Paulo Macedo, pure bluff
O ministro da Saúde foi confrontado, no sábado à noite, em
Coimbra, com críticas de militantes do PSD às políticas para o sector e, à saída
de uma conferência, insultado por três pessoas que o esperavam na rua.
No período de perguntas e respostas das jornadas
"Consolidação, Crescimento e Coesão", promovidas pelo PSD, Paulo
Macedo foi interpelado por Nuno Freitas, médico, ex-deputado e antigo vereador
da Câmara de Coimbra, sobre um alegado aumento de mortalidade nos hospitais.
"Não há qualquer evidência nesse sentido, os dados
provisórios [de 2012] não vão nesse sentido", argumentou o governante.
Nuno Freitas também afirmou que o acesso a cuidados de saúde
"piorou" no país, mas Paulo Macedo voltou a contrariar esta tese,
considerando os dados avançados pelo médico como "subjetivos" e
"sem evidência técnico-científica"...
rtp 23.02.13 link
Paulo Macedo bem tenta tapar o sol com a peneira.
Mas os dados publicados recentemente pelo ACSS link
deixam claro que o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde sofreu rude
golpe em 2012: «menor acesso a transplantações, MCDT (ex. fisioterapia e outros), transportes e, sobretudo, a consultas e urgências, menos 1,871 milhões entre
urgências, consultas e sessões de HD, já incluindo aumento de 104 mil CE
hospitalares. Assim é fácil poupar mas o que vai resultar, no futuro, é aumento
de custos e menos saúde.»
Etiquetas: Paulo Macedo
3 Comments:
Não terá sido apenas Nuno Freitas a confrontar Paulo Macedo em Coimbra. Pelos vistos, já nem a estratégia de entrada com reserva de admissão, permitindo apenas a convidados o acesso às reuniões, põe os membros do governo a salvo de perguntas incómodas e duras críticas.
É já a própria entourage, caso de António Borges, um dos principais conselheiros do governo, a procurar demarcar-se tecendo críticas à acção governativa. Outro, o do costume, Paulo Portas acobarda-se e invoca razões de saúde para não estar presente, lado a lado com Miguel Relvas, na passada reunião no ISCTE.
Será que Cavaco Silva se apercebe do toque a finados ou a sua perspicácia política limita-se a descobrir minhoquices em textos legislativos?
Não deverá correr muita água debaixo das pontes e vamos verificar que um indicador importante para a avaliação da qualidade do sector da saúde vai sofrer mais um 'trambolhão'.
Trata-se da esperança média de vida (à nascença) que, no período de 2009/2011, se aproximou (para ambos os sexos) dos 80 anos. Registemos este valor.
É obvio que o reflexo das actuais medidas (as chamadas 'políticas de sustentabilidade') neste parâmetro - que mexe com alguns cálculos de prestações sociais - ocorre de maneira diferida.
Só que quando ocorrer - parece inecontornável que venha a ocorrer - o senhor Paulo Macedo não terá o ensejo de as desmentir com capciosos argumentos 'técnico-científicos'.
Nessa altura - acreditemos no futuro ! - provavelmente estará a fazer 'outros cálculos' num confortável gabinete de algum banco de investimento, envolto no frenético bulício de 'alavancagens', portanto,... longe do silêncio dos cimitérios.
Esta sendo uma previsível evidência (diferida) que, como é expectável, e mais cedo do que trade, acabará por verificar-se, não terá - como é habitual na nossa terra - quaisquer responsáveis.
Uma história que poderá eventualmente terminar com um: 'Sorry, it happened. Wasn't specified in our model' que, como prova a conferência de Coimbra, era de 'Consolidação, Crescimento e Coesão'...
Quem sustenta os hospitais privados? A ADSE
Médica defende que o Estado é bom pagador aos privados e mau pagador ao SNS
Quem suporta economicamente a prestação de serviços privados na Saúde é o “monstro”, designação por que é conhecido o Estado (supostamente social) pela direita política, que coincide com aqueles que defendem os serviços privados de Saúde. É um curioso espetáculo de hipocrisia quando os vemos atacar o Estado, os seus “maus” serviços, o seu “desperdício”, sabendo que sem os pagamentos feitos pelo Estado as grandes instituições privadas seriam insustentáveis.
Os hospitais privados só o são nos proventos. De facto uma parte substancial do seu orçamento (trinta por cento?) está dependente dos pagamentos dos serviços prestados a beneficiários da ADSE. O Estado paga e paga sem atraso. No dia em que essa fatia de venda de serviços ao Estado deixasse de funcionar, faliam.
Além da ADSE os hospitais privados são pagos por companhias de seguros, as quais em Portugal têm uma cobertura pequena da população. A restante fatia é paga por particulares, sendo que em Portugal a fração da população com capacidade económica para pagar custos elevados é pequena; é também uma questão de escala. Não estamos a falar dos serviços de consulta privada em consultórios, mas sim de internamentos, exames auxiliares de diagnóstico, tratamentos caros. Portanto, os hospitais privados dependem da ADSE, isto é, do Estado. Que só é “monstro” quando se trata de educação publica e Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Ao contrário da prontidão de pagamento aos privados, a ADSE deve milhões aos hospitais públicos (no caso do hospital de Santa Maria 31.614 milhões), que não tem qualquer esperança de recuperar a dívida. Isto é, na Saúde, o Estado é bom pagador aos privados e é mau pagador ao SNS. Aquilo que o Estado (Ministério das Finanças) coloca para pagamentos da ADSE aos privados, além dos proventos desta (descontos dos beneficiários) bem podia ser injetado no SNS que muito precisa.
Todavia, a discussão sobre a ADSE e seus benefícios é complexa. E já começamos a ouvir os espontâneos que sabem discutir aeroportos, pontes, TGV, a rotunda do Marquês, agora a darem opiniões abalizadas sobre a ADSE, antes de as pessoas com conhecimento se confrontarem e afrontarem nas soluções.
De facto, as pessoas que são beneficiárias da ADSE descontaram durante toda a vida para este subsistema, os que são mais velhos enquanto eram jovens e saudáveis e de pouco precisavam. Esse desconto fazia parte de um contrato social. Esse contrato social tem de ser respeitado, mantendo alguns benefícios. E considerando que todo o beneficiário da ADSE tem direito ao SNS como qualquer cidadão. Outra questão é este mecanismo estar a servir para a promiscuidade público-privada.
Mas a questão talvez mais sensível seja a eleitoralista. Todos os partidos sabem quanto pesam os votos dos funcionários públicos. E os discursos têm de ser descriptados.
Todavia, todos sabem também o que está escrito no acordo do memorando com a troika, logo na primeira versão. Aí constava que era necessário cortar trinta por cento nas despesas do Estado com a ADSE. Resta pois discutir se o corte é nos óculos, nos aparelhos auditivos, nas cadeiras de rodas, ou se nos pagamentos ao Grupo Mello ou ao Grupo BES.
expresso 27.02.13
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