segunda-feira, março 25

SNS, o patinho feio


Ainda ontem
Se não fosse o NHS — o sistema de saúde do Reino Unido, onde nasceram, muito prematuramente, as minhas filhas — elas não teriam sobrevivido. Elas devem a vida ao NHS. E eu devo-lhe o amor e a alegria de conhecer a Sara e a Tristana, para não falar no meu neto, António, igualmente devedor, mais as netas e netos que aí vêm.

Se não fosse o SNS (Serviço Nacional de Saúde) eu teria morrido em 2005, com uma hepatite alcoólica causada unicamente por culpa minha. Seria também coxo, quando me deram uma prótese para anca. E, sobretudo, teria morrido, se o SNS não me tivesse dado o antibiótico caríssimo (Linozelid) que me salvou do MRSA assassino que me infectou durante a operação.

Se não fosse o SNS, a Maria João, o meu amor, estaria morta. Se não fossem o IPO e o Hospital de Santa Maria, pagos pelo SNS, ela não estaria viva, por duas vezes.

Sem a NHS e o SNS, eu seria um morto, sem mulher, filhas ou netos. Estaríamos todos mortos ou condenados à inexistência.

Não é difícil chegar à conclusão, atingida desde os meus dezanove anos, de que as melhores ideias de todas são a social-democracia e o Estado-providência: não tanto no sentido ideológico como na prática.
A nossa família e as nossas famílias só existem e podem existir se não tiverem morrido. Damos graças aos serviços nacionais de saúde — a esse empenho ideológico e caríssimo — que nos tratam como se fizéssemos parte deles.
Devemos as nossas vidas a decisões políticas tomadas por outros.
Miguel Esteves Cardoso, Público 23/03/2013

Apesar de testemunhos pessoais vindos dos mais diversos quadrantes político-sociais em defesa do modelo SNS, reconhecendo o quanto lhe são devedores na resolução de problemas de saúde pessoais ou familiares, cuidados que exigiriam recursos financeiros que estavam muito para além da capacidade individual, o SNS continua a ser o “patinho feio” dos cortes em Saúde.

É isso que nos mostra a actual política de desinvestimento nas USF; a sobrecarga adicional para o SNS ao ter de suportar, à semelhança do que já sucedia com a ADSE/Ministério da Justiça, a comparticipação na compra de medicamentos dos beneficiários dos subsistemas da Guarda Nacional Republicana e da Polícia de Segurança Pública, a partir do dia 1 de abril de 2013 (despacho n.º 4005/2013 dos Ministérios das Finanças, da Administração Interna e da Saúde) link ; e o corte (mais um) anunciado de 2,5% no orçamento dos hospitais do SNS, sabendo-se que vão ter suportar o pagamento de um dos benefícios entretanto reposto à Função Pública.

Desta forma, à medida que o SNS vai sendo reduzido à expressão mais simples e os cidadãos mais têm de abrir cordões à bolsa para serem tratados, Paulo Macedo vem falar-nos na criação de Centros de Excelência nos hospitais.
Fica a pergunta, será para servirem todo e qualquer cidadão ou para cuidar da saúde de vossas excelências? 

Tavisto

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

Hospitais do Estado utilizam as instalações para medicina privada

A Entidade Reguladora da Saúde apurou que dez unidades do Serviço Nacional de Saúde autorizam consultas, exames, cirurgias e internamentos a título particular. Regulador pede a intervenção do Ministério da Saúde.

Expresso, Vera Lúcia Arreigoso, 25 de março de 2013

Dez hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) utilizam as suas instalações para o exercício de medicina privada. As unidades (21% dos centros hospitalares públicos) permitem a realização de consultas, exames, cirurgias e internamentos de doentes a título particular. Na grande maioria das situações, a atividade 'extra SNS' é realizada fora do horário normal de funcionamento e faturada pelas próprias administrações hospitalares.
A denúncia é feita pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), num documento publicado hoje na sua página na Internet. O regulador afirma que esta 'atividade paralela', além de não ter enquadramento legal, prejudica os utentes do SNS e recomenda ao Ministério da Saúde que "adote os procedimentos necessários para fazer cessar o exercício da medicina privada em hospitais públicos". O Expresso já contactou o gabinete de Paulo Macedo, mas ainda não obteve resposta.
Sem identificar os hospitais em causa, a ERS revela que as situações detetadas são muito variadas, mas todas com "acordo, protocolo ou regulamento aprovado pelo Conselho de Administração". Quase sempre, é a própria unidade que emite a fatura aos doentes pelos cuidados privados que lhes foram prestados.
Na maioria das unidades visadas, são também os serviços do hospital que fazem as marcações, geralmente, "fora do horário normal de trabalho dos profissionais de cuidados de saúde". Isto é, durante a semana depois das 13 ou das 16 horas para consultas e após as 20 horas para operações ou aos fins de semana e feriados sem restrições. No documento, consta ainda que nenhuma especialidade médica está destacada e que a maioria dos médicos envolvidos não ocupa cargos de direção.
A ERS salienta que "não existe, neste momento, qualquer quadro legal passível de reger o exercício de medicina privada em estabelecimentos hospitalares públicos" e que "comporta riscos para os direitos dos utentes, que não devem ser negligenciados". Por exemplo: "a sujeição dos utentes do SNS a maiores tempos de espera, para dar preferência ao atendimento dos utentes referenciados pelo médico que exerce medicina privada em tal estabelecimento público".

E agora Sr. Ministro? Há consequências? Há demissões? Há responsabilização dos gestores cowboys armados em chicos espertos empreendedores? Ou continuamos a fazer de conta?

10:10 da tarde  

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