Caos
no sistema de informação das
unidades de saúde.
Profissionais e
cidadãos “à beira dum ataque de nervos”
Se dúvidas existissem acerca da
capacidade do Ministério da Saúde e seus departamentos para as tarefas de
desenho, atualização e manutenção das várias aplicações que constituem o
Sistema de Informação das Unidades de Cuidados de Saúde Primários, as últimas
semanas afastaram todas as dúvidas referentes ao pior dos cenários que qualquer
observador avisado já previa há muito.
O caos instalou-se na maioria das
unidades e, precisamente, nos aspetos mais sensíveis do atendimento aos
cidadãos – acesso aos ficheiros clínicos e registos dos médicos (SAM), ao
sistema de apoio à prática de enfermagem (SAPE) e ao módulo de prescrição de
medicamentos.
Em todo o país, o panorama
caracteriza-se por uma assinalável e comprometedora lentidão no acesso e
desempenho das várias aplicações, principalmente quanto à prescrição de
medicamentos e MCDT, erros técnicos de escrita, sucessivos e frequentes
bloqueios do sistema obrigando a reiniciá-lo, desmultiplicação da maioria das
receitas admitindo apenas um medicamento em cada uma, levando assim a um
consumo irracional de papel (e tonner)
para cada consulta.
Contudo, na área da ARS do Norte
o problema agravou-se de forma muito preocupante.
O projeto autónomo desta ARS de
concentrar num único data center
regional toda a informação dispersa pelos múltiplos servidores existentes nos
centros de saúde da região sem que para tal tivessem sido previstos os
possíveis imponderáveis e tomadas todas as medidas de segurança que uma decisão
como esta aconselhava, ocasionou um completo caos nos serviços onde, para além
das perturbações decorrentes da lentidão do sistema, se verifica, em muitas
unidades, a impossibilidade de acesso à ficha clínica dos utentes e, quantas
vezes, ao desaparecimento de informação relevante.
Trata-se duma situação gravíssima
que coloca os médicos a trabalhar em situação de risco, uma vez que tais
bloqueios podem comprometer o acesso a informação relevante e, desta forma, a
própria segurança dos cidadãos. Já para não falarmos sobre o permanente e
prolongado stress a que todos os
profissionais estão a ser expostos.
Acontece que a ARS do Norte é uma
grande empresa, que tem como missão garantir à população da Região
Norte o acesso à prestação de cuidados de saúde, e que envolve a
responsabilidade pela gestão dum orçamento de funcionamento superior a mil e
duzentos milhões de euros (2012).
Alguma grande empresa com um
“volume de negócios” deste nível avançaria para uma operação de manutenção da
sua base de dados com semelhante leviandade? Sem se debruçar sobre os cenários
possíveis e planos alternativos para minimizar os riscos (prejuízos)? Alguma
grande empresa poderia dar-se ao luxo de semelhante desperdício?
E que atitude tomam os seus
dirigentes perante semelhante descalabro?
Até agora nem uma palavra de informação, justificação, pedido de desculpas,
agradecimento aos seus profissionais médicos e de outras profissões, pela forma
quase heroica como diariamente dão a cara e procuram minimizar, à custa dum
enorme esforço, os constrangimentos com que a administração os contempla.
Afinal, é a imagem do SNS e a
qualidade dos serviços prestados que estão em causa. Uma preocupação dos seus
profissionais que, pelos vistos, não é acompanhada pela administração.
Apenas dá respostas aos
jornalistas dizendo que o problema estaria resolvido até ao final da semana que
terminou no dia 14. Não cumpriram.
A FNAM, através dos três
sindicatos que a constituem, alerta os médicos que devem estar atentos às
eventuais condições de insegurança no desempenho do seu trabalho, e que
reportem por escrito todas as limitações e situações de eventual
conflitualidade aos Presidentes dos Conselhos Clínicos e da Saúde e Diretores
Executivos dos ACES.
As USF e UCSP deverão ainda fazer
uma análise cuidada dos eventuais reflexos que estes constrangimentos poderão ter
nas metas contratualizadas e, caso tal se verifique, exigir fundamentadamente
uma revisão das mesmas e da Carta de Compromisso assinada para o corrente ano.
Como sempre os gabinetes
jurídicos dos nossos sindicatos estarão à disposição dos associados.
A Comissão Executiva da FNAM
Etiquetas: Fnam
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