer
sociedade estável e civilizada, o direito ao trabalho.
Haver cada vez mais pessoas sem trabalho é um grave problema
económico, mas é também um terrível imposto ético que toda a sociedade está
condenada a pagar caro. Para poder vencer a dureza da crise, o país vai ter de
ser capaz de saber lidar com a frustração, ou o desespero, de uma franja muito
significativa da sua população.
Além da incerteza sobre o ciclo político, as ameaças
externas ou a interminável recessão interna, vai ser preciso gerir o ressentimento
natural de pessoas a quem,
O drama do desemprego coloca a sociedade perante um dos seus
mais difíceis desafios de sempre num ápice, foram cerceadas aspirações e travadas
expectativas quanto ao futuro.
Face às limitações financeiras do Estado, aos compromissos
assumidos com a troika ou por causa até de alguns dos princípios basilares do
pensamento político do Governo, não se espere mais apoio e protecção aos que
perderam, ou estão em vias de perder o seu emprego. As teses peregrinas dos que
acreditavam que tudo se compunha com a recuperação que deveria ter chegado no
final de 2012, ou os que anunciavam o admirável mundo novo do empreendedorismo
ou da reindustrialização afundaram-se na severidade da recessão.
Os que não têm trabalho, sejam jovens licenciados ou
desempregados de longa duração, vão continuar a ser as principais vítimas da crise.
Viver com menos é sempre mais fácil do que viver sem nada, incluindo perspectivas
de futuro. Com um Estado falido, um governo prisioneiro do programa de ajustamento
e uma economia cercada pela austeridade, as perspectivas para os desempregados
são negras. Só a capacidade de resistir e o apelo à solidariedade podem fazer
alguma diferença.
editorial JP 18.02.13
Etiquetas: Desemprego
4 Comments:
Empresários antecipam ainda mais despedimentos (Económico)
Desemprego ficou nos 16,9% no final de 2012, ano em que se perderam mais de 200 mil empregos. Economistas e empresários não vêem perspectivas de melhoria.
Cerca de 680 mil famílias não pagam empréstimos ao banco (SIC)
Mais de 679 mil famílias não pagam os empréstimos ao banco. De acordo com dados revelados pelo Banco de Portugal, são 679 134 famílias as que têm empréstimos em atraso.
É este o País real. Já nem o primeiro-ministro tenta dourar a pílula, ao dizer abertamente que as coisas vão continuar a piorar até ao fim do ano (resta saber qual!). Esfuma-se pois o efeito alucinógeno do ilusório regresso aos mercados.
Entretanto medidas atentatórias dos direitos e liberdades dos cidadãos, como a das coimas a aplicar aos contribuintes que não exibam facturas dos produtos adquiridos, adensam o mal-estar social.
Novas manifestação se anunciam e o País voltará a sair à rua em protesto. Esperemos que seja desta vez……. Antes que seja tarde de mais.
O Governo tentou desmentir a espiral recessiva mas a espiral recessiva encarregou-se de desmentir o Governo. Ao contrário das falhadas previsões de Gaspar, os números do INE não enganam: em 2012, a recessão em Portugal agravou-se para o dobro (-1,6% em 2011 e -3,2% em 2012). E não vamos ficar por aqui. Ao que se percebe, o Governo, apesar de todas evidências, insiste em manter a sua opção por uma austeridade "além da troika" e isso, evidentemente, terá um preço: vamos para o terceiro ano de uma recessão profunda, sem precedentes na história da democracia portuguesa. Nunca aconteceu uma coisa destas.
Vale a pena consultar os registos. Desde a normalização democrática, em 1976, até à crise internacional de 2008-2009, Portugal viveu 4 anos de recessão económica: em 1983 e 1984 (no Governo do Bloco Central, com Mário Soares), em 1993 (com Cavaco Silva) e em 2003 (com Durão Barroso e Paulo Portas). Destes, o pior registo foi o alcançado por Cavaco Silva em 1993, com uma quebra de -2% do PIB. Depois disso, a economia portuguesa só voltou a recuar em 2009, durante a recessão global que por essa altura atingiu todos os países. Sujeita a condições externas anormalmente severas, a economia portuguesa caiu então -2,9% (estava Sócrates no Governo), para recuperar logo em 2010, ano em que já cresceu 1,9%.
