Paulo Macedo, maior desilusão
Sobre o futuro do nosso Sistema de Saúde constatam-se, essencialmente, três posições:
a) Melhoria do actual modelo: Reforço da cobertura (áreas mais frágeis) e do financiamento público. Manutenção de tudo, mais ou menos, como está;
b) Reforma do actual modelo: Para manutenção do actual modelo de saúde são necessárias reformas visando a sua sustentabilidade e adaptação ao tempo presente;
c) Substituição do actual modelo: Retirar ao estado a provisão de cuidados, transferindo-a, quanto possível, para os prestadores privados. Introdução de mecanismo de competitividade e mercado (opting out, reforço dos seguros) de forma a alijar os encargos do estado com o financiamento do sistema.
Vêm estas considerações a propósito dos dois anos de governação do ministro da saúde, Paulo Macedo, que uma recente sondagem realizada para o Expresso e SIC considerou como o melhor ministro do XIX governo constitucional. link
Do resultado deste trabalho de auscultação de opinião dos portugueses várias conclusões se podem tirar:
a) Duvidar do método. Considerar, por exemplo, como segundo melhor ministro, Miguel Macedo, responsável pela carga selvagem de porrada aos portugueses postados frente à AR, é obra. Mesmo tendo em atenção a situação de provocação excepcional ocorrida.
b) Discordar do resultado. A maioria dos portugueses, que se preocupa com estas coisas, acreditou de inicio na capacidade do ministro em desenvolver reformas necessárias à sobrevivência do SNS. Demasiado cauteloso porém, Paulo Macedo deixou esgotar dois anos de governação sem conseguir qualquer mudança de fundo apreciável. Quedou-se pela implementação de pacotes de medidas de cariz administrativo, embora justas, mas nem sempre com a proporcionalidade e oportunidade desejáveis. Transmitindo-nos sempre a sensação de estarmos em presença da governação do seu secretário de estado, Manuel Teixeira, promovido a ministro da saúde.
c) Concordar que, apesar de tudo, houve sensatez suficiente na Saúde em não se embandeirar em arco com a política “além da troika” de Passos Coelho. E, neste sentido, Paulo Macedo ter dado aos portugueses, ajudado por doses maciças de propaganda, a sensação de herói defensor do SNS, da salvaguarda de experiências mais radicais que só poderiam redundar em desastrosos fracassos para a Saúde (talvez o resultado da referida sondagem traduza este sentimento dos portugueses).
d) Concluir: Falta avaliar o resultado dos cortes profundos (a eito), promovidos por Paulo Macedo, no funcionamento, a médio prazo, do nosso sistema de saúde. Na certeza porém que o impasse quanto ao seu futuro se mantém como há dois anos atrás. Gorada que foi a grande expectativa inicial dos portugueses em relação ao actual ministro da saúde.
Clara
Etiquetas: Paulo Macedo, XIX gov
1 Comments:
Os dois lados de Paulo Macedo
No sábado, Paulo Macedo surgia no topo da sondagem dos ministros mais populares deste Governo. Hoje, um estudo do Observatório Português dos Sistemas de Saúde diz que os cuidados de saúde pioraram em Portugal. Os dois resultados parecem absolutamente contraditórios, mas não são. E deviam merecer a atenção do resto de Executivo.
Não é por acaso que Paulo Macedo aparece como o ministro mais popular. Apesar de não dar nas vistas, de sair pouco do ministério e de quase não dar entrevistas, o ministro fez uma série de escolhas acertadas: não destruiu o que os antecessores fizeram, enfrentou alguns lobbys pouco queridos da opinião pública (indústria farmacêutica e farmácias, sobretudo), tentou explicar os cortes e, depois de enfrentar uma importante greve dos médicos, soube negociar e até ceder.
Também não é por acaso que o relatório de hoje o põe em xeque. Tantos cortes em tão pouco tempo têm consequências. Algumas coisas notam-se já, a começar pelo acesso à saúde de quem tem menos posses ou vive mais afastado dos grandes centros. Outras só se vão notar em séries estatísticas mais longas, como é o caso do cancro ou da sida. Há coisas a piorar na saúde e algumas podem ser graves.
O verdadeiro balanço da governação de Paulo Macedo só pode ser feito mais tarde, mas as diferenças em relação aos seus colegas são visíveis hoje. Em vez de dar palpites tenta fazer. Em vez de prometer viragens, chuvas de investimento ou coisas do género, faz um discurso calmo. E, por fim, em vez de embarcar no neoliberalismo barato tenta dar importância ao papel do Estado na prestação de serviços de Saúde. O contraste com o resto do Executivo é enorme e explica muita coisa. As sondagens, por exemplo.
Ricardo Costa, expresso 18.06.13
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