Estes dados ajudam-nos a colocar em perspectiva a gravidade da situação actual: depois de já ter sofrido uma queda acentuada em 2011, a economia portuguesa caiu em 2012 mais do que em qualquer outro ano na história da democracia portuguesa, incluindo o ano da maior recessão global dos últimos 80 anos. E vai cair ainda mais. É obra!
Os efeitos desta situação sobre o emprego são dramáticos. Como revelou o INE esta semana, no último trimestre de 2012 a taxa de desemprego atingiu o valor impensável de 16,9%, furando a estimativa do Governo para a média anual de 2012 (que se fixou nos 15,7%, acima dos 15,5% previstos por Vítor Gaspar). Pior: este valor compromete desde já a previsão do Governo para a taxa média anual de desemprego de 2013 (16,4%), na base da qual foram calculados os encargos com subsídios de desemprego na elaboração do Orçamento deste ano.
Também aqui vale a pena consultar os registos. Convirá lembrar que ainda há pouco, em Junho de 2011, quando o actual Governo entrou em funções, a taxa de desemprego estava em 12,1%, contabilizando-se 675 mil desempregados. Agora, apenas um ano e meio depois, a taxa de desemprego disparou para os 16,9%, registando-se 923 mil desempregados. Nunca se viu nada assim: uma subida de 4,8 p.p. na taxa de desemprego e um aumento de 248 mil desempregados em apenas dezasseis meses!
O mesmo se diga do número de pessoas com emprego. Esse número era de 4893 mil em Junho de 2011 e passou para apenas 4531 mil no final de 2012. Contas feitas, a economia portuguesa registou uma destruição líquida de emprego de 362 mil postos de trabalho em apenas ano e meio!
Para espanto do País, o Primeiro-Ministro resolveu reagir a tudo isto com uma enervante tranquilidade, própria de quem não tenciona tomar nenhuma medida para enfrentar o problema: "isto ainda vai piorar", garantiu ele, não fosse alguém embandeirar em arco. E acrescentou: está tudo "razoavelmente em linha" com as previsões do Governo. Só nos faltava mais esta: o comboio descarrilou e o maquinista não deu por nada.’
Pedro Silva Pereira, DE15.02.13
No último trimestre de 2012, estavam no desemprego quase um milhão de portugueses. O número cresceu 150 mil casos em um ano e mais 248 mil desde que o atual Governo e a troika assumiram o poder, em meados de 2011, trazendo consigo a aplicação de um programa de ajustamento económico e financeiro em troca de um pacote de empréstimos de 78 mil milhões de euros que durará até ao final do primeiro semestre do próximo ano.
No quarto trimestre de 2012, 923,2 mil pessoas estavam sem trabalho, o equivalente a 16,9% da população ativa, indicou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE). No entanto, este é o número oficial. Analisando o fenómeno de uma forma mais lata, ou seja, considerando os inativos que se declararam disponíveis para trabalhar mas não conseguiram e os indivíduos a tempo parcial que trabalharam menos que o planeado, a realidade é mais brutal: o contingente sobe para mais de 1,4 milhões de pessoas, cerca de 25% da população ativa real.
Se o nível de desemprego no quarto trimestre do ano atingiu assim um máximo histórico, o mesmo aconteceu com a média anual de 2012, que se fixou em 15,7% (também este um recorde desde 1960, pelo menos), acima dos 15,5% previstos pelo Governo no Orçamento do Estado para este ano e bem superior aos 13,4% projetados no OE/2012. Face a este último prognóstico, o Executivo terá subavaliado a verdadeira dimensão do desemprego de 2012 em cerca de 100 mil casos.
Ontem, o primeiro-ministro sinalizou que o pior ainda não terá passado. “Os 15,7% de desemprego estão razoavelmente em linha com as previsões do Governo”, mas “é normal que [a taxa] venha a atingir um pico superior para depois baixar”. Para este ano, a equipa de Pedro Passos Coelho antevê 16,4%, mas a OCDE, em novembro, já falou em 16,9%.
Estes valores ainda não incluem a revisão em baixa do crescimento europeu pelo BCE, que deverá arrastar a recessão deste ano para 1,9% ou pior, segundo o Banco de Portugal. Assim, é expectável que o desemprego avance até 17% ou até mais já que reage com algum atraso à degradação da economia.
Passos Coelho referiu-se a essa eventualidade. Com a procura externa a fraquejar (a maioria das exportações nacionais, quase 80% do total, continuam a ser compradas pelos parceiros comerciais da UE), o motor do comércio externo poderá ditar uma recessão ainda mais agressiva e, com ela, uma subida ainda maior do desemprego. “Se os sinais de abrandamento do ritmo das exportações persistirem poderemos ter de fazer ajustamentos”, avisou o primeiro-ministro.
O fenómeno alastrou de forma significativa nas mais variadas perspetivas. Subiu em todos os escalões etários e sectores da economia, em todas as regiões, em todas as modalidades da procura de emprego (os que procuram trabalho pela primeira vez, os que procuram um novo trabalho, os que procuram há muito e há pouco tempo).
Assim, o desemprego atinge já 40% dos jovens com menos de 25 anos (quase 165 mil casos). 13,4% dos licenciados. Cerca de 520 mil desempregados estão nesta situação há mais de um ano. São 56% do total.
Dinheiro Vivo 14.02.13
Conjugação de factores provoca um dos piores trimestres da história
Exportações abrandam
Na segunda-feira, o INE já tinha dado conta de um abrandamento muito acentuado das exportações nos últimos meses de 2012. Em particular, as vendas de bens para países da União Europa entraram em terreno negativo, com destaque para a Espanha e a Alemanha, os dois principais destinos das exportações portuguesas. Mas as exportações para fora da zona euro também não escaparam a um resultado menos positivo, com a apreciação do euro face às outras divisas mundiais a trazer mais dificuldades à economia portuguesa. Ontem, apesar de ainda não divulgar dados para as várias componentes do PIB, o INE disse que a procura externa contribuiu no quarto trimestre do ano de forma menos positiva, com um recuo das exportações e, também, com uma queda menos acentuada das importações de bens e serviços.
Confiança em queda
Assim que foi conhecida a proposta de OE para 2013, em Outubro do ano passado, que incluía um “enorme aumento de impostos”, a confiança dos consumidores portugueses voltou a bater recordes históricos negativos. As notícias de mais austeridade que dominaram a parte final do ano, incluindo o anúncio de um corte adicional de 4000 milhões de euros entre 2013 e 2014, faz os portugueses pensar que a crise está para durar, o que a juntar ao facto de, nas suas contas bancárias, o rendimento disponível estar em muitos casos mesmo a diminuir (uma parte dos funcionários públicos e dos pensionistas não recebeu o subsídio de Natal, por exemplo) faz com que se suspendam decisões de consumo importantes, que depois têm efeito na economia.
Desemprego a subir
Na quarta feira, o INE já tinha divulgado indicadores que davam sinais claros da queda abrupta que se verificou no final de 2012. A taxa de desemprego registou um novo recorde de 16,9%, acima das projecções do Governo e a redução do número de empregos disponíveis foi a maior de que há registo nas séries disponibilizadas pelo INE. O acentuar da crise no mercado de trabalho é consequência da crise económica. Mas é também um motivo adicional para que a economia caia ainda mais. O aumento do número de pessoas sem emprego (em muitos casos já sem direito a subsídio de desemprego) representa uma perda de rendimento disponível que prejudica o consumo.
JP 15.02.13
